Meu pai foi cronista esportivo de rádio e jornal, juiz de futebol, diretor de clube e presidente de liga amadora deste esporte. Viveu as entranhas do futebol amador em todas as suas facetas. Com o correr dos anos, Arnaud Costa acumulou muitas histórias dos usos e costumes, do folclore futebolístico nas pequenas cidades de Timbaúba, Itabaiana e Sapé, onde atuou por mais de meio século.
Ao completar 82 anos de idade, Arnaud Costa está sem muita mobilidade por causa de um acidente vascular cerebral, mas a mente do velho jornalista está a mil. Não houve nenhum dano ao cérebro. A memória continua poderosa. Agora mesmo está pensando o projeto de escrever um livro contando os fatos pitorescos do futebol amador.
Fui chamado à sua presença para tomar ciência do projeto e ser notificado da minha função de escrivão do livro, já que a visão dele não está cem por cento. Para ser mais exato, tem apenas 15% de capacidade visual. Depois de muitos negaceios, noves-foras e cavilações para me ver livre da tarefa, não teve jeito: vou mesmo digitar as memórias futebolísticas de Arnaud Costa, tomar o ditado, por assim dizer. Ele vai falando e eu digitando.
Primeiro que tudo e segundo que nada, fui logo propondo o título: “Fatos pitorescos do futebol”. Ele gostou, mas advertiu: nada de dar pitacos no texto. Concomitantemente, teremos alguns colaboradores. Um deles, Ronaldo Brão Sabugo, tipógrafo estabelecido por conta própria na rua do Rio em Itabaiana, ex-colega gráfico do meu pai e ex-dirigente do União Esporte Clube, time do coração dos dois. Brão foi ativo membro do clube da fofoca, em frente à sinuca de Seu Adones, local conhecido por “boato”. Lá o sujeito contava uma mentira aos ouvintes que passavam para os passantes, os passantes aos comerciantes da rua do cabaré, os comerciantes às raparigas, as raparigas aos clientes, os clientes às consortes que contavam para a cidade inteira. Era o maior centro disseminador de boatos da cidade.
Grandes figuras do nosso futebol amador irão desfilar no livro de pai, entre eles Zé Dudu, Luiz Safado, professor Edmilson Jurema, juiz do apito “Cachimbo Eterno”, Índio e Dolfo, Cheio de Perna, João do Boi e uma reca de figuras que marcaram o folclore esportivo de Itabaiana, sem falar nos tipos e fatos pitorescos de Sapé, onde atuava o bom meia-esquerda “Pão Seco”, que foi jogar no Confiança na primeira divisão e teve seu nome mudado para Fonseca. Ele vai contar também a história daquele comentarista esportivo da Rádio Comunitária Sapé FM que foi “cobrir” uma partida entre o Confiança e um time de sítio. Deu-se o maior bafafá: o juiz foi expulso, furaram a bola, rasgaram o calção do bandeirinha, o time da casa jogou com 15 atletas, a partida teve 65 minutos no segundo tempo, uma vaca braba entrou em campo, um jogador foi expulso por mostrar a estrovenga aos torcedores e, no final, o próprio árbitro bateu um pênalti. O comentarista foi lacônico: “Tudo se desenrolou sem maiores incidentes ou fatos dignos de nota”.
Vai ser muito bom!!!!!!
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