domingo, 31 de outubro de 2010

PERGUNTAS PARA O ELEITOR, QUE O CANDIDATO GANHADOR ESTÁ NA FESTA E O PERDEDOR CONTA O PREJUÍZO


01) Teve influência do poder econômico na vitória do Ricardo?

02) Maranhão e seu grupo estão destruídos, com a ascensão de uma nova força que vai se confrontar nas próximas eleições com o filho de Ronaldo?

03) A Polícia vai receber o aumento dado por Zé?

04) As querelas judiciais podem derrubar o Mago antes do tempo, como fizeram com Cássio?

05) O ex-deputado petista Rodrigo Soares, vice na chapa do Zé, perdeu no canto e na beira, ao ser derrotado e ver seus desafetos “companheiros” Luiz Couto e Luciano Cartaxo ganharem a eleição?

06) A pesquisa de boca de urna do Ibope, que deu empate entre Zé e Ricardo, foi feita em Araruna?

07) Nesses 60 dias que faltam para o atual governo se mandar, vai ter “bota fora”, com a turma levando até rolo de papel higiênico, como acontece em toda transição de governo?

08) O Sistema Correio já fechou com o esquema de Ricardo, ou faltam ainda alguns acertos finais?

09) Os prefeitos que trocaram seus apoios por “refresco” no Judiciário vão experimentar pimenta no rabo ou não?

10) Os órfãos de Maranhão já fazem fila para pedir a benção ao Mago, ou vão deixar que o defunto saia para fazer a corte?

VOTO NULO E A POESIA DE RESISTÊNCIA


Voto nulo em protesto às alianças espúrias
Ao não-debate eleitoral
Voto em protesto à farsa eleitoral

Compra de votos em cada esquina
Meninos cheirando cola
E seu Chico continua acreditando na quina

Voto nulo mas não fico em casa
Vou às ruas, minha liberdade
Me dá asas

Luto em cada reduto
Corro em cada morro
Protesto por tudo que detesto

Formação política
Guerrilha cultural
Sem essa distância mística
Sem esse voto de curral

Voto zero zero
Pois não aguento mais
Esse lero lero

Eleição fajuta
Quem não vota
Paga multa

Eleição doméstica
hermética
sem ética
sem poética

Eleição sem prosa, nem rima
E os de baixo continuam
Submissos aos de cima

Eleição será um dia
Em que o povo em maestria
Ensinará às capitanias
Toda força de suas valias

Lauro Xavier Neto

http://lauroxavierneto.blogspot.com/



sábado, 30 de outubro de 2010

Declaração de não-voto


Declaro-me impotente para participar da refrega eleitoral neste domingo. Se um dos candidatos necessitar do meu voto para decidir o pleito, vai se ver frustrado. Não posso votar. É uma situação de vanguarda, essa minha. Não posso exercer esse direito, que antes é uma obrigação. Direito/obrigação: discrepância que meu raciocínio limitado não consegue digerir. Se é um direito, estaria explícito nele a opção de não utilizá-lo?

Eu disse que é uma situação de vanguarda, porque considero essa a escolha da parcela mais consciente e combativa da sociedade. Nosso sistema eleitoral é definitivamente deturpado, desmoralizado e antidemocrático. Mais do que nunca precisamos pensar um sistema de democracia direta, para que o processo de tomada de decisões seja realmente legítimo e conforme as necessidades e desejos do povo.

Na verdade, meu título eleitoral foi cancelado por absoluto desinteresse do Leão em juntar seu mísero voto aos milhões de votos dos brasileiros, alimentando um sistema de poder iníquo e insensato. O não-voto é uma posição política que merece respeito.

Na Suíça, em questões essenciais, a última palavra é do povo. O sistema pode ser definido como democracia semi-direta. Aqui, pela primeira vez o povo elaborou e encaminhou um projeto de lei, o da ficha-limpa, que os tribunais e os próprios políticos já se encarregam de alterar e desfigurar, em benefício da continuidade dos vícios e safadezas costumeiros. Quero a mudança do sistema, começando pelo eleitoral. Meu não-voto diz isso.

O voto facultativo é um avanço que a classe política brasileira teima em não assumir. Ainda tendo como exemplo a Suíça, lá o referendo facultativo foi introduzido na Constituição Federal em 1874 e o direito de iniciativa em 1891. O povo como instância política suprema e não apenas como massa de manobra.

TEM CADA UMA NA INTERNET!


ANTES DA POSSE

Nosso partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais.
para alcançar nossos ideais
Mostraremos que é grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo de nossa ação.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos nossos propósitos mesmo que
os recursos econômicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.

DEPOIS DA POSSE

Basta ler o mesmo texto, DE BAIXO PARA CIMA.


sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Post dos bebinhos inteligentes suscitou reações


Veja lá, compadre! Não fiz glorificação de álcool, apenas postei uma mensagem bem humorada sobre notícia que li na imprensa. Bebe quem quer. Quem não quer não bebe, mas não pentelha a bebida dos outros.

Mensagem do meu compadre Ercílio Palhano, ex-alcoolista e atualmente sacerdote do AA:

“Você não pode fazer um cavalo beber água, se ele ainda prefere cerveja ou é demasiado instável para saber o que quer. Coloque um balde d'agua a seu lado, diga-lhe porque ela é boa e deixe-o sozinho. Se as pessoas querem mesmo se embriagar, não há, que eu saiba, meios de impedir isso - logo, deixe-as sozinhas e que elas se embriaguem. Mas também não as afaste do balde d'agua." NOTA DA TOCA: comparar o bebinho a um cavalo é demais!

Catalogado na (O.M.S) Organização Mundial da Saúde: Alcoolismo é uma doença progressiva, incurável e com determinações fatais. Ela leva à loucura ou à morte prematura. Geralmente, a pessoa começa bebendo socialmente. Mais tarde bebe habitualmente. Então passa a beber descontroladamente.”

Eu bebia anti-socialmente, porque meu grupo de amigos bebedores era formado por pessoas não muito bem vistas pela sociedade. O mais aprumado era um tal de Joacir, esse cara da foto (de branco), que era filho de um delegado de polícia, sendo que hoje segue a profissão do pai nas Alagoas. Seu maior crime: roubar os perus do galinheiro de sua própria casa para assar na padaria do Maciel e comer com cachaça no oitão da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na cidade Itabaiana do Norte. Se achar que é mentira pergunte a Roberto Palhano, irmão de Ercílio.

Minha comadre Atiz, de São Paulo, manda dizer: “Fábio, Lima Barreto era um grande bêbado e foi grande escritor. Conheci muitos bêbados. O que mais me lembro era um que morava na minha cidade. Ele sempre dizia quando estava bêbado: "Saber é bom. De tanto saber, não sei mais nada."

Dani Bach é uma moça de vinte anos de idade, mora em Palmeiras, São Paulo. Não sei se, com essa idade, a Dani já encara uns golinhos de goró, mas vejam o que acha do assunto: "Beber é algo emocional. Eu concordo”.

Viviane Barbosa da Cruz tem 22 aninhos (a faixa etária dos meus leitores ta baixando...) e mora em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Ela diz que porre mesmo é aturar tempo de eleição, e pela primeira vez ta com vontade de anular o voto diante desses candidatos mascarados.

JC Cavalcante é do Rio, tem 50 anos, e apreciou o texto do samba de uma nota só: “Gostaria de ouvi-lo executando o samba de uma nota só. Seu texto é excelente, me prendeu na leitura do início ao fim. Vou a João Pessoa agora em dezembro, quem sabe não encontro o Gilberto e o Mozart pelas beiradas de Tambaú ou Manaíra. Parabéns pelo texto.”

Valeu, compadre Cavalcante! A gente aguarda sua presença na velha Jampa. Para homenagear sua ilustre visita, tomaremos dois dedos de Serra Limpa e uma dose de Pitu com caju.

Do Recife vem o telegrama do escritor Erasmo Souto: “Realmente, nos últimos três anos sem beber, ando mais burro. Não estou mais porque antes já tinha bebido... todas!”

Aninha Viola é de Belo Horizonte, tem 42 anos e também ficou curiosa em conhecer a banda de um homem só, do Gilberto Bastos Júnior e sua música experimental.

Carolina é neta do grande itabaianense Tenente Lucena: “Obrigada pelo lindo texto sobre meu avô. Eu não tive a honra de conviver muitos anos com ele, mas é maravilhoso saber como ele marcou e transformou a vida de tantas pessoas”.

No mais, boa eleição para todos e brindemos aos novos tempos... ou não...

Quem sou eu?


Essa é uma boa "brincadeira" de autoconhecimento que recebi por e-mail. Quem propõe a reflexão é a escritora Marta Medeiros dizendo o seguinte:

“Quando não temos nada de prático nos atazanando a vida, a preocupação passa a ser existencial. Pouco importa de onde viemos e para onde vamos, mas quem somos é crucial descobrir.

A gente é o que a gente gosta. A gente é nossa comida preferida, os filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a estação do ano preferida, nosso esporte, as cidades que nos encantam. Você não está fazendo nada agora? Eu idem. Vamos listar quem a gente é: você daí e eu daqui.”

Então vai uma amostra de quem sou:

Sou música regional de raiz, sou Antonio Nóbrega, sou Quinteto Violado, sou Clã Brasil, sou Jessier Quirino, sou Odete Pilar, sou Sandra Belê, sou Tocaia da Paraíba, sou Manoel Xudu, sou Zé da Luz, sou Zeca Baleiro, sou Geraldo Amâncio, sou Canhoto da Paraíba, sou Raul Seixas, sou The Beatles, sou Creedence Clearwater Revival, sou Pinto de Monteiro e Ivanildo Vila Nova, sou Geraldo Mousinho e Caximbinho, sou Curió de Bela Rosa, sou Maria Soledade...

Sou futebol, sou teatro amador, sou rádio comunitária, sou poesia de cordel, sou José Saramago, sou documentários, não sou novela nem programa de auditório, sou Náutico Capibaribe, sou Botafogo carioca, sou Treze da Paraíba, sou Mário Quintana, sou Waldir Azevedo, sou Capiba, sou Mocó dos Caboclos, sou Ispiciá do Boi, sou Pabulagem do Coco, sou Chico do Doce Mamulengueiro...

Sou dia de chuva, sou informalidade, não sou café, mas sou cerveja, sou peixe ao molho de coco, sou castanha e sou granola, sou inhame com torrado de bode, já fui cachaça hoje não mais, sou fruta manga, jaca, sapoti, abacate, mel de abelha, abacaxi, sou mesa, mas não sou cozinha, sou cama, mas não sou galinha, não sou reza, mas sou agnosticismo...

Sou caminhada, não sou musculação, sou bar pé-sujo, mas não sou baile, sou Pernambuco na Paraíba, sou escorpião, sou poesia de feira, sou “o coração do folclore nordestino”.

“Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte” (Lenine)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Aboio da esperança


Encontrei Lego visitando o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana/PB. Lego tem quinze anos. Quando era menino, escutava o pai no seu canto amoroso bovino consagrado a apascentar o gado nas fazendolas de São José dos Ramos, antiga São José de Pilar, terra de vaqueiros, cangaceiros e cantadores de viola, sendo o maior deles chamado de Manoel Xudu.

Lego se chama Josenildo da grande família Silva, um menino do povo, sem eira nem beira, mas cultivando a experiência do pai naquele canto dolente e monótono do pastoreio, sua maior riqueza, a herança deixada pelo genitor vaqueiro. Menino esperto e mente veloz, aprendeu a cantar o aboio com os mais velhos, levado pela força comovente dos costumes dos antepassados.

Hoje é um aboiador de fama. Não guia as boiadas, raras, mas já desperta a admiração dos colegas. Muito menino em São José dos Ramos deseja aprender a arte de Lego. Entre o poder áureo da poesia e a vaidade do sucesso, navegam garotos como Zé Val, Jessé, Severo, Júnior de treze anos, Raimundo com apenas onze e outras crianças que veem em Lego um exemplo a ser seguido, naquela cidadezinha tão sem nada onde agora já esplandece o ideal de ser poeta e cantar aboio nas vaquejadas e festas de rua.

São José dos Ramos é a capital do aboio. A noção do valor dessa tradição secular, presente na nova geração de sãojoseenses, conduz ao renascimento de um costume artístico antigo que agora virou festival anual. O Festival de Aboio de São José dos Ramos já vai na décima terceira edição. Acontece entre os dias 3 e 5 de dezembro, onde se exibem artistas famosos como Galego Aboiador, o rei das vaquejadas nordestinas.

Josenildo, o Lego, estuda na Escola Maria Caxias, onde aprende as matérias normais e instrui-se na história dos costumes do seu povo. É a orientação da prefeita do lugar, uma médica que deixou a vida boa na capital do Estado para cuidar de sua gente, fazendo com que tenham orgulho de sua cultura. A prefeita Cida Amorim diz que essa é a sua maior obra na cidade: fazer com que a constituição afetiva da comunidade seja realçada por meio da cultura. “É uma ação que não rende votos, mas tenho a lúcida consciência de que estou plantando sementes para a valorização do ser humano, e isso é, ao final, o objetivo de todo gestor público”. Ou deveria ser, acrescento eu.

Lego vai se apresentar no Festival de Aboio ao lado do seu grande ídolo, o Galego Aboiador. Comovido, ele diz que quer ser um aboiador profissional, de vaquejada. Gravar CD, empolgar as multidões com seu canto de campo. Em direção à plenitude de sua arte simples, Lego vai ter sempre a doutora Cida ao seu lado, como uma referência de respeito e amor à cultura popular.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CANTORIA DE ADEILDO VIEIRA SERÁ EM NOVEMBRO, NO PONTO DE CULTURA CANTIGA DE NINAR


Caro Fábio,


É com muita honra que aceito participar de um evento do Cantiga de Ninar, o que, aliás, eu já fiz demonstrar quando sugeri este show com meus filhos nessa terra que me deu vida. Fico surpreso, e ainda mais honrado, com a inclusão de meu nome nas homenagens propostas, pois acho que a minha contribuição cultural para o meu estado, a meu ver, é o mínimo que um artista que acredita na poesia de viver deve fazer para garantir a dignidade da cena cintilante da nossa querida Parahyba.


O título de cidadão itabaianense se faz mais do que justo para esse camarada que botou Itabaiana no coração e que tem dado contribuições relevantes para o crescimento da alma da cidade. O militante cultural Fabio Mozart cuida de Itabaiana como um bom filho cuida da mãe idosa, carente de atenção e carinho para recuperar o brilho dos olhos e a esperança da redenção dos seus demais filhos. Parabéns, amigo!


Tanto eu como os netos de Itabaiana (meus três filhos) teremos o prazer de nos fazer presentes a este ato de justiça, a esta festa da poesia.


Já falei com eles e todos podemos ir.


Até lá vamos conversando sobre esta produção. Falo de como será a sonorização e outras pequenas providências.

Há braços emocionados!!!

ADEILDO VIEIRA

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pesquisa aponta que as pessoas que bebem são mais inteligentes


Bem que eu desconfiava da criatividade de um Biu Penca Preta, o talento de Roberto Palhano e a inteligência excepcional de tantos outros bebedores que conheço.

É sério! A constatação foi feita por dois estudos, um no Reino Unido (o National Child Development Study) e outro nos EUA (o National Longitudinal Study of Adolescent Health). Crianças inteligentes, quando adultos bebem mais do que a média. Quer saber porque? Os cientistas também querem. Uma das teorias é de que essa relação entre álcool e inteligência seria um traço evolutivo que começou há cerca de 10 mil anos, quando finalmente surgiu o álcool bebível.

Pelo sim ou pelo não, encha o copo e tome seu pifão. Podem te chamar de pinguço, zé garrafa, meiota, pé de cana, manguaceiro e canabrava, mas de burro não! O cara que toma umas biritas geralmente é bem dotado de talento.O bêbado de fé quase sempre é um filósofo de balcão de bar. Tem resposta pra tudo, entende de tudo. Os infiltrados, aqueles que não são bêbados de fé, são os temidos chatos, os autênticos “porres”, caras que não têm muita inteligência. E como são cafonas os infiltrados! Tem o clássico anos 70, que chega de calça de tergal no bar, camisa pólo listrada azul e branca com a carteira de cigarro no ombro por baixo da manga da camisa, óculos raiban, incisivo de ouro, eleitor de Zé Serra e torcedor do Flamengo, faz cara bem boçal e pede:

- Ô Zé, me vê um drink aí!

Chamar “rabo de galo” de drink é muita frescura, própria dos infiltrados, portanto burros. Pra quem não sabe, “rabo de galo” é a mistura de cachaça com vinho “garapão”.

A música “O bêbado e a equilibrista” foi feita por um poeta e um músico bêbados. O Pasquim, ícone do jornalismo de resistência na ditadura, era feito por jornalistas bebinhos. As obras primas da música, da poesia, literatura e outras artes foram construídas durante porres dos seus geniais autores.

Jack Kerouac disse: “Quanto mais velho eu fico, mais bêbado eu me torno. Por quê? Porque eu gosto do êxtase da mente.” O genial Ernest Hemingway escreveu: “Um homem inteligente às vezes é forçado a ficar bêbado para gastar um tempo com suas bobagens.” Ele não recomendava álcool para qualquer um, mas dizia: “Isso sempre funcionou comigo.”

Beber é algo emocional. Faz com que você saia da rotina do dia-a-dia, impede que tudo seja igual. Arranca você pra fora do seu corpo e de sua mente e joga contra a parede. Eu tenho a impressão de que beber é uma forma de suicídio onde você é permitido voltar à vida e começar tudo de novo no dia seguinte. É como se matar e renascer. Acho que eu já vivi cerca de dez ou quinze mil vidas. Quem afirmou isso, de ressaca naturalmente, foi Charles Bukowski, o bebinho da foto acima, tomando sua primeira cerva pela manhã.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Equação do atraso

Grupo Teatral Xudu, de São José dos Ramos, encenando a peça "A peleja de Lampião com o Capeta"
Ubiratan Correia recebe diploma de honra ao mérito cultural da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba (Ponto de Cultura Cantiga de Ninar)

Na sua mais estúpida expressão, a política deixa rastros de ódio e incivilidade. A tal “festa da democracia” está mais para circo dos horrores, com suas picuinhas e rivalidades idiotas contaminando o povão que de nada sabe. Sem instrução, serve apenas de massa de manobra para políticos profissionais, carreiristas corruptos.

Para se ter uma ideia do nível de mentalidade dos patrícios, na minha terra, Itabaiana, as pessoas saem pelas ruas com um crucifixo numa mão e uma garrafa de cachaça na outra, exorcizando determinado candidato e enchendo os quibas em louvor ao rival. Vizinhos deixam de se falar, e quando conversam é pra trocar insultos. As ofensas são pessoais mesmo. A rivalidade política inconsequente já é tradição. Nas campanhas, os dois cordões saem às ruas com suas passeatas amalucadas, tomando como deliberação importunar o sossego público com gritarias, bebedeira, som altíssimo e músicas de baixíssimo nível.

No último sábado, 23 de outubro, os dois cordões realizaram suas passeatas. Na mesma data, o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar fez entrega de diplomas e certificados, culminando com apresentação teatral do Grupo Xudu, de São José dos Ramos. O evento aconteceu na Câmara de Vereadores, onde o vereador Ubiratan Correia de Melo foi homenageado pela Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba. Nenhum dos seus colegas esteve lá para prestigiar o ato. Estavam nas passeatas. A prefeita também não deu o ar de sua graça, passeando que estava com seus eleitores fiéis. O Secretário de Cultura foi para a passeata do 40 e o Subsecretário resolveu aderir à passeata do 15. Daí que aparece a equação do atraso: 40 + 15 = 55. E 5,5 é o Índice de Desenvolvimento Humano da cidade, no quesito educação. O Índice de Desenvolvimento Humano é uma medida comparativa que engloba três dimensões: riqueza, educação e expectativa de vida ao nascer. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população. Nossos índices são comparáveis aos das nações mais atrasadas do mundo.

A terra de Erasmo Souto Camilo e de Vladimir Carvalho precisa urgentemente de um choque de civilidade. Estamos perigosamente à beira do abismo da barbárie.

Na contramão dessa falta de desprendimento dos entes públicos para com a cultura, a prefeita Cida Amorim, de São José dos Ramos, esteve no evento, para prestigiar os jovens do teatro. Ela se destaca na região pelo respeito que demonstra com a criação intelectual e artística do seu povo, fazendo sua parte na preservação das tradições. Lembro de uma roda de exposição de arte popular do mamulengo promovida pelo Ministério da Cultura em João Pessoa. O mestre Inaldo de São José dos Ramos foi destaque na apresentação. A prefeita Cida Amorim estava lá para prestigiar seu artista. Aliás, foi a única que teve essa atitude. Da mesma forma, vai onde for o pessoal da dança, os jovens do teatro e os talentosos aboiadores de sua terra. Com esse apoio, os artistas de São José dos Ramos ficam cada vez mais orgulhosos e mais conscientes do seu valor.

O que é um menino?


Entre a inocência da infância e a compostura da maturidade, há uma deliciosa criatura chamada menino. Embora se apresentem em tamanhos, pesos e cores sortidas, todos os meninos têm o mesmo credo: aproveitar cada segundo de cada minuto de todas as horas de todos os dias e protestar ruidosamente (o barulho é sua única arma) quando seu último minuto é decretado e os adultos os empacotam e os metem na cama.

Meninos são encontrados em todas as partes: em cima de, embaixo de, dentro de, subindo em, balançando-se no, correndo em volta de, pulando para. As mães os adoram, as meninas os odeiam, irmãos e irmãs mais velhos os suportam, adultos os ignoram, o céu os protege. Um menino é a verdade com rosto sujo, a beleza com um corte no dedo, a sabedoria com um chiclete no cabelo... Quando você está ocupado, um menino é uma conversa-fiada, intrometido e amolante. Quando você deseja que ele cause boa impressão, seu cérebro vira geléia ou ele se transforma em uma criatura empenhada em desmontar o mundo.

Um menino é híbrido: o apetite de um cavalo, a disposição de um engole-espadas, a energia de uma bomba atômica de bolso, a curiosidade de um gato, os pulmões de um ditador, a imaginação de Júlio Verne, o entusiasmo de um bombeiro e, quando se mete a fazer alguma coisa,é como se tivesse cinco polegares em cada mão. Gosta de sorvetes, canivetes, serrotes, pedaços de pau (em seu habitat natural), bichos grandes, papai, sábados, domingos e feriados, mangueiras de água. Não é partidário de catecismo, escolas, livros sem figuras, lições de música, colarinhos, barbeiros, meninas, agasalhos, adultos e "hora de dormir".

Ninguém mais é capaz de meter num único bolso um canivete enferrujado, uma maçã comida pela metade, um metro e meio de barbante, um saco de matéria plástica, três notas de dinheiro, um estilingue e um fragmento de "substância ignorada". Um menino é uma criatura mágica: você pode mantê-lo fora do seu escritório, mas não pode expulsá-lo de seu coração. Queira ou não, ele é seu captor, seu carcereiro, seu dono, seu patrão - um sarapintado, um nanico, um pacote de encrencas. Mas, quando à noite você chega em casa, com suas esperanças e seus sonhos reduzidos a pedaços, ele possui a magia de soldá-los num segundo pronunciando apenas: "Alô, mamãe!"... “Oi pai!”

João José Marell

Do blog

www.metamorfosesdaalma.blogspot.com

Homenagem ao meu caçula, Maximilien Robespierre, que nem é mais menino, mas por ser o último, fica sendo menino eterno. (Na foto, Max com cinco anos de idade). Tempo é uma coisa mesmo muito relativa. Sendo hoje, 25 de outubro, dia do meu aniversário, presto reverência à vida que segue carregando meu DNA.

sábado, 23 de outubro de 2010

A lenda de São Roque e o padre ganancioso


Estando eu e meu compadre Roberto Palhano discutindo a respeito do grave incidente envolvendo o candidato José Serra, que quase teve o crânio careca rachado por uma pelota de papel, lembrei da anedota do fazendeiro que era devoto de São Roque e mandou o padre da paróquia rezar missa em louvor ao santo.

-- Cada vez que o padre falar no nome do meu São Roque, é um boi que vou dar para as obras da igreja – prometeu o fazendeiro.

O padre, conhecido pela ambição, assim se pronunciou na homilia:

-- São Roque era um santo muito gente fina. Pra quem não sabe, São Roque exercia a mesma profissão de São José: carpinteiro. Diz a lenda que Roque teria nascido com um sinal em forma de cruz avermelhada na pele do peito, o que o predestinaria à santidade. Mas São Roque era bom mesmo na arte de carpintaria. Quando São Roque pegava na serra, essa ferramenta chega piava na mão do santo, cortando a madeira: roque... roque... roque... roque... roque... roque... roque...

Nessas alturas, o fazendeiro gritou assustado:

-- Pare, padre da gota serena! Você quer acabar com meu rebanho de gado zebu!

(I)moral da história: Quem tem serra pode manipular de várias maneiras.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Negação da pessoa


Eu olho incrédulo para a propaganda eleitoral, onde se santifica o indivíduo, mas nega-se a pessoa. Duvidoso de tudo que se diz no horário eleitoral, quedo-me espantado com o candidato sorrindo com aquele contentamento tão falso quanto uma cédula de três reais; as cenas dos campos paraibanos a florejar uma produção agrícola abundante; os testemunhos de gente do povo e artistas com histórias e tradições respeitáveis; as promessas, compromissos e juramentos dos candidatos, alguns deles tão venais que são capazes de negociar a própria mãe e não entregar, para vender de novo. Enfim, a vileza costumeira da eleição.

Entretanto, o que quero afirmar é a tese de que na nossa sociedade se glorifica o indivíduo, mas se oculta a pessoa. Não deu pra entender? Percebe o disparate do que acabo de escrever na minha toca? Não é nenhum absurdo, desde que saibamos a diferença entre indivíduo e pessoa. Indivíduo é o candidato, um produto à venda, rotulado, caracterizado e descaracterizado, guiado, induzido e maquiado. O indivíduo não tem nenhum relevo que o torne um ser único. Ele é um ente artificial, ou, no máximo, o resultado de uma estratégia de mercado.

O que é uma pessoa, então? O que nos dá contorno existencial? Penso que não sou uma pessoa a partir do fato de possuir carteira de identidade. A pessoa que sou e que você é, e continua a construir durante toda sua vida, é o que você pensa, os seus sonhos, sua perspectiva de visão do outro, sua habilidade em estar no mundo equilibrando seus instintos mais primitivos com os fatores inatos de bondade, nobreza, lealdade e valentia para defender o bem. Você é único, com seus defeitos e suas virtudes, suas taras e sua crueldade animal.

Essa pessoa jamais saberemos quem é, ao ver a propaganda eleitoral. Os candidatos são apenas indivíduos, não se apresentam como pessoa. Pois bem. É algo que não se pode explicar facilmente. Não podemos imaginar o candidato chegando na TV e mostrando quem ele é realmente, desnudando-se enquanto pessoa. Se tentar fazer isso, vai provocar reação negativa do eleitor. A população, que é viciada em hipocrisia e propaganda dissimulada, vai demolir a carreira do cidadão que assim se ponha a nu.

No entanto, que desejo de conhecer a verdadeira personalidade desses heróis midiáticos! Quem é Dilma? Que personagem veste Serra e quem é o ator por trás da máscara? Será José Targino Maranhão exatamente o oposto do seu Zé do Quinze? E Ricardo Coutinho, a marca de suas convicções estará mesmo estampada no seu caráter? Ou é tudo jogo de cena, engano dos sentidos e da vulgarização de falsos predicados, embaralhados pelo jogo sutil do indivíduo encobrindo a pessoa?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Banda de um homem só vai lançar CD com músicas de uma nota só

Gilberto Júnior (à esquerda) e sua guitarra percussiva

O músico é Gilberto Bastos Júnior, natural de Olinda e radicado em João Pessoa. É um guitarrista que não toca guitarra e um músico que faz a anti-música. Decidiu que não queria aprender os acordes normais no instrumento, não porque não goste de combinar os sons, mas porque queria que a música atingisse o grau máximo de pureza em seu organismo. Por enquanto, experiente nessa façanha de compor sem partitura nem observância das leis da tonalidade, Gilberto experimenta sete músicas, cada uma com uma nota específica, com base recheada de efeitos e batidas minimalistas.

As sete notas musicais estão presentes, uma de cada vez, nas sete faixas do CD. A curto prazo, Gilberto quer mostrar seu trabalho em praças de João Pessoa, levado por um projeto da Prefeitura. Sem renunciar aos seus escritos “malditos”. Escreve breves contos sobre as misérias do dia-a-dia das periferias de João Pessoa, capital de um Estado que chama de “estado de necessidade”. Falta pouco para “estado de sítio”.

Assim, misturando ideias, separando notas musicais e desvencilhando-se do convencional, Gilberto Júnior vai tomando sua cachacinha e rolando no eixo central da estrada que leva ao ruído rude da música experimental e da arte sinuosa que sai da cabeça do artista outside.

Não confundir a banda de um homem só, do Giba Júnior, com o tradicional “homem orquestra”, que pode incorporar quaisquer instrumentos à sua performance, executando violão, maraca, tamborim, gaita de boca etc. A banda de Júnior se firma numa unidade de sentido que só pode ser percebida pelos iniciados. É coisa para poucos. Sob o crivo dessa linguagem musical um pouco fora da realidade, ele musicou um poema de minha autoria. Tudo bem; conscientemente, não entendi muita coisa, mas é como diz o velho Chico Buarque: “se o artista sente a necessidade de explicar sua obra ao público, um dos dois é burro”. Para não passar recibo de jumento, aplaudi a obra minimalista no seu isolamento contextual. O renascimento das invenções artísticas é sempre um parto doloroso.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Notícias de Timbaúba




Visitando o meu compadre Beto de Zé de Paulo, na Câmara Municipal de Itabaiana, recebo de brinde dois exemplares do jornal “Correio de Notícias”, da vizinha cidade de Timbaúba, Pernambuco. Trata-se de uma publicação bem diagramada e com conteúdo razoável, refletindo o progresso econômico e cultural da “Princesa Serrana”, aquela que me viu nascer na rua do Sapo, na beira do rio Capibaribe Mirim.

O jornal timbaubense estampa em sua capa a notícia de que Timbaúba elege seu Conselho de Cultura e recebe mostra internacional de cinema. Esse conselho vai tratar de estruturar o Plano Municipal de Cultura e lutar pela instalação do Fundo Municipal de Cultura.

A notícia fez lembrar que em Itabaiana o Conselho Municipal de Cultura existe desde 2004, quando foi aprovada lei neste sentido pela Câmara Municipal. O velho Leão, que sou eu, foi seu primeiro presidente. Triste recordar também como foi esvaziado esse Conselho, por razões políticas ou, diria, por insensatez e mediocridade de certas figuras em pleno exercício de seus “podres poderes”, como afirma Caetano Veloso em sua canção.

O Conselho de Cultura de Itabaiana não está operante, mas temos o Fórum Permanente dos Artistas e Produtores Culturais. Tentamos constituir um grupo organizado para pensar um pouco sobre nossa cultura, com independência e identidade própria.

Voltando a Timbaúba, leio no jornal de lá que foi constituído um Fórum com participação de empresários de vários setores da economia da região, para discutir economia e administração pública e debater formas de crescimento econômico e desenvolvimento sustentável. Comparando-se a Itabaiana, não é difícil perceber que nossa vizinha, a velha Timbaúba dos Mocós, distancia-se cada vez mais no seu caminho para se tornar uma comunidade grande, economicamente próspera e desenvolvida. Começa pelo respeito à cultura. O desprezo à cultura é sinal de atraso e falta de interesse por uma cidade. É ignorar o legado dos ancestrais e a nossa existência; é demolir o alicerce da identidade.

Quem sabe ler, até de ponta cabeça entende


Essa foto roubei do blog do Vavá da Luz, um cidadão que mora na cidade do Ingá, sujeito nota dez que conheci na festa de lançamento do livro de Tião Lucena, em João Pessoa. Por sinal, estamos preparando o lançamento deste livro em Itabaiana, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.

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Ana Karla mora em Mari e escreveu para o blog pedindo um exemplar do livro “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, tratando da história daquele município paraibano. Ela sugere que eu deixe exemplares para vender na Rádio Comunitária Araçá, que é grande o interesse dos marienses por esta obra. Agradeço a atenção. Estou planejando ir pessoalmente a Mari para vender o que resta da tiragem do livro. Uma tiragem bastante modesta, mas o livrinho tem agradado ao pessoal de Mari.

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Aliomar Helena Tavares Cartaxo é neta-sobrinha da heroína itabaianense Leonilla Almeida. “Sinto-me orgulhosa de ser parente dessa mulher guerreira”, afirma Aliomar em mensagem à Toca do leão. Estou juntando documentos e fotografias para escrever livro sobre a vida de Leonilla, ela que foi presa em Natal, Rio Grande do Norte, na revolta popular na década de 30, que ficou conhecida como “intentona comunista”.

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Hoje gravamos programa de rádio sobre as religiões africanas no Brasil. Por sinal, hoje entra em vigor o Estatuto da Igualdade Racial. Depois de tramitar por quase uma década pelas duas casas legislativas do país e ter sido sancionando pelo presidente Lula, o Estatuto da Igualdade Racial passa a vigorar hoje, dia 20 de outubro. Trata-se da lei que define uma nova ordem de direitos para os cidadãos negros brasileiros.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A REVISTA DO ELPÍDIO



Elpídio Navarro é um dramaturgo paraibano que mora na cidade de Cabedelo. Ele produz uma revista eletrônica chamada El Theatro que é uma beleza. Toda segunda-feira tem nova edição que eu recomendo. Lá tem humor, literatura, teatro, cinema e crônicas. Na revista, Elpídio reproduz as crônicas publicadas neste blog.

O endereço é: www.eltheatro.com

Acima, duas fotos publicadas na última edição do El Theatro: Adão e Eva, versão muçulmana, e "respeito à natureza".

Coxeava o ano de 1968...


Assim começa o livro “Compromisso com a verdade – meio século de jornalismo”, de Oduvaldo Batista e Roselis Batista Ralle, sua filha. Na crônica, a filha de Oduvaldo narra as agruras do seu pai como jornalista em São Paulo, na redação dos Diários Associados do fascista Assis Chateaubriand, tendo que conviver com o Departamento de Ordem Política e Social, o famigerado Dops, os “dedos-duros” e as idiossincrasias da ditadura.

Como chefe de redação, Oduvaldo precisava ter muito cuidado com o que seria publicado no jornal para não causar prisões e torturas entre colegas. Oduvaldo sofria mais do que todos porque era simpatizante dos comunistas, decente, altamente humano e criterioso. Mas precisava trabalhar. E fazia com dignidade, no limite do possível, já que jornalismo como tal não podia ser praticado no Brasil daqueles tempos mais que sombrios. Pelo menos é o que consta no livro da filha de Oduvaldo.

Atualmente, com profissionais devidamente diplomados nas redações, os jornalistas, para garantir algum jabá ou privilégio, fazem o jogo sujo dos donos das empresas, concordam em usar a coleira e alugar suas mentes para interesses políticos e comerciais altamente suspeitos. Tem jornalista que recebe por fora e por dentro, segundo comentou amigo meu que trabalha em um desses jornais da Paraíba. Os que ainda têm caráter tentam fazer um meio termo retraído, para salvar alguma aparência. A maioria mente, faz alarde de pesquisa fajuta, espalha boatos de má fé, criminaliza e sataniza a figura do oponente, enfim, segue as regras medíocres da politicalha. Poucos, pelo menos uns que conheço, ainda tentam levantar o debate do que realmente interessa ao povo, que são as propostas de gestão governamental.

Faltando apenas duas semanas para a eleição do segundo turno, ninguém sabe o que querem Maranhão e Ricardo para a Paraíba. Um pouco porque os próprios políticos não têm interesse nessa discussão, achando melhor basear suas campanhas em denúncias contra o adversário. Por falta desses esclarecimentos, estão aí os vultosos números da abstenção e do voto nulo. E no jornalismo, a boçalidade toma conta. Não existem debates sérios.

Guilherme Sobota é estudante do 3º período de Comunicação na Universidade Federal do Paraná. Escreveu no seu blog: “A Folha atingiu todos os limites éticos e morais da profissão. Jogou no lixo sua história de pluralidade (como há tempos vinha fazendo). Assassinou, de dentro para fora, o jornalismo brasileiro. Tudo isso em nome do quê? Ódio? Vontade de controlar o país? O quê?”. No nosso caso, os jornais locais têm interesses conhecidos, objetivos claros. Não somos melhores nem piores do que ninguém, pelo menos isso temos o dever de constatar. A imprensa praticada no Brasil é tão ordinária quanto a política.

Com essa pauta e esse desempenho, o jornalismo paraibano poderá ser lembrado daqui a 40 anos em crônica que começaria assim: “Coxeava o ano de 2010...”

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Oduvaldo Batista e a imprensa oficial


Com mais de meio século de jornalismo, Oduvaldo Batista foi um lutador pela dignidade desta profissão. No seu livro “Compromisso com a verdade”, que acabei de ler, Oduvaldo faz importantes reflexões a respeito das nossas desigualdades sociais, econômicas e culturais. Sua filha Roselis Batista Ralle assim descreve a ideologia do pai: “Ele ama o Brasil como quem ama as veias da terra, a força criativa do povo, os acordes da música popular, a esperança nos olhos de nossas crianças. Na dimensão de um repórter com mais de meio século de batente contínuo, há a fidelidade às esquerdas, a convicção de que o socialismo nunca foi tão necessário e a constatação de que homogeneizar o planeta, perder a identidade brasileira – ou qualquer outra – em prol de uma implantação de “clonos” na mentalidade das pessoas é perder a vida, é vegetar, é simplesmente deixar de ser”.

Em uma das entrevistas publicadas no livro, Oduvaldo fala sobre o governador José Maranhão e a imprensa oficial. Abro os microfones da Toca para o depoimento de Oduvaldo: “Na minha época tinha “A Imprensa”, um jornal fascista da Igreja Católica, porque naquele tempo a Igreja era bem mais fascista do que hoje. Então o jornal “A União”, além de ser muito lido, era um jornal progressista, temporal, que acolhia artigos de comunistas, socialistas, materialistas e havia uma polêmica entre A União e A Imprensa, este último defendendo o medievalismo, o obscurantismo, e A União defendendo os valores nacionais, o progresso. Com o golpe de 30 foram surgindo outros jornais como O Norte e o Correio da Paraíba, e aí começou o boicote comercial contra A União, e os governos são coniventes com isso. Por exemplo, o senhor José Maranhão, atual governador da Paraíba, é um latifundiário, um homem riquíssimo. Ele só anda em avião particular, é um mercenário. E ele não tem interesse em que o governo tenha o seu jornal, um veículo realmente do povo, pois a União poderia ser esse jornal. Bastaria que o governo desse assinaturas grátis para todo o professorado da rede estadual e das redes municipais, esses professores que ganham pouco, e os funcionários que têm melhores condições financeiras pagariam 50% do valor da assinatura anual. Assim, só esse universo de leitores, que é imenso, facilitaria a vida do próprio jornal, aumentaria os anúncios e garantiria a sobrevivência, sem depender tanto do dinheiro público. Pois um jornal bem feito, com muitos leitores, defendendo realmente os interesses do povo, atrairia o pequeno e o médio comerciante que faria sua propaganda através de um órgão de imprensa dessa qualidade”.

Oduvaldo Batista faleceu aos 87 anos de idade, em João Pessoa. Assim ele via a chamada imprensa burguesa: “Todos os meios de comunicação burgueses, principalmente a TV, a serviço do imperialismo liderado pelos EUA, deformam a mente do povo. Esta deformação se torna mais fácil para esses bandidos, justamente porque a grande maioria não tem cultura, é ignorante. A mentira, a omissão, são armas da mídia burguesa, dentro do figurino traçado pelo imperialismo sediado em Washington”.

domingo, 17 de outubro de 2010

Cordel enaltece Vladimir Carvalho


A notícia é velha, mas pra mim é novinha, já que tomei conhecimento hoje. O poeta Gustavo Dourado lançou um folheto de cordel homenageando nosso documentarista itabaianense Vladimir Carvalho. Chama-se “ABC de Vladimir Carvalho” o livreto que foi oficialmente apresentado ao mundo literário em Brasília, com a presença do homenageado, durante o Festival de Cinema na Capital Federal.

Eu que sou admirador da obra de Vladimir, acosto-me ao poeta cordelista nesta merecida homenagem. Acostar-se, por sinal, é verbo muito usado hoje em dia pelos mais medíocres parlamentares do pedaço, sempre quando querem pegar carona em elogios a pessoas notáveis. Vladimir Carvalho é construtor de uma obra cinematográfica onde deixa sempre a marca de suas convicções e seu amor ao País.

Literatura de cordel também é minha praia. Acabei de lançar o cordel “Biu Pacatuba”, incluindo a história da cidade de Mari em versos. Por sinal, ontem recebi telefonema de uma moça chamada Simone. Ela vai prestar concurso público na Prefeitura de Mari e andou pesquisando na internet sobre aquele município. Achou meu cordel e contato, ligou e pediu urgente um exemplar do livro. Fui levar na casa da moça, inaugurando o mais novo serviço da casa: entrega em domicílio ou, para os americanalhados, “delivery”.

Baiano de Ibititá, região da Chapada Diamantina, o escritor Gustavo Dourado tem 13 livros publicados. O cordel é uma mistura da trova portuguesa com a poética nativa dos brasileiros, notadamente na região Nordeste. É uma espécie de poesia naïfe sertaneja e tropical. Os acadêmicos recusam-se a reconhecer o cordel como arte, mas mesmo assim essa expressão literária do povo sobrevive. E agora com a internet ganhou mais fôlego. Trezentos anos para o cordel e para Vladimir Carvalho, como diria meu compadre professor Josa.

Carnaval da saudade...


Grande Fábio

Seguindo o viés memorialista de então, lembro das "Pastorinhas", grupo carnavalesco formado por marmanjos travestidos de pastorinhas e que saia das imediações da Casa da Mãe Pobre, lá pelos idos da década de sessenta e meados da de setenta.


David Andrade do Monte

Lembro das pastoras, lideradas pelo finado Djalma da tipografia.
O grande folião foi Nabor Nunes, da tipografia, que todo ano saía com uma fantasia muito bem caprichada, irreverente e original. (Leão saudoso)

sábado, 16 de outubro de 2010

Ganzá de Ouro vem aí


“Ganzá de Ouro” é o grupo de música regional do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Vamos recomeçar os ensaios com o mestre Severino, rabequeiro de Mari, o forrozeiro Orlando Otávio, tocadores de pífano de blocos indígenas e a moçada integrante das raias pontistas. Contamos com a bonita voz de Clévia Paz, o remelexo caboclo de Das Dores e o som de baixo profundo que sai da garganta do compadre Normando Reis. Ainda como solista, o garoto Lucas Oliveira é o sabiá da mata. Eu me defendo nas cordas da viola e Edglês Gonçalves vai ser aprendiz do mestre Severino na rabeca.

Acenderemos a luz da memória para recordar toadas de caboclinhos, pontos de candomblé, aboios, coco-de-roda, maracatu, boi-de-reis e ladainhas do povo do Nordeste. A proposta é gravar CD, mas antes vamos sair no carnaval de Itabaiana no próximo ano, cada integrante vestido com a fantasia de um brincante. Eu vou sair fantasiado de Capitão da Nau Catarineta. Clévia já decidiu que será a Cigana do Pastoril. O cantor e compositor Vital Alves vai sair de índio da tribo Funiô. E vão por aí os extremistas do ritmo popular que queremos ser. Só toca se for raiz e da boa!

Em sendo assim, vamos tentar adiar a morte do carnaval tradição na terra dos “Assombrados da Floresta”, antigo bloco de caboclinhos do mestre Josa que deixou de sair no carnaval por carência de apoio. Sem faltar o boi, que é tradição em Itabaiana, em homenagem ao mestre “Ispiciá”, o maior de todos. Quem é da minha geração lembra o verdadeiro périplo que fazíamos no carnaval, acompanhando o boi de Ispiciá até a praça do coreto, depois voltando com a Escola de Samba Última Hora, do mestre Zé Dudu. Ao final do percurso, todo mundo voltava atrás do mestre Mocó e seus bons selvagens. Isso quando não encontrava pelo caminho os índios Papo Amarelo ou o boi de Ramos de Inácio, tendo à frente a orquestra de Cabo Setenta. Para sair do circuito, tínhamos os Taiobas e o Pão Duro, clubes carnavalescos famosos nas décadas de 50/60.

Quem conhece um pouco do nosso carnaval de antigamente sabe do que estou falando. Essa festa firmou-se como o maior carnaval de rua da Paraíba, até ser dizimada pela praga do carnaval baiano a partir dos anos 90. Veio daí a hegemonia dos blocos particulares, com segregação e exclusão, acabando com a festa popular mais famosa do Brasil. Nesse carnaval, o povão é apenas um espectador de segunda categoria. Deixou de ser protagonista.

É como diz o pesquisador Clímaco Dias: “O trio elétrico foi transformado em mercadoria e instrumento de ganho de capital. Assim nasceu a corda para cercá-lo, e surgiram os blocos pagos. Então, atrás do trio elétrico só vai quem pode pagar.”

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

RESENHA CULTURAL deste sábado (16 de outubro) tem poeta matuto e teatro amador

Repórter JW Ferreira entrevista a prefeita Cida Gonçalves para o RESENHA CULTURAL



Ouça entrevista com a prefeita Dra. Cida, de São José dos Ramos, e atrizes do Grupo Teatral Xudu.

O poeta Bob Mota comparece com suas cantigas e poemas matutos.

RESENHA CULTURAL é transmitido pela Rádio Comunitária Rainha, de Itabaiana/PB, todos os sábados às 15h30, em tempo real pelo site: www.radio87rainhafm.com

No domingo, 17 de outubro, o áudio do programa pode ser acessado pelo blog:

www.pccn.wordpress.com

RESENHA CULTURAL é um programa radiofônico do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar

Sem educação não há libertação


A comparação entre o salário do professor e do vereador é mostra do quanto não se valoriza esse profissional. Enquanto um vereador de qualquer cidadezinha na Paraíba ganha seus mil e cacetadas, a professorinha percebe um pouco mais do que o salário mínimo. O vereador tem o dever de participar de uma reunião semanal, onde geralmente não abre nem a boca, a não ser para bocejar de tédio. Já a professorinha tem obrigação de estar na sala de aula diariamente, comendo pó de giz e aguentando meninos mal educados.

Nesse dia, pensei em dar meu depoimento sobre as minhas professoras inesquecíveis, mas desisti. Presto minha homenagem na pessoa de Elizabeth Teixeira, essa professorinha que foi vítima de circunstâncias muito desfavoráveis no seu tempo, perseguida pelo regime militar. Escondeu-se numa cidadezinha do Rio Grande do Norte, onde passou a ensinar às crianças carentes. Tem um filme que virou ícone, contando a saga de Elizabeth e sua família. Chama-se “Cabra marcado para morrer”. Neste documentário, o diretor mostra Elizabeth com suas crianças na escolinha. Quer me parecer que aquela cena é a mais significativa do filme. Elizabeth que dedicou sua vida à emancipação do trabalhador rural, depois de muitos combates e sofrimentos, passa a consagrar suas melhores energias à formação intelectual e moral da nova geração, construindo uma legenda: “sem educação não há libertação”.

Meu amigo e leitor da Toca, Erasmo Souto, não é muito chegado aos movimentos organizados dos camponeses. Ele odeia o MST, acha tudo um bando de arruaceiros comunistas e badernistas esquerdistas. Mas, veja Erasmo, que nos acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra eles dão imenso valor aos educadores. Sabem que é pela educação que virá a faculdade de cada um agir conforme sua consciência e segundo sua própria determinação.

Sobre o MST rola uma anedota: na lenda bíblica, Deus preferiu Abel que pastorava ovelhas ao Caim que cultivava a terra, num claro preconceito contra os agricultores, culminando com a CPI do MST.

Portanto, viva aquele que ensina os caminhos da liberdade. Viva o professor!