sábado, 19 de julho de 2014

A chefa

 
Dona Dida em cartaz de campanha na década de 70

O historiador Sabiniano Maia, em seu livro “Itabaiana – Sua história, suas memórias, de 1977, registra os chefes políticos da cidade desde 1817, quando o manda-chuva do lugar atendia pelo nome de João Batista Rego Cavalcante de Albuquerque. Depois, sucederam-se políticos mandatários como José Luiz de Araújo, João Elias Vascurado, Enéas Pedro de Sousa, Heráclito Cavalcanti Carneiro Monteiro, Odilon Maroja Ribeiro Coutinho, Flávio Ribeiro Coutinho e Fernando Pessoa. Em 1930, com a Revolução, acabaram o cargo de Chefe Político, mas restaram os políticos que lideram facções e são “donos” de expressivas votações durante muito tempo.

O Chefe Político, antes da Revolução de 30, era “o todo poderoso de uma comunidade, cujo mandonismo veio da Colônia, atravessou o Império e só se extinguiu na República”, conforme Sabiniano. Em toda cidadezinha reinava um chefão que “casava e batizava”. Depois do chefe político, as maiores autoridades eram, por ordem de importância, o coletor de rendas, o delegado, o juiz e o promotor público. Geralmente, o Chefe Político assumia os cargos de coletor e delegado, isto é, recolhia os impostos e mandava prender quem não rezasse na sua cartilha. O comerciante que não votasse com o Chefe, ele aumentava o imposto até o cabra mudar de ideia ou se mudar para outro terreiro. Se reclamasse muito, o delegado, que era o próprio Chefe, metia o insolente no xilindró. Ele era a lei e a ordem. Era quem indicava o juiz e demais autoridades que comiam na sua mão.

Depois desse período, tivemos chefes políticos informais, políticos que assumiam liderança por conta do seu carisma. O ex-prefeito José Benedito da Silveira foi o maior deles, o que mais empolgou o povo de sua época, tido e havido como um populista carismático. O médico Antonio Batista Santiago também marcou época em Itabaiana, liderando a facção mais à direita do espectro ideológico local. Depois dele, sem dúvidas foi dona Dida a chefe política que mais ocupou o espaço de poder com seu dom especial de liderança. Foi a primeira e única mulher a exercer esse papel na terra de Josué Dias de Oliveira, irmão de Sivuca. O ex-prefeito Josué, o “Urubu Rei”, foi um advogado condutor de massas, mas sem aquele toque de ganância e sofreguidão pelo poder que caracteriza o verdadeiro chefe político.

Eurídice Moreira, dona Dida, começou a gostar do poder quando seu marido, Aglair, foi prefeito do lugar. Sem muita propensão para o cargo, Aglair deixava com sua mulher as tarefas de arregimentar apoios e articular os conchavos partidários. Com inteligência e simpatia, ela foi agrupando amigos e admiradores, conquistando estima através de ações sociais. Com forte presença, dona Dida empanou a figura do marido. Quem mandava, na realidade, era ela, uma pessoa cujo carisma ajudou a construir uma massa de eleitores fiéis. Com a morte do marido, assumiu de vez o papel de Chefe Política. Foi deputada e prefeita. Ainda hoje divide as lutas partidárias em Itabaiana. Lá, só se conhece o partido de dona Dida e o PMDB, controlado pelo atual prefeito, Antonio Carlos Rodrigues de Melo Júnior. O restante do universo político local gira em torno dessas oligarquias.

Dona Dida foi a primeira mulher a assumir o cargo de prefeita em Itabaiana, por duas vezes. Segundo o professor Jaldes Menezes, as mulheres tem ocupado espaço na política, mas ainda há o aval da figura masculina. “Nessas relações ainda há resíduos da supremacia do homem como chefe político, um resquício da velha sociedade patriarcal”, conclui. Em Itabaiana, dona Dida superou esse estigma, para o bem ou para o mal. Ela é do tipo que manda flores aos amigos, mas não titubeia na hora de detonar os inimigos, comportamento próprio de um verdadeiro chefe político. Outro dia, um “didista” afirmou, orgulhoso: “Dilma Roussef é a segunda mulher mais poderosa do mundo, mas, para nós, itabaianenses, dona Dida é a mais poderosa.”


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