sábado, 5 de julho de 2014

Poesia com suco de laranja de sangue




Quem decide o jogo na poesia é o acaso. Por acaso, descasquei uma laranja incomum pensando que era do tipo Mimo do Céu. Polpa avermelhada, descobri que seu nome era pomarola, ou laranja-romã. Quem me garante é o jornalista Dalmo Oliveira, servidor da Embrapa, que desenvolve pesquisas agrícolas. Essa combinação de espécie estranha e acaso deu o mote de um poemazinho que por sua vez deu capa para meu livrinho de poesia, a sair talvez em outubro, ou antes, dependendo dos triunfos e derrotas desta vida nossa, um campeonato eterno que, no fim, acaba sem vencedor, aliás, finge que acaba. 

Tirando proveito do fato de não ter obrigação de vender, porque livro de poesia não se vende, apenas se oferta como cortesia aos amigos, e nem todos aceitam, vou editar o livrinho na base do amadorismo, com a ajuda de coleguinhas como a artista plástica Jandira Lucena, que bolou a capa. No miolo, poesia experimental, vida experimental, arte das palavras, livres umas, aprisionadas outras, quebrando alguns códigos literários e confirmando outros.  O bom é isso: a panela é minha e eu cozinho nela o que quiser e como quiser. 

As algemas arbitrárias da arte poética e da vida mercenária não contagiam meu livrinho. Incluo nele poemas que considero minhas obras primas, ou parentes próximas, publicadas há dez ou vinte anos, como a belíssima “Cabeça de mulher na pia”. Essa poesia me deu uma vergonha alheia em certa ocasião, que nem te conto! Uma feminista, dessas masculinas em seu pensar e ver o mundo, deu com os olhos no título do poema e agrediu na hora:

--- Esse povo não respeita as mulheres, pensam que lugar de mulher é na pia lavando cuecas sujas dos machos. 

A arte de ser imbecil não é apanágio só dos machos. Admiro esse povo que não tem medo de ser ridículo nem passar recibo de idiota.  Mas, deixa isso pra lá. Quero cultivar meu pomar de laranjas-romã e ofertar aos leitores possíveis e impossíveis. Afinal, semente se joga em qualquer terreno. Se vai germinar, aí é com o acaso, o mesmo que me apresentou à toranja ou “laranja de sangue”.

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