terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A Reunião de tristeza de Sivuca era uma dor solitária…


Meu ex-vizinho Nivaldo é filho de Itabaiana. Há muitos anos, porém, como ocorre com muitos  que moram no brejo ou sertão pegou a viola, meteu dentro do saco e veio em busca de “civilização”. Ah,  triste Ledo Ivo engano!

E assim sem saco (eco ou aliteração ?)  para aguentar a sede de beber na cidade grande,  Nivaldo veio para a Província  das Acácias, casou, plantou uma árvore bem em frente da minha casa e só não escreveu um livro contando essa aventura porque nunca se considerou um aventureiro.

Para este escriba  Nivaldo sempre foi associado  a sua cidade. Por quê ? Ora, porque naquela cidade nasceu um artista que se para Nivaldo ela – a cidade – sempre vai ficar para trás, esquecida, pois como me dissera outro  dia nada existe nela que  sinta lhe pertencer, para esse artista sempre foi a sua referência, sua Rimini, seu ponto de partida. Pois é, Itabaiana era para Sivuca tatuagem no peito que para onde ia levava consigo!

A primeira vez que ouvi falar de Sivuca, Severino Dias de Oliveira,  nome próprio que o apelido famoso engoliria logo nos primeiros anos de vida artística, foi nas vozes desencontradas – propositadamente – e sonoras dos Mutantes sustentadas por fortes acordes dissonantes. Era a famosa  “Adeus, Maria Fulô”, uma parceria  sua – dele – com o Humberto Teixeira, abrindo as portas do Tropicalismo.

Mas assim como acontece com todos aqueles artistas quase geniais – gênio para mim só o Aladim –  que trocam de roupa, pagam a conta no bar, pega o chapéu e vão morar noutra cidade,  Sivuca será canonizado um dia. Assim da mesma forma que um dia o Pixinguinha canonizado em vida fora pelo Vinícius de Moraes: Santo Pixinguinha.

O filho de Itabaiana, porém, sua – da cidade – maior referência, somente receberá o Santo antes do apelido depois de morto. Entretanto, apesar de todas as homenagens merecidas, discordo do Santo aí.  Prefiro ficar com esse extraordinário músico que passeava por todos os gêneros – frevo, forró, baião, choro etc. – com a dignidade de um mestre-sala.

Mas sem esquecer que até agora ninguém me  perguntou, se tivesse que escolher uma composição letrada (são poucas, sim) do Mestre Sivuca, embora respeitando a sua famosa “Adeus, Maria Fulô”, escolheria a sua nostálgica e sofrida até mesmo no titulo “Reunião de Tristeza”. Aqui merece um registro: a primeira gravação de Reunião de Tristeza foi feita nos Estados Unidos pela cantora sul-africana Letta Mbulu, que, sincero como sempre fui, confesso não conhecer nem nunca haver escutado essa obra-prima em sua voz.

Segundo o Sivuca – no caso deveria ser “primeiro Sivuca” – que a interpreta com o seu fiozinho de voz característico, bem interpretada, ressalte-se para que depois não me venham dizer que ele cantava muito bem, numa nostalgia de doer na alma, isto se a alma dor sentir, ele estava cantando mesmo era a dor pela perda da irmã. Vale transcrever o  seu  depoimento:

“Ela faleceu em 1935, aos nove anos de idade. Aquele momento de tristeza ficou no meu coração por anos a fio, até que um dia, em Ottawa, no Canadá, mais de trinta anos depois, a dor se transmutou em música”.

Aos meus dois leitores, depois de toda homenagem que esse itabaianense há de sempre merecer, deixo a letra de Reunião de Tristeza, a minha preferida entre as preferidas do Sivuca:

E a lua estava presente à reunião de tristeza
era noite, mãe velha cantava canção de embalar
tinha um rio mas água por ele esqueceu de passar
e mãe triste esperava seu filho voltar
E a lua estava presente à reunião de tristeza
em um galho sem folhas um pássaro cantava sozinho
e um homem cansado da terra o horizonte olhava
de uma casa pequena saiam crianças cantando
alegrando a tristeza que a vida nos dá
E a lua continua presente
à reunião de tristeza…

Humberto de Almeida

Ouça aqui a canção de Sivuca, acompanhando-se ao violão:




Compadre Ricardo Ceguinho quer montar minha peça mariense

Ricardo (direita) com o prefeito de Mari, compadre Marcos Martins

Ricardo Alves, o comunicador da Rádio Comunitária Araçá, de Mari, é teatrista amador, com atuação nas peças “A peleja de Lampião com o Capeta”, “Mari, Araçá e outras árvores do Paraíso” e “Cantiga de Ninar na Rua”, todas de minha autoria, quando dirigia o Coletivo Dramático de Mari – CODRAMA - nas décadas 80/90.
Pela “expressiva contribuição” que dizem ter prestado à cultura de Mari, já recebi diversas homenagens, entre medalhas, títulos honoríficos na Câmara de vereadores e diplomas de honra ao mérito. A maior delas é quando alguém se propõe a preservar minha obra, que é o caso desse incansável divulgador da cultura local, meu considerado Ricardo Alves.

O escritor americano Paul Auster disse que “o homem não tem uma única e mesma vida, mas várias arranjadas de ponta a ponta”. Fui e sou testemunha e coletor das manifestações culturais do meu povo em vários frontes, entre eles Mari, onde morei por doze anos. Fiz pesquisas e contextualizei a história desse município paraibano na peça “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, espetáculo que estreou em 1988 e fez razoável carreira, apresentando-se até aqui na capital da Parahyba do Norte, no auditório do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba em 23 novembro daquele ano, numa promoção da turma concluinte do curso de Ciências Biológicas, sob a direção do teatrólogo Carlos Cartaxo.

Ricardo Alves faz o programa “Gonzagão, sua vida e sua obra”, na Rádio Comunitária Araçá, de Mari, emissora que fundei com outros companheiros e companheiras marienses em 1998. No campo artístico, ele quer reviver o movimento teatral da cidade, com a montagem da peça “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso” em 2015, para o que pediu minha autorização. Não só concedo o direito de remontar o espetáculo como me disponho a colaborar na direção, acreditando na trajetória de vida e amor pela arte de pessoas como Ricardo, Ozaneide Vicente, Severino Batista, Tadeu e outras figuras que estavam nos nossos fazeres e viveres marienses nos bons tempos.

Não querendo ser melhor do que ninguém, mas preciso registrar que esta peça e o livro do mesmo nome representam a primeiríssima tentativa consciente e objetiva de plasmar uma imagem desse município através da arte, que é “uma opção de vida contra toda e qualquer forma de opressão: social, intelectual, estética, política...”, no entendimento do revolucionário artista plástico Hélio Oiticica. Por isso, sinto-me exultante pela iniciativa de Ricardo Alves, a quem chamo de Ceguinho por causa do seu problema visual. No entanto, esse “cego” é mesmo um visionário, idealista e sonhador por uma Mari mais civilizada e iluminada.  

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Oitenta anos de nossa matriarca


“Minha mãezinha
Que já está com sessentinha
Vou cantar essa modinha
Pra senhora se lembrar”
(Martinho da Vila – Calango longo)

No caso, minha mãezinha já está com oitentinha completados ontem. Nossa anciã da tribo continua a nos dar lições, mesmo calada, fragilizada, o andar mais lento, as juntas doendo. Falamos de velhos parentes que não se sabe onde vivem, ou se estão mortos. Cadê Jackson, Josué, os filhos de tia Judite? Quando se fica velho, contar a memória é assim como perpetuar e enriquecer as novas gerações. A voz tribal que repassa as notícias dos antepassados mais remotos, ir buscar as origens familiares no seu ponto inicial, essencial.
Quando saí do óvulo-casulo da família, minha mãe tinha 42 anos de idade, uma jovem senhora dedicada ao esposo e ao lar, a última geração a preservar os valores de um mundo que não existe mais, de fidelidade e compromisso de proteger a relação familiar com respeito e dignidade. Agora, nós ficamos semi-perplexos ao vê-la dedicada ao marido num esforço constante para afinar as asperezas com compreensão e carinho, há mais de meio século. Para muitos, é estranho testemunhar essa relação. A muitos parece apenas subjugo patriarcal. Difícil entender, nós que não vivemos a cultura das primeiras décadas do século vinte, quando só no início dos anos 50 as mulheres começaram a ter acesso aos cursos universitários. Era se preparar para casar e ser uma boa esposa, dedicada ao marido a vida inteira. Moça “de prendas domésticas”, como se dizia, que vive para cuidar do marido, dos filhos e da casa.
Penso que minha mãe, como as demais de sua geração destinadas ao lar, perderam muita coisa ao passar a existência centradas no esforço de dar conforto aos familiares, sem pensar em si, sacrificando sonhos e projetos pessoais, se é que existiam em suas mentes adaptadas à filosofia de vida de suas épocas. No sagrado lar não se permitiam máculas, pelo menos aparentemente. Foi nesse clima que fomos educados. O pai ordena, a mãe obedece e repassa as coordenadas ao restante da família. Subverter essa “ordem natural” era desafiar o pátrio poder, com sérias consequências.

De uma forma ou de outra, “a vida é uma ordem”, conforme o imperativo drummondiano. O tempo tudo apaga, tudo acende de novo, e esse repetido acender-se e apagar-se das coisas é que torna aos nossos olhos o ato de viver uma coisa assim absurda e fantástica. Minha mãe é uma linda, brilhante e elegante espécime de um mundo grandioso e esplendoroso que ela revive com tristeza e nostalgia.
Feliz aniversário, dona Iraci.



domingo, 28 de dezembro de 2014

POEMA DO DOMINGO



Gaza somos todos

Qual o sentido da guerra?
O alvo certo é o Sistema.
Um relutante a pensar...
Homens mortos por palavras
O "dito" que se copiava
O último suspiro no ar.

Como vermes rastejantes
Tanques adentram vielas
Entre vilão e mocinho
O anti-herói e seus  anseios
Os fins justificam os meios
Enquanto gira o moinho.

Só um torpe  a imaginar
Senhor da guerra, Deus do ego
Na "faixa": A batalha é insana
A mídia inerte reproduz
O caos, o ódio e o pus
De um inocente que sangra.  

Evanio Teixeira

sábado, 27 de dezembro de 2014

Memorial Sivuca e a arte conceitual

Instalação de arte conceitual – autor desconhecido

Estou lendo na revista “Cadernos de cultura”, de junho de 2010, editado pela então Subsecretaria de Cultura do Estado, uma matéria onde se anuncia a implantação em João Pessoa do Memorial Sivuca, com apoio do Ministério da Cultura. O próprio ministro Juca Ferreira disse que o memorial haveria de ser uma coisa grande, à altura de um dos maiores músicos do século XX em todo o mundo. Tanto que o projeto original teve que sofrer alterações para se adequar às necessidades de atender às questões de ordem museológica, além de arte educação.

Esse Memorial Sivuca seria coisa de primeiro mundo, uma instalação até futurista, com acervo físico, conteúdo digital, enfim, um complexo de cultura que seria localizado em um casarão na Praça da Independência, ao lado da Casa do Artista Popular. Um espaço único, com teatro, biblioteca especializada, salas para cursos, sala para leitura das partituras do Mestre Sivuca, museu, cafeteria, salas audiovisuais em alta definição, espaço para eventos nos jardins externos, para documentar, difundir e celebrar a obra e a memória do grande artista itabaianense, “tudo orientado pelas técnicas mais avançadas da museologia e da museografia contemporâneas.”

No memorial seriam instalados equipamentos audiovisuais com emprego de grandes monitores de LCD de alta definição, aparelhos de multivídeo panorâmico e todas as possibilidades de reprodução e ampliações fotográficas, com rica pesquisa iconográfica, documental histórica, de objetos, audiovisual, material didático, etc.

Antes, em 2009, o subsecretário de Cultura do Estado, David Fernandes, garantia que a implantação do Memorial Sivuca seria na cidade de Itabaiana, terra natal do grande artista paraibano. O local seria o prédio onde funciona a Loja Maçônica. “Fazer esse Memorial é uma das prioridades do governo, e vim apenas conhecer o local e anunciar ao povo de Itabaiana as palavras do governador José Maranhão, que o Memorial Sivuca vai ser feito aqui”, disse o subsecretário de Cultura.
Neste mesmo ano, o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, em entrevista exclusiva ao site ClickPB, revelou que o mais breve possível será construído na cidade de Campina Grande, um memorial em homenagem a Sivuca. “O anúncio foi feito em 10 de julho de 2009, nas presenças do secretário estadual de Educação, Sales Gaudêncio, e do secretário estadual de Cultura, Flávio Tavares. “Na luta pela escolha entre o agreste e o litoral, nossa preferência será por Campina Grande. Não que João Pessoa não mereça, mas a musicalidade de Sivuca está mais ligada à Serra da Borborema, pois as nascentes de culturas musicais polarizam aquela região”, explicou o Secretário, adiantando que “é pra ontem a execução do projeto.”
No ano seguinte, a revista garantia que o Governador José Maranhão seria o maior entusiasta do projeto Memória Sivuca, mas em João Pessoa. Pelo menos assim parecia em janeiro de 2010. A gente ousa perguntar: o que foi feito desse projeto tão grandioso e que seria a “menina dos olhos” do governador e até do Ministro da Cultura? Para onde foi destinada a verba desse suntuoso memorial?
Meu nobre amigo Valdemir Almeida, cônsul honorário da nossa Itabaiana em terras tabajaras, grande amigo do ex-governador José Maranhão, nas suas conversas com ele, poderia indagar a respeito disso?

Os artistas são seres despreocupados com o tempo. Consta que o artista plástico italiano Guglielmo Cavellini saía em seu iate do cais, sem se preocupar com o lugar para onde ia, ou quanto tempo duraria a viagem. Nessas viagens sem compromisso, levava convidados que depois quase enlouqueciam por perder compromissos, viajando em alto mar sem destino. Para Cavellini, o tempo e o espaço eram coisas do acaso. Tanto que, em 1994, programou um evento para o século seguinte, antecipando um acontecimento em que não estaria presente, em vida. Penso que é assim que funciona a burocracia oficial. Sem nenhum compromisso com o tempo. Esse projeto, tão urgente em 2010, vai fazer cinco anos em janeiro próximo sem que um único tijolo tenha sido assentado, seja em Itabaiana, João Pessoa ou Campina Grande.

Sem sair do tema, poderíamos supor que esse Memorial Sivuca seria uma espécie de arte conceitual, onde se valoriza mais a ideia da obra do que o produto acabado, sendo que, às vezes, este (produto) nem mesmo precisa de existir.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Depressão pós-Natal


Depressão pós-Natal atinge homens e mulheres. Alguns sofrem de psicose pós-Natal, cujos sintomas são ressaca, dívidas, ansiedade pela proximidade do outro feriadão, humor flutuante por causa dos familiares aboletados em sua casa de praia, irritabilidade com o trânsito cada vez mais caótico, só que sem os acenos e gritos de “feliz natal” dos motoristas imbecis, engarrafados e congestionados no trânsito.  

O nascimento de uma criança, filho de sua arrumadeira com um jogador de sinuca, não lhe causa nenhum sentimento maior, a não ser a lembrança daquele velho samba que diz: “Eu tava jogando sinuca, uma nega maluca me apareceu com um menino nos braços dizendo ao povo que o filho era meu”. Enquanto isso, persistem os sintomas de depressão pós-Natal, juntamente com insônia por causa dos mosquitos e o calor, fadiga esmagadora devido aos intermináveis preparativos do Natal, incluindo a tal ceia, sentimentos de culpa ou inadequação, porque lá no fundo do seu cérebro amestrado judaico cristão, você sabe que essa data tem origem pagã. Confusão e desorientação que levam até a distúrbios bipolar. Uma hora você anseia pelas comemorações, outra hora deseja ardentemente enfiar uma estaca no fundo de Papai Noel.

Não se irrite, amigo. O pior ainda está por vir. A hipocrisia farisaica terá seu momento maior nas tais “entradas”. O caos nas estradas deve piorar. Seu crédito estará nos limites extremos do negativo, só que você terá que entrar ainda mais no vermelho para pintar de novo o ano velho e fingir que chora arrependido pelas besteiras cometidas e consumidas no Natal, tomar seu champanha, postar mensagens bestas no Facebook e fazer sua lista de boas intenções, decretando que a partir de janeiro as coisas vão mudar, além do calendário na parede.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Jornalismo de resistência completa meio século

Na biologia, evolução é o processo através no qual ocorrem as mudanças ou transformações nos seres vivos ao longo do tempo, dando origem a espécies novas.

Do ponto de vista social e político, é a tese que pega o evolucionismo biológico e aplica nas sociedades humanas. Com esse mote, o jornalista itabaianense Francisco Almeida fundou o jornal EVOLUÇÃO, circulando pela primeira vez em 7 de setembro de 1964, o ano em que o Brasil involuiu politicamente, retrocedeu aos golpes dos coturnos dos militares. Influenciando pelas ideias esquerdistas, Francisco teve a coragem de ir de encontro à ordem vigente, batendo de frente com os “gorilas” fardados ao editar um jornal de oposição.

Chico Veneno, como era conhecido, deixou um legado substancioso de coragem e paixão pela justiça social. Não conheci pessoalmente essa figura polêmica, líder estudantil que deixou seu registro de cultura e resistência política com seu jornal. Recentemente tive acesso a cópias da primeira edição do EVOLUÇÃO, completando 50 anos que circulou em Itabaiana. Sua irmã, Lourdinha Almeida, gentilmente me repassou esse importante memorial itabaianense e me autorizou a refundar o jornal, o que farei em janeiro de 2015.

Como viveria Francisco Almeida hoje, uma época em que acabou a ideia da revolução? Ele se adaptaria a esse mundo sem utopia, individualista e globalizado? Chico era a utopia em estado puro.   
A ingrata verdade é que nossa Itabaiana, hoje, se encontra em um estágio involutivo culturalmente falando que causa piedade. Há 50 anos, o cenário era mais animador. O ontem e o hoje se encontram nesses registros, e é meu desejo pegar esse fio condutor à perpetuação da história social e cultural da terra de Chico Veneno.

Fica aqui estabelecido esse compromisso em não apenas dar conhecimento às novas gerações do jornalismo combativo que se fazia na década de 60 em Itabaiana, mas - e principalmente – retomar a necessária reflexão sobre o desenvolvimento humano, que teimamos em esquecer.

Meus agradecimentos públicos a Lourdinha Almeida e à assistente social Jacibete Mendes, essa última parceira entusiasmada de nossos projetos jornalísticos, em sintonia de propósitos com a ideia um tanto romanesca de se fazer jornal em uma terra onde, há cinquenta anos, tínhamos dois jornais circulando semanalmente, uma gráfica oficial da Prefeitura a pleno vapor, e atualmente vive-se um deserto nessa área. 




Modelo itabaianense participa de programa na TV 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Papai Noel não existe, mas aceita cartão


Sabendo que sou puto com esse tal de Papai Noel, coleguinha, de sacanagem, fez essa montagem e me desafiou para postar aqui na Toca.
Ta no Google: “A imagem do personagem natalino foi fixada e difundida para o mundo na segunda metade do século 19 pelo ilustrador e cartunista americano Thomas Nast. O Papai Noel de Nast foi fonte inspiradora de uma avassaladora campanha da Coca-Cola nos anos 1930, transformando o “bom velhinho” em um dos maiores símbolos do Natal.”
Por isso, minha campanha anual: faça um velhinho feliz (no caso, eu): mate o Papai Noel e me mande suas orelhas.
O grupo de punk rock chamado “Garotos podres” gravou o “Papai Noel filho da puta”:
Papai Noel filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo!
Aquele porco capitalista

Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Mas nós vamos sequestrá-lo
E arrancar o seu saco
Hoje em dia, as chances de um papai Noel passar despercebido pelas ruas é enorme. Todo velhote desempregado procura emprego de Papai Noel nessa época mais chata do ano, quando um bando de babacas festeja o aniversário de um mito, enchem a caveira de cana e ficam desejando felicidades a gatos e cachorros, no festival anual de hipocrisia que só não é maior do que o tal de réveillon.
Não sei quem foi que disse que todo político tem tecla SAP embutida. Fala dois idiomas normalmente. Um idioma para os idiotas eleitores e outra linguagem para seus cupinchas e o restante da quadrilha. A prefeita de Pilar levou um Papai Noel com trenó e tudo para distribuir presentes numa cidade onde é comum o termômetro marcar 40 graus à sombra. Os locais acharam o máximo esse absurdo de inversão imaginária de mal gosto. Subliminarmente, a prefeita quis dizer que Papai Noel é uma ilusão, não existe, mas vai aparecer sempre na mente dos moradores como uma coisa brilhante, rica, benfazeja, distribuindo felicidade em cada moradia pobre do lugarzinho. Igual à própria imagem da fulana prefeita. Andar de trenó nas ruas do Pilar de Zé Lins é uma coisa tão surreal quanto passear montado num jumento pelas avenidas centrais de São Paulo.

Procurado pela reportagem, Papai Noel mandou dizer que não existe, mas aceita cartão.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Meus destaques de 2014

Eu com Giuseppe, Andrea, Rosival e dona Cassiana


Fim de ano é época de marcar minha lista dos seres humanos que se destacaram em 2014, pedindo a devida licença aos meus cada vez mais raros leitores. Esse pessoal que cito agora formam os destaques no quesito solidariedade e dedicação ao próximo.

Giuseppe Marcelo – Coordenador de teatro do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, um cara gentil, ser humano sonhador que compartilha de nossos devaneios culturais.

Andrea do Monte – Sai de Pilar para abraçar nossa causa depois que se apaixonou pelo projeto de violões para crianças e adolescentes. Na sua terra, gosta de participar de associações comunitárias e projetos sociais. Aqui, somos do mesmo time dos altruístas na esfera cultural. Sua empolgação com os meninos da orquestra é tanta que já levou os músicos mirins para Pilar, sem esconder seu orgulho por participar desse projeto.

Rosival – É veterano no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Começou mexendo com mosaico artístico, já fez teatro, cinema e agora é instrutor do curso de violão. É nosso coringa. Reza a lenda que ele recebeu o espírito de Pingolença, um artista itabaianense dos sete instrumentos que viveu por aqui na década de 40/50.

Dona Cassiana Roque – Mãe de alunos do Ponto, gostou da convivência e tornou-se voluntária. É nossa tesoureira, chefe de gabinete, costureira, cozinheira e animadora nas horas de desânimo da turma.


Por hoje é só. Vou ver mais fotos da turma para registrar aqui.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Saudações aos nossos parceiros


Representa motivo de orgulho para os monitores do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar ter esse rapaz como colaborador e parceiro de nossa jornada pela difusão cultural na cidade Itabaiana do Norte. O professor Luiz Antonio Silva faz parte do quadro docente da Escola Estadual João Fagundes de Oliveira, uma espécie de exemplo bom de como deve ser um mestre, dedicado à difusão do saber. Ele acredita que o processo de educação tem que ser global, e acompanhando o avanço da sociedade, a evolução das coisas. Cumprindo sua filosofia de trabalho e de vida, professor Luiz Antonio se desloca com seus alunos para as ruas, para a vida real, onde as ações humanas se passam, onde a vida acontece, fora das quatro paredes da sala de aula.

Na realidade, professor Luiz Antonio é o menos indicado para atividades fora da escola pelas suas limitações físicas, mas isso é, talvez, uma de suas maiores motivações, mostrar que todos devem aproveitar seu potencial em qualquer circunstância, ensinar a romper os limites do corpo e da mente. Sua marca dinâmica fica registrada nas turmas a quem ensina, todos o admiram pelo ritmo, pela lealdade e amizade sincera que mantém com seus pupilos. Todos temos nossos professores inesquecíveis. Luiz Antonio é um desses mestres a quem o tempo jamais apaga da memória dos seus alunos. Daqui a 50 anos, muitos dos estudantes de suas classes irão se lembrar desse mestre incentivador do gosto cultural, intransigente crítico do descaso das autoridades pela nossa memória histórica e valorização da educação pública.

No momento em que estamos organizando um projeto para levar nossa biblioteca aos estudantes e à população em geral, avaliando as metas alcançadas e os passos dados pela popularização da leitura, agradecemos ao professor Luiz Antonio por levar seus alunos ao Ponto de Cultura Cantiga de Ninar para ler na nossa biblioteca, ou pelo menos para ter contato com livros. Deixemos de lado o pessimismo porque temos pessoas assim, que acreditam que alguma coisa pode ser feita para iluminar as mentes da juventude com o poder da palavra escrita. É esse permanente processo de recuo e avanço que precisa ser estimulado, sem desânimo. Nesse particular, é bom poder contar com figuras como o professor Luiz Antonio, pessoa que cuida com esmero e carinho da educação total dos seus alunos, levando-os a conhecer e interagir com nosso Ponto de Cultura.


sábado, 20 de dezembro de 2014

POEMA DO DOMINGO




Livre arbítrio 
  
Glória a Deus pelo mundo e suas mazelas,
Glória a Deus pelas desigualdades dos povos,
Glória a Deus pelo desfazer das quimeras,
Glória a Deus pela fartura dos porcos.

Glória a Deus pela fome que usurpa,
Glória a Deus pela escassez da esperança,
Glória a Deus pela doença sem cura,
Glória a Deus pelo mal que amansa.

Glória a Deus pelos amores infames,
Glória a Deus pelo sorriso da injustiça,
Glória a Deus pelos estupros infantes,
Glória a Deus pelo ódio que atiça.

Glória a Deus pelas misérias sem nome,
Glória a Deus pela ausência de Deus,
Que não habita a igreja dos homens. 

Jairo Cézar

Cesta de natal para o velhinho aposentado


O Sindicato dos ferroviários ligou para mim, falando de uma cesta de natal que estava me esperando. “Você ainda consta da nossa lista, venha buscar sua cesta”, disse o companheiro Anselmo. Às vezes a gente fica contente por saber que ainda está na lista, que não desapareceu por completo das lembranças. De fato, muita gente que se aposenta sai da visibilidade, fica meio assim morto-vivo, deslocado nesse mundo prático das coisas rodantes nessa engrenagem cruel onde só se nota o semovente ativo.

Quantos aposentados vagam pela cidade junto aos monumentos esquecidos, pelas calçadas decrépitas, saudosos de um tempo em que as pessoas não jogavam papel no chão nem esperavam velhinhos para fins de assalto na esquina. Homens de bigodes brancos e pernas finas, no meio do turbilhão de pessoas se acotovelando em filas para comprar a passagem, entre trombadinhas e trombadões procurando encrenca. Senhores sendo empurrados ou ameaçados, agredidos na praça pública, numerados e identificados pelo sistema, humilhados pelo banco que exige sua presença trêmula para provar que ainda sobrevive.

Fico agradecido pela cesta natalina do sindicato, onde o atendente é meu compadre Bené, figura com quem vale a pena demorar por dois ou três dedos de prosa. “Você sabia que esta cidade consome 500 quilômetros de papel higiênico dentro do cesto e mais ou menos 400 quilômetros fora do cesto, ao dia?”, pergunta de chofre meu compadre Bené. O mundo é muito mais interessante visto pelos olhos do mentiroso, penso eu cá com meus dois botões. Tem sentido, “porque na Europa...”, explica Bené, em mais uma de suas teorias malucas.

Saio com minha cesta, empurrando a bicicleta que me serve de muleta por causa da artrose. No banco da praça, um velhinho cochila em silêncio, em cima de sua bengala. Passo no shopping onde não posso entrar com minha bicicleta, transporte de pobre fedorento. Fico de bobeira no Ponto Cem Réis, admirando os Papai Noel de plástico nas bancas dos camelôs e os de carne e osso, esses derretendo debaixo de suas roupas vermelhas nas portas das lojas de 1,99. Parece um Papai Noel comum, mas quando você vai ver, ele coça a bunda e retira o enchimento de algodão da cabeça para arejar os piolhos. Tenho vontade de dar minha cesta de natal a esse Papai Noel de porta de loja, com validade claramente vencida. O Noel, não a cesta!

E fui andando, empurrando minha magrela desconjuntada, minhas honestas e tortas mãos segurando firme o guidom, decrépito senhor de meia idade sem nada de digno em sua postura de aposentado se concentrando nas dores da artrose nos joelhos, bacia e dedos com artrite.  Eu e minha bicicleta, duas coisas abandonadas à sua condição de qualquer coisa.



sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Projeto Mais Cultura promove Auto de Natal Cordelizado em Juripiranga


Foi na noite de ontem, 18, que o grupo de teatro Infantil Borba fez sua apresentação do espetáculo Auto de Natal Coordelizado, com recursos cênicos e linguísticos baseados na cultura local. No texto, Maria e José erram o caminho de Belém e acabam chegando em Juripiranga. Nesse enredo, Maria e José vão sendo influenciados pela cultura local. O menino Jesus nasce entre o povo e adquire seus hábitos, onde é aclamado não só como salvador e sim como uma figura que traz felicidade ao povo da localidade. “A maior sacada do texto é permitir que a plateia seja identificada com suas raízes, junto ao nascimento de Jesus”, disse Edglês Gonçalves, diretor do espetáculo. Na programação, constou ainda apresentação da Orquestra Som do Coração do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, sob a regência de Rosival Silva.   

O projeto Mais Cultura da rede municipal de educação de Juripiranga é uma iniciativa da Escola Maria José Borba, sob a direção de Maria da Paz e Edna Dantas, com participação do corpo docente e discente como também o pessoal de apoio. "As crianças de Juripiranga amam sua terra e seus contos e mais ainda sua escola. Nada mais propício do que fazer uma montagem cênica que pudesse envolver os elementos da cultura do Município”, disse Da Paz.  

A cidade também conta com outro projeto Mais Cultura na rede estadual, na Escola Teonas, com proposta de realização de audiovisual coordenada por João Paulo Lima. O município é um dos que estão mais adiantados na exploração desses projetos culturais nas escolas, em toda 12ª Regional de Ensino.

(Edglês Gonçalves)