quarta-feira, 30 de junho de 2010

Enquanto isso, na Bat Caverna...


Sei que é muito chato isso, mas tenho que comentar as convenções partidárias realizadas hoje na Paraíba. Esse blog não é preferencialmente lugar para falar de política, só que o caso é tão burlesco e ridículo que a Toca do Leão registra envergonhada. Os caras abusam do direito do cinismo.

Na Bat Caverna, Robin, que atende pelo bonito nome de Ney Robinson Suassuna, chegou pilotando seu morcego preto carregado de putadólares para arranjar um lugar na chapa, já ocupada pelo fantástico Dr. Efraruim que se nega a sair de fininho devido a uns trancos mal explicados na gaiola das ilusões, conhecida como Congresso Nacional.

O vilão Damião Feliz espera até o último momento para dar o bote e esconder as unhas sujas de sangue de inocentes. Ele é operador de hospital e nem pede fogo pro cachimbo na hora de picaretar, convocando ainda Amorinho, Coronel Ludugero e Jacó, parente de Maciel Caju, para uma reunião de emergência destinada a distribuir o butim.

Os rapazes das fichas sujas, ameaçados pelos “fichas mais ou menos”, apelam para o papai Zé Mandrião para que a dona justa os deixe em paz. Na cidade de Brasília, carinhosamente conhecida como Debased City, o sapo inchado de vaidade não sabe a quem acolher debaixo do seu papo inflado de gas e jurubeba: diz que ama Mandrião mas adora Ricardinho Coração de Tatu Peba.

Curtindo muito toda essa vileza e safadismo, corre por fora o Cuinha, filho do famoso Cunhão, pego com a boca na botija e afastado dos despojos podres dos podres poderes. Ele diz que ta eleito no futuro pleito e portanto não tem jeito: tamos fodidos de verde e amarelo com vuvuzela e tudo.

O Tribunal do Faz de Contas condenou o Rei Salomão e mais 500 picaretas a devolver zilhões de reais, sob pena de não entrar na brincadeira por oito anos. O Rei do Sertão devolve afirmando que o Tribunal não tem credibilidade nem pra julgar as contas do fiado na bodega de Zé do Bar.

São Tiago de Falsa Compostura e Virtualzinho serão candidatos a senadores da Ré Pública, prometendo mundos e fundos e só dando o que realmente têm. Em Brasília, prometem azeitar o eixo do sol e escovar urubu, enquanto enchem as meias, casacos, cós das calças e ceroulas do bom e velho “mel de tubiba”, produto muito comum naquelas planícies.

O Partido dos Vagabundeadores executa manobra que faz sobrar na curva o irmão gêmeo, que na última hora ainda tentou botar seu clone no lugar, sem sucesso. Para sua vaga de vicejador, entra o dissimulado e manhoso Rodrigo Mui Amigo, deixando Cartaxo com cara de tacho.

Na reta final das conveniências, que uns chamam de convenções, os tucanos trocaram bicadas e acabaram por apoiar a candidatura de Efraruim, ressuscitando o velho bordão: “ruim por ruim, vote em mim”.

Enquanto isso, bandidos assaltam agência bancária no Cariri, mas a polícia estava ocupada dando cobertura aos “fichas sujas” convencionais.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Pacatuba foi vencido, mas não corrompido


Dona Maria Helena Malheiros, filha de Biu Pacatuba

“A história não é uma ciência e não tem muito a esperar das ciências; ela não explica e não tem método, melhor ainda, a História, da qual muito se tem falado nesses dois últimos séculos, não existe.”
O autor desta afirmação, Paul Veyne, é professor do Collège de France, doutor em Letras e especialista em história da antiguidade Greco-romana, nascido em 1930, na cidade de Aix-en-Provence, na França.

Com todo respeito aos nossos historiadores, quem já ouviu falar de um homem chamado Biu Pacatuba, uma das maiores referências nas lutas camponesas do começo da década de sessenta na Paraíba?

De que forma e com quais métodos, e ainda com que ideologia se pensa e se pesquisa a história das pessoas num país tão injusto socialmente como o Brasil? Que fatos históricos vão ser registrados e como se desenhará a personalidade e as motivações dos indivíduos?

Machado de Assis: “O improviso é uma espécie de deus avulso”. O acaso me fez conhecer Maria Helena Malheiros, bancária aposentada, irmã da esposa do meu compadre Jurandi Pereira. Filha de Pacatuba, ela quem me contou a saga de sua família na várzea do Paraíba, durante e depois do vendaval político que varreu as cidades de Mari, Sapé, Itabaiana, Pilar e São Miguel de Taipu. A guerra do latifúndio contra os camponeses, a bela história da organização e resistência dos rurícolas e a repressão que se abateu sobre o movimento das Ligas Camponesas têm no Biu Pacatuba uma personagem principal. Figura tímida e sem carisma de agitador de massas, seu trabalho era no boca-a-boca, na doutrinação dos companheiros, na luta do cotidiano, com coragem e fé na união dos campesinos.

A história não foi generosa com o reconhecimento desse vulto fundamental das Ligas Camponesas. Foi o primeiro presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sapé, pelo simples fato de que era o único alfabetizado. Não queria a função de comando, não era de sua índole dirigir as massas, mas aceitou o cargo para o bem da organização. Lutou, foi preso juntamente com Pedro Fuba e outras lideranças, torturado e perseguido até morrer.

Ao tomar conhecimento dos fatos ligados à vida de Biu Pacatuba, pedi autorização à família para narrar o caso em um folheto de cordel, que sai agora pela A União Editora. Acho que é uma dívida que se paga à memória de um herói do povo, um lutador ilustre e destemido que sacrificou a família e sua própria vida pela justiça social. O papel que desempenhou nas Ligas Camponesas ainda será reconhecido. O semi-feudalismo da Paraíba de então via em homens como Biu Pacatuba apenas subversivos a serviço do comunismo internacional. As relações vergonhosas de submissão de homens paupérrimos aos senhores das usinas foram o estopim das revoltas e da necessidade de associação dos pequenos produtores rurais e trabalhadores do eito, em busca da superação desse estado de miséria e humilhação seculares.
Biu Pacatuba é um símbolo maior desses heróis do povo, que se projetam para além do seu tempo. São exemplos de dignidade que merecem o justo reconhecimento dos brasileiros. Banido dos estudos do nosso passado recente, Biu Pacatuba restabelece seu protagonismo nesta humilde obra em linguagem popular, simples como os irmãos camponeses.

É minha contribuição ao resgate da memória de um homem, co-autor de uma das mais empolgantes e trágicas páginas da História da Paraíba. Preso político, perseguido e anistiado depois de morto, dedicou toda sua exemplar existência ao combate às injustiças sociais perpetradas pelos donos do poder em nosso Estado e à luta incansável a favor da justiça social. Que sua vida revolucionária sirva de exemplo para a atual e futuras gerações.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

“Biu Pacatuba” nem saiu da gráfica e já recebe comentários de futuros leitores


Meu livro “Biu Pacatuba – um herói do nosso tempo” está prestes a sair, mas já recebe comentários dos meus leitores. No blog do Marconi, em Itabaiana, o leitor Ronildo Andrade escreveu: “O livro Biu Pacatuba, de Fábio Mozart, é um resgate dos nossos verdadeiros heróis, faz justiça a quem a história, que é escrita pelos vencedores, não fez. Muitos brasileiros sucumbiram lutando por justiça social, entre eles alguns paraibanos como Nego Fuba, Pedro Fazendeiro, João Pedro Teixeira, Anaíde Beiriz e Margarida Maria Alves. Vivinha da silva, ainda temos a heroína Elizabeth Teixeira. Esses sim, deveriam ter seus nomes lembrados e não os opressores.”

Por sinal, estou fazendo o lançamento desta obra na forma de subscrição, que a tiragem é limitada. Pretendemos fazer o lançamento em julho próximo em Itabaiana, Sapé e Mari.

João Adolfo Guerreiro tem 42 anos, é formado em sociologia, escreve artigos em jornais gaúchos, faz parte do G5, grupo de literatos da cidade de Charqueadas. É músico e compositor. Sobre o livro “Biu Pacatuba”, que já se encontra disponível na internet, escreveu: “Um trabalho muito importante realmente, o intelectual dá voz à história popular, dos oprimidos. Parabéns.”

Ainda sobre o livro da luta camponesa em Sapé, escreveu Fátima Vieira: “Fora de série é um título que pode ter duplo sentido: por ter uma tiragem reduzida, portanto, "fora de série" e por conta da qualidade da obra. O seu livro reúne as duas definições, o que o predestina a ser um sucesso. E muito sucesso é o que lhe desejo, de coração! Você é bom no que faz e merece toda a glória!”

A tiragem é reduzida mesmo! Em Itabaiana, só poderei disponibilizar 100 exemplares. Já anotei no caderno de fiado alguns amigos que reservaram seu livro, a exemplo de Dalmo Oliveira, Ivaldo Gomes, Quelyno Souza, José Tavares e David do Monte.

Vou concorrer ao Prêmio “Patativa do Assaré” de Literatura de Cordel. Se ganhar, mando imprimir dez mil exemplares para distribuir gratuitamente nas escolas públicas de Sapé, terra de Biu Pacatuba.

Olha, minha gente, no dia em que eu ganhar na Loteria, pode acreditar que mando obedecer a Lei 12.244, sancionada por Lula, que torna obrigatória a instalação de uma biblioteca em toda instituição de ensino público e privado. Pelo menos na minha terra. Se bem que uma escola sem biblioteca é algo assim como jogar futebol sem bola.

domingo, 27 de junho de 2010

Memórias de Itabaiana


José Benjamim Pereira Filho

Nasci fora. Aos dois anos fui para Itabaiana, onde vivi até os 11 anos. Quem me diz que não sou de Itabaiana? O filé de minha vida, os melhores momentos, a infância construí aí. Ouvindo o pífano de Zé Espiciá, chapeado que tinha um boi de carnaval. Aquilo sim que era boi! Com a batida certa, o ritmo certo. O toque (som) da flauta-pife perfeita. Mais nunca na vida ouvi coisa carecida, tão linda. Lá em João Pessoa é que fazem mais ou menos, mas nunca com a grandeza do Zé Especiá.

A difusora de João do Bode foi minha enciclopédia da música brasileira, junto a um radinho que havia na sala de minha casa, presente de um irmão que aos 12 anos trabalhava nas Lojas Paulista, na “rua Grande”. Pois bem, quando esta difusora localizava-se numa barraca naquela subida ao lado da Rua Santa Rita, por traz da rua Boca da Mata, atravessando a linha do trem, numa casa ao lado da barraca do João do Bode, assisti a um menino negro encenar um drama de Natal. Músicas que ainda não conhecia. Tá na cabeça até hoje. Esse menino ? Poty o nome dele..

Esta agora dos três severinos, sinceramente, me comoveu
Bela página. Os três precisam ser conhecidos e respeitados por nossa juventude, precisam ser reverenciados por este mesmo povo que hoje sendo depositário desta cultura, já foi aquela época o caldo sócio-afetivo que proporcionou o surgimento dos mesmos três.

Enfim, povo que gestou os gênios e hoje herda a genialidade, embora aparentemente obscura noutra aparente relação social embrutecedora. Por mais que se maltrate, por mais que se explore, esse nosso povo conduz o gérmen da mais genuína cultura. Embora às vezes não saiba explicar, até porque a carga de opressão tenta impor a alienação econômica e cultural.

Mas o povo tá aí. Povo dos Taiobas, do Pão Duro, do boi de Zé Espiciá e dos caboclinhos de Mocó, dos altos de Itabaiana e da beira do rio.

sábado, 26 de junho de 2010

Fim da canção


O poeta e cantador Hugo Tavares (foto), de Santa Cruz/RN, pegou um poema de minha autoria e musicou. Saiu a “Canção do Desterro”, uma marcha de melodia um tanto pueril, que lembra não sei qual música do passado. Com essa canção, disputei um festival no sertão da Paraíba, que terminou abruptamente, depois que um raio caiu nos equipamentos de som e até hoje ninguém sabe quem ganhou. Em futuras edições, convém não esquecer de instalar geradores.

Com essa mesma marchinha, vou concorrer no Festival de Música do Sesc/PB. A linha melódica dessa canção ressuscita um debate que já vem sendo travado entre críticos e músicos: o fim da canção. Vi/ouvi Arrigo Barnabé dizer em entrevista na televisão que a crise é real. Sérgio Mendes: “sinto que existe um vazio, uma falta de grandes melodias. É uma crise mundial”. Chico Buarque afirmou outro dia que a canção, como a conhecemos, pode ter se esgotado e estar encerrando seu ciclo na História.

Noto que os grandes sucessos musicais de hoje, tirando os desprezíveis que vivem pela força do jabaculê, são canções revisitadas pelos novos intérpretes, jóias da música popular brasileira como já não se faz mais hoje em dia. Daí o lugar ocupado pelo Hip Hop, que tem ritmo e poesia, dispensando a linha melódica.

O pesquisador José Ramos Tinhorão é outro que vaticinou o fim da canção. Antes que acabe, deixo minha contribuição à área com essa marchinha um tanto desacreditada, que dialoga com a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. O músico Vital Alves ouviu a minha canção e ao final julgou: merece nota 7,5. Tirando a conta da amizade, eu desconfio que nossa música (minha e do Hugo Tavares) só vale nota 5, e olhe lá! É a crise da canção.

Mas nunca me entrego. Já estou fazendo parceria com o próprio Vital Alves numa canção com levada pop. A morte anunciada da canção, pelo menos no contexto paraibano, é assunto que vai se prolongar enquanto tivermos músicos talentosos como Vital Alves, com vontade de produzir cada vez mais. O que morreu mesmo foi o rádio enquanto divulgador da nossa arte musical.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Tucunaré de Tião


Tião Lucena e Palhano comandam a festa no Bar do Zezão

Palhano do Geisel manda dizer ao pessoal que amanhã, sábado, dia 27 de junho, o velho Tião Bonitão, irmão de Zezão, encomendou tilápia e tucunaré ao seu vizinho Mané, peixe mais fresco do que o finado Clodovil, pra mandar assar e traçar como tiragosto no bar do próprio Zezão, lá pras 11 horas da manhã, ao som do grupo musical “Vai à força”, de Zé do Pandeiro e sua gente. Contamos com a presença de todos.

O endereço do bar: no meio de uma favela em pleno mercado do Geisel. Já viu uma favela dentro de mercado público? É uma atração à parte. Para chegar no bar do Zezão, pegue um bebinho que estiver à mão nas cercanias das muitas bodegas do mercado, e peça para leva-lo ao dito bar. A cachaça que se serve tem o sugestivo nome de “Pé inchado”, sendo de três níveis: nºs 1, 2 e 3. “Pé Inchado” n º 3 é bomba pura, só para iniciados e bebinhos em estado terminal.

A cachaça é artesanal. A bebida remete a um bom papo com sujeitos excelentes do naipe de Dalmo, Marcos Veloso, Sílvio Lixo, Gilberto Júnior e Maciel Caju. O prato da casa é caldo de feijão verde com galinha torrada. Às vezes sai um peixe assado. De vez em quando aparece o radialista “Boca quente” para fazer uma boquinha e arrotar brabeza.

A festa tem hora marcada pra acabar: pontualmente às 13 horas, Zezão serve a saideira e manda todo mundo embora. Quem não tiver mais pernas, fica por ali mesmo, deitado no meio da lama e merda que desce dos esgotos a céu aberto. O ex-prefeito Ricardinho Coração de Pedra planejou derrubar o mercado do Geisel para construir um ambiente limpo e moderno. Foi mais uma promessa não cumprida.

No fim sai a seleção dos meninos do Bar do Zezão, que vai jogar contra a seleção do bar de Osvaldo: Pé de Cana, Noel Barriga de Mel, Pé Inchado, Zito Furão, Zé Pingueiro e Porradaço; Pranchado, Pudim de Cachaça, Caixa D’água, Chapadinho, Envernizado, Baleado e Bicudinho.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sou viciado em droga


De uns anos para cá, passei a ser dependente de droga. Todos os dias me encontro dopado com substância química que me faz dependente. Tem pessoas que são viciadas em chocolate, outras gostam de cheiro de gasolina, algumas não vivem sem Coca-Cola e até as que têm fissura por internet, incluído Twitter, Orkut, blog e outras interatividades. Conheço um cidadão que gosta muito de passar a mão na tela da TV quando acaba de desligar, pra sentir na pele a eletrostática que arrepia os pelos. Passa o dia ligando e desligando... Tem viciado em tudo! Mas são vícios inocentes, tipo cheirar fósforo queimado, extrato de banco, sabão em pó.

Outro tem o costume de chupar gelo e comer comida japonesa, enquanto rói a unha, estala os dedos e morde os lábios. É um poli-viciado, palavra que acabei de inventar e nem sei a grafia direito. Tem pessoas também viciadas em sexo, o tal do Comportamento Sexual Compulsivo. Nas mulheres, dá-se o nome de ninfomania. Enfim, tem tarado para todos os gostos.

Mas o caso é que eu sou viciado em droga, uso todo santo dia, e esse vício é uma doença milenar. Incomodo a família às vezes, acordando todo mundo de madrugada. A droga de que faço uso constante é uma substância química que contém noradrenalina, dopamina e acetilcolina. Sua denominação se origina da morfina, que é um analgésico poderoso. Ao entrar na corrente sanguínea, essa droga proporciona sensação de euforia e bem-estar, dá prazer, aumenta a resistência, a disposição mental, alivia as dores e tem efeito de curta duração. Chama-se endorfina e é liberada pelo organismo quando você pratica alguma atividade física. Você já ouviu falar que exercício vicia? Algumas pessoas realmente são viciadas em atividade física. Esta dependência causada pelo exercício é devido à endorfina. Por isso caminho cinco quilômetros diariamente. Frase clássica dos caminheiros: caminhar não acrescenta dias à sua vida, mas vida aos seus dias. Achando pouco, também aproveito para tomar generosas doses de serotonina, outra droga que é sedativa e calmante.

Um vizinho tenta me viciar em drogas pesadas, tocando no volume máximo os discos de “Aviões do Forró”, “Calcinha Preta” e outras bugigangas “musicais.” Como antídoto, ataco de Antonio Nóbrega, Clã Brasil, Marinês e Zeca Baleiro. Música ruim de qualidade também pode viciar. Cuidado com seu vizinho pagodeiro ou forrozeiro de mala de carro.

São João viaja no disco voador tomando hidromel e lendo nota de solidariedade



Parece título de folheto de cordel, mas não é. Sendo hoje 24 de junho, é dia de São João, do disco voador e do mel. A solidariedade fica por conta de mensagem que recebi do jornalista Fernando Gasparini, Mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense, coordenador e sócio-fundador do Projeto ArteSivuca - Maestro da Sanfona Brasileira, com apoio do Ministério da Cultura. A nota veio a propósito da ação judicial que respondo por “difamação”, movida pela viúva de Sivuca. Ei-la:

“Eu, Fernando Gasparini, jornalista, venho, por meio deste e-mail, prestar os mais profundos votos de solidariedade ao meu colega de profissão Fábio Mozart. Não há nada neste texto que ofenda ou denigra a imagem de ninguém. Pelo contrário, trata-se de um artigo opinativo. E no nosso país gozamos do direito de liberdade de imprensa, isto é, o direito de expressar livremente nossas opiniões, independentemente de agradar ou não a terceiros. Repito, não há neste artigo nenhuma ofensa, calúnia ou difamação que justifique qualquer ação judicial.”

O dia do disco voador é consagrado mundialmente. Foi em 24 de julho de 1947 que aconteceu um fenômeno. O piloto civil Kenneth Arnold voava em seu pequeno monomotor Piper, entre Chehalis e Yakima, no Estado de Washington, quando avistou nove discos voadores voando em formação na velocidade em torno de 200 quilômetros por hora. Ao contar o caso, o piloto descreveu os objetos como discos voadores ou pratos lançados sobre a água. Pronto, estava inventada a fantasia que embalou astros como Raul Seixas, ele que também era fã de hidromel e chá de filosofia.

Hoje também é dia do mel, que me faz lembrar os dias de minha juventude, quando existia o famoso hidromel São João. O hidromel era a bebida dos deuses, o néctar que veio antes do vinho e da cerveja nas mesas e prateleiras da civilização. Antes de Cristo já se bebia hidromel. O cristianismo consagrou as bebidas feitas de uva. O livro do Eclesiastes, no antigo Testamento, descreve o vinho como “gozo do coração e alegria dos homens” e que o Novo Testamento o consagra como representação do sangue de Cristo. Vinho e hidromel então, para louvar São João.

Os discos voadores de fato existem. Eles vêm à terra para conhecer outras formas de vida inteligente. Ao sobrevoar os campos de futebol na África do Sul e ver aquelas multidões vestidas espalhafatosamente e soprando cornetas de plástico, muitos deles recentemente voltaram aos seus planetas de origem com relatórios nada favoráveis a nosso respeito.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

As criancinhas de Sivuca pedem passagem


Alunos do curso de violão do Ponto de Cultura apresentando-se no encerramento da Cavalgada da Integração João Duré, em Itabaiana

Antes de desencarnar, o mestre Sivuca escreveu carta à filha Flávia Barreto pedindo para “fazer alguma coisa pelas crianças da Paraíba”. O sentido é de qualificação, principalmente artística. “Para Sivuca, como também para muitos brasileiros, a música foi uma forma de inclusão social e garantia de sobrevivência. Por ser albino e, por isso, impossibilitado de tomar sol e com dificuldades de visão, o artista jamais poderia trabalhar na lavoura ou na sapataria, como os membros da sua família. Nesse sentido, as oficinas visam qualificar o músico de forma a ampliar as possibilidades de trabalho como profissional e abrir novos espaços para a sanfona no cenário cultural brasileira”, diz o texto do Projeto Sivuca – Mestre da Sanfona Brasileira.

De alguma forma, tem gente fazendo a tarefa que o mestre sonhou, buscando elementos na própria arte musical. Isso em Itabaiana, sua terra querida. O Ponto de Cultura Cantiga de Ninar é palco de lições diárias de amor à arte e abnegação, confiança no futuro e cultivo de sementes que certamente irão germinar, por um mundo mais decente e bonito. Crianças e adolescentes que aprendem a tocar violão e teclado e são introduzidos no mundo da música, tanto popular como erudita. Professor Vital Alves dá noções básicas de música e técnicas de violão, enquanto o maestro Josino Mendes ensina teclado para jovens de baixa renda. Por sua vez, a professora Sueli Jovelino transmite linguagem de dança, misturando técnicas eruditas com os passos do balé popular. É o grupo “Meninas do Rio” que propaga e preserva nossa cultura por meio de meninas entre 8 e 13 anos, a maioria delas afro-descendentes e oriundas de comunidades pobres.

“Tentamos por conta própria levar esse projeto cultural em Itabaiana, a despeito da indiferença dos poderes públicos”, disse Marcos Veloso, um dos coordenadores. Unidos pela arte, os oficineiros e monitores do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar recebem pró-labore simbólico do Ministério da Cultura. “Esse projeto é uma ousadia histórica, levando-se em conta o cenário nada promissor da produção cultural em Itabaiana”, afirma Veloso, ele mesmo com mais de 30 anos de atuação no teatro, tendo fundado um teatro de bolso na cidade, na década de 80. “Fiquei encantado e obstinado pela ideia de fazer alguma coisa em matéria de arte em benefício de crianças carentes em minha cidade, por isso levo adiante o empreendimento junto com outros voluntários”, declarou.

Na real, o projeto vive de teimoso. Não se tem grana para o aluguel, luz, água, internet ou material de limpeza, é na base da rifa, da “vaquinha”, aperreios que não tiram o vigor e a vontade da equipe. Agora mesmo vou lançar um livro com arrecadação destinada ao Ponto, e a moçada já está na rua, vendendo subscrição da obra. De forma que estou fazendo a minha parte, junto com amigos iguais ao Dr. José Mário Pacheco, que doou instrumental do nosso grupo de música regional “Ganzá de Ouro”. O sonho de Zé Mário é perpetuar os valores de nossa terra através da arte da sanfona, nós que somos conterrâneos do mestre maior do instrumento que o imortalizou. Projeto para ter início no ano que vem.

terça-feira, 22 de junho de 2010

De olho na jabulância


A jabulani rola no jaburu da roleta africana, enquanto eu percorro sebos para encontrar livros de José Saramago. Já estou passando a vista no “Todos os nomes”, que fala das agruras de um senhor às voltas com a burocracia surrealista do registro civil.

Quando Michael Jackson morreu, não tive ânimo para ouvir suas jabulâncias (música pop acompanhada de rebolados extravagantes), mas o finamento de José Saramago despertou o desejo de conhecer a obra do único autor em língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Grande ledor do comunista português, meu compadre Gilberto Bastos vai emprestar alguns livros, menos ”A história do cerco de Lisboa”, considerada a obra prima do ficcionista lusitano, que por capricho ele não tem na sua estante. Aceito de presente ou por empréstimo.

Mas a jabulância continua. É uma situação jabulante no reino da Jabuleia. É uma palavra que já faz parte da pansofia, outro termo que só vive no dicionário mas hoje resolvo liberta-lo, por falta do que dizer e para não ser acusado de plágio.

Primo da jabulância, o jabaculê me irrita os ouvidos ao som de Rebolation do Parangolé, enquanto esforço-me para entender o que fez o Dunga para irritar tanto a Globo, parceira preferencial da CBF. Dunga, Zangado e outros anãos tomaram todo tempo da imprensa que até esqueceu de malhar a Dilma e botar flores na careca do Serra. Na Paraíba do Norte, Maranhão pensa em bolar uma campanha publicitária ligando seu venerável e operoso nome às glórias da canarinha no reino da jabulância. Sabe-se que ele não dá bola pra o PT do padre mas rola macio para os pés do PT soarista/adesista, enquanto faz gol de mão na área de Ricardinho, o craque sem torcida nem meio de campo que preste.

José Saramago livrou-se das fraldas geriátricas para entrar definitivamente na lista dos meus autores preferidos. Vou ver ainda esta semana o filme do Fernando Meireles, sobre a cegueira. Depois de assistir o filme baseado em seu livro, Saramago chorou. É um autor universal. Com seu português de Portugal, consegue ser apreendido intelectualmente na sua terra, no Brasil, na Rússia ou na China.

Enquanto isso, 80% da humanidade de olho na jabulância e assoprando a vuvuzela, também conhecida como corneta de otário. Em tempo: jabulani é o nome da bola da Copa do Mundo. No idioma zulu, significa “celebrar”. Kaká morre de amores por ela e pelos milhões da Adidas, enquanto Luiz Fabiano diz que seu relacionamento com a dita cuja é de um namorado de patricinha: só na porrada pra deixar de ser burra. Com os pés e mãos, inclusive.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

“Besteira”, o coveiro


O nome da figura é Davino Roberto da Silva, conhecido por “Besteira”. Conheço desde criança. Quando jovem, tinha a mania de acompanhar enterro, mesmo de pessoas desconhecidas. De tanto gostar de enterro, acabou como auxiliar de coveiro em Itabaiana, pretendendo subir na profissão, chegar ao cargo de coveiro chefe, aquele que é mais poderoso do que o juiz: prendeu, ninguém solta.

“Besteira” é uma pessoa super simples e bem humorada, muito divertida. Quando trabalhava na estação ferroviária do Triângulo, eu recebia todas as tardes a visita de “Besteira”, para dizer besteiras e comprar o nosso lanche. Encontrei “Besteira” besteirando pelas ruas de Itabaiana. Uma pessoa que nunca me decepcionou. Será sempre o mesmo, não sabe fingir, é ingênuo, de uma simplicidade poética.

A vida é feita de escolhas. A de “Besteira” foi amar o cemitério e os rituais da morte. Reparo no aspecto abatido, corpo gorducho do antes franzino “Besteira”. O contentamento é o mesmo. Nunca foi visto denotando tristeza ou raiva.

Augusto dos Anjos escreveu: “Amo o coveiro este ladrão comum, que arrasta a gente para o cemitério! A morte, esse danado número Um, Que matou Cristo e que matou Tibério. ...” E vai matar “Besteira” um dia desses. Será enfim o ápice de sua vida. O melhor momento de sua existência, quando enfim descansará dentro do caixão de pobre, num canto qualquer do campo santo, covão escavado por antecedência pelo próprio “Besteira”.

Davino Roberto da Silva, nosso “Besteira”, nunca bebeu nem fumou, dizem que ainda continua donzelo. Os únicos prazeres: enterrar defuntos, comer e dizer graçolas infantis pelas ruas. Aquele que nunca muda o humor, jamais teve um momento de raiva. Quando morrer, vai entrar no céu igual à Anastácia de Manuel Bandeira, sem pedir licença. Com os fundilhos sujos de terra da necrópole e um belo sorriso idiota na cara larga e gorda.

domingo, 20 de junho de 2010

Contraponteando com o clima de bola murcha


Vocês estão vendo como anda o nível técnico da Copa do Mundo? O esporte que seduz multidões expõe sua agonia ao mundo. Não existem mais craques nem esquemas táticos renovadores. Partidas medíocres dignas dos poeirões suburbanos. Jogadores banais e sem originalidade fazem parte dessa entressafra. Futebol é uma arte, e como toda arte, tem seus momentos de altos e baixos. Os recursos e energias despendidos para renovar e manter o futebol na mídia como grande chamariz comercial não são suficientes para enriquecer o esporte no campo. Jogadores geniais não aparecem do dia para a noite. Safra boa requer tempo, e tempo certo.

Um jogador de habilidade genial é o Robinho. Outro, o Lionel Messi, talvez o maior de todos os que estão se exibindo na Copa. Tirando esses e mais uns dois ou três gatos pingados, o resto é palha, como se dizia no interior. Os times ruins se nivelam.

O pior time do mundo é o Brasil. É um fracasso total em campo. Passou 30 jogos sem vencer. Em 12 partidas disputadas pela terceira divisão, o time sofreu tantos gols que terminou com saldo negativo de 64 gols, o que só não foi pior do que sua participação no torneio Clausura onde o saldo foi de 99 gols negativos em apenas 12 jogos. A maior goleada sofrida foi de 18×0. Não se trata do time de Dunga, mas do Desportes Brasil do Chile. Para o presidente, a culpa é dos jogadores e do juiz que se venderam. O time de Dunga é um pouco melhor, convenhamos.

No meu tempo de torcedor do campeonato pernambucano, a chacota era considerar o Íbis o pior time do mundo. Era um time amador que disputava o campeonato de profissionais. A fama de pior time de mundo veio com uma brincadeira da torcida do Sport Clube Recife que acabou pegando. Só porque o “pássaro preto” amargou nove derrotas consecutivas e depois uma sequência de 23 jogos sem vitórias. Na Paraíba, temos o Perilima nas mesmas condições: amador disputando com profissionais. Os resultados são idênticos. Pelo menos o Íbis pernambucano tem um título a ostentar: foi vice-campeão estadual da segunda divisão em 1999.

Voltando à Copa da África, não sou especialista, mas tenho direito de opinar. Nosso meio de campo é sofrível, ainda mais com o Kaká bichado. Então como se explica a não convocação do jogador Paulo Henrique Ganso, uma das grandes revelações como meio-campista? No jogo contra a Costa do Marfim, Luiz Fabiano dominou a bola duas vezes com a mão dentro da área e fez o gol. O locutor Luciano do Vale foi logo gritando que aquele deve ter sido o gol mais bonito de todas as Copas. O futebol está em decadência, mas a patriotada dessa gente continua tão idiota e presunçosa como nos velhos tempos do “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Acho que não é o treinador que é burro. Ele é apenas uma peça na engrenagem do jogo mercantilista do futebol profissional. A grande máquina consumista tem lá seus objetivos e dita as regras. O pensador italiano Domenico de Masi disse em entrevista ao Jornal do Brasil que o futebol brasileiro está se americanizando. Como, se nem futebol os Estados Unidos têm que preste? Ele explica: “É a padronização de tudo, para comercializar. Não só no futebol, mas em todas as formas de vida”. Ele acha que nosso futebol está se submetendo à lógica de mercado. Para ele, atualmente, a atividade esportiva dá mais valor à potência física, à esquematização tática e à preparação ''in farmacia'' dos atletas. Ao contrário do que acontecia em outros tempos, quando o espetáculo e a fantasia artística eram considerados mais importantes. Talvez isso explique uma Copa do Mundo tão sem graça.

sábado, 19 de junho de 2010

Uma tal Nena Garcez


Professora Lourdes Garcez, li seu livro sobre sua mãe, a professora Nena Garcez. O livrinho estava dentre os que recebemos para a Biblioteca Arnaud Costa, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, de Itabaiana/PB. Impressionou-me, sobretudo, o empenho de sua mãe na defesa do Teatro Santa Cecília de Mamanguape. Olhem que isso se deu na década de 20, quando teatro era considerado coisa de vagabundos e prostitutas e essa nobre dama vivia sob a égide da Igreja Católica, inimiga de determinadas manifestações artísticas, como o teatro secular. Pelo menos naquela época.

A sua prosa bem simples nos dá notícias da escola que dona Nena instalou no teatro. De dia, educação, à noite, cultura. Quando havia espetáculos, as pessoas mandavam as cadeiras de tarde para comprarem as entradas à noite. O teatro não dispunha de assentos. No dia seguinte, as carteiras dos alunos, guardadas na casa de dona Garcez, retornavam à escola.

O velho piano da nobre dama ficou muitos anos no Teatro Santa Cecília, que era uma réplica em tamanho reduzido do Teatro Santa Roza, da capital João Pessoa. Juntou suas economias e comprou o teatro, onde funcionava sua escola, cinema e casa de espetáculos. Lourdes informa que muitos dramas foram encenados pelos alunos “sob a direção do escrivão Antonio Navarro, entendido em artes cênicas.”

Mamanguape no começo do século tinha ruas calçadas e em cada esquina, um lampião de azeite para facilitar o trânsito noturno. Na época, tinha prestígio e ar de metrópole. A vida cultural era intensa e o Teatro Santa Cecília apresentava grupos vindos do Recife. Até o Imperador D. Pedro esteve por lá. Os folhetos referem como filhos ilustres Padre Azevedo, Aristides Lobo, Castro Pinto, Padre Aires e Carlos Dias Fernandes. Dona Nena Garcez, a primeira professora da cidade, nunca é citada. A emancipação do Município se deu em 25 de outubro de 1855. Cem anos depois, no mesmo dia e mês eu nasci.

Fora dos limites provincianos, ninguém conhece dona Nena Garcez. Naquele ambiente patriarcal e atrasado, ela amava a liberdade e as artes. Comemorava seu aniversário em 14 de julho. Um dia confessou que escolheu essa data para recordar a queda da Bastilha. “Costumava dizer para seus alunos que o maior bem do homem é a liberdade”, escreveu Lourdes Garcez. Qual a verdadeira data do seu nascimento? “Disse que já havia esquecido”.

Quando estava com 89 anos de idade, recebeu a visita do prefeito José Fernandes de Lima. Foi então informada que a Prefeitura iria desapropriar o teatro Santa Cecília, “porque ele é um patrimônio histórico da cidade, e para conservar os prédios antigos, só mesmo o poder público”. O velho teatro estava perfeito, sem infiltrações nem rachaduras. Logo depois de desapropriado, o prefeito “mandou derrubar o teatro por dentro e construiu um moderno cinema”. Descaracterizou a arquitetura interna daquele valioso patrimônio histórico, sem a menor consideração com sua benemérita protetora.

Tudo isso soube pelo livrinho da também professora Lourdes
Garcez, outra mamanguapense ilustre que hoje mora em Belém do Pará. Acho que não existe critério de avaliação mais perfeito da vida de uma pessoa do que se constatar que praticou tudo aquilo em que acreditava. Uma pessoa tão obstinada pela difusão da cultura e pela afirmação da liberdade vive hoje na lembrança dos seus conterrâneos por via do livrinho de sua filha. Viva o livro! Viva o teatro! Viva a liberdade!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Homenagem a Nelson Coelho


O livro “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo” é um documento em versos de cordel sobre a vida do primeiro presidente das Ligas Camponesas de Sapé, abrangendo ainda episódios relacionados com a luta campesina no começo da década de 60 na várzea do Paraíba.

Desnecessário dizer da importância do registro para a memória das lutas populares, na resistência contra a opressão e a injustiça. Personagem central daqueles tempos, Biu Pacatuba não teve sua presença realçada, talvez pela personalidade tímida e recatada. João Pedro Teixeira, seu companheiro de ideologia e de lutas, foi um líder camponês que alcançou notoriedade após sua morte, mas é fundamental resgatar a história da vida de Pacatuba, que teve tanta importância quanto ele na saga das Ligas Camponesas.

Portanto, somos gratos à União Editora pela colaboração neste projeto sem fins lucrativos, que consiste no lançamento desta obra simples, vazada em sextilhas do cordel, uma das mais belas e legítimas expressões artísticas nordestinas.

Comunico que é com orgulho que dedico o livro ao jornalista Nelson Coelho, testemunha ocular daqueles momentos históricos em Sapé e Mari, cujos conflitos reportou para a imprensa da época e, depois, eternizou sua versão em brilhante obra, sempre coerente com sua visão de mundo e generosidade.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Biu Pacatuba sai no começo de julho


Derval Moreira, Gerente Administrativo de A União Editora, informou que meu livro “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo” finalmente estará pronto no começo de julho. Vai ter lançamento em Itabaiana, Sapé e Mari. Abaixo, comentários sobre a obra, publicados no portal ClickPB:


SEVERINO CAVALCANTE FERREIRA - Parabéns por essa obra. Nosso estado precisa muito de poetas criativos.


ROSANA MARIA ROBERTS – (Hosana de seu Cícero do SAPS) - Sinto-me deveras lisonjeada de poder estar aqui escrevendo alguma coisa em homenagem a um irmão sapeense que com certeza foi de grande importância na história de nossa querida Sapé, e quero agradecer a todos que de uma maneira ou de outra contribuiram para que esta oportunidade surgisse, principalmente para mim, que me encontro fora do nosso país e me emociono quando me deparo com notícias de minhas raízes de uma forma tão fundamental e enriquecedora como é o lançamento deste livro. Parabens a você, BIU PACATUBA, por ter dado material para que fosse contada a sua história e parabéns a sua familia pelo privilégio de descender de você!


NILSON SÓTERO - Recém empossado Diretor de Cultura do município de Sapé, correndo contra o tempo, gostaria muito de ter lançado este Livro que resgata parte da história do povo de Sapé, no dia 19 de abril, por ocasião do III Celebrando os Anjos de Augusto, evento que comemorou os 126 anos do Poeta Augusto dos Anjos. Desde já peço desculpas aos parentes de Biu Pacatuba, por ainda não ter tido o tempo necessário para trabalhar nomes tão importantes como o da senhora Elizabeth Teixeira, Nego Fuba, Pedro Fazendeiro, João Pedro Teixeira e Biu Pacatuba. Aproveito ainda para parabenizar o grande jornalista Fábio Mozart por mais este grande momento.


AMÁLIA HELENA MALHEIROS - Sinto muito orgulho de ser neta de um exemplo de homem que sempre lutou por justiça. Agradeço a Fábio Mozart pelo lindo trabalho e ao clickpb por divulgar a publicação do livro sobre a história de Biu Pacatuba.


LENIANA MALHEIROS BARBOSA - Meu avô é motivo de orgulho para a nossa família, me sinto extremamente honrada em dividir meu herói, um exemplo de dedicação e luta, com toda a sociedade que também luta por justiça e igualdade.


LÚCIA MALHEIROS BARBOSA - Eu como filha de Biu Pacatuba, gostaria de agradecer ao escritor Fábio Mozart e a Editora União pelo empenho em não deixar cair no esquecimento esses heróis que se doaram por uma sociedade mais justa e igualitária. Meu peito transborda de alegria e orgulho em ver a história de meu pai disponível a todos. Que ela sirva de exemplo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Tamanho é documento?



Na imagem posta,
o que se revela
é o que não se mostra.

(Francisco Gil Messias, poeta paraibano)

Ao publicar esta foto no meu blog, recebi diversas mensagens do pessoal que ficou curioso em saber a qual objeto estou didaticamente mostrando o tamanho. Algumas dessas mensagens:


É uma mímica indicativa do tamanho do peixe pescado no açude Jureminha.

• Está se referindo ao tamanho do cérebro do cara que criou esse blog.

Quando a idade passa, os males aumentam. Isso deve ser o tamanho da dor de cabeça do sujeito.

• Tudo pode ser medido objetivamente: esse é o tamanho de sua consciência social.

Nunca perca a fé na humanidade. Este deve ser o tamanho da fé do camarada.

• “Só sei que foi assim”, disse ele, referindo-se ao tamanho da injeção que tomou na bunda por causa da bursite.

Esse senhor já deu o último tiro na macaca e agora mostra o tamanho do rombo na conta bancária.

• Está se referindo ao tamanho de sua pica.

O tamanho mais adequado de seus sonhos mais delirantes...

• Mostra o tamanho de sua baixa auto-estima por não ser flamenguista.

Ele parece ter encontrado a fita métrica que mede quem é menor ou maior na poesia, crítico sarcástico que é.

O tamanho do estrago

O sujeito da foto é muito fraco
E por isso espera uma resposta
Que o tal do Fábio Mozart Costa
Gosta muito de dar o seu pitaco
O tamanho que mostra é o buraco
Que deixou no bar de Luiz Dentão
Depois de tomar cachaça com limão
Tira-gosto de prato variado
Comeu tudo e depois deixou fiado
Pra pagar com grana do mensalão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sou mais o glorioso



Nada é tão bobo e artificial quanto torcedores de copa, disse peremptoriamente um safado lá de Itabaiana, curtindo uma fossa porque a Argentina saiu da Copa de 96, ou foi 86, sei lá. Depois foi no hospital tirar a vuvuzela. Tinha esquecido onde guardou na noite anterior. Ele costuma vomitar: “com o tempo as copas vão ficando sem graça.” Tem saudade de Maradona, o veadão.

Mas até que o paspalhão tem suas razões. Eu mesmo já curti muito copa do mundo. Hoje não tanto. Prefiro copa e cozinha, cama e mesa, não necessariamente nesta ordem. A copa do mundo não é nossa e brasileiro é um safado. Confere? E Galvão Bueno é um fela da putista muito do chato.

Este ano vou torcer para uma seleção dessas de terceira categoria, que de vez em quando humilham os medalhões. Torço pela zebra, portanto. Gosto da zebra que é alvi-negra igual ao glorioso.

Às vezes me faço a pergunta: “será que somos mesmo tão imbecis assim ou é tudo aparência, apenas fazendo tipo?” É impressionante... Dizem que o Dunga é imbecil e toda imbecilidade é burra, incluindo esta frase. Mas teve gente que adorou Dunga com as mãos nos bolsos, com cara de mané, cumprimentando Lula friamente, ou secamente, ou aleatoriamente.Queriam o que? O cara se jogando nos braços do sapo barbudo e beijando suas bochechas fedendo a cachaça?

Tem um babaca meu vizinho que torce contra o Brasil porque os jogadores são “estrangeiros”. “Eles defendem outros países, times ricos que pagam fortunas. Só jogam com a nossa camisa para valorizar o passe”, diz o debilóide. Não deixa de ter uma certa razão, o papangu de novena. Ele torce pela Argentina também. Já notei: brasileiro que não torce pela nossa seleção é tudo “argentino”.

Acabei de ver o jogo do Brasil contra os amarelinhos do “país mais isolado do mundo”. Dizem que no país deles, Coreia do Norte, as famílias dos jogadores ficam reféns dos milicos para impedir que eles, os atletas, peçam asilo político. E se fizer corpo mole no jogo, leva cacete com força quando voltar. Querem incentivo maior? E é porque é “democrata e popular.”

Sem refúgio nem asilo, o time dos amarelinhos coreanos é tão militarizado que não tem capitão, é de coronel pra cima. Gostei de ver o Dunga vestido de porteiro de hotel. Na hora do gol, Maicon chorou, o goleiro chorou, a nação inteira chorou. O jogo foi ruim de correr água...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Governador do Estado vai morar em Itabaiana


Itabaiana do começo do século

Acredita não? Então leia o Diário do Estado: “Hoje a grande cidade do interior, talvez a única do Estado que apresenta o aspecto de meio civilizada, está quase toda calçada e arborizada, tem abastecimento d’água, serviço de remoção de lixo e outros próprios das cidades onde o bom gosto e a honestidade predominaram.”

Esse diário é de 1916, uma quarta-feira, dia 17 de maio. Quem colheu essa pérola foi Romualdo Palhano, e vai publicar em seu livro “O Teatro em Itabaiana - Da União Dramática ao GETI”, obra a ser lançada no início de 2011. Deixo com vocês o trecho em que Romualdo fala desse fato marcante do tempo em que éramos risonhos e francos, radiosos e otimistas, exultantes como moradores de uma cidade bonita, rica e culta.

“Nesse período a cidade de Itabaiana passou a ser notícia de jornal por sua beleza, economia, seus jardins, entre outros fatores. Com sua estação triangular, com a indústria mais famosa do Estado e com o melhor Jardim Público da região, foi nessa época que a cidade chamou a atenção de alguns governantes. É nessa fase áurea que o Vice Presidente passa um período residindo na cidade, na Praça do Coreto. Oportunamente, o Presidente do Estado, Sr. Antonio Pessoa, encantado com o desenvolvimento e a beleza da cidade, também resolve usufruir da qualidade de vida que oferecia aquele município. Isto fica claro no “Jornal Diário do Estado, anno II, número 381:

O Presidente do Estado vae morar em Itabayanna defronte de um jardim aberto em praça arborisada e cuidada, como na capital não se faz, embora hoje o jardim esteja desfalcado de suas muitas roseiras e ornamentação de vistosas folhagens, mas em todo caso é um jardim.”

O famoso Coreto de Itabaiana ainda resiste até os dias de hoje. Em Itabaiana o Conselho Municipal funcionava no antigo prédio do “Paço Municipal”, ainda hoje existente naquela cidade. Atualmente, funciona a Câmara Municipal de Itabaiana - Casa Dr. Antonio Batista Santiago.”

E por aí vai o livro de Romualdo Palhano, uma obra que enleva qualquer itabaianense. Depois ele fala da nossa cultura, dos artistas de teatro e do movimento artístico, até chegar ao Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana, conjunto que merece longo exame, incluindo espetáculos montados e episódios vivenciados nos mais de trinta anos de atuação dos amadores. O texto ainda oferece elementos para o debate sobre nossa involução.

Este livro cumpre um papel importante, que é o de registrar nossa história recente de forma objetiva. A construção narrativa sobre o passado itabaianense é mais uma grande contribuição desse itabaianense/potiguar à cultura paraibana, que sabe combinar as peculiaridades da pesquisa universitária com a reflexão e as confidências de um artista que foi nosso munícipe por muitos anos e aqui deu início à sua trajetória vitoriosa no mundo da cultura e das artes.

Morreu o homem que não gostava de Zé da Luz


Faleceu Ascendino Leite, escritor paraibano nascido em Conceição do Piancó. Era poeta e jornalista. Seu trabalho obteve a consagração nos meios literários do país. Intelectual de aparência sóbria e aristocrata, contrariou a visão romântica do escritor que gosta de badalação. Vivia em meio à naftalina dos ambientes onde circulam as pessoas fechadas e esnobes.

Foi muito incensado por tudo que é de academia. Quando completou 94 anos de idade no ano passado, recebeu homenagens da União Brasileira de Escritores da Paraíba, Academia Paraibana de Letras, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Secção Paraíba e Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba, além do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Uma coisa temos em comum: ele começou no jornalismo com apenas 17 anos no jornal O Norte, onde também iniciei minha vida de “foca” aos dezoito. Ascendino achava que o computador acabou com a literatura. “Ultimamente nós estamos num regime de crise em tudo que se refere ao impulso criador do homem, porque ele logo se choca com as descobertas feitas por meios mecânicos e eletrônicos”, disse em uma entrevista. “Toda essa aparelhagem eletrônica reduz tudo, até as dimensões do esforço instintivamente mental do poeta, do artista plástico, do músico. Tudo vai diminuindo”, afirmou. Ele achava que o progresso diminui a nobreza da produção intelectual. Foi um autêntico escritor de bico de pena.

Há seis anos, produzi uma revista para homenagear os cem anos de nascimento do poeta itabaianense Zé da Luz. Procurado para escrever uma matéria na revista, Ascendino Leite foi sincero: “Não gosto da poesia de Zé da Luz, aliás, não gosto dessa tal “poesia matuta”, acho uma coisa pré-fabricada para ser vendida ao leitor comum.”
Como ensaísta e escritor, sua obra está acima do bem e do mal. Sua literatura fina e bem urdida conseguiu comunicar, provocar, plantar rupturas, apesar de ser um conservador. Que a terra lhe seja leve e não lhe diminua a nobreza.

domingo, 13 de junho de 2010

CARTA DE UM SOBRINHO


Tio Fábio,

Tenho conversado com conhecidos sobre as peças "populares" em nosso Estado. Sua ideia procede, pois "tudo vale a pena se a alma não é pequena". Mesmo que o auditório seja pequeno, como dizem: o que vale é a intenção.

Algo precisa ser feito para a desaceleração do processo de desmoralização do teatro paraibano. Iniciativas como essa são pontuais e, absolutamente, simbólicas, obviamente. Entretanto, não vamos nos abater frente à campanha alienante dos comediantes deste teatro, que poderíamos chamar de "comédia de curtume", pelo cheiro forte que nos causa náuseas, pois segue uma abordagem exageradamente escrachada e apelativa, de uma encenação ambiguamente maldosa. São nesses momentos de crise que importa valorizar os críticos teatrais e a imprensa especializada. A História nos mostra que nessas horas nascem grupos de resistência. Amém.

Na verdade, o lado triste é que o grande público, ao contrário do pequeno grupo de seguidores dessas "comédias", está se afastando das casas teatrais e formando uma geração preconceituosa e desinformada. Os efeitos nos atuais e futuros públicos teatrais são desastrosos. O imenso corpo de artistas e pessoas envolvidas com o teatro de vanguarda está sendo humilhado pela generalização dos métodos.

Por fim, parabéns pelos 40 anos de trabalho e estudo. Não desejava falar nesses assuntos fedorentos. Espero que não fique somente na estreia a lotação do auditório do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. A ideia não é egocêntrica, e sim altruísta. Estarei presente na apresentação do GETI. Me avise, viu? Quero ajudar no que for necessário para que o teatro engajado e sério não suma dos nossos palcos.

Vida longa ao teatro da Paraíba.

Grato e orgulhoso,

Sósthenes Júnior

sábado, 12 de junho de 2010

Minha namorada


Minha namorada tem os braços grandes, me traz ao colo até a curva da estrada, quando enfim me joga ao pó. Sua estranha beleza me paralisa e espanta. Ela me consola das aflições, do trabalho cansativo e das desgraças do mundo.

Minha espirituosa namorada tem um modus operandi que poucos compreendem intimamente. Quando jovem, eu não a vi em nenhum momento. Depois de velho, ela me escancara seus talentos especiais na cama, na rede ou até no meio da rua, que minha namorada é de fato uma mulher audaciosa. Usa seu dom para ajudar pessoas cambaleantes. Muitos a procuram e a todos ela dá guarida, que é um tanto quanto promíscua essa mulher.

Compartilho com ela meus piores momentos de dor e pavoroso medo do que há de vir. É tocante sua paciência, esperando-me até quando reencontro esperanças e razão para dela me afastar.

No meu quinquagésimo quinto aniversário de nascimento, levantarei um brinde à minha eterna namorada, que possui a rara habilidade de interligar meus mundos. Ela me dá imenso conforto e ao mesmo tempo ilumina um caminho cheio de dor e angústia. Sofrimento que fico remoendo do outro lado do muro, enquanto ouço minha namorada cantar uma estranha modinha com inspiradoras mensagens para coveiros.

Minha namorada tem muitos nomes. Nas terras secas onde ela costuma bater o pó das estradas, olhando a natureza morta, chamam-na de Caetana. Ela tem o corpo dos sonhos, o tesão dos desejos mais escondidos e os Sete Padecimentos da Virgem Maria. “A morte Caetana é feminina, bela, jovem e ao mesmo tempo cruel e fascinante. A Caetana (animal) tem a pele lavrada, um pelo curto e sedoso. É macho e fêmea. É parto e gozo.” (Ariano Suassuna)

Vereador de Pilar apresenta lei defendendo “reserva de mercado” para namorados



O vereador Landoaldo César, preocupado com o destino afetivo dos rapazes do município de Pilar, pois as moças da terra de Vitorino Carneiro da Cunha só queriam saber de namorar com os rapazes de fora, das cidades circunvizinhas, apresentou projeto de lei na Câmara Municipal, criando uma multa para as moças que se casarem com rapazes de outros municípios. O vereador assegurava ainda no projeto de lei que todo rapaz interessado em namorar uma moça da cidade teria que comprovar parentesco ou outra qualquer afinidade com o município.

“Os rapazes de Pilar estão se sentindo desprezados pelas donzelas do lugar e vendo o seu território invadido pelos ‘play-boys’ de Itabaiana, Pedras-de-Fogo, Sapé e João Pessoa”, queixa-se um morador da cidade, pretendente a namorado e que não encontra moças disponíveis por causa da concorrência.

A proposição do vereador tornou-se o principal comentário nos salões de cabeleireiros, na praça de táxi, nas escolas e nos bancos da praça da cidadezinha onde nasceu José Lins do Rego. Os rapazes locais aplaudem a iniciativa, enquanto as moças fazem gozação com o projeto do vereador. “Preciso do carinho das moças da minha terra. Quem manda esses rapazes não saberem conquistá-las?”, afirmou o vereador, concordando em retirar de pauta o projeto de “municipalização das moças do Pilar”.

(Com informações do ex-vereador pilarense Antonio Costta)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Celebração da cultura itabaianense em fogo brando


A gastronomia é um ramo que abrange a culinária, as bebidas, os materiais usados na alimentação e, em geral, todos os aspectos culturais a ela associados, conforme ensina a wikipédia, enciclopédia livre da internet. Em Itabaiana, temos um gastrônomo formado, homem que tem se dedicado a essa arte dos sabores. É o nosso Luciano Marinho, dono do Café Sivuca e de um restaurante.

Luciano Marinho é filho do grande itabaianense Otoniel Marinho, lojista na praça e homem de grande projeção na sociedade local, infelizmente já extinto. Luciano confidenciou-me que está empenhado na pesquisa de um manjar específico, uma broa especial que era produzida por dona Margarida, antiga vendeira no mercado velho. Ele também anda atrás das receitas do famoso arroz doce de Luzia, uma doceira afamada na cidade, nos idos da década de 50.

Na lista dos manjares da culinária itabaianense consta ainda o bolo de seu Felipe e seu famoso requeijão. Da Rua da Boca da Mata saíam a broa e o sequilho incomparáveis de Antonio Felizardo, outro artista do fogão especialista nessas comidas, produtos da culinária famosa de Itabaiana que passa de pai para filho.

Esse cozinheiro exemplar prepara em fogo brando a preservação do nosso patrimônio imaterial, que vem a ser as formas e expressões de uma comunidade, suas festas, seus santos, danças, comidas e superstições. Esses bens culturais precisam ser protegidos através de políticas públicas de inventário e registro, para que não desapareçam com o passar do tempo. Enquanto isso não é feito, demos graças aos santos populares por termos pessoas sensíveis e conscientes do valor desses bens imateriais. É urgente que a Câmara de vereadores vote uma lei declarando como nosso patrimônio imaterial os quitutes de dona Margarida e Antonio Felizardo, entre outras coisas importantes para a cultura itabaianense.

O dramaturgo pernambucano Adriano Marcela afirma que “o ato de comer permite que as pessoas exerçam suas práticas de comensalidades, de interação social, regadas aos sabores dos símbolos que reafirma quem somos enquanto moradores de uma comunidade.” Nesse contexto, o picado de cabeça de porco de dona Carmem, o munguzá de Cera, a broa de dona Margarida, o doce de Chico do Doce e a tapioca de dona Inácia representam bens imateriais que devem entrar em um livro de tombamento. A galinha de cabidela com macaxeira, o sarapatel, o guisado conjunto das carnes de boi com porco, cuscuz ensopado com leite de coco e tantos outros pratos deliciosos eram feitos por dona Zefinha Correia, avó de Beto de Zé de Paulo. Seu banco na feira (armado no "bacurau") era um dos mais frequentados. O sanduíche, os roletes, as cestinhas de castanha e chupetas açucaradas eram lanches vendidos na frente dos circos, lapinhas ou comícios. Que viagem!...

Quem come a comida de Luciano não reconhece, mas está ingerindo um cardápio de cidadania/gastronomia caracterizado pelo seu amor à terra natal e zelo por nossas tradições. Esse jovem Chef ajudou a profissionalizar a atividade de cozinheiro e dignificar essa profissão em nossa terra. Hoje a gastronomia é um curso universitário da moda, fonte de renda insuspeita para pessoas semelhantes ao Luciano Marinho, bom no que faz e ótimo no que pensa. O menu sai das mesas e vai para o rol do nosso patrimônio imaterial, imortalizando a culinária dos nossos avós.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A mulher que deu em três homens e meio


Sanderli em cena da peça "A peleja de Lampião com o Capeta" (Em riba da cadeira)

O próximo livro do Doutor Romualdo Palhano tem por título "O Teatro em Itabaiana - Da União Dramática ao GETI", cujos originais ele gentilmente me remeteu para escrever o prefácio. A obra fala das peripécias do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana – GETI. Antes, faz um apanhado histórico do nosso passado, descrevendo as potencialidades econômicas e sociais de Itabaiana desde o começo do século XX, diagnosticando as forças trabalhistas como o motor propulsor de nossa cultura formal, a partir da fundação da União dos Artistas e Operários, núcleo de nossas primeiras experiências teatrais.

Romualdo reconstitui a trajetória dos equipamentos culturais itabaianenses, desde a banda de música aos jornais, passando pelos clubes carnavalescos e as festas públicas, até quando enveredamos por uma crise econômica e cultural sem precedentes. Itabaiana nunca foi tão pobre quanto é hoje. O livro do Mestre Romualdo Palhano, entretanto, não pretende fazer estudo político/sociológico das razões de nossa decadência, apenas historiar os movimentos artísticos do passado, culminando com o aparecimento do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana na metade da década de 70. É nessa época onde nos encaixamos eu e mais uns moços e moças, unidos nessa aventura de produzir arte na província. São histórias engraçadas nos mais de 30 anos de atividades deste grupo teatral que o texto de Romualdo nos da a conhecer.
Um dos vários depoimentos transcritos na obra é do compadre Sanderli Silva, getiano que atualmente reside em João Pessoa. Eis o resumo:

Como o grupo não tinha recursos financeiros para investir nas montagens dos espetáculos, fazíamos toda espécie de malabarismo para arrumar dinheiro: pedágio nas ruas e estradas, coleta de auxílio no comércio, rifas e outras atividades práticas no intuito de arranjar o vil metal, incluindo a velha “vaquinha”.

Foi numa dessas caravanas pelo comércio que o nosso amigo Norberto Araújo pagou o maior mico. O grupo estava montando o cenário e figurino de um espetáculo, cujo nome não lembro. Fomos pedir ajuda para o guarda-roupa na loja de Galego da Prestação, misto de político e comerciante lojista que havia perdido uma eleição para dona Dida, outra líder política local.

Norberto Araújo trabalhou como locutor na campanha de dona Dida, candidata que ganhou a eleição, mas não levou porque foi cassada. Acontece que o locutor Norberto empolgou-se demais na campanha e dizia no microfone: “viva a a mulher que deu em três homens e meio!”. Eu só sei que um dos candidatos era Galego da Prestação...
Quando chegamos na loja de Galego, fomos bem recebidos. Galego já estava cortando os panos para nossos figurinos, quando percebeu a presença de Norberto. “Mago, tu não é aquele locutorzinho que andava dizendo que a mulher deu em três homens e meio? Quem é esse meio homem? Sou eu?” Norberto, mais branco do que uma tapioca, gaguejou: “Foi não, seu Galego. É que dona Dida andou se peitando com um anão insolente, provocador de meia tigela”. O ex-candidato sorriu, percebendo a batida de pino do nosso ator e locutor: “Eu dou porque gosto de contribuir com a arte, mas fique sabendo que sou homem inteiro”.


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ideia de jerico velho


O grande Elpídio Navarro, teatrólogo paraibano que merece destaque especial no rol dos nossos mestres da cena, lembra em crônica publicada em sua revista eletrônica El Theatro: “Estréia da última peça que eu havia dirigido: Canção Dentro do Pão, texto de Raimundo Magalhães Júnior. Pouca gente no Teatro Íracles Pires, em Cajazeiras. O espetáculo havia sido produzido pela Fundação Casa de José Américo, para comemorar o bicentenário da Revolução Francesa. Após a estreia de poucos aplausos, um professor de curso médio daquela cidade, justificou: o espetáculo é muito intelectual para o público. O povo de hoje não estuda mais história, não sabe o significado do 14 de Julho, hoje só sabe do que aparece na televisão. Mas não de tudo! Só o mais fácil...”

Sabemos disso. Teatro no interior só lota hoje com as faceirices das “meninas” do pastoril profano ou qualquer besteirol desses. Nada contra, mas minha praia é outra. Gosto do teatro mais sisudo e comprometido com o mínimo de decência artística. O tal teatro engajado, já perdeu o trem faz tempo. Mas não quero contribuir para maior desmoralização da arte dramática, por isso recusei proposta de um companheiro para dirigir espetáculo cujo título é “Se minha xoxota falasse...”. Poderia até render uns caraminguás, mas quem ganha dinheiro com xereca é meretriz.

Sem querer entrar nesse assunto da decadência do teatro paraibano, que coincidiu, ou não, com o desmonte das estruturas do teatro amador, não desejo também criticar os espetáculos de apelo popular, montados apenas para se ganhar dinheiro. Cada um tem sua filosofia de vida e seu jeito de encarar as coisas. O que quero anunciar é o desejo de remontar uma peça minha, por razões de frustração. Explico: tentei montar esse espetáculo há dois anos, mas o elenco se dissolveu por causa de um diretor medíocre metido a gênio. Esse cara convidou alguns canastrões e produziu de forma canhestra o espetáculo, para vergonha de todos nós engajados no projeto anterior. Felizmente só conseguiram duas apresentações: uma no Teatro Lima Penante e outra em festival de amadores no Teatro Santa Roza. Fiquei com esse procedimento desairoso atravessado na garganta.

A peça não tem nada do que o público quer ver: humor, intensa movimentação cênica, dança insinuante embalada por piadas pornográficas, diálogos ágeis cheios de libidinagem. O cenário e a música são pesados, tristes, escuros. Os diálogos refletem a ousadia da poesia hermética de Augusto dos Anjos sobre a natureza do homem. O surrealismo das cenas explorando o inconsciente, o sonho, a loucura. É assim a peça “O banquete final”, que pretendo montar com os atores do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana.

Na plateia, espero contar com cerca de 40 pessoas convidadas, para homenagear meus 40 anos de jornalismo. Uma deferência que faço a mim mesmo, egocêntrico que sou desde menino. O número cabalístico 40 é justamente a lotação do micro-auditório do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, local da apresentação da peça em data a depender do êxito de empreendimento tão temerário e imprudente.

Seria almejar demais ter o próprio Elpídio Navarro na direção, devido à sua disposição de não mais voltar à cena. O certo é que tenho meia dúzia de atores regulares no GETI que topam a tarefa de montar uma peça difícil. Podemos nos dar ao luxo de fazer uma peça que ninguém vai assistir, além dos 40 convidados especiais. Mas isso já lota o auditório na noite de estréia. Quer mais o quê?

terça-feira, 8 de junho de 2010

Fora de série


Eu no lançamento do meu livro "Manoel Xudu, o príncipe dos poetas repentistas", na cidade de São José dos Ramos, berço do poeta (2006).

Estou lançando uma obra fora de comércio, cuja reduzida tiragem será destinada a subscritores. Mesmo assim terei mais leitores que Brás Cubas, a personagem de Machado de Assis que escreveu suas memórias para cinco leitores. Vou reunir apenas 60 pessoas na noite de autógrafo. Com uma variante: não haverá autógrafos nessa noite.

Explico: vou escrever as dedicatórias antecipadamente, com calma, tentando redigir pequenos manifestos de amizade, agradecimento e reconhecimento ao limitado número de leitores. Nessa noite, apenas vou apertar as mãos dos meus reduzidíssimos leitores e tomar um uísque legítimo, embora humilde, com quem perder um pouco do seu tempo para valorizar com sua presença o lançamento do livrinho “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo”.

Neste volume, reuni dois cordéis. Um sobre Biu Pacatuba, o homem das Ligas Camponesas, o outro é sobre a cidade de Mari.

Por que só sessenta pessoas? Primeiro porque esse é o número de amigos que subscreveram o livro. Segundo, porque no mini-auditório do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar só cabem exatas sessenta cadeiras, apertadas.

Alguns colegas que compraram antecipadamente o livro não assinarão sua presença, porque moram longe. Vai pelo correio seu exemplar.

Um livro com poesia de cordel já nasce estigmatizado. Isso desde os remotos tempos de Fernando Pessoa, o monstro sagrado da poesia em língua portuguesa. Explico: Pessoa resolveu participar de um concurso, o Prêmio Literário “Antero de Quental.” Ele tomou parte com o livro “Mensagem”, sobre nacionalismo português. Quem ganhou a parada foi um padre, Armando Reis Ventura. Gaspar Simões, crítico literário da época, disse que a obra vencedora era “para gentinha simples e sem cultura.” O livro do padre até hoje é discriminado por “se expressar em toadas populares semelhantes às composições repentistas da literatura oral.” Portanto, quem escreve conforme os padrões da poesia popular sempre foi considerado escritor de segunda categoria.

Meu livro não tem originalidade nem importância, mas é uma oportuna contribuição à memória das lutas populares, nesta quadra histórica em que falsos heróis são levados ao panteão da glória, enquanto os que doaram suas vidas pelo bem da humanidade são esquecidos.

Reunido sob a batuta de mestre Vital Alves, o grupo de violões do Ponto de Cultura vai tocar umas toadas. Talvez até meu compadre Adeildo Vieira apareça para ministrar uma aula-espetáculo.

Esse empreendimento sem fins lucrativos conta com o apoio da União Editora. Tem a vantagem de ser prefaciado pela professora Clotilde Tavares, que domina amplamente o assunto “literatura de cordel”. A tiragem da edição é de apenas 500 exemplares.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Não leiam que é plágio


Faltando ideia na cachola para atualizar o blog hoje, socorro-me de Fernando Pessoa, poeta português cujo nome vem de “persona”, máscara dos autores romanos. Ele mesmo andou plagiando a si próprio, usando outros codinomes. Passemos aos plágios:

“Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade.”

Vejam aí que Pessoa deliberadamente aceita a ideia de que a arte pertence à humanidade, que dela faz o que bem entender. Pegando esse verso, modifica-se para:

Abrindo mão da arrogância e vaidade vã,
Despeço-me da minha arte
Que vai se transmudar pela vida afora.

Para o poeta, não existe originalidade. Copia-se de outros estilos, outras informações e descobertas.

“A alma é divina e a obra imperfeita,
O por-fazer é só com Deus.”

Nada há de novo sob o sol, já escreveu o salmista. Inteligências medíocres como a minha não podem ficar esperando coerência ou verossimilhança. Tudo aproveito no caldeirão maluco dessa lógica torta.

Joaquim Nabuco afirmou: “A originalidade, por si só, é qualidade negativa; precisa de juntar-se a outra para ter valor, e este valor dependerá da qualidade positiva que a acompanha.” (Joaquim Nabuco, in 'Pensées Détachées et Souvenirs').

Um blogueiro me ensinou que é relevante você não somente produzir conteúdo, mas ser uma espécie de hub de coisas interessantes que estão acontecendo por aí. Uma forma de DJ de conteúdo. O DJ, você sabe, mexe com os sons para haver perfeita integração dos ingredientes. Ao compor um todo com elementos variados, vem a surpresa de ter construído algo novo com substâncias preexistentes.

Meus livros são publicados em regime de “copyleft”, que significa retirar barreiras à utilização, difusão e modificação da obra. Todo mundo pode reproduzir o livro por qualquer meio, sem precisar identificar a fonte.

E para os que não suportam a transcrição livre de alguns textos aqui postados, tenho que dizer que o blog é meu e eu faço o que quiser com ele. Na seleção natural da blogosfera, a gente vai lendo o que interessa. Se meu blog afeta sua ética, seu modo de ver as coisas, não precisa abri-lo se não se encaixa no seu padrão de valores. Delete dos seus favoritos. Esqueça-me.


BILHETE DE DAVID (Não é plágio):

Grande Fábio,

Se esse encontro for entre dezembro/2010 e janeiro/2011, podem contar com minha presença.. Só avise com antecedência!

Será uma satisfação imensa; das pessoas listadas, o contato mais "recente" foi com Roberto Palhano, por volta de 1998!

David Andrade Monte.

(Ele se refere ao grande encontro da Geração 50 na cidade de Itabaiana/PB)

sábado, 5 de junho de 2010

Má reputação do porco atinge parlamentares


Mensagem recebida do Padre Josiel, de Mari, em decorrência da crônica “O padre brega”, aqui publicada.

Caro colunista Fabio Mozart:
Sou o padre Jardiel e estou em Mari a 11 (onze) meses. Mari é uma terra de gente humilde, agrícola e cultural. Além da formação de padre (Filosofia e Teologia), tenho licenciatura em História; Especialização em História do Brasil, e sou Bacharel em Direito. Procuro e me esforço em transmitir uma mensagem que o povo possa entender, sem perder, é claro o brilho da retórica, que para mim é muito relevante. Em um exemplo, um caso engraçado que aconteceu comigo (numa refeição bem sofisticada), comentei para quebrar o protocolo dos avisos da celebração, "que gosto de coisas simples..."dai usei o vocabulário da minha mãe (in memoria)....coisa "brega", ou seja, o mais simples possivel. Não estava pretendendo causar uma polêmica filológica. Mais tudo bem, quando se pega uma frase fora do contexto, acontece interpreções e literaturas vastas.

Estou lhe escrevendo não para reclamar, a propósito, gosto de ler seus artigos: são coerentes... parabéns. Mas quero só entender, pois para mim ficou um tanto tendencioso esse fragmento, que segue em negrito e sublinhado:
"Leio na coluna de Josa que o padre Jardiel, de Mari, revelou na missa matinal que gosta de coisas bregas. “Eu gosto de coisas bregas mesmo. Barriga de pobre só dá certo com essas coisas simples, se for negócio sofisticado demais, não aguenta. Então é bom comer bolachas três de maio, sete capas, essas coisas assim”, revelou Jardiel. Recentemente, ele recebeu votos de aplausos da Câmara Municipal da cidade. Um sujeito metido a espírito de porco já foi logo dizendo que os vereadores são uma confraria de bregueiros. Mas o que é brega mesmo? O dicionário diz que brega é um gênero musical de cunho popular."

Agradeço a vossa atenção.

Pe. Jardiel Sátiro.
Administrador paroquial de Mari

Padre Jardiel:

Os vereadores, e os parlamentares em geral, são uma classe muito visada pelo povo. A credibilidade desses senhores e senhoras está no nível muito baixo perante a opinião pública, portanto tudo o que eles fazem é motivo de crítica, gracejo e desconfiança. É que esse povo não dá milho a pinto nem ponto sem nó, conforme reza o provérbio popular. Se eles elogiam alguém, é pensando em algum retorno, em votos ou em prestígio junto ao povão, o que dá no mesmo. Essa atitude é de muito mau gosto, sem nenhum refinamento moral. Por isso que são bregas, com as exceções de sempre.

Esse não é meu ponto de vista, e sim da maioria da população, revelado por pesquisas de opinião pública. A instituição mais respeitada e acreditada no país é a igreja católica, ainda segundo essas mesmas investigações.

Mas assim é a maledicência da plebe. Jogam lama em tudo, espinafram as estruturas sociais, nada escapa à sanha do populacho ignorante. Nessa torrente de lama, vai até o inocente, o homem público honesto e probo. Tudo para justificar a Santa Palavra: “Eis que o justo é punido na terra, quanto mais o ímpio e o pecador”. (Provérbios 30:11)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mágica da comunicação faz surgir um admirador de Mister Kaltos


Mágico Marlon França

Mister Kaltos foi um mágico extraordinário que nasceu na cidade de Itabaiana, ganhando o mundo com seus números incríveis de prestidigitação e grandes ilusões, trabalhando nos maiores circos do continente americano. Ele foi o aperfeiçoador do histórico truque da mala moscovita, reunindo todo o mistério do Oriente e os mais bem guardados segredos da magia.

Mister Kaltos é meu tio, e de alguma forma estamos ligados no esforço do espírito por um mundo mais mágico. Uma das prestidigitações de que faço uso chama-se internet, essa caixa mágica de comunicação que vem mudando nossa maneira de nos relacionarmos com o conjunto dos seres humanos.

Recebo mensagem do mágico Marlon França, da cidade mineira de São Gonçalo do Sapucaí, no sul daquele grande estado brasileiro. Ele afirma que desde 1983 trabalha como ilusionista e, pesquisando na internet sobre mágicos antigos, acabou chegando ao meu blog onde falo do Mister Kaltos que, ao falecer em 1999, detinha a marca de um dos mais velhos mágicos em atividade no Brasil. Com efeito, aos 93 anos, Mister Kaltos ainda trabalhava técnicas de iludir o espectador com truques que dependem especialmente da rapidez e agilidade das mãos. Apesar da artrite, Mister Kaltos jamais deixou o ilusionismo, até desencarnar.

Meu amigo mineiro informa que o mágico que o ensinou chamava-se Professor Everaldo, falecido em 1999 com a idade de 87 anos. Esse mágico também viajou muito, e em certa ocasião, na cidade de São Lourenço, falou sobre Mister Kaltos, por quem tinha grande admiração. Marlon herdou os equipamentos do seu mestre, e hoje prossegue na profissão, “um dom extraordinário”.

Marlon Aparecido Carvalho França, o nome do mágico mineiro, pede que eu envie pelo correio alguns livros que pertenceram ao velho Mister Kaltos, e assim o farei, mesmo porque sei que estarão em boas mãos, de um profissional que domina a matéria e vai sempre honrar a atividade para a qual se preparou e que ama profundamente. Meu tio viveu muitos anos em Minas Gerais, sei que aprovaria a doação de seu acervo para um colega e irmão mineiro.

O mágico mantém um blog na internet: www.magicomarlon.blogspot.com

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Geração cinquenta


Pedro José, Roberto Palhano, Cidinho e Joacir Avelino, grupo de cavaleiros da "geração cinquenta"

Encontrei em João Pessoa com dois amigos de Itabaiana, companheiros de minha geração, os ilustres advogados Jurandir Pereira e Joacir Avelino. A dupla J&J lembrou os bons tempos de nossa mocidade na terra de Chico do Doce e Arlinda Verdureira, na época em que a gente era mais paraibano do que hoje. Explico: na bandeira da Paraíba tem escrito a palavra NEGO; quando éramos jovens, a palavra de ordem era “nego peremptoriamente”. Fomos esquerdistas, farristas, anarquistas, petistas e lulistas. Acabamos na mesma decepção política, mas o gosto pela cerveja ainda persiste, apesar das barrigas e das altas taxas de colesterol.

Foi de Jurandir a ideia de juntar a rapaziada de nossa geração que anda espalhada pelas quebradas do mundaréu. Isso no final do ano, na “caliente” cidade de Itabaiana. Para animar a festa, serão convocados o maestro Luiz Carlos Otávio e o compositor Adeildo Vieira. Joacir vem de Maceió, onde mora. Ele garantiu que convidará David do Monte, habitante das lonjuras do oeste brasileiro. A parte humorística ficará a cargo de Biu Penca Preta e Agnaldo Pabulagem, tendo como cortina a voz poderosa de Chiquinho do Banco.

Jurandir responsabilizou-se pelo contato com Jocemir Paulino, Valdemir Enxuto, Zé Ramos, Careca dos Correios, Sanderli, Roberto Palhano, Gilberto de Mário, Eudes, Dr. Dedé, Brasinha, Boró, Lenildo Correia, Carlos Lucena irmão de Beto de Zé de Paulo, Rubinho de Zé Crente, Clóvis Almeida, Capão, Erasmo Souto, Aracílio Munganga e outros conterrâneos que moram fora da “Rainha do Vale”. Não sendo esse convescote um “clube do Bolinha”, convocadas serão as deusas e musas do rol de Orlando Otávio, quais sejam a galega Zoraida, a extrovertida Nenega, Zélia de Manoel Inês, Rosa de Zé do Pão, a danada e deslumbrante menina Nega Fita, Gorete irmã de Getúlio maquinista e outras de uma lista comprida feito um dia de fome.

Eu convido Djanete Meneses, as professoras Irene Marinheiro, Jandira Lucena, Fatinha, Telma Lopes e Rose, com Palmira Palhano na direção artística. Sem esquecer o poeta Eliel José Francisco, que vem do Recife declamando seus lindos poemas de amor à terra natal.

Como estamos voando celeremente rumo aos braços da velha “Caetana”, é hora de estreitar os laços com os contemporâneos, aproximar os amigos que a gente não vê faz séculos, bebemorar o fato de estarmos vivos, lembrar as delícias da juventude, conferir como cada um tá vivendo, confessar nossos planos e desejos para o futuro próximo, que nós, da geração 50, ainda temos algum futuro, quero crer.

Alguns critérios serão adotados para esta reunião histórica. Por questão de bom senso, evitaremos comentar alteração biológica do estado de saúde própria ou dos outros. Nada de falar de doença, assunto preferencial de 8 em cada 10 sujeitos da meia-idade. Por questão de sobrevivência, esqueceremos nossos recordes alcoólicos de tempos idos. Beber com moderação para chegar ao fim da reunião. Política, só pode falar genericamente, sem chegar aos finalmentes locais, para não ferir suscetibilidades de terceiros. Na parte artística musical, proibido tocar forró de plástico, falso sertanejo e pagode.

Luiz Paraíba vai declamar Zé da Luz, Jacinto Araújo tocará canções baseadas na poesia do irmão de Bastos de Andrade, Idalmo dramatizará trechos de Augusto dos Anjos, Erasmo Souto contará piadas dos seus livros, Zorah Lira cantará antigas e belas canções de amor. Enfim, será uma noite para recordar o que de melhor tivemos ou fizemos, sonhos e planos de vida de uma geração de ouro. E congregar fraternalmente elementos de um círculo de amizade com grandes espíritos iluminados.

Não percam, vai ser o must! A balada dos anos cinquenta que abalará os alicerces sociais de Itabaiana.