sexta-feira, 2 de março de 2012

Saudades de Entroncamento


Daqui mando meu abraço cordial para meu compadre Jandir, telegrafista da rede ferroviária, duas entidades defuntas, tanto a profissão de telegrafista quanto a antiga empresa de trens. Relembro com nostalgia de nossas farras no sítio Entroncamento, onde trabalhamos juntos. Daquela antiga vila ferroviária sobraram apenas ruínas, as casas destruídas, a estação abandonada aos morcegos e cobras, só um ou outro morador ainda sobrevive abandonado naquelas brenhas, sem memória, ruminando a solidão e o silêncio de uma comunidade que já foi próspera e morreu junto com o trem de ferro.

O cenário da foto é a casa do meu compadre Castor, onde se vê Zé Bodeiro botando a cara, compadre Jandir, eu tocando meu pandeiro, Batata e compadre Diga do Cavaquinho, irmão de Hildebrando, outro ferroviário e músico itabaianense já falecido. São os rústicos sinais de uma vida simples e boa, numa casa de reboco rodeada e cheia de amigos onde não faltavam alegria e cachaça.

Compadre Jandir parou de tomar água que passarinho rejeita, incomodado com algumas doenças próprias da velhice calma de aposentado. Dos outros compadres não ouvi mais falar, porque não fui mais aos limites daqueles mundos rurais, abandonei minha gente, meus ouvidos ficaram moucos para as rebecas, concertinas, violões, cavaquinhos e pandeiros das orquestras de boi-de-reis dos meus amigos farristas.

Recusei a honra de viver em paz no mato e fui viver na cidade grande. Antes de bater as botas, ainda vou me enfurnar em algum sítio longe de tudo, com a calculada ideia de morrer na paz da natureza. Saudades de Entroncamento e dos meus compadres, tão simples e generosos. Minha memória desliza sobre essas recordações como um trem nos trilhos e depois descarrila no sobressalto da realidade, onde as pessoas já não cantam nem dançam diante do meu pandeiro indomável.

Ruínas em Entroncamento

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