Olá Mozart, Como sei das suas origens e amor à velha Itabaiana, lhe envio agora um texto (publicado no Correio da Paraíba de 29/10) que fiz para homenagear os meus pais em suas bodas de ouro.
Tudo começou em Itabaiana:
Nivaldo e Mariinha
A secreta fórmula da manutenção do amor, quem a domina? Os insumos até são conhecidos: o respeito, o carinho, a cumplicidade, o beijo, a solidariedade e o abraço, entre outros, são elementos fundamentais nesta composição. O difícil é dominar a mistura e os respectivos procedimentos. A incógnita é a alquimia. Quanto de cada parte? Sob qual temperatura? Como se amalgama tantos componentes no inconstante tacho do tempo?
Os dias foram passando, de sol, de chuva, de alegria, de tristeza, de esperança. E assim já se foram quase 20 mil dias. Dias de viver a dois, mas para muitos; talvez seja este o segredo, ou parte importante dele, afinal quem não tem amor pra dar a muitos, dificilmente terá amor para os mais próximos ou para si mesmo. Nivaldo e Mariinha são artistas da existência e dominam, como poucos, a agulha e a linha de tecer dias azuis.
Naquela tarde de 29 de setembro de 1960, no sítio Brejinho, a beira da fração itabaianense do Rio Paraíba, os dois, para azar de alguns perus e sorte do mundo inteiro, disseram sim. A festa se fez sob a sombra das mangueiras, ante o olhar atônito da boiada presa no curral. Para beber, cerveja e Crush. A comida foi preparada por João Preto, de Vicência. O bolo foi arquitetado por Hermínio. Foi um dia feliz no sítio de Mané Luis.
Recém chegado de São Paulo, onde trabalhou 9 anos como foguista em uma caldeira de fábrica, Nivaldo cumprira o roteiro padrão para a maioria dos jovens nordestinos do início da segunda metade do século XX. Foi ao sul, trabalhou, juntou dinheiro e voltou para a boa terra no “vôo da Asa Branca”. Foi pescar nas origens - no vale do Paraíba - e fisgou uma morena para começar vida nova na capital. Virou budegueiro.
Os dois são formados: primário completo e pós-doutorado em cotidianos. O balcão da venda leva ao atrito constante dos humores, à convivência permanente e sábia com os seres e sua diversidade. O balcão da venda é a universidade da alma. Nivaldo e Mariinha aprenderam e ensinaram a conviver e buscar a felicidade onde ela é potencial: no coração dos bons, dos miseráveis, dos bêbados, dos sonhadores, da gente do lugar.
Quem tem ou teve a sorte de usufruir desta convivência, sabe o quanto podem ser generosos os seres humanos. Para os filhos e netos, o inabalável patrimônio do amor e da dedicação. Para todos, carinho, compreensão, dignidade e bons humores. Quem me dera, para sempre, depois do medo no meio da madrugada, poder buscar entre os dois, os seus lençóis e a cama quente, novamente o afago, a paz e a segurança infinita.
Quem nos dera poder sempre repercutir e dividir, além das páginas impressas, a gratidão, o respeito e admiração por quem amamos. Melhoraríamos certamente o mundo inteiro. Tome, leitor, a sua parte neste legado. Nivaldo e Mariinha estão em bodas de ouro.
Gilson Renato – jornalista e filho
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