segunda-feira, 30 de novembro de 2009

É preciso paixão


“Sei lá... só sei que é preciso paixão”. (Tom Jobim)


Meu propósito como ativista cultural é ser simplesmente um facilitador. Gosto de abrir caminhos, estabelecer com meu trabalho possibilidades de outras pessoas brilharem, mostrarem seus trabalhos. Assim é que fundei associações culturais, jornais, teatros, rádios comunitárias. Nessa vida repleta de contradições, entretanto, muitas vezes sou mal compreendido, não fui bem em alguns relacionamentos com certas pessoas em determinado tempo, cometi equívocos, incorri um pouco nos pecados da irresponsabilidade e desmazelo.

Esse depoimento vai a propósito do Ponto de Cultura que acabamos de fundar em Itabaiana, sob a chancela da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba, entidade que dirijo. A história é simples e a contabilidade idem. O projeto foi construído por mim, Marcos Veloso e Clévia Paz, em 2005. No dia 12 de setembro de 2007, o Ministério da Cultura enviou uma carta anunciando que finalmente o projeto “Cantiga de Ninar” foi selecionado para criação de um Ponto de Cultura. Só agora, em outubro de 2009, quatro anos após a feitura do projeto, o Governo Federal liberou a primeira parcela dos recursos, com 50% da verba carimbada para compra de equipamentos multimídia e o restante para pagamento de monitores e oficineiros, além de outras despesas de publicidade. Nossa contrapartida é de R$ 39 mil reais, sendo que não temos nem um centavo. Mas assumimos o compromisso de pagar aluguel de prédio, instalações, internet, edição de jornal, energia e todas as despesas de instalação, incluindo móveis e utensílios. Ainda achando pouco, o projeto prevê a instalação de biblioteca, teatro, cineclube e rádio on line, tudo fazendo parte de nossa contrapartida.

Além da defasagem monetária e técnica nesses quatro anos de espera, vem o natural desgaste das pessoas envolvidas que debulho aqui numa confissão mal escondida, revelação de uma certa amargura, um ressentimento por não ter o projeto aquele apoio institucional que esperávamos. Até alguns amigos mal informados, achando que estamos dormindo em cima de muita grana federal, ficaram aborrecidos porque não foram chamados para o “grande banquete”.

Não chamei ninguém para assumir, por exemplo, o aluguel do prédio e as despesas de pintura e retelhamento do espaço físico, que ficaram por nossa conta. Não me apareceu nenhum voluntário para pagar as altas multas da Receita Federal porque nossa documentação estava defasada. Nunca alguém me deu uma gota de gasolina para me deslocar durante quatro anos de João Pessoa a Itabaiana, para tratar do projeto e ensaiar o grupo teatral.

Mas agora convoco as pessoas de bem de Itabaiana para apoiar o Ponto de Cultura, que é da comunidade. Fazemos questão de transparência. Todos os meses, o demonstrativo financeiro estará no mural e na internet. Por enquanto, pedimos esmolas. Em outras palavras, estamos solicitando cadeiras, mesas, estantes, livros e armários para o Ponto de Cultura. Dia 12 de dezembro, vamos receber o Centro Cultural Piollin, de João Pessoa, para uma agitação cultural na cidade. Vamos precisar de lanche e jantar para 21 artistas que nos visitarão.

Não há nenhuma humilhação em se pedir para um equipamento público de difusão cultural. Haveria absurdo em procurar nas questiúnculas políticas a explicação para a omissão institucional. Mas certamente, para um sujeito se meter em tamanha aventura nesse mar de indiferença, é preciso paixão.

domingo, 29 de novembro de 2009

Glossário arcaico


Estou construindo glossário de termos regionais que não constam nos dicionários. Quem se lembrar de palavras que ouvia na infância, vocábulos que se perderam por falta de uso, agradeço a colaboração.

Infitete, por exemplo, o que é? E mandrião? Minha vó Biu costumava nos chamar de mandriões. Alguma coisa a ver com preguiçosos. Infitete é um termo mais pesado, que ela nunca usou. “Tem gente que ainda quer esse infitete no Governo”, escreveu um internauta sobre José Maranhão no blog “ClicPB”. A palavra pode significar infeliz, uma corruptela. Tem a grafia infiteto, que é o sujeito macambúzio, triste, aborrecido.

Pior é ser chamado de “pudrura”. Corruptela de podre. Quatro palavras que colhi nos interiores por onde passei: esguei, esbrungue, farnizim e cabrunco. O que significa esguei pra você? Eu acho que tem a ver com algo torto, enviesado. Esbrungue é termo muito usado pelo poeta e declamador Sanderli Silva, puxando o verbo esbrunganhar. Não tem nada a ver com esbregue, que significa bronca ou reclamação pesada, barulho. Esbrungue é o sujeito desmantelado, o tipo jegue. Farnizim é termo catalogado no Dicionário Informal, com o significado de mal estar.

Cabrunco, uma palavra que ouvi pela primeira vez no sítio Entroncamento, município de Cruz do Espírito Santo. Segundo o tal dicionário, o termo cabrunco deriva de carbúnculo, doença que afetava gado bovino. O termo pode ser um palavrão, elogio ou significar espanto. Se palavrão, relaciona-se ao diabo; se elogio, vale como superlativo; se expressão de espanto, serve para demonstrar um susto.

Minha avó paterna, de origem rural e analfabeta, costumava usar um termo que só depois vim a entender: aruvai. “Menino, cuidado com o aruvai”, dizia ela a caminho do roçado. Era o orvalho da manhã acumulado nas plantas rasteiras, molhando as nossas calças curtas. Essa avó, Joana Cândida da Costa, era uma pessoa tão querida e popular na velha Itabaiana que hoje é nome de rua.

sábado, 28 de novembro de 2009

Rádio Rainha prestigia artistas locais


Wagner Lins, radialista Clévia Paz e o músico Jonatas

Com menos de um ano de funcionamento, a Rádio Comunitária Rainha FM, da cidade de Itabaiana, Paraíba, já é a coqueluche da cidade por manter estreita ligação com os ouvintes e prestigiar os artistas da terra. Como exemplo, temos o poeta, cantor e compositor Wagner Lins, cujas músicas tocam regularmente na programação da Rainha FM. Eis algumas manifestações dos ouvintes:

“Nunca na minha vida pensei que ainda iria escutar boa música em rádio, mas uma certa manhã, ouvindo a rádio comunitária Rainha, escutei uma linda voz acompanhada de uma belíssima melodia. Era um rapaz que já me serviu como garçom e para minha surpresa revela-se um ótimo cantor: Wagner Lins (Norma).

“Wagner, estou torcendo pra que você consiga logo a gravação do seu CD, que Deus te guie”. (Norma).

“Simpatia deveria ser o nome de Wagner Lins. O cara é muito simpático e boa gente, além de ser um fenômeno cantando”. (Lucas).

“Sou cantor de brega da cidade há mais de 10 anos e sinceramente, tenho que admitir: esse tal de Wagner é muito bom mesmo! Parabéns, cara, e boa sorte na sua carreira”. (Galego do Brega).

“Fiquei muito feliz em saber que meu amigo Wagner Lins teve seu talento reconhecido em sua terra amada que é Itabaiana. Parabéns querido” – Ariane Teixeira.

“Muito bom esse ponto de cultura pra nossa Itabaiana. Quero dizer que sou admirador das artes e gostei muito das músicas, dos quadros e muito mais do espaço que vai dar oportunidade aos artistas da terra”. – Sandro Arruda.

“Estive na inauguração do Ponto de Cultura e achei o máximo. Destaco em especial o violonista Vital Alves e o cantor Wagner Lins”. – Valdísia Almeida.

“Talento em itabaiana é o que não falta. Conheci um cara que é um cantor e compositor que trabalha numa lanchonete. Wagner é gente fina, parabéns”. (Michael).

“Vocês precisam conhecer o Ponto de Cultura da nossa cidade. É o máximo. Lá está o Wagner Lins pra nos receber e também o artista plástico Diego e tantos outros. O local é lindo e bem central. Adorei”. (Adriana de Souza).

Comentários publicados no blog “Itabaiana Hoje”. É como bem diz o grande músico brasileiro Francis Hime: “as estações de rádio deveriam mostrar a diversidade de nossa música. O que se toca nas rádios comerciais é um absurdo. Pelo menos as rádios deveriam mostrar os dois lados da moeda, dando espaço à boa música e às coisas que não têm qualidade, deixando as pessoas fazerem sua escolha”.

Fatos pitorescos da minha terra


1. Tem gente que jura que é verdade, outros duvidam. Mas o fato é que o prefeito da cidade de Inglis, na Flórida, Estados Unidos, assinou decreto proibindo o diabo de se manifestar no perímetro urbano. Na minha cidade, um vereador foi autor de projeto proibindo cachorro latir depois das dez horas da noite.

2. O pai do meu amigo Aguinaldo Pabulagem, do grupo parafolclórico Acauã da Serra, comprou um bode para matar quando o filho passasse no vestibular. Dizem que o bode bodejava, irônico: “Tou morrendo de medo...” De fato, Aguinaldo passou oito anos fazendo vestibular, até que foi aprovado. Mas o bode havia morrido. De velhice.

3. O grande Biu Penca Preta com mais três bêbados bateu à porta de uma casa na Rua da Palha, em plena madrugada. Biu falou: “Madame, qual de nós quatro aqui é o seu marido, porque os outros três tão morrendo de sono...”

4. Negociante porreta no ramo de amendoim, Severino Mundubim candidatou-se a vice-prefeito de Itabaiana pelo PSD. Era a atração dos comícios pelo seu linguajar solto, espontâneo:

--- Povo de Itabaiana, se nós for eleito, vamos botar lenha encanada aqui na cidade.

O candidato a prefeito deu-lhe um empurrão, e ele corrigiu:

--- Lenha eu não garanto, mas Coca-Cola a gente bota...

5. O cidadão chegou ligeiramente embriagado para se consultar com o Dr. Dedé. Sentindo o bafo de cachaça, o médico disse que não receitava bêbado. E o bebinho: “Tudo bem, quando o senhor melhorar eu volto”.

6. Dizem que o governador José Maranhão mandou fazer uma pesquisa sobre sua popularidade junto ao funcionalismo público estadual. O resultado: 90 por cento acham que, com ele no governo, o funcionário vai acabar comendo merda; 10 % acham que a merda não vai dar pra todo mundo.

7. Caiu no vestibular: se um inseto vive 72 horas, a missa de sétimo dia em memória dele se dará em quantos segundos?

8. Sujeito era tão tarado que vivia dando em cima da secretária eletrônica.

9. O ex-prefeito de São José dos Ramos, nosso compadre Antonio Caxias, ficou arretado com um padre que passou por lá e mijou em cima de uma estátua de São Severino. O padre respondeu na bucha: “E você não vive cagando em São José?”

10. Tem um rapaz por nome de Enoque que morou em Itabaiana, famoso pela burrice. É do tipo que faz pesquisa de preço em loja de 1,99 e anda procurando a receita pra fazer gelo. Dizem que ele passou sete dias comendo um pote de iogurte, onde estava escrito: “consumir em uma semana”.

11. Getúlio Vargas dizia que “os políticos são uma praga: a metade não é capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo”.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

João Pessoa é minha casa


João Pessoa era apenas uma imagem de cidade grande aos olhos de um menino, cheia de mistérios emaranhados entre velhos sobrados e rios mansos, o desconhecido de uma cidade exótica, ao mesmo tempo aristocrática e primitiva. Guardo a constituição daquelas imagens antigas, resgatadas sempre que puxo o filme dos meus primeiros anos, um encontro sedutor e desafiante. A cidade deixando-se descobrir na distância e no desconhecido, o menino germinando a fascinação pela urbe provinciana que aos seus olhos parecia a grande metrópole berço do desconhecido.

Essa distância íntima viajava no velho jipe do meu pai, fazendo o percurso Itabaiana-João Pessoa nas esburacadas estradas dos anos 70, uma viagem que não chegava nunca, que voltava eternamente ao desconhecido, como um calidoscópio vertiginoso, produzindo um número infinito de combinações que mergulhavam nas retraídas águas do Sanhauá. Desmistificada anos depois, João Pessoa veio a me propor novos modos de percepção estética. Mas não deixei para trás a cidade dos sonhos, elevada e comoventemente poética. Esse ambiente quase mítico ainda mora em mim, quem sabe uma resposta ao impacto alienante da vida moderna, da desumanização, do crescimento desordenado. O espaço urbano limpo, o silêncio e a simplicidade das pequenas aglomerações urbanas, o retrato imaginário que ainda hoje carrego comigo, foto 3x4 do meu mundo dos sonhos, o sublime das imagens de antigas igrejas, velhos faustos, vetustas riquezas.

Assim eu me deixei envolver por João Pessoa, e esse namoro infantil se estendeu à vida adulta. Quarenta anos depois, volto aqui para morar definitivamente, no bucólico bairro de Jaguaribe, ganhando o estatuto de cidadão pessoense por força de exercitar o timbre, a cadência e o ritmo dessa urbe, e de saborear sua qualidade de vida.

Aquele vulto arcaico de poeta escrevendo a epopéia de João Pessoa teve que se distanciar dos assuntos grandiosos e heróicos e aproximar-se do fato sangrento referente à Revolução de 30, apontando ainda as dores, sofrimentos, sonhos e agonias da cidade contemporânea, mas sem esquecer o que provém da história no que há de mais profundo nela.

Houve um recuo brutal no nosso estilo de vida. Um amigo afirmou que o único prodígio de João Pessoa é haver chegado tão longe com uma classe dirigente tão ruim. Isso pode se aplicar também ao Brasil, e é uma longa e constante preocupação dos que verdadeiramente amam esta cidade. É assustador o desnível social, a precariedade da saúde e da educação. Em meio a isso, ainda bem que temos a ação fecundante, purificadora e iluminadora de homens como o livreiro Heriberto Coelho, o compositor Fuba, o comunicador Cardivando de Oliveira e tantos outros homens e mulheres que simbolizam o intelecto e a consciência desta velha cidade, em sua forma evolutiva.
João Pessoa pertence a uma linhagem nobre das cidades brasileiras, e isso nem seus mais afoitos inimigos podem desdenhar.

O Sebo Cultural anuncia concurso literário sobre aspectos relacionados à cidade de João Pessoa, como uma forma de homenagem à capital paraibana. Mário Quintana já dizia que preferia ser alvo de um atentado do que de uma homenagem: o atentado é mais expedito e não tem discurso. Mas não tem jeito: vai aqui meu discurso sobre essa cidade, porque falar é emergir paixão.

Hoje, João Pessoa é minha casa. Na casa da gente, é onde acendemos o fogo, simbolizando esse lume a purificação e a regenerescência. Na nossa casa, queremos ordem, paz, respeito, beleza e espiritualidade. Da nossa casa observamos os vizinhos, na ânsia da mais feérica conversação cosmopolita. Porém, sem perder a ponte com o interior, um interior que se abre generoso para a exuberância da nossa mais autêntica paraibanidade.

(Crônica publicada na coletânea “Sonho de Feliz Cidade”, lançada pelo Sebo Cultural em 14 de dezembro de 2007)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A família Maroja e a incultura de Itabaiana


Cláudio Maroja mora em São Paulo. Bisneto de Odilon Maroja, ele andou fazendo uma pesquisa na internet sobre sua família, indo parar no meu blog “Toca do Leão”, precisamente na crônica onde relato a viagem empreendida pelo seu avô no começo do século passado, de Itabaiana a Salgado de São Feliz, em visita à Fazenda Modelo. (http://fabiomozart.blogspot.com/2009/08/fazenda-modelo-do-dr-odilon-maroja.html) Pede referências sobre a Editora Itabaiana Hoje, que lançou o livreto.

Cláudio informa que em São Paulo o clã dos Maroja está resumido a seis ou sete pessoas. “As histórias que sei sobre a família foram repassadas pelo meu avô Arnóbio Maroja e gostaria de me aprofundar sobre o assunto”, diz o descendente desta importante família do vale do Paraíba.

Respondi a Cláudio Maroja que a Editora Itabaiana Hoje é apenas um sonho que vive na mente e no coração do jornalista Geraldo Aguiar, um homem incrível que mora em uma cidade onde 94% das pessoas nunca foram a um museu e igual número jamais frequentou uma exposição de arte. Em sua população de 26 mil habitantes, 79% nunca assistiram a um espetáculo de dança; 82% não possuem computador em casa; 98% dos gastos familiares vão para bens não culturais e a cidade não possui uma única sala para qualquer atividade cultural, excetuando as lan houses.

Em um ambiente assim, Geraldo Aguiar mantém circulando um jornal literário, o “Itabaiana Hoje”, cujas despesas ele tira do próprio bolso e sai, ele mesmo, distribuindo de casa em casa o seu jornal, na esperança de que as pessoas tomem gosto pela leitura. No dizer do Senador Cristóvam Buarque, “a deficiência em termos de acesso à cultura reflete-se na alma dos brasileiros, contribuindo para a falta dos valores de solidariedade, para a elevação da corrupção e o aumento da violência”.

Recentemente, uma organização não governamental criou o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, com apoio do Ministério da Cultura, na tentativa de minorar a deficiência da cidade na produção e difusão da cultura. Cogita-se a abertura de uma biblioteca e mini-teatro, além de outras atividades artísticas.

Quem tiver informações sobre a família Maroja na Paraíba, escreva para Cláudio Maroja: claudiomaroja@gmail.com

FOTO – Solar dos Maroja em Salgado de São Félix; relíquia histórica abandonada. (Foto de Clévia Paz)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Artesãos de Itabaiana terão feira permanente

Feira de cerâmica utilitária de Itabaiana em 1986

A mesma feira esvaziada, em 2002 - (Foto: Eduardo Pazera Jr.)

Os artesãos itabaianenses estão sendo convocados para discutir a implantação de uma feira permanente. A Sociedade Amigos da Rainha é quem está proporcionando essa possibilidade, por meio de convênio que está sendo costurado com o Banco do Brasil, através de ações relacionadas ao Projeto Desenvolvimento Regional Sustentável, que dá apoio a atividades produtivas identificadas com vocações e potencialidades do Município.

A ideia é instalar a feira de artesanato no espaço do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar para funcionar todas as sextas-feiras, das 16 às 22 horas, com exposição de artesanato, comidas regionais e apresentações de artistas da terra. Os artistas apresentarão seus produtos em barracas padronizadas, instaladas em recinto fechado, com total segurança e infraestrutura. Para concretização do projeto, a ONG Sarvap - Sociedade Amigos da Rainha - já está em conversação com o gerente local do Banco do Brasil, Adriano Gadelha Trócoli, para iniciar as etapas de sensibilização, mobilização e capacitação dos artesãos que aceitem participar do projeto.

Segundo o gerente Adriano Trócoli, a idéia está dentro dos objetivos e metas do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável. Itabaiana é uma cidade conhecida pela excelência do seu artesanato, com artistas que exportam suas obras para todo o mundo, como é o caso de Nevinha da Cerâmica. O projeto contempla ainda a possibilidade de realização de palestras, cursos e capacitação para as pessoas envolvidas.

O Presidente da Sociedade Amigos da Rainha, jornalista Fábio Mozart, acredita que o projeto dará chances dos artistas aprimorarem seu trabalho e comercializarem em um espaço digno, com toda infraestrutura de divulgação e valorização dos produtos expostos. Para alguns artesãos já contatados, a ideia da feira é excelente e a expectativa é enorme em relação à aceitação dos produtos a serem comercializados.

domingo, 22 de novembro de 2009

Projeto Pedra de Toque


Existe a lenda da “pedra de toque”, que era uma pedrinha comum, mas podia transformar qualquer metal em ouro. Um homem passou a vida toda procurando a “pedra de toque” nas praias do Mar Morto. Ela era quente; o homem pegava uma pedrinha, sentia sua temperatura e a jogava ao mar. Depois de muitos anos repetindo essa operação, ele finalmente pegou uma pedra que estava quente, mas, levado pelo hábito, jogou-a ao mar!

No caso do Projeto Pedra de Toque, elaborado pela Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba - SARVAP, a pedra de toque tem a ver com cidadania. Trabalharemos com pedras, geralmente coloridas, a que chamam de mosaico, para formar mosaicistas, capacitando e integrando adolescentes pobres de Itabaiana no mundo das artes, ao mesmo tempo em que produzirão renda. Seria a “pedra de toque” de adolescentes que formarão, com essas pedrinhas soltas, “um mosaico de sobrevivência e de descobrimento de artistas”. Passar conhecimentos teóricos e práticos sobre essa arte e capacitar os jovens para gerenciar sua atividade, transformando-os em multiplicadores, é um meio de educação e promoção social.

Além de explorar, identificar e construir composições com mosaico, os alunos utilizarão no curso diferentes técnicas, formando painéis de solo e paredes ao mesmo tempo em que terão despertada sua sensibilidade e o prazer pela arte, construindo os conhecimentos e estimulando a criatividade.
O projeto tem o apoio do Ministério da Cultura através do Programa Cultura Viva, no patrocínio dos materiais que serão utilizados pelos alunos.

Estamos buscando parceria com outras instituições e empresas particulares para a obtenção das lajotas de cerâmica, que serão transformadas em obras de mosaico, além do pagamento de monitores.

sábado, 21 de novembro de 2009

Homo Data


Na idade neolítica, o homem aprendeu a domesticar os animais e as mulheres. Isso se chama evolução. Lentamente, o Homo Sapiens vai desaparecendo, surgindo em seu lugar o Homo Data, primata meio bípede, meio erecto, pertencente ao gênero Homo Ciberneticus. Os membros dessa espécie têm um cérebro altamente codificado e decodificado em padrão de bits.

O Homo Data passa a maior parte de sua vida enviando mensagens, checando e-mails, jogando games e escrevendo em blogs idiotas como este. Por estar sempre on-line, o Homo Data perde a noção do tempo e chega a esquecer do que rola em seu meio ambiente. Se casado, esquece a prática sexual e passa a se dedicar ao que chamam de sexo virtual. Em vez de camisinha, usam um antivírus. Os viciados cibernéticos são considerados genocidas, pois cada vez em que se masturbam, morrem milhões de pessoas que iriam nascer. Autênticos hitlers de banheiro, ou de teclado.

O Homo Data, por ter se tornado tão dependente do computador, criou uma irmandade para recuperar os viciados em alto grau, baseada nos doze passos dos alcoólicos anônimos e nas doze trepadas das prostitutas anônimas, uma irmandade para recuperar mulheres casadas e supostas donzelas que concorrem deslealmente com as putas profissionais.

Nas madrugadas do Homo Data, as mais indevassáveis das fantasias são invadidas, as frases mais idiotas são elevadas à quintessência da genialidade e os plágios mais evidentes são consumados, mais conhecidos como “copia e cola”. Seguindo a onda, o governo criou a necessidade de inclusão digital, dando acesso ao mundo virtual a todos. Mais ou menos como dar um carro a alguém que não sabe dirigir. No caso, o computador fica na condição de ter que adivinhar o que o usuário está querendo. No fim, ele só quer fazer sua página no orkut e xavecar aquela fulaninha com uma linguagem especial que fica entre a imbecilidade perfeita e o analfabetismo disfarçado. Dizem que são erros propositais quando digitam “aki”, “vc” e “naum”. "Canxxadu di ler texxtux axxim", o Homo Data regride à condição de analfabeto funcional. Não é o caso do autor dessas mal tecladas linhas, que se considera apenas analfabeto virtual.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Oficinas de Adeildo Vieira


Adeildo Vieira é um dos maiores compositores da Paraíba. Filho de Itabaiana, ele fez um show na cidade no dia três de setembro último e ficou “com uma vontade imensa de fazer umas oficinas na sua terra”, idéia compartilhada pelos seus companheiros de banda; baterista, guitarrista, tecladista e violeiro. Ele mesmo se propõe a fazer uma oficina de composição musical.

Uma das motivações de Adeildo Vieira para realizar esse trabalho em Itabaiana foi a sensação que ele teve de que nosso povo anda realmente impregnado pelos “atentados culturais” perpetrados pelas rádios, que só tocam o lixo que a indústria cultural impõe. “Senti a grande lacuna entre o povo da minha querida terra e a música em que acreditamos, que fazemos por consciência artística e compromisso com as boas idéias”, disse Adeildo.

. Seu show foi precedido por um tocador daqueles de teclados (tipo Zezo dos teclados) e sucedido pela banda Arreio de Ouro. Daí o trabalho de Adeildo foi recebido com estranheza por uns, surpresa pra outros, e ainda rejeição por alguns, segundo ele mesmo confirma. “Não sou melhor que ninguém, mas acho que temos algo a informar ao nosso povo, que não anda tendo oportunidade de ouvir outras propostas culturais”, acredita o músico itabaianense.

O Ponto de Cultura Cantiga de Ninar está assumindo esse compromisso com Adeildo Vieira na produção dessas oficinas musicais, e depois das oficinas realizaremos um show na Praça Epitácio Pessoa. “Quero sentir a energia daquele lugar, que nem cheguei a conhecer ainda, mas que já me enche de emoção”, afirmou. Para ele, esse trabalho a que se propõe é como a devolução de algo tão valioso como é sua arte à cidade que lhe deu “as primeiras visões de mundo”.

Itabaiana vai se sentir honrada em receber de novo seu filho tão talentoso e moralmente correto. “Tô de coração aberto para viver esses momentos”, afirmou Adeildo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Caravana Piollin vai passar em Itabaiana


O Ponto de Cultura Piollin, de João Pessoa, é o primeiro a visitar o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana. Depois de passar por Pilar e Bananeiras, a Caravana Piollin desembarca na terra de Zé da Luz e de Adeildo Vieira para movimentar culturalmente a cidade, levando cultura popular e diversão.

Serão dois espetáculos a serem mostrados: um de circo e um teatral. O primeiro será apresentado na Praça Epitácio Pessoa, próximo ao Café Sivuca, e a peça será levada no espaço do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Quem informa é Buda Lira, Marcelina e Marcelo Quixaba, do Ponto de Cultura Piollin, que já entraram em contato conosco para receber a comitiva.

O entusiasmo dessa trupe de artistas é contagiante. Jovens e com muita disposição, os integrantes da Caravana vêm cheios de oxigênio cultural, para entreter e animar. Segundo Marcelina Moraes, uma das coordenadoras do projeto, está tudo acertado para o sucesso da Caravana Piollin em Itabaiana: “Estão todos ensaiandos e vão dar o melhor que puderem”.

A Caravana Piollin chega em Itabaiana no dia 12 de dezembro, apresentando “O casamento de branco”, texto de Altimar Pimentel, e “O circo do amanhã”. O projeto, financiado pelo Programa BNB de Cultura, tem como meta levar a cultura teatral e circense da capital para o interior, onde os alunos do Centro Cultural Piollin são protagonistas desse espetáculo.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Irmão pobre-diabo, o quase maçom


No dia 20 de maio de 2002, recebi uma carta da Augusta e Respeitável Loja de Pesquisas e Iniciática “Segredos da Pirâmide” nº 16, comunicando que no dia 23 de abril foi aprovado meu pedido de iniciação nos segredos da Maçonaria. Informava ainda a missiva que a sessão solene ocorreria no dia 4 de junho. Pediam para entrar em contato com meu padrinho para receber instruções.

É que meu pai Arnaud Costa é Mestre Maçom e eu produzia o jornal MONITOR MAÇÔNICO. Confesso que não estava procurando crescimento espiritual nem nada. Apenas buscando ganhar uns trocados com a única coisa que sei fazer razoavelmente, que é escrever. Mas quando passei a morar em João Pessoa, fui gentilmente informado pelos maçons que não poderia editar o jornal da Fraternidade sem ser um membro regular e fazer parte ativa da vida maçônica. Através do Maçom e escritor João Ribeiro Damasceno, entrei com o pedido de iniciação.

Animado para a festa, arrumei emprestado um paletó preto e a respectiva gravata. Mas existia uma profecia negativa que dizia que eu jamais seria um Maçom. Grandes profetas anunciaram há milhares de anos meu fracasso na tentativa de entrar numa “Respeitável Loja”, excetuando a loja do respeitável Inácio Ramos Cavalcante, a “Barateira”, que foi a miscelânea da cidade de Itabaiana, vendendo de chapéu Ramenzonni a rádio Phillips, estabelecimento nascido dos patacões de uma botija que o pai de Damião Ramos Cavalcante arrancou do quintal de dona Moça, em Pilar, segundo inconfidência do escritor José Augusto de Brito. (“Pilar” – Editora Idéia – Pg. 95).

O pior de tudo é que o mau êxito deveu-se a um motivo fútil e materialista: falta de grana. Para fazer a iniciação, deveria passar na tesouraria da Loja e deixar 500 mangos como uma espécie de “jóia”. No entanto, o quase futuro maçom estava mais duro que diamante. É a vida, que não dá nem empresta; não se comove nem se apieda. Deixei de pertencer ao Grande Oriente e entrar para a Academia Maçônica de Letras e Artes por não ter míseros 500 reais. Mas é isso mesmo, pobre não merece nem chegar perto dos “Segredos das Pirâmides”. No máximo, toma conhecimento de pequenos fuxicos da periferia.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Wagner Lins é o "cara"


Leitora do blog “Itabaiana Hoje”, Amandinha mandou a seguinte mensagem: “Gostaria de saber mais sobre um jovem talento itabaianense que deu uma entrevista na rádio comunitária de Itabaiana e tem uma música simplesmente linda. Seu nome é Wagner Lins”.

Matando a curiosidade de Amandinha e de outros ouvintes da Rádio Comunitária Rainha e do blog “Itabaiana Hoje”, tenho a satisfação de dizer que Wagner Lins é um jovem de apenas 20 anos de idade, casado, pai de um filho, ele mesmo filho de Thiago e Débora Lins.

O pai da fera é um artista plástico de grande talento, muito conhecido em Itabaiana, atualmente radicado em João Pessoa. A mãe é também muito talentosa, tendo participado do filme “O anjo e a serpente” como atriz coadjuvante, fazendo parte do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana. Wagner Lins é compositor, poeta e ator.

Nosso jovem artista estará todos os dias, pela manhã, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba, recebendo as pessoas que tenham interesse em visitar aquele ambiente onde serão ministradas oficinas de música, teatro, artesanato e outras artes. Os que desejam ler ou pesquisar, falar com Wagner Lins para ter acesso à Biblioteca jornalista Arnaud Costa. Daí o visitante aproveita e leva um CD de Wagner Lins, autografado pelo próprio.

Wagner Lins será nosso especialista em internet no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Ele guiará os estudantes e demais usuários pelos caminhos da inclusão digital, ensinando a acessar a internet criteriosamente, de forma a tirar dessa importante ferramenta o máximo de proveito para o desenvolvimento humano.

E para os fãs de Wagner Lins, anunciamos para o final do ano, espetáculo onde o nosso compositor lançará seu disco. Será uma das mais variadas linguagens, representações e expressões da cultura itabaianense que passarão pelo Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. É como diz Carlos Drummond de Andrade: “Precisamos descobrir o Brasil”. Começando por conhecer o nosso próprio terreiro, mostrando nossos artistas para nós mesmos e para o mundo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Chiquinho Bezerra e os bares que não voltam mais


O poeta Chiquinho Bezerra canta a sua terra-berço com singelos versos de cordel. No livreto, Chiquinho lembra vultos populares que já foram para o andar de cima, e outros que ainda por aqui vivem. No poema, ele lembra o Bar Ponto Certo, o Teve Jeito e a Gruta Azul, famosos botequins no centro da cidade. O livro se chama “Memórias de Itabaiana”. Chico vai citando desde Barata, o campeão de sinuca, até o mestre Daciano, que foi presidente de quase tudo na velha Itabaiana, desde a banda de música até a União dos Artistas e Operários. Daciano era primo do poeta Zé da Luz.

Sexta-feira passada estive em Itabaiana com o compadre Palhano, e foi decepcionante constatar que hoje não temos nenhum bar de respeito na cidade. Procurei um bar para tomar um uísque honesto, não encontrei. Fui ao Café Sivuca, na Praça Epitácio Pessoa, e o garçom informou que ali não se vendia bebida alcoólica. Lei seca na terra de Nazário, Bertoldo e outros farristas eméritos.

O que causa tristeza é o caos em que foi transformada a Praça 24 de Maio. Parece uma favela. Deveria ser mais cuidada, para impressionar bem os que nos visitam. Lá encontrei o poeta Eliel José Francisco tomando uma brejeira com o professor Luiz Paraíba, que quando me viu foi logo declamando um poema de Zé da Luz.

Voltando ao Chiquinho Bezerra, devo informar aos meus seis leitores que Francisco Bezerra de Lima nasceu em 1944. Estudou no Grupo Escolar Professor Maciel, Ginásio Estadual de Itabaiana (atualmente Colégio Estadual Dr. Antonio Santiago) e Colégio Comercial Dom Bosco. Em 1966 ingressou no Banco do Brasil em Itabaiana, transferindo-se em 1981 para João Pessoa, onde se aposentou.

Formou-se em Ciências Contábeis pela Universidade Federal da Paraíba. Passou a dedicar-se ao mundo das artes, como grande incentivador do Clube do Choro da Paraíba onde se apresenta como intérprete e compositor da MPB. Nesta atividade, ganhou o festival BANCARTE, em 2004, como melhor intérprete.

Como escritor, lançou o livro “Memórias de Itabaiana”, onde narra sua infância, adolescência e juventude na terra do poeta Zé da Luz, através da simplicidade da poesia de cordel. Chico Bezerra será um dos escritores nativos a ocupar uma galeria especial na nossa Biblioteca Jornalista Arnaud Costa, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.

domingo, 15 de novembro de 2009

PONTO DE CULTURA CANTIGA DE NINAR


A Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba tem o orgulho e a satisfação de comunicar à população de Itabaiana que já está funcionando o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em convênio com o Ministério da Cultura, no Programa Nacional de Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva.

Basicamente, um Ponto de Cultura deve incentivar projetos e ações culturais já existentes na comunidade, aumentando a visibilidade das mais diversas iniciativas culturais. O Ponto de Cultura Cantiga de Ninar pretende, nos primeiros meses, ministrar oficinas de música e mosaico, além de desenvolver o projeto “Cinema no Ponto”, com exibições semanais de curtas e longas brasileiros. Até o final deste ano, realizaremos o 1º Encontro sobre o Programa Cultura Viva e o Ponto de Cultura. Além disso, o MinC patrocina equipamentos que servirão para documentar as ações do Ponto e amplificar as possibilidades do fazer artístico e recursos para uma ação contínua junto às comunidades. Com isso, instalaremos nossa rádio-web e estúdio de gravação de áudio e vídeo.

Para o próximo ano, realizaremos oficinas de rádios comunitárias, informática, hip hop, exposições de artes plásticas e seminário sobre a diversidade cultural do vale do Paraíba, entre outras ações.

Em 2011, estão programados cursos de artes cênicas e feiras de artesanatos, além de oficinas de maculelê e capoeira, sempre com espetáculos musicais, de dança e de teatro quinzenalmente, com artistas da região, além de lançamento de livros e CDs.
Para este ano ainda, projetamos a inauguração da “Biblioteca jornalista Arnaud Costa”. Portanto, justificado é nosso orgulho em apresentar ao povo itabaianense uma das mais importantes conquistas da área cultural em nossa terra, esperando contar com o apoio de todos, incluindo as instituições públicas, na perspectiva de cooperação, articulação e integração entre a sociedade civil e entidades dos governos estadual e municipal, para esse salto de qualidade de vida que se oferece ao povo de Itabaiana.

(Editorial do JORNAL DO PONTO)

sábado, 14 de novembro de 2009

95 anos da morte do “poeta da morte”


Na passagem dos 95 anos da morte do poeta paraibano Augusto dos Anjos - 12 de novembro de 1914 -, vi o documentário “Eu, Estranho Personagem”, com roteiro e direção do jornalista Deraldo Goulart. O filme mostra fatos da vida e da obra do poeta que morreu de pneumonia aos 30 anos de idade e deixou o livro “Eu”, que teve uma primeira impressão de mil exemplares custeada pelo autor em 1912. No ano de 1920, foi lançado como “Eu e outras poesias” por iniciativa do jornalista paraibano Órris Soares. O documentário exibe fotos, cartas, poemas e informações inéditas do autor do “Monólogo de uma Sombra”. Peca por passar pequenos erros de informação. Por exemplo, diz que Augusto dos Anjos nasceu na cidade de Engenho Pau D’arco, hoje Sepé. Nem o Pau D’arco é cidade e o lugar se chama Sapé. Na verdade, a fazenda Pau D’arco pertencia na época ao Município de Cruz do Espírito Santo.

O filme mostra um Augusto com personalidade “inquieta” e aversão à própria vida, o que é um retrato no mínimo duvidoso. Diz que ele perambulou durante dois anos pelo Rio de Janeiro, morando em 12 lugares e passando fome com a família. Não creio nessa versão, porque o poeta era filho de família abastada, embora decadente.

O único livro de Augusto dos Anjos é deprimente e triste como o uivo de um cão numa noite desesperada. Sou fascinado por este estranho poeta desde menino, quando soube que um rapaz suicidou-se em minha cidade, Timbaúba dos Mocós, após ler o “EU”. Dois livros que me amedrontavam na infância, pelas lendas que ouvia contar: o de Augusto e o Livro Negro de São Cipriano.

É um poeta universal. Ninguém sai ileso após ler os poemas de Augusto. Franz Kafka escreveu em 1904: “Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo que há dentro de nós”. Carlos Drummond de Andrade, quando conheceu a obra de Augusto, comparou o impacto do livro a um soco na cara.

Em Sapé, um rapaz acredita ser a reencarnação do poeta. Já lançou vários livretos com uma poesia ruim de correr água. Até mancava ligeiramente de uma perna, porque disseram que Augusto dos Anjos era manco. Mais uma lenda sobre o poeta do EU.

Nosso advogado na OAB


Rola o maior sururu na Ordem dos Advogados do Brasil por causa da eleição para a diretoria daquela instituição. O advogado José Mário Porto, atual Presidente, ataca a chapa de oposição capitaneada por Odon Bezerra. Para ele, Odon é representante de José Maranhão, o governador, que nem deveria entrar nessa história, pois Zé não é advogado.

Como Zé se mete em tudo, dizem que formou a chapa, botou os dele e pronto. Para animar a rapaziada, nomeou um bocado de gente. “A chapa de Odon à OAB é a chapa oficial do governador. Nem na época da ditadura militar a nossa entidade passou pela interferência de gestores públicos em suas ações. Esta chapa foi articulada nos gabinetes palacianos, sob o acompanhamento direto de secretários de Estado”, disse José Mário Porto em programa de rádio na capital.

Na chapa de Odon, aparece como vice-presidente o advogado Bruno Veloso, residente em Campina Grande. Bruno é um itabaianense adotivo. Veio de Pernambuco menino ainda, e se criou nos terreiros do Triângulo ferroviário, para os lados do Açude das Pedras. É filho de Luiz Eugênio, antigo chefe da estação. Rapaz inteligente e persistente, Bruno é advogado do Sindicato dos Ferroviários da Paraíba, entidade que ajudei a fundar.

Pelos seus predicados morais, não creio que Luiz Bruno tenha feito conchavo com o governador ou com quer que seja para alavancar sua chapa na eleição da OAB. Conheço o cara desde garoto. Um sujeito do bem.

Falando em advogado, conheci outro que estudou comigo em Bananeiras, no Colégio Vidal de Negreiros. O sujeito era muito vaidoso e individualista. Achava que nem estava sujeito à força da gravidade, porque pensava que era o centro do Universo. Foi expulso comigo no meio do primeiro ano letivo. Eu parei de estudar. Ele fez um curso chamado Artigo 99, terminando o segundo grau em poucos meses. Entrou na Universidade, onde também passou pouco tempo. Depois foi botar banca de advogado, mas seu conhecimento de direito cabia na cabeça de um alfinete. Esse sim, seria capaz de fazer conchavo até com o Satanás para se dar bem na vida.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Receita para ser feliz: envelhecer


“A duração de nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado”. (Salmos 90:10)

A maioria das pessoas fica mais feliz quando envelhece, segundo um estudo americano que analisou o comportamento de idosos com mais de 70 anos de idade. Você concorda com isso?

Eu estou no limiar da chamada “melhor idade” e já posso analisar essa tese à luz de minha própria vida. Por exemplo, o estudo quer demonstrar que os idosos procuram aproveitar ao máximo o tempo que resta e sabem como evitar situações frustrantes e deprimentes. Tenho minhas dúvidas a respeito. E a angústia por saber que tem pouco tempo? Em algumas pessoas, isso causa um abalo psicológico tão grande que chegam a entregar os pontos, caem em depressão e esperam a morte sentados, ou deitados, sem se importar mais para a vida.

Diz que os jovens ficam de mau humor com maior frequência do que os velhos, os quais conseguem controlar e equilibrar melhor suas emoções. Por isso, a pesquisadora Laura Cartensen, da Universidade de Stanford, assegura que a velhice pode ser uma experiência extremamente positiva.

Tenho um amigo com mais de 70 anos que pinta os cabelos de acaju. Fica parecendo um homossexual decrépito, com a cara toda cheia de rugas. Nada contra os gays, jovens ou maduros. Com a liberdade que tenho com o camarada, um dia critiquei essa sua mania de parecer jovem pintando os cabelos. Não acho mesmo que fique bem nos homens. Ele respondeu que enquanto puder disfarçar a idade, vai faze-lo. “Vivo num país onde o preconceito etário é muito grande”, justifica.

Os mais velhos ainda têm contribuições importantes a fazer para a sociedade, isso é um fato. A sociedade é que não está preparada para respeitar os maduros. Vejam os direitos civis, que são cada vez mais ultrajados. Nós, os aposentados, por exemplo, somos roubados de forma clara desde o governo de FHC, e não temos nenhum movimento por parte da sociedade civil para defender essa classe de pessoas que não podem mais pressionar, pois não são mais capazes de fazer greve. A Câmara dos Deputados está analisando projeto de lei que garante reajuste para os aposentados de forma igualitária, como estabelece a Constituição. A base do governo Lula manobra para derrotar a proposta.

Não podemos ficar felizes com tamanha canalhice e falta de respeito com quem passou a vida toda trabalhando e contribuindo para a Previdência.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ABC DE ZÉ DA LUZ, O POETA DO POVÃO

Nesta quinta-feira, 12 de novembro, o Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana - GETI - apresenta a peça “ABC de Zé da Luz, o poeta do povão”, original e direção de Fábio Mozart, com os atores Fred Borges, Das Dores Neta, Edglês Gonçalves, Rose Chaves e José Severino. A peça será levada no antigo abrigo dos velhos, com entrada gratuita.

O espetáculo foi montado pela primeira vez em 1982, para fazer parte do lançamento do livro “Cancioneiro de Zé da Luz”, de autoria do Juiz de Direito Reginaldo Antonio de Oliveira. A peça estreou no palco do Itabaiana Clube, com atuação brilhante dos irmãos Jacinto e Norberto Araújo, além das participações também notáveis de Sanderly Silva e Normando Reis.

Segundo os padrões locais, a peça realmente alcançou grande sucesso. O grupo recebeu, em meu nome, o seguinte Memorando assinado pelo Dr. Reginaldo:

“Amigo Fábio:

Itabaiana é uma terra de revelações. Você é uma delas. Jamais conseguiria esconder o seu talento artístico, que deita raízes numa abnegação desenfastiada, o primeiro requisito de quem palmilha a senda da arte.

Logo mais você sairá do anonimato, juntamente com os seus devotados amigos, que, juntamente com você, dão o show que vêm dando. Continue. Está fadado ao sucesso não muito longe, alguns espinhos ainda terão de lhe lamber os pés, mas as rosas precisam deles. Meus parabéns pelo seu valor, produzindo muito entre a aridez e a carência.

Reginaldo Antonio de Oliveira (Juiz de Direito)”

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nevinha dos dinossauros




Tôta é o artesão que desde menino mexe com o barro, transformando a argila em panelas, caldeirões, quartinhas e jarras. É daqueles artistas que fizeram a fama de Itabaiana, como uma das cidades que mais produziram peças de cerâmica utilitária. Isso nos antigamentes, que hoje as louças de barro perderam terreno para as panelas de aço. Hoje quase não se vê panelas de barro na feira de Itabaiana.

Mas quero falar é da mulher de Tôta, essa artista hoje consagrada no universo do artesanato da Paraíba e do mundo. Ela ficava só olhando e admirando o trabalho do esposo. Passou a ajudar no trabalho, descobrindo que tinha o dom de transformar o barro em peças, dedicando-se a fazer esculturas de animais pré-históricos, inspirada no Vale dos Dinossauros no município de Souza, alto sertão da Paraíba. Essa itabaianense com sangue de índio e de negro despontou então para o mundo com um trabalho admirado hoje em exposições, feiras e congressos no Brasil e exterior.

As réplicas dos bichos já extintos deram fama a Nevinha. Ficou conhecida como “Nevinha dos Dinossauros”. Alguém a encorajou a divulgar sua arte e de outros artesãos em Itabaiana, transformando a cidade em um pólo de artesanato de barro, criando um centro de comercialização e uma cooperativa para dar a devida projeção ao trabalho desses artistas. Esbarrou na burocracia, na má vontade dos gestores públicos e na falta de costume dos artistas para a união em torno de objetivos comuns.

Não posso esquecer de citar aqui as panelas pretas famosas dentro e fora do Brasil, produzidas por Nevinha Paiva e Tôta, seu esposo, com mais de 30 anos de experiência. As panelas não são pintadas. Nevinha não revela sua técnica, cujos produtos são peças de um negro reluzente e esteticamente belas. Também não é para esquecer o apoio que nossa artista recebeu do Programa de Artesanato Paraibano. Graças a esse programa, Nevinha ganhou mercado até foras do país, com sua arte rústica e elegante em cerâmica natural.

Nevinha será uma das artistas a depor no documentário que estamos projetando no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. As próximas gerações de itabaianenses ficarão então sabendo quem foi Nevinha e o valor do seu trabalho. O filme celebrará mais de um século de arte e cultura em Itabaiana. O sempre competente cineasta Jacinto Moreno fará a fotografia, com roteiro e direção deste repórter que vos fala.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O rei do populismo



Conheci um líder popular que é pau pra toda obra; reza novena, puxa ladainha, carrega defunto, visita doente e nunca enjeita peru gordo nem pato por carregado, bota menino cagado nos braços, toma uísque vagabundo em copo de margarina, enfim, um cabra feito e acabado nas mumunhas da politiquice brejeira.

O nome dele é José Martins de Lima, o Zé Martins do Sindicato, presidente perpétuo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mari, vereador quase eterno, sujeito que vive no meio da feira apertando mãos, distribuindo abraços, sorrindo sempre com aquele sorriso “Silvio Santos”, matreiro na arte do marketing. Tem que ver a figura andando na sua bicicleta, chapéu de palha na cabeça, camisa social abotoada até o gogó, barbas longas e o traquejo de acenar à esquerda e à direita, alternando as mãos no guidom.

Zé Martins é o verdadeiro político “paz e amor”. Trata todo mundo carinhosamente de “belezinha do céu”. Em mais de 40 anos de vida pública, nunca respondeu a uma agressão, jamais sua franciscana figura se envolveu em debates ideológicos. Quando as Forças Armadas deram o golpe em 64, um espírito de porco denunciou Zé Martins por viver entre camponeses. Preso, ele garantiu que não era comunista e sim um homem de Igreja. Para provar que era da Congregação Mariana, começou a cantar as ladainhas, no que foi interrompido pelo oficial interrogador:

------ Soltem este homem que ele ta mais pra Frei Damião do que pra Francisco Julião.

Julião era o líder das Ligas Camponesas em Pernambuco e Paraíba.

Um líder comunitário que luta pelo seu bairro e pelas causas do seu grupo, que sabe se comunicar e interagir com o povo pode ser chamado de popular. Já os popularescos e os demagogos que usam os artifícios da dissimulação e da comunicação fácil, trabalham sempre em benefício próprio e do entourage que os acompanha. Por aí, pode-se dizer que Zé Martins é um político que consegue ser, ao mesmo tempo, popular e popularesco. O escritor satírico austríaco Kral Kraus dizia que “o segredo do demagogo é se fazer passar por tão estúpido quanto a sua platéia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele.”

Como Cronos, o Deus grego que devorava os filhos para que estes não lhes fizessem sombra, os caciques políticos não costumam fazer sucessores. Zé Martins, no entanto, passou sua arte política ao filho Marcos Martins, prefeito em duas gestões, vereador e dono dos votos no Município. Marcos joga com o mesmíssimo estilo do pai, na arte de sempre ser o veludo entre dois cristais.

A juventude pede socorro


Encontrei um jovem de 33 anos em Itabaiana, que muito me impressionou. Cristiano, o nome do cara, é filho do artesão Raminho da Sela, já falecido, e sobrinho do meu amigo professor Luiz Gonzaga, neto do velho “Paraíba”. Quem puxa aos seus não degenera, diz o ditado popular. E não estou plagiando ninguém que isso é uma verdade universal: tudo que é vivo morre, e tudo que morre renasce, porque o DNA continua a existir nos parentes.

Cristiano foi visitar o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, onde concedeu entrevista gravada pelo cinegrafista Jacinto Moreno. Nas suas declarações, transparece a vivacidade, a inteligência, a compreensão da natureza das coisas e o significado dos fatos. Falou do seu avô, o “Paraíba”, por quem diz ter grande admiração. “Paraíba” foi uma pessoa muito inteligente e alegre, um folião brincador, um homem prazenteiro, algo libidinoso, algo libertino como são todos os que amam a vida, mas não a levam a sério, afinal ninguém sai vivo dela mesmo.

O neto de “Paraíba” confessou que leu meu livro “História de Itabaiana em versos” e mudou sua visão da terra natal. “Antes eu não sabia que Itabaiana foi tão importante cultural e economicamente no Estado, que teve tantos homens valorosos e geniais, tantos artistas. Depois que li seu livro, passei a ver minha cidade com outros olhos e a gostar mais dela”, reconheceu Cristiano.

Ele diz que aprecia cinema, citando o filme brasileiro “Amarelo Manga” como uma obra que viu e ficou impressionado. Lamentou que em Itabaiana não tenha mais cinema. “A cachaça nas praças, os falsos forrós de Saia Rodada e Calcinha Preta é o mais próximo de cultura que a nossa juventude dispõe”, lastima.

Cristiano espera que o Ponto de Cultura seja uma instância apontando algum caminho para a juventude, “que pede socorro”, através da educação e da cultura. “É só saber trabalhar com os jovens, compreendendo seu cotidiano e suas necessidades”, ensina.

Saí de Itabaiana com a idade que Cristiano tem agora. Vinte e um anos depois, retorno para esse desafio que é como o trabalho de Sísifo, que depois de morto foi condenado a empurrar uma imensa pedra montanha acima, dia após dia. A pedra sempre cai antes de chegar no topo, mas Sísifo recomeça o trabalho pacientemente. É assim a tarefa de quem planta no deserto, que é tentar produzir cultura na aridez de uma terra que esqueceu costumes e tradições dos antepassados. Pessoas como o jovem Cristiano é que dão esperança de que a semente cresça e frutifique.

sábado, 7 de novembro de 2009

Teoria da Expectativa Reversa


"Não procures que encontras" (Provérbio árabe)

A partir de amanhã eu vou fazer uma experiência na minha vida. Começarei a aplicar a Teoria de Expectativa Reversa. Assim, vou parar de jogar na mega-sena pra ver se finalmente eu ganho. Vou deixar de torcer pelo Botafogo carioca pra ver se ele ganha nem que seja a Copa dos times decadentes. Não vou falar mais no assunto da bandeira de Itabaiana, com a esperança de que os nossos vereadores se toquem e apresentem projeto para mudar aquela coisa horrorosa.

É assim a expectativa reversa. Você deixa de pensar em algo, para ver se acontece. Vou então parar de esperar que nosso povo deixe de ser bobo pensando que é o tal, na esperança de que essa gente vote mais honestamente e com responsabilidade.

Vou deixar ao acaso a esperança de que os jovens parem de fuçar na internet o orkut e outras pinóias, e procurem ler um livro, qualquer um, desde que seja um livro. Não vou me irritar e espero passar a onda de se falar “eu vou estar fazendo” e outras expressões idiotas.

Vou parar de me ligar na safadeza dessas campanhas pseudo-humanitárias de fim de ano tipo “Natal sem fome”, vou deixar passar a indignação diante de tanta hipocrisia dessa corja de farsantes travestidos de almas bondosas.

Deixo também ao velho e bom acaso a exterminação de certos jornalistas boçais e vendidos. Esperar que, um dia, os movimentos populares sejam fortes o bastante para constituir uma sociedade civil forte, com democracia nas comunicações, sem os picaretas que dominam desde o jornaleco do interior até o jornalão e a tevezona da capital.

Não vou mais me incomodar com o banal, o mal-educado, o cafajeste, o atrevido, o provocador, o indivíduo mau caráter, o canalha e o velhaco. Não darei cartaz ao infame e ao valentão.

É mais do que hora de se barrar o rancor e o ódio, ensinar e aprender a solidariedade, enfim se humanizar.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A bandeira ainda rende





Pense num assunto pra render, esse da bandeira de Itabaiana! Recebi do jornal “Itabaiana Hoje”, editado pelo considerado Geraldo Aguiar, resumo do histórico da bandeira oficial de Itabaiana que é o seguinte:

“A bandeira oficial do Município de Itabaiana foi idealizada por Francisco Borges, com desenho de J. Batista. O anteprojeto de lei nº 146/87, enviado à Câmara de Vereadores pelo prefeito Severino Ramos da Silva, em 27 de maio de 1987, criava a nossa bandeira. Aprovada sua criação na sessão realizada no dia 4 de junho daquele ano, sendo Presidente da Câmara o vereador José Carlos de Almeida (in memoriam).

SIMBOLOGIA E REPRESENTAÇÃO – O campo principal em verde-capim é símbolo da região fértil nos seus primórdios, com pastagens favoráveis à criação de gado. Representa o ciclo da economia.

A faixa central em cor branca é símbolo arenoso do rio Paraíba. Representa a cidade nascida às margens daquele rio.

O Besante em cor branca é símbolo da paz e da liberdade, que ficou após a passagem imperial. A pedra marrom e branca é símbolo da origem do nome: Ita=pedra. Representa o sítio Itabaiana quando “sesmaria”, onde uma deusa adormecida despertou para os dias futuros.

O sol, em amarelo-laranja, é símbolo de um nascimento, representando a luz que vive iluminando o povo. O carro de bois e estrada de ferro são símbolos dos transportes da época. Representam o ciclo do desenvolvimento econômico e pecuário da cidade.

A faixa-base tem o slogan: ‘Unidos e sempre crescendo’. Representa a união e coragem para vencer os obstáculos”.

Com todo respeito ao autor deste resumo da bandeira de Itabaiana, difícil imaginar um texto com mais bobagens. Sabe o samba do crioulo doido? Onde foi que o Imperador D. Pedro passou por Itabaiana, se aquele Monarca só foi até Pilar, assim mesmo arrependeu-se porque quase morre de fome? Que me perdoe o senhor Francisco Borges, idealizador da bandeira, mas o “campo em verde-capim” poderia representar melhor os burros que puxavam os bondes de antigamente pelas ruas de Itabaiana, como sugeriu um leitor.

Definitivamente, precisamos de uma nova bandeira.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Duas notícias de educação


Projeto obriga políticos a matricularem seus filhos em escolas públicas, uma ideia do Senador Cristóvam Buarque. Pelo projeto, todo político eleito (vereador, prefeito, deputado etc.) será obrigado a colocar os filhos na escola pública. Na sua visão, quando os políticos forem obrigados a colocar seus filhos na escola pública, a qualidade do ensino no país irá melhorar.

Eu tenho cá minhas dúvidas. Para mudar a triste realidade das escolas, acho que é suficiente o investimento maciço e a qualificação dos professores. Os prefeitos e governadores entraram na Justiça para não pagar o piso salarial nacional dos professores, de apenas R$ 900 reais, dizendo que não podem arcar com essa despesa. O salário dos professores continua sendo uma piada neste País.

Outra ideia de Cristóvam Buarque, de federalizar todas as escolas de ensino básico, é muito boa. As escolas federais são excelentes, com equipamentos dignos, professores bem remunerados, ensino de primeiro mundo. Enquanto isso, em Araçagi, a diretora da escola é a merendeira, que depois foi substituída pelo porteiro porque não votou no atual prefeito. Em Mari, o governador José Maranhão está empregando seus cabos eleitorais nas escolas, mas não paga os contratados do governo anterior. Enquanto isso, não cumpre o piso salarial nacional.

Maranhão tem uma filha menor de idade. Se vingar a lei de Buarque, quando chegar a época de entrar no pré-escolar, o Governador vai ter que botar a menina em escola da prefeitura de João Pessoa, porque não tem uma escola de qualidade para essa faixa etária na capital da Paraíba, administrada pelo Governo do Estado.

No bairro de Jaguaribe tem outra forma de educar, uma iniciativa do mestre Pedro Osmar, líder de um grupo de trabalho cultural que se reúne todo sábado para pensar processos sistemáticos de intervenção artístico-cultural no bairro. A rapaziada tenta sensibilizar, mobilizar e educar, promovendo eventos culturais com a participação ativa e consciente das pessoas na formulação e controle dessas intervenções. Diferente do Boi Vermelho, que sai na época de carnaval, em Jaguaribe, com a bandeira do Partido Comunista do Brasil, não é só beber cachaça e brincar, não é apenas juntar amigos e frevar na rua, mas aproveitar a oportunidade de se ter gente junta para a afirmação de um projeto popular, democrático e soberano de cidade, de bairro e de nação. É mais do que um reforço da autoestima. É usar a arte e a educação para organizar o povo e ajudar a encontrar as “portas de saída” para esse sufoco cultural e social em que se vive, onde o que se oferece para a juventude é a opção de “beber, cair e levantar”.

Convidado pelo grande Pedro, vou realizar gratuitamente oficinas de rádios comunitárias para capacitação básica de comunicação radiofônica, técnicas de voz, locução e operação de equipamentos, além de várias atividades para estimular a informação, a educação, o esporte e o exercício da cidadania, através de projetos de comunicação popular via rádio.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Descuidista de livros


O jornalista Samarone Lima, cearense radicado no Recife, confessa em seu sítio (www.estuario.com.br) que já foi um ladrão de livros, quando estudante pobre na capital pernambucana. Conheci um descuidista de livros, fui até testemunha de um dos seus roubos na antiga Livraria do Luiz, em João Pessoa. O cínico pegou um livro, botou entre suas coisas e saiu na maior cara-de-pau. O nome do meliante: Frederico Guilherme de Araújo Lopes, meu colega ferroviário, ativista político, guerrilheiro do PCB. Hoje deve estar profissionalizado em um sindicato rural para os lados do Rio Grande do Norte. Virou esquerdista não de carteirinha, mas de carteira assinada. Burocratizou a revolução que sonhava.

Fred queria me iniciar na carreira de ladrão de livros, mas nunca tive coragem. O atrevido larápio de cultura, como se definia, roubava geralmente obras de filosofia e perfis de revolucionários. Não gostava de ficção. Aliás, sempre notei que meus amigos simpatizantes do comunismo e socialismo, desses obcecados, de uma devoção quase cega ao seu credo político, não apreciavam a poesia, o conto, o romance. Diziam que era pura abstração burguesa, perda de tempo. Meu compadre Fred me acusava de alienado porque eu gostava de ler Jorge Amado, vejam só! Logo Jorge, o cara que popularizou as ideias comunistas no Brasil.

Aqui pra nós e para o povo da rua: só uma vez tive que roubar um livro. Foi em Itabaiana. Eu era metido a desenhista e o padre da freguesia me escalou para pintar um painel enorme, sobre o dia do índio. Representei um índio e um negro quebrando correntes, obra que me custou dois dias de trabalho. No fim, o padre não me pagou nada e ainda me negou o resto da tinta. Para compensar a mesquinharia do sacerdote muquirana, levei um volume de sua biblioteca.

Samarone informa que deixou a vida de biblioclepto e agora é um semeador de cultura. Não acumula livros em casa. Conheço também um cara que só fica com livros de referência. É meu compadre Ivaldo Gomes, de João Pessoa. Um dia me fez até uma desfeita: pegou um livro meu, autografado, leu e passou adiante.

Agora vou ler “A menina que roubava livros”, do australiano Markus Zusak. Não sei do que se trata. Pelo título, deve ser algo sobre roubar livros, evidente! Mas o exemplar que tenho não foi roubado, veio no rol de livros doados para a biblioteca do Ponto de Cultura que fundaremos em Itabaiana. Depois eu conto.

E quem tiver livros para doar à biblioteca, entra em contato comigo: fabiomozar@yahoo.com.br

MORREU EM PONTO MORTO


Morreu bonito.
Vinha descendo a Avenida Nossa Senhora Aparecida,
padroeira da República Federativa do Brasil,
e vinha de um país desconhecido,
com sua lotação carregada
de angústias, fome e desesperanças.
Morreu um motorista, do coração.
Querido chofer, finalmente você morreu.
Morreu com classe, irmãozinho!
Parou a máquina,
pediu para que os passageiros descessem
e foi embora, humilde e correto.
Ninguém reclamou.
Ninguém pediu o troco
roubado.
Simplesmente todo mundo deu de ombros
ante as insignificâncias da vida.
No país chamado Brasil,
um motorista velho morreu em ponto morto.
E deve ter comido muita poeira
antes de morrer.
Até que a vida se encheu de deserto.
Só resta à multidão embasbacada
dispersar e procurar a esmo
sua identidade.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Passagem desbotada na memória


Professor Israelzinho

Israel Elídio de Carvalho Filho é um pacato professor na também pacífica e apática Itabaiana, uma cidadezinha que repousa indolente às margens do rio Paraíba. Em 1966, Israel era estudante secundarista. Foi preso e denunciado pelo promotor militar Francisco de Paula Accioly Filho como participante do Grupo dos Onze, com base no Inquérito Militar presidido pelo Major Benedito Cordeiro, publicado no Jornal do Comércio de 29.12.66. Afinal de contas, o que diabo vem a ser o Grupo dos Onze e o que Israelzinho fazia nessa organização tão perigosa para os ridículos militares golpistas, encastelados no poder naqueles tempos infames?

Conforme minhas pesquisas, o tal Grupo dos Onze foi uma organização que, na realidade, nunca chegou a sair verdadeiramente do papel. Em 1964, Leonel Brizola desconfiava de que as Forças Armadas estavam tramando um golpe para afastar do governo o Presidente João Goulart, seu cunhado. Foi então que planejou uma espécie de contragolpe, oposição à quartelada que se delineava. Era o grupo dos “onze companheiros” que iriam defender o Brasil do golpe e apoiar as reformas de base prometidas pelo Governo. Em 1965, Brizola lança o jornal “Panfleto”, o único a ser editado, que dava as coordenadas sobre a organização dos grupos, precauções, deveres dos membros e dos dirigentes. Com a organização dos grupos dos onze, Brizola fazia uma alusão a onze atletas de um time de futebol, em que os membros de cada relação de onze seriam, segundo ele, os soldados que integrariam as fileiras do Exército Popular de Libertação (EPL), ramificados nos principais estados da união. Foram formados 5.304 grupos que resultariam num exército de 58.344 pessoas. Sendo um nacionalista extremado, Brizola antevia a performance da oposição e lutou com todas as suas forças para evitar o golpe militar que acabaria por acontecer em 31 de março de 1964.

Pois os agentes secretos desconfiaram que Israel seria um dos componentes desse exército ilusório. Socialista declarado, ele não negava seu credo político. Entretanto, nosso professor nunca admitiu pertencer ao tal Grupo dos Onze, ele que jamais jogou futebol, apenas deu algumas carreiras como bandeirinha da Liga amadora local. Mas na hora da prisão, Israelzinho não teve tempo para correr, denunciado que foi por um conhecido político local, autocrático e fascista. Ele e outros itabaianenses foram presos, responderam aos tais inquéritos, alguns foram torturados, perderam seus empregos ou interromperam os estudos.

No dia 28 de junho de 2007, o Ministério da Justiça deferiu requerimento de anistia ao professor Israel Carvalho, com uma indenização pelos prejuízos morais sofridos e pedidos de desculpas do Governo brasileiro. O Ministro Tarso Genro, da Justiça, comentou que a lei da anistia permitiu o registro dos fatos em sua total clareza e tornou possível a transição de um regime militar para um regime democrático. "A Justiça de Transição tem justamente o objetivo de, ao tratar da verdade e da memória, permitir que a história registre os fatos em sua total clareza, para que não se repitam", disse. Além dos conceitos de verdade e memória, o ministro destaca que é importante reparar as vítimas do regime militar. "É dever do Estado indenizar os perseguidos políticos e é direito da sociedade responsabilizar judicialmente aqueles que romperam com a legalidade, os direitos humanos e cometeram crimes contra a humanidade”.
Hoje há quem negue que a ditadura existiu de forma tão violenta e cruel. Mas a História registra aquele festival de horrores que, guardadas as proporções, pode ser considerada a versão brasileira do Holocausto, o massacre de judeus e de outras minorias, efetuado nos campos de concentração alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

Em outra oportunidade, vou contar a história de outro professor de Itabaiana que, preso e torturado, desatinou, perdeu o juízo e passou a elogiar os militares, em atitude semelhante à do compositor paraibano Geraldo Vandré. Tem gente que diz que, por conta das torturas sofridas nos porões da Ditadura, Vandré acabou ficando lelé. Dizem que uma das agressões físicas que sofreu foi ter os testículos extirpados. Outros garantem que tudo isso é lenda, e que ele hoje vive à custa dessa lenda. A verdade é que foi exilado para o Chile e depois para a França. Hoje mora em São Paulo, mas foge da mídia. Nunca mais veio à Paraíba.

Já o professor de Itabaiana, eu conheci de perto seu drama, a catástrofe produzida pelos suplícios na sua mente. Morreu recentemente, vítima de acidente automobilístico. Essa experiência penosa e desgastante marcou a nossa geração.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Alô, Itabaiana, estou de volta!



Eu tocando violão no cabaré de Nevinha Pobre, nos bons tempos de Itabaiana

O grande tribuno Osmar de Aquino passou uns tempos fora de sua Guarabira, e quando voltou proferiu discurso na estação para os correligionários. Começou assim: “Volto para a alegria dos que me amam, para a tristeza dos que me odeiam e a ocupação dos que me invejam”.

Também estou voltando à velha Itabaiana, sem precisar me preocupar com os sentimentos de amor, tristeza, inveja ou alegria dos meus conterrâneos. Volto para gerenciar o maior projeto cultural da minha vida, que é o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, da Sociedade Amigos da Rainha. Também sem querer me dar méritos ou qualidades superiores a ninguém, não posso deixar de citar o escritor Matheus de Albuquerque, para quem “todo homem superior precisa de três ou quatro inimigos, para não ficar sepultado na unanimidade dos louvores”. Como não tenho nenhum inimigo declarado em Itabaiana, não me coloco na posição de “homem superior”. Ainda bem!

Viver é cumprir sonhos e esperar notícias, conforme definição poética de Mia Couto, extraordinário escritor angolano. Um dia, conversando com meu compadre Josino Mendes, grande músico de Itabaiana, ele me sai com essa frase também genial: “Sua ausência faz questão de se fazer presente”. Volto com o espírito desarmado para um recomeço, sem paixões políticas ou de qualquer natureza, apenas com o mesmo sonho de sempre, de ver nossa cultura valorizada e divulgada.

A paixão é irmã da ansiedade e a saudade madrasta da alegria, já ensina o samba-canção. Estarei matando a saudade dos amigos, de quem me despedi em 1988 dizendo: “vou dar um rolé e já volto”. Demorei 21 anos, regresso com os cabelos todos brancos da meia-idade, confiante na verdade do poeta: “só se é jovem uma vez, mas isso pode durar a vida inteira”. É porque ainda não encarei a maturidade com mais maturidade.

Outra frase que encaixa na inspiração do meu regresso: “a liberdade do pássaro é que o faz voltar para o ninho." Portanto, anuncio que estou voltando, com humildade para ouvir críticas, porque elogios eu ouço em casa. Se bem que em Itabaiana estou em casa. Vamos trabalhar com jovens estudantes, professores, artistas e o público em geral. Começando com oficinas de cerâmica, música, dança e teatro. Depois vamos rodar um documentário, fazer cinema e o diabo a quatro.

Não diria que estou voltando com força total porque o velho motor já está rateando. Isso é uma das razões para o regresso, que no interior a gente tem qualidade de vida. Celso de Carvalho, poeta e compositor baiano:

“Quem mora no interior
Vai buscar o interior.
Quem mora na capital
Vai buscar o capital”.

Fui. Vi. Mas não venci. Isto é: andei por outros ares, trabalhei muito, mas não amealhei riqueza. As leis psicológicas do meu povo dizem que o cara que volta para sua terra sem melhorar de vida é um fracassado. Engano! Sou muito rico. Não consegui dinheiro fácil ou difícil, mas arrumei meia dúzia de razões para ter a consciência plenamente satisfeita. Sobre grana, cito um filósofo que não lembro o nome: “dois terços das pessoas que conseguem ganhar (muito) dinheiro são medíocres, e pelo menos metade delas se encontra moralmente em baixo nível.” Ponto para o velho Fabinho, que é pobre, mas é limpinho!

domingo, 1 de novembro de 2009

As fábulas da mortalidade do ser humano



No dia dos mortos, leia o conto “Os Mortos”, de James Joyce. Enredo: Gabriel Conroy é casado com Gretta. Após a festa de Ano Novo, organizada pelas tias de Gabriel, ele e Gretta vão para um hotel, já de manhã. Gretta permanece pensativa, praticamente ignorando seu marido, que acaba perguntando a ela qual é o problema. Gretta diz estar pensando numa canção que ouvira durante a noite e revela que aquela canção era cantada por um ex-namorado. Suspeitando que ela ainda está apaixonada, Gabriel insiste no assunto e Gretta revela que ele, na verdade, está morto. O conto se encerra com Gabriel ouvindo a neve “cair brandamente – como se lhes descesse a hora final – sobre todos os vivos e todos os mortos”. É uma pequena obra-prima sobre a mortalidade do ser humano.

No dia dos mortos, não leia o conto “Quando eu morri”, de um português chamado Anderson Cristiano da Costa. Apesar de ter meu nome de família, o gajo aparenta uma ligeira debilidade mental. Eis todo o texto: “Quando eu morri, a primeira coisa que vi foi um sol vermelho como tomate. A primeira coisa que senti foi uma vontade de nunca mais comer coisa nenhuma”. Danou-se! Você acabou lendo o conto do retardado. Ou será que somos nós que não alcançamos a profundidade da “narrativa”?

No dia dos finados, se puder leia os contos de Miguel Marvilla, do livro “Os mortos estão no living”. Lançado no começo da década de 80, quando a ditadura militar no Brasil já começava a morrer, o livro trabalha com o tema do fim da vida e do ciclo, fim da ditadura, mas também a “morte” de relacionamentos afetivos, de pequenas esperanças, marcação de passagem a outro estágio nas vidas das pessoas. "A noiva passa, de carro, como para um enterro", é a frase inicial do primeiro conto, "Três histórias", que sintetiza com bastante precisão o espírito dessa obra.

E os epitáfios? Meu prazer é caminhar pelo campo santo lendo as inscrições nos túmulos. É o nosso último cartão de visitas.

Alexandre o Grande anunciou sua megalomania: “Uma tumba agora é o bastante para quem o mundo não era suficiente”. Molière parece que escreveu seu próprio epitáfio: “Aqui jaz o rei dos atores. Agora se faz de morto e na verdade, o faz muito bem”. O do filósofo Diógenes é muito sarcástico: “Ao morrer joguem-me aos lobos, já estou acostumado”.

Orson Welles mesmo depois de passar desta para melhor, manteve sua genialidade. No seu túmulo está gravado: “Não é que eu tenha sido superior. Os demais é que eram inferiores”. Miguel de Unamuno, por sua vez, fez também sua última gracinha: “Só peço a Deus que tenha piedade da alma deste ateu”. Na tumba do compositor Bach está escrita uma mensagem de duplo sentido: “Daqui não me ocorre nenhuma fuga”. Existem os epitáfios profissionais. Por exemplo, o de Benjamin Franklin, impressor, é muito criativo, diz o seguinte: “ O meu corpo, como um velho livro, sem enfeites aqui jaz. Alimento para os vermes. Porém, acredito que aparecerei, em breve, numa nova edição, corrigida e melhorada pelo Autor”. Na tumba de um apreciador do ócio: “Aqui Fray Diego repousa. Jamais fez outra coisa”. Outros celebram a guerra conjugal. Em Guadalajara, existe o verdadeiro epitáfio da viúva alegre: “A meu marido, falecido depois de um ano de matrimônio. Sua esposa com profundo agradecimento”. Em contrapartida, em outro cemitério encontra-se a vingança de um esposo insatisfeito: “aqui jaz minha mulher, fria como sempre”.
Em Minnesota encontra-se outro que é genial: “Falecido pela vontade de Deus e mediante a ajuda de um médico imbecil”. Num cemitério do Rio de Janeiro existe um que brinca com o caráter bélico de seu morador: “Aqui jaz o General Ferreira. Transeunte, passe tranquilo. Está morto!”. Mas, nada se compara à sinceridade da inscrição que se encontra num cemitério da Catalunha: “Levantem-se vagabundos, a terra é para quem trabalha”. O de Allan Poe, sem brincadeira, supera todos, é a citação do famoso poema “O Corvo”. Realmente é definitivo: “Nunca mais”.
Para encerrar, citação de um emblema em cemitério do Nordeste do Brasil: “Nós que aqui estamos por vós esperamos”.

FONTE: “Diccionario Ilustrado de la Muerte” de Robert Sabatier (Gustavo Gilli- Barcelona)