quinta-feira, 31 de julho de 2014

Tratado geral da burrice



Sonsinho, meu amigo que tem um ligeiro retardo mental, não é burro. Uma definição convincente sobre burrice foi dada pelo historiador e economista italiano Carlo Cipolla: “Uma pessoa burra é aquela que causa algum dano a outra pessoa ou a um grupo de pessoas sem obter nenhuma vantagem para si mesmo – ou até mesmo se prejudicando.” As besteiras de Sonsinho não ofendem a ninguém, e me ajudam a preencher o espaço de hoje na Toca, por falta de assunto melhor.

ALGUMAS DEFINIÇÕES CLÁSSICAS DO ESTUDANTE DE DIREITO SONSINHO:

·        Para “tiro à queima roupa” é preciso que a vítima esteja vestida.

·        Leis concretas são as elaboradas por pedreiros.

·        Bens móveis são aqueles fabricados em marcenarias.

·        Contrato bilateral é aquele celebrado entre o lateral direito e o lateral esquerdo da seleção.

·        Direito Penal trata das relações entre as aves de pena.

·        Signatários são os caras que inventaram o horóscopo.

ALGUMAS COISAS SOBRE A BURRICE QUE ESTE ASNO AQUI NÃO SABIA:

·        O burro não sabe que é burro e tende a repetir várias vezes o mesmo erro.
·        A burrice é contagiosa. As multidões são muito mais estúpidas que as pessoas que as compõem. Isto explica as multidões em shows de bandas fuleiras e comícios de candidatos idem.

·        O poder emburrece”, afirmava o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Por quê? Quando estão no poder, as pessoas muitas vezes são induzidas a pensar que, justamente por ocuparem aquele posto, são melhores, mais capazes, mais inteligentes e mais sábias que o resto da humanidade. Vide certo governador de certa província nordestina, vizinha de um rio grande e do meu Pernambuco Leão do Norte.

         TODOS NÓS ESTAMOS prontos a admitir que somos um pouco loucos, mas burros, jamais. Eu admito minha asnice. Por exemplo, não sei dirigir, apesar de fazer isso há mais de 30 anos. Tenho dificuldade para estacionar, por exemplo. No geral, entretanto, as pessoas não assume sua burrice, vide Felipão.

         Mas, em geral, um pouco de burrice faz bem. Os menos inteligentes vivem mais, segundo pesquisas de cientistas que se acham o máximo. Esses, erraram muito aos vinte anos, continuaram errando aos 40, mas agora não têm mais tempo nem senso crítico para avaliar suas besteiras.


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Diário de um reumático

Examinando o violão Folk, presente do mestre Pedro Osmar

Googleando receitas e tratamentos para inflamação nas juntas. Tentando ler livro de contos temáticos sobre a roupa de D. Pedro, o Imperador que comia as mulheres, mas não mexia com as partes pudendas da Nação. Mexendo nos arquivos mortos, onde desencavei um soneto do meu pai sobre a morte de minha vó.

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Estudando lances de rádio popular para alinhavar plano de aula, promovido a professor que fui pelo compadre Dalmo. Achando uma merda esse lance de falta de mobilidade. Pedindo ao compadre Marcos Veloso para pegar o violão Folk de Pedro Osmar, doado ao Ponto de Cultura. Uma relíquia, do tempo do movimento musical e poético Jaguaribe Carne, onde nasceram feras como Adeildo Vieira e Chico Cesar.

***
Pensando na produção da peça “Zebra do primeiro ao quinto”. Comendo castanhas e amendoins, bebendo chá de canela, gengibre, chá verde e hortelã. Sofrendo com duas horas de aplicação de argila e ervas medicinais nos joelhos com artrose, e vendo o jogo do Náutico, isto é, sofrendo duas vezes.

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Testando bengala de alumínio ajustável para necessidades de locomoção. Juntando tralhas, roupas velhas e calçados idem para o rapaz do reciclado, tentando evitar aquela sensação de perda ao ver meu velho blusão de general sair pela porta afora, como enjeitado. Querendo que tivesse rompido os ligamentos do joelho, em vez desse desgaste degenerativo das articulações. Ansiedade no grau médio.


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Impacientando-se até o limite do improvável. Acordando às quatro da madrugada para conferir a hora, despertando de recorrentes sonhos ferroviários. Perdendo a cadência da vida pela falta de mobilidade. Definhando a cabeça e crescendo a barriga. Voltado a sonhar paisagens inacessíveis e rimas irrealizáveis. Tomando o veneno homeopático da deprê.



terça-feira, 29 de julho de 2014

ADEILDO VIEIRA


Três artistas populares, três cachorros da mulesta! O mais novinho, Marlen Silva, é a sensação da arte de tocar violão em Itabaiana. Aprendeu com o mestre Vital Alves no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Adeildo Vieira dispensa apresentações, e é colaborador do Ponto de Cultura. ““Minha arte hoje está mais comprometida com a construção de pessoas do que sua repercussão midiática. Quero chegar mais junto do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar”, afirmou Adeildo.


Caro poeta Fábio Mozart:

Sua postagem um tanto melancólica em texto recente na TOCA DO LEÃO fez com que eu escrevesse sobre a esperança que tenho na vida a partir de pessoas como você, cujos valores artísticos e morais me inspiram, assim como a capacidade de se fazer perene no ofício de manifestar a poesia em tudo o que faz, com humor e amor.
Abaixo lhe mando o texto da minha coluna deste domingo no jornal A União, que se contradiz com meu estado de espírito manifestado na coluna em 20/07. Na verdade, sou um cara esperançoso e isso é o que me faz rebater o tédio que ronda os dias.
Adeildo Vieira

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Esse trem não para!

Adeildo Vieira

Não, os redutos da beleza não estão se esgotando. Ainda que uns manipuladores do belo larguem para sempre o nosso convívio, deixam eles a inspiração para quem se arvora ao ofício de manter a vida nos trilhos da poesia. Em menos de uma semana ficamos sem a vigorosa presença de João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna. Isso na mesma semana em que nos horrorizamos com pesadas cenas do longevo conflito no Oriente Médio, lamentamos a queda de um avião civil abatido por um míssil nos céus da Ucrânia e vimos repercutir a notícia de que soldados de polícia executaram mais um jovem no Rio de Janeiro. Mas, digo que nem com esta subtração da beleza e esse frenético e exponencial crescimento da tragédia eu perco a esperança na humanidade.
A poesia é instituto perene na vida e o que a mantém em ligação permanente com os dias são os agentes que se prestam à ocupação de resolver equações complexas com teoremas que juntam as incertezas e os aspectos da beleza de nossas vidas, apontando caminhos possíveis nos aparentes becos sem saída. E há mais desses agentes nos recantos do cotidiano do que possamos imaginar. A ida sem volta de personalidades como as que citei acima deixa uma lacuna pra sempre aberta, já que são únicos no seu jeito de exaltar a grandeza do que somos e as possibilidades do que podemos ser através de sua poesia amalgamada numa obra de tamanha importância para cada um dos que acreditam na vida e seus movimentos. Mas há infinitas formas de manipular a poesia. Cada voluntário dessa brigada, que se renova a cada dia, traz seu jeito único de lubrificar as engrenagens da vida, tornando-a possível e suportável.

Não me canso de tentar identificar pessoas que de alguma forma trabalham para fazer a vida valer a pena, algumas com obras significativas, outras que fazem isso apenas com a simples manifestação de valores que resultam e atitudes dignas de uma pintura. Melhor do que encontrá-las é acostar-se a elas e sentir seu jeito de olhar, a cor de seu sorriso e o balé de sua caminhada rumo ao horizonte. Assim como os calorosos amigos que nos deixaram esta semana, procuro exaltar a grandeza de viver em personagens do cotidiano, que são tantos e que de certa forma explicam o que somos e o que queremos no difuso e ardiloso caminho que se nos apresenta. E assim vou formando meu clã, que faz com que eu me sinta sempre acompanhado e promovendo o bem estar da minha esperança em dias melhores. Não me deslumbro com multidões, mas com pessoas que carregam o mundo dentro do peito.

Mas, gostaria de endereçar este meu recado com uma declaração confessa de esperança a meu amigo poeta Fábio Mozart. Ele aparentou-me angustiado em texto seu que li esta semana no seu blog “Toca do Leão”. Parece que a melancolia andou visitando aquele bardo, quando em certo momento sentiu a vida lhe escorrendo por entre os dedos, numa revisitação às suas relações com o passado. Quero dizer a meu amigo que ele habita o meu clã da esperança, já que insiste em se ocupar de reconhecer a dignidade colhida nas ruas, nos terreiros e quintais das nossas relações com o mundo. E este é um dos paradigmas mais fortes para minha inspiração. Nunca tive notícia de um trabalhador aposentado que trabalhasse tanto nos elásticos horários do dia. O ex-ferroviário agora conduz locomotivas históricas que arrastam trens carregados de personagens que a história oficial sequer se digna a reconhecer. Pois bem, caro Fábio, cá estou eu na estação, legitimando a viagem desse trem rumo ao futuro. Vamos mantê-lo nos trilhos da dignidade e da poesia. Assim como você, esse comboio não para.



segunda-feira, 28 de julho de 2014

Compadre Ricardo Ceguinho é meu candidato para o Prêmio Nobel da Paz

Ricardo Alves é o nome da fera. Uma fera mansa, cordata, amiga da paz. Não ta nem aí para os conflitos, desentendimentos e vaidades do mundo. Quer mais é alegrar as pessoas, abraçar os amigos e sonhar com seu primeiro filho que está sai, não sai.
Conheço a figura há muito tempo, desde 1988 quando fui morar em Mari.  Acabei por incluir Ricardo em todas as “brincadeiras” que inventei na cidade. Foi ator no meu grupo de teatro e locutor na rádio comunitária que criamos.

“Gente é pra brilhar”, disse o poeta russo Vladimir Maiakovski. “...e não pra passar fome”, acrescentou o também poeta Caetano Veloso. “Gente também é pra viver em paz”, deve pensar meu compadre Ricardo. Feliz é o cara que consegue viver delicadamente no meio do ribombar dos trovões da maledicência, rancor, inveja e atritos políticos. Assim é e assim foi meu compadre. Não presta atenção no que os outros têm de ruim. Concentra-se nas belezas de cada ser.

Sua profissão é cuidar dos outros. Dos que não têm riqueza, prestígio. Ricardo dedica sua vida a pesar meninos raquíticos, dar vitaminas para os velhinhos fracos, dar conselhos para as mães e receitar verminose para moleques barrigudinhos. De manhã cedinho sai pelas ruas pobres de sua Mari, visitando os amigos, proseando com um e outro, rindo e levando sua alegria espontânea, a mesma que difunde no rádio, no seu programa.

Em Mari, como de resto em toda cidadezinha do interior, tem aquela guerra insanável entre a situação e a oposição. Cada um querendo ocupar seu espaço de poder, o mais das vezes de forma mesquinha e conforme interesses pessoais inconfessáveis. A rádio comunitária, como sendo uma mídia que se quer democrática, é a caixa de ressonância dos conflitos paroquiais. No meio disso tudo, Ricardo Alves navega em mar calmo. Amigo de todos, não quer papo de desavença.

Alguém já pensou assim: o mundo só anda porque existe a dialética, as forças contrárias se atraindo e se repulsando. A vida é pluralidade, a vida é democrática por natureza. Mas, e sempre existe um porém, notai que precisa ter aquele veludo entre dois cristais, aquelas pessoas que nasceram para equilibrar o mundo com sua vida dedicada à paz e ao entendimento. Ricardo Alves é uma dessas pessoas que amam a humanidade tão delicadamente que nem abalam o sistema e tampouco alienam com sua humildade.

Ricardo Alves é um personagem que deveria estar no meu livro “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, mas que certamente estará na próxima edição. 

Advogado de Itabaiana é eleito para Academia de Letras e e dedica vitória ao jornalista Arnaud Costa


O advogado itabaianense Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa (foto) foi eleito para ocupar a cadeira nº 27, da Academia Paraibana de Letras Jurídicas, que tem como patrono Antonio Joaquim Pereira da Silva.

Ricardo Sérvulo é advogado e professor muito conceituado na Paraíba. “Essa conquista dedico primeiramente ao Senhor Jesus, ofereço ao meu amor, Itabaiana, aos itabaianenses, povo valente, guerreiro e trabalhador e, ao nosso grande homem do direito, exímio jurista, Arnaud Costa”, afirmou ele.


“Estou feliz pela eleição do grande itabaianense e mestre do direito Ricardo Sérvulo, uma pessoa simples, idealista, coerente, inteligente e íntegro”, disse Arnaud Costa, jornalista que tem origem na cidade de Itabaiana e que, atualmente, reside em Sapé. No último dia 26 de julho, a Loja Maçônica Estrela de Araçá concedeu o diploma de Maçom Emérito a Arnaud Costa, pelos seus relevantes trabalhos em prol da irmandade.

sábado, 26 de julho de 2014

Arnaud Costa com os irmãos maçons Professor Josa e Messias

Oitenta e seis anos de vivência. Na Maçonaria, chegou ao grau de Mestre, e ontem (26) recebeu o Diploma de Maçom Emérito da Loja Estrela de Araçá, de Mari. Este é o mestre Arnaud Costa, meu pai.

Sobre maçonaria, publiquei uma crônica há alguns anos. Eis a síntese das minhas aventuras maçônicas:

“Meu pai Arnaud Costa é Mestre Maçom e eu produzia o jornal MONITOR MAÇÔNICO. Confesso que não estava procurando crescimento espiritual nem nada. Apenas buscando ganhar uns trocados com a única coisa que sei fazer razoavelmente, que é escrever. Mas, quando passei a morar em João Pessoa, fui gentilmente informado pelos maçons que não poderia editar o jornal da Fraternidade sem ser um membro regular e fazer parte ativa da vida maçônica. Através do Maçom e escritor João Ribeiro Damasceno, entrei com o pedido de iniciação.

Mas, não cheguei a ser iniciado. O pior de tudo é que o mau êxito deveu-se a um motivo fútil e materialista: falta de grana. Para fazer a iniciação, deveria passar na tesouraria da Loja e deixar 500 mangos como uma espécie de “jóia”. No entanto, o quase futuro maçom estava mais duro que diamante. É a vida, que não dá nem empresta; não se comove nem se apieda. Deixei de pertencer ao Grande Oriente e entrar para a Academia Maçônica de Letras e Artes por não ter míseros 500 reais. Mas é isso mesmo, pobre não merece nem chegar perto dos “Segredos das Pirâmides”. No máximo, toma conhecimento de pequenos fuxicos da periferia”.

Arnaud e esposa, dona Iraci Marinho 

Solenidade de entrega do Diploma de Maçom Emérito







CIRANDA DE MALUCO NO RÁDIO

Você sabe quem é Orlando do Banjo? Ele é um artista popular que vive no bairro Ernesto Geisel em João Pessoa. Orlando do Banjo é convidado de Beto Palhano (foto) hoje (26), às 14 horas, no programa “Alô comunidade”, cujo objetivo é divulgar os artistas que não têm espaço na mídia convencional.

“Alô comunidade” é transmitido pela Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ) e pela Rádio Web Porto do Capim (www.radioportodocapim.com.br) todos os sábados, às 14 horas, com produção da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, parceria com o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar e Coletivo de Jornalistas Novos Rumos. A reprise do programa vai ao ar no domingo em mais de dez rádios comunitárias paraibanas.
Apresentação de Fábio Mozart e Beto Palhano, com técnica de som de Maurício José.

 FICHA LIMPA SÓ PARA QUEM TRABALHA

Trabalhadores vão ter que apresentar ficha limpa policial para contratação no comércio na grande João Pessoa. Já os políticos ficha suja, estão liberados para pedir votos.

COMPADRE ORLANDO OTÁVIO EM SÃO MIGUEL

São Miguel de Taipu achou foi bom a visita do poeta cantador Orlando Otávio, ontem (sexta) na Escola Estadual. O poeta foi falar sobre seu primo carnal, mestre Sivuca, e cantar músicas do seu repertório, incluindo algumas em que entrei como letrista.

VAIANDO A BOA EDUCAÇÃO

“O sujeito que vaia alguém no funeral de outrem é um analfabeto moral.” Márvio dos Anjos

PAPO DE CIRANDA DE MALUCO

Meu compadre escrevinhador caririzeiro Efigênio Moura:

--- Compadre Fábio, vou em Itabaiana amanhã, o que queres de lá?

--- Se avistar Biu Penca Preta, diz que mandei lembrança.

--- É ele se atravessando no meu caminho e eu danando-lhe a lembrança nos espinhaços.

CIRANDA DE GENTE INTELIGENTE

Nosso conterrâneo itabaianense, Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa, vai assumir a cadeira nº 27 da Academia Paraibana de Letras Jurídicas, na OAB-PB, no dia 11 de agosto próximo. Nossas congratulações a este advogado brilhante, filho da terra de Arnaud Costa, um cultor do Direito que foi mestre de muitos advogados, mesmo sem ter curso superior.

CIRANDA MAÇÔNICA

Falando em Arnaud Costa, o próprio estará recebendo seus irmãos maçons para a Sessão Solene de entrega do título de Maçom Emérito, na cidade de Sapé. Será hoje, às 16 horas, na Rua Francisco Assis Andrade, 60, no Conjunto José Feliciano, em Sapé. 

CIRANDA SINFÔNICA

No dia 23 de agosto, já está marcada apresentação da Orquestra Sinfônica da Paraíba em Itabaiana. Será em homenagem aos cem anos do coreto da cidade. Quem informa é Lau Siqueira, da Fundação Espaço Cultural.




sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ciranda de maluco

Josefá e Fábio Mozart em plena ciranda de maluco


Tem o caso daquela pessoa que trabalha com bandas marciais em Itabaiana, pedindo ajuda para sua fanfarra.

--- Tem como agilizar alguma coisa para nossa banda, como apoio?

--- Sugiro falar com Chico Cesar, Secretário de Cultura da Paraíba, e Luciano Marinho, Secretário de Cultura de Itabaiana.

--- Luciano? Sangue de Cristo tem poder! Desculpa.

--- Também tem muito poder o artista organizado. Dia 15 de agosto, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, vai ter reunião com os artistas, vereadores e Secretário de Cultura. Lançaremos a Frente Parlamentar de Apoio à Cultura. Você vai?

--- É, pode ser...

Ciranda de maluco é expressão usada pelo cantor Escurinho, da Paraíba do Norte. É aquela mistura de confusão, arte engajada, arte decrépita, arte assanhada, arte indesejada, arte marginal e artimanha. Ciranda de maluco é uma música de Otto, cara de Pernambuco. “A gente aperta, acende, acocha...”, diz a letra da ciranda do bicho pernambucano. Ta mais pra fumador da erva cidreira do capeta. No entretanto porém, ciranda de maluco pode ser essa doideira de gente que produz arte popular, qualquer tipo de arte, e sai procurando quem ajude, mendigando aqui e ali uns trocados pra botar o boi na rua, pra sair com a bandinha, fazer a festinha da comunidade. Enquanto isso, as tais forças institucionais gastam milhões com festas dirigidas para os interesses da indústria da cultura de massa, esquecendo deliberadamente a cultura da comunidade.

Ciranda de maluco também é a resistência de meia dúzia de malucos que insistem em produzir e difundir cultura nas cidades do interior da Paraíba do Norte. Sem querer confronto com ninguém, vamos levando nossos projetinhos no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, mas querendo travar um diálogo permanente com as instituições sobre política cultural. Por isso estamos propondo essa Frente Parlamentar de Apoio à Cultura, ideia encampada pelo vereador Semeão Rodrigues.

De uma forma ou de outra, vai ter ciranda de maluco.


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Vida de bailarina


Ela entrou no Ponto de Cultura com seu trajezinho de bailarina, orgulhosa porque já sabia abrir escala. Mostrou como se faz, logo ambientada no meio de músicos e artistas de teatro que liam um texto. O prodígio de bailarina tem apenas seis aninhos e se chama Emilhy Nathaelly, com todos os y e letras dobradas a que tem direito uma estrela na flor dos anos, orgulho de sua genetriz.

No corpinho pequeno, a promessa da renovação, a esperança da recomposição do tecido social. A pequena bailarina tem o dom de restaurar velhos sonhos de pureza, fraternidade e amor à arte. Fluxo e refluxo da vida: morreu a estrela ariana e nasce a estrela Emilhy, retocando o mundo na incessante busca da beleza e da poesia.

Uma menininha bailarina é um ser harmonioso, mesmo que não tenha praticado muito os estilos, posições e técnicas da arte de dançar. Seus passinhos de anjo treinam seu corpo para a vida que anda na corda bamba. Enternecidos, os marmanjos da sala fazem caras de tiozinhos bobos, antes que a miúda bailarina cresça e provoque o desencantamento.

Mesmo sem saber, Cecília Meireles escreveu essa poesia para Emilhy:



A bailarina


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

Se essa rua fosse minha eu mandava eternizar

Casario de Itabaiana

Vez em quando volto à cidade onde passei a infância e juventude. Na memória, a minha reflorida aurora, um mundo que sobrevive no mais recôndito do meu pensamento. Outro dia reencontrei uma antiga residente da Rua Floriano Peixoto, onde morei por muitos anos. Remetia a uma calçada de sombra e brisa fresca nas tardes de domingo, a calçada do “seu” João dos Anjos, uma esquina que era espécie de clube dos garotos da rua. As tardes azuis intermináveis em frente à casa da antiga namorada na Rua Floriano Peixoto, os bilhetinhos e as brincadeiras no meio da rua.

“Dizei, senhora viúva
Com quem quereis casar,
Se é com o filho do Conde
Ou com o filho do General.”

A pobre senhora viúva acabou tendo que casar à força com os generais impiedosos, duros na sua missão de garantir os dotes do “rei mal coroado”. Os meninos cresceram e desapareceram a esmo pelas quebradas do mundaréu. Onde andará Didi e sua irmã tão magrinha, alvo dos meus primeiros lampejos de afeto pelas fêmeas? Ando por essas ruas apurando o olfato rombudo, tentando sentir os cheiros do passado, perseguindo alguma sombra insólita naqueles becos e ruelas da beira da linha, rua da Palha, Alto do Major, Alto dos Currais. Incerta, quanto é incerta a nossa vida, a rua mudou de sentido. Não é só a cor nova da fachada das casas, as caras estranhas, os sons angustiantes nos derradeiros estertores da mediocridade. Só uma sonoridade não mudou: a voz rachada do meu compadre Raminho do Bode na sua Difusora “A Voz de Itabaiana”, setenta anos no ar. Fora isso, não há mais nada. A cidade vazia não me reconhece. Eu, vazio e inquieto, não sou convidado para essa festa inconsistente de uma comunidade que zomba feroz da minha saudade.

Dobrando a esquina de antigas emoções, percebi que eu não era mais morador daquele lugar. Na rua que era minha, outras pessoas me olham com ar desconfiado. Ninguém senta mais na calçada de “seu” João dos Anjos nas tardes ensolaradas e nas noites estreladas. Por acaso, encontro “Foguetão”, antigo colega e vizinho. Cadê Dudé? - Morreu de cana. E Gonçalo? - Teve AVC e morreu de repente. O próprio “Foguetão” é o retrato da morte. Magro, acabado, pele ressecada, amarelo, com os olhos fundos. E Soninha, ainda mora aqui? – Foi pro Rio, casou, largou o marido, parece que deu pra puta. Foi então que percebi que eu mesmo não ando muito bem, que estou sumindo pouco a pouco, que nem as estrelas do céu são as mesmas do meu tempo. Uma a uma, as coisas vão sumindo. Eu inclusive. 


terça-feira, 22 de julho de 2014

A União de Artistas e Operários

         
Daciano Alves
Desde o final do século XIX a vida operária no Brasil era muito precária; o operariado enfrentava a vida entre as péssimas condições de trabalho e as difíceis condições de habitação. Grande parte dos operários que lutavam por melhores condições de vida e de trabalho no início do século XX no Brasil eram migrantes nascidos na Europa, principalmente italianos, que traziam na consciência alguns conhecimentos políticos.
     Com grande impulso nos primeiros anos do século, em 1906 foi organizado o Congresso Operário que deu origem à “Confederação Operária Brasileira – COB”. Desta forma, o movimento político e sindical dos trabalhadores estava sob os ideais anarco-sindicalistas. Movimento este que perdurou aproximadamente até 1920. Sendo que um dos principais instrumentos de organização social das várias correntes anarquistas eram os jornais impressos e principalmente o apoio na arte teatral.
     Nesse caso, o teatro era uma arma estritamente política. Em suas encenações combinava peças clássicas de teatro libertário europeu, dramatizando o cotidiano dos trabalhadores e enfatizando seu papel na sociedade capitalista.
     Foi especificamente em função daquele congresso que se começou a criar no Brasil uma série de associações que ficaram mais conhecidas como “União Operária”. Para se ter uma idéia basta dizer que desde o início do século até o ano de 1922 foram fundadas aproximadamente noventa e nove Uniões Operárias em todo o território nacional.
     As Uniões Operárias foram desde fins do século XIX se proliferando e nas primeiras décadas do século XX já havia muitas sociedades operárias no Brasil, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, em função das emergentes indústrias que iam surgindo nessas regiões. Essas sociedades promoviam espetáculos lítero-musicais, encenavam peças e promoviam conferências sobre temas relacionados à vida cotidiana de sua clientela.
     O próprio teatro era tido como uma das principais armas da luta operária, pois que seu objetivo era apresentar temas que fossem comprometidos com a realidade do grupo, enaltecendo a capacidade que o homem tem de transformar o mundo. Teoria esta que estava sendo estudada e desenvolvida em função das pesquisas e investigações sobre o teatro dialético do alemão Bertolt Brecht.
     Essas sociedades operárias tinham raízes anarquistas e possuíam sempre um meio impresso de divulgação de sua ideologia política. Jornais que eram denominados como “A Época” no Rio de Janeiro; e “A Lanterna” e “Echo Operário” em João Pessoa.
     Nesse período a cidade de Itabaiana possuía o “Curtume Santo Antonio” que concentrava grande parte de operários do município e exportava seus produtos para outras cidades do Brasil e alguns países da América Latina. Com sua famosa fábrica de curtir couros Itabaiana não podia ficar de fora desse rol daquelas cidades brasileiras e também fundou a sua “União de Artistas e Operários”.
     É certo que a implantação da ferrovia em 1901 paralelamente à instalação do Curtume Santo Antonio nesse período, foram os principais fatores que fizeram o grande desenvolvimento da cidade de Itabaiana nas primeiras décadas do século XX. Os últimos quatro presidentes da União de Artistas e Operários de Itabaiana foram: Daciano Alves de Lima, José Batista, Manoel Leite de Melo (Neco Frizo) e o comerciante, Herbert de Oliveira.

(Do livro "Itabayanna - entre fatos e fotos - de Romualdo Palhano)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

DO LIVRO "Itabayanna" - entre fatos e fotos", de Romualdo Palhano



Em 1881 a Lei Provincial número 723, de 1º de outubro, eleva o povoado à condição de Vila com o nome de Itabaiana do Pilar. Sua elevação à categoria de cidade data de 1891, através do Decreto estadual número 63, de 26 de março conservando-lhe a primitiva denominação.
     O nome do município gira em torno de duas hipóteses: para alguns é simplesmente Tabaiana, vocábulo indígena Taba-anga, que significa morada das almas, enquanto outros registram Itabaiana, Ita (pedra) - baiana (que dança), alusivo a uma pedra outrora existente no leito do rio Paraíba e que fazia movimentos ao sabor da força das águas como se fosse uma verdadeira coreografia.
     Seu desenvolvimento inicial se deu na pecuária e agricultura. O município passa a ser mais conhecido e mais desenvolvido economicamente a partir de 1864, ano de criação de sua feira de gado, que atraía centenas de comerciantes e compradores vindos do Rio Grande do Norte e principalmente de Pernambuco. Até que aparecessem as estradas de rodagem e os automóveis, ficou conhecida como a maior feira de gado do Estado.
     Itabaiana teve participação efetiva nos movimentos revolucionários de 1817, 1824 e 1848. Mas foi em 24 de Maio de 1824 um dos combates mais sangrentos que aconteceu no Riacho das Pedras, entre as forças legalistas do Presidente Felipe Nery sob o comando do Coronel Estevão Carneiro da Cunha e os republicanos revoltosos da Confederação do Equador, comandados por Félix Antônio. Batalha esta que se travou por quatro horas e com a participação de aproximadamente três mil e quinhentos homens.
     A Confederação do Equador foi um movimento revolucionário republicano proclamado por Paes Andrade, que se estendia desde a Bahia até o Pará. Nesse sentido a cidade de Itabaiana sempre comemorava o dia 24 de Maio com diversas festividades.
      Desde 1909 que a cidade vinha realizando a “Festa das Árvores” anualmente no dia 24 de Maio em comemoração à batalha ocorrida no Riacho das Pedras em 1824. Era nessa festa que todos os colégios aglomeravam seus alunos para plantar árvores em vários pontos da cidade. Em função dessa calorosa programação a cidade passou a ser a mais arborizada do Estado.
     Nas duas primeiras décadas do século XX, Itabaiana teve a honra de redigir os melhores semanários do Estado: “O Município” em 1908; “O Anthélio” em 1912; “Gazeta da Manhã” em 1914; e “O Jornal” em 1915. “A Notícia”; “Correio da Semana”; “O Dia” e “A Folha”, foram outros jornais que circularam na cidade. “A Tribuna” é o jornal que atualmente circula naquele município.
     Em 1914 foi inaugurado o sistema de transporte de Bondes puxados a burro, no governo de Dr. Germiniano Jurema Filho. Relativo aos bondes que circulavam na cidade, os mesmos ficaram gravados na poesia “Boa Noite Paraíba” do conhecido poeta Zé da Luz, no seu famoso livro “Brasil Caboclo e O Sertão em Carne e Osso:

                                                                E as festa da Cunceição?

                                           Noite de festa! Ano Bom”!
                                           Noite de Rêis! Qui Sodade!

                                                               O bondinho puxado a burro
                                                               Correndo pêla cidade.
    
     No início do século XX, como tantas outras, a cidade de Itabaiana também se beneficia com a implantação da estrada de ferro que foi inaugurada no ano de 1901. É o trem que traz o progresso para Itabaiana.
     Nesse mesmo ano o “Curtume Santo Antonio” é instalado na cidade e torna-se a principal indústria de couro da Paraíba. Em função da sua gigantesca estrutura, em curto período de tempo passa a exportar para vários países da America Latina aglomerando em seu entorno dezenas de operários. O “Jornal A União, Anno XXIV, número 126, página 2, Parahyba, Sabbado, de 10 de junho de 1916” refere-se ao seu operariado quando diz que:
     Na fábrica “Santo Antonio” que produz cento e tantas pelles diárias trabalham permanentemente 80 homens, distribuídos nas suas diversas secções: pellagem, cortume atanino, espichagem, raspagem, tinturaria, graneamento e embalagem. A machina motriz é de força de 90 cavallos.
    
1.1. O Curtume Santo Antonio
      Em 1901, paralelamente à implantação da malha ferroviária, inaugura-se em Itabaiana, um importante estabelecimento modelo, de beneficiamento de couros, que é a fábrica ‘Santo Antonio’.
     O ‘Curtume Santo Antonio’ fundado em 1901 era de propriedade dos senhores Firmino de Souza, seu fundador e do seu sócio Seraphim Braga que constituíram a “Firma Firmino e Companhia”. Cuja empresa passou a explorar a partir dessa data o beneficiamento de couro em escala industrial, o que existia até então na Paraíba, de modo rotineiro e rudimentar.
     Sendo instalado no antigo lugar Pernambuquinho que depois passou a ser Praça da Indústria, esse importante empório industrial constituiu-se num valoroso fator de desenvolvimento do município.
     A princípio acanhado e modesto, em 1916 já possuía algumas dezenas de casas ocupadas por operários da própria fábrica. Nesse ano já exportava seus produtos para todos os Estados do Brasil, sendo que um de seus clientes mais preferidos era fábrica de calçados Rocha, de São Paulo.
     Seu espaço físico já comportava ares de grande indústria. O “Jornal A União, Anno XXIV, número 126, página 2, Parahyba, Sabbado, de 10 de junho de 1916” fala da expansão do seu espaço físico.
     A alludida fabrica que benificia o couro de boi, carneiro e cabra, imita a pellica, occupa um vasto prédio de 17 portas de frente, onde se acham installados o escriptório e várias daquellas secções, além de grandes armazéns, para o depósito de materiaes.

     Em função do seu crescente desenvolvimento, em 1908 o Curtume Santo Antonio investe pesadamente em novas tecnologias e novas máquinas que são adquiridas na Alemanha. O “Jornal A União, Anno XXIV, número 126, página 2, Parahyba, Sabbado, de 10 de junho de 1916” nos revela que:
     Além duma bomba de ar quente a questionada fábrica emprega actualmente quatro machinas: uma para cortar casca de angico, duas para lustrar couros e uma de os espichar, conservados todos cuidadosamente revelando o mesmo asseio que se nota em todos os seus departamentos.

     Com o advento da primeira Guerra Mundial os proprietários tentam tirar proveito da situação por que passava a Europa e buscaram negociar vendas de sua indústria a diversos mercados europeus. É o que observa no jornal acima citado.
     Os Srs. Firmino & Cº., concorreram com amostras de seus produtos a três certamens internacionaes, o Rio, Turim e Bruxellas. Nas duas primeiras foram-lhe conferidos respectivamente grande premio e medalha de prata, faltando o resultado do último.

     Em função do movimento que alcançou em suas vendas, no ano de 1915 atingiu em sua entrada financeira a soma total em réis, de 2.349:359$340. Além de sucedido estabelecimento industrial, o “Curtume Santo Antonio de Itabaiana”, passou a constar na lista turística de visitas daqueles que viajavam ao interior.
     Sendo inclusive visitado várias vezes pelo Presidente do Estado, Sr. Antonio Pessoa e sua comitiva presidencial, como registra o “Jornal A Notícia, Anno II, número 20, página 1, Parahyba do Norte, Quarta-feira, de 26 de janeiro de 1916”:
     A comitiva percorreu todas as secções, assistindo aos trabalhos a vapor e manuaes, o cortume e a subdivisão das pelles para a extracção da flor que dá a vaqueta, o polimento; a tinturaria, o pateo de seccar, os armazém, o escriptório, etc.
     O Sr. Presidente do Estado muito bem se impressionou com o estabelecimento industrial dos Srs. Firmino & Cia., cuja movimentação, vida operária e desenvolvimento exportador, é uma brilhante prova do quanto pode a vontade firme e o trabalho bem rumado para Victória certa da vida.

     No final da referida visita o Presidente do Estado Coronel Antonio Pessoa, felicitou os sócios do Curtume Santo Antonio agradecendo ainda aquela visita que foi realizada em bonde especial cedido pelo senhor Coronel Francisco Rezende, proprietário da então Empresa de Transportes Urbanos de Itabaiana.

domingo, 20 de julho de 2014

Maria Cigana é a madrinha do folguedo em Pilar


Maria Alves no "Alô comunidade"


O nome dela é Maria Alves, conhecida como Maria Cigana, uma senhora que tem orgulho de ser brincante de carnaval, boi de reis, quadrilha e o mais que a cultura popular contempla em sua comunidade. É da estirpe de dona Nair, uma senhora de 80 anos que faleceu no ano passado, criadora de um boi bumbá que ainda hoje dança nas ruas de Pilar de Zé Lins.
Entrevistei dona Maria ontem no programa “Alô comunidade”. Ela e os irmãos Joan e Andreia, da quadrilha Coronel Zé Lins. Povo gostadorzinho de preservar as manifestações culturais paraibanas. Considero gente desse tipo como de uma personalidade exemplar, porque não se deixa alienar pela cultura de massa advinda principalmente da televisão. Ameaçada pela diminuição da capacidade do povo de pensar por si próprio e preservar seus costumes, a cultura popular vem definhando.
Esse programa “Alô comunidade”, que comemora três anos no ar na Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ), tem o propósito de quebrar essa lógica da indústria cultural e dar ressonância à voz de pessoas simples, artistas do povo que estão fora da máquina capitalista. De Pilar já esteve conosco o compadre Xorró, um cabra de 75 anos que é muito querido na comunidade pelo seu bom humor e talento de comediante, trazido pelo compadre Evanio Teixeira, rapaz do meio rural com inclinação natural para a atividade de jornalista, pérolas que eu vou descobrindo nesse universo do vale do rio Paraíba afora. Em Pilar conheci Del Pilar, um artista plástico surpreendente. Aliás, lá é o berço natal de um dos maiores escultores da Paraíba, meu considerado mestre Zaia.
Por tudo isso, tem valido a pena passar minhas tardes de sábado no estúdio da Rádio Tabajara, apresentando este programa que é o único no Brasil focado em comunicação comunitária e transmitido por uma rádio pública. Numa brincadeira, já são mais de dez rádios comunitárias que retransmitem o programa para um universo de cerca de 200 mil ouvintes em média, afora o público que acessa o áudio do programa nos blogs e páginas da internet onde é veiculado, a exemplo da Rádio Web Porto do Capim (www.radioportodocapim.com.br) que transmite o “Alô comunidade” em tempo real e reprisa as gravações durante toda semana, às 14 horas.