segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Alô, Itabaiana, estou de volta!



Eu tocando violão no cabaré de Nevinha Pobre, nos bons tempos de Itabaiana

O grande tribuno Osmar de Aquino passou uns tempos fora de sua Guarabira, e quando voltou proferiu discurso na estação para os correligionários. Começou assim: “Volto para a alegria dos que me amam, para a tristeza dos que me odeiam e a ocupação dos que me invejam”.

Também estou voltando à velha Itabaiana, sem precisar me preocupar com os sentimentos de amor, tristeza, inveja ou alegria dos meus conterrâneos. Volto para gerenciar o maior projeto cultural da minha vida, que é o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, da Sociedade Amigos da Rainha. Também sem querer me dar méritos ou qualidades superiores a ninguém, não posso deixar de citar o escritor Matheus de Albuquerque, para quem “todo homem superior precisa de três ou quatro inimigos, para não ficar sepultado na unanimidade dos louvores”. Como não tenho nenhum inimigo declarado em Itabaiana, não me coloco na posição de “homem superior”. Ainda bem!

Viver é cumprir sonhos e esperar notícias, conforme definição poética de Mia Couto, extraordinário escritor angolano. Um dia, conversando com meu compadre Josino Mendes, grande músico de Itabaiana, ele me sai com essa frase também genial: “Sua ausência faz questão de se fazer presente”. Volto com o espírito desarmado para um recomeço, sem paixões políticas ou de qualquer natureza, apenas com o mesmo sonho de sempre, de ver nossa cultura valorizada e divulgada.

A paixão é irmã da ansiedade e a saudade madrasta da alegria, já ensina o samba-canção. Estarei matando a saudade dos amigos, de quem me despedi em 1988 dizendo: “vou dar um rolé e já volto”. Demorei 21 anos, regresso com os cabelos todos brancos da meia-idade, confiante na verdade do poeta: “só se é jovem uma vez, mas isso pode durar a vida inteira”. É porque ainda não encarei a maturidade com mais maturidade.

Outra frase que encaixa na inspiração do meu regresso: “a liberdade do pássaro é que o faz voltar para o ninho." Portanto, anuncio que estou voltando, com humildade para ouvir críticas, porque elogios eu ouço em casa. Se bem que em Itabaiana estou em casa. Vamos trabalhar com jovens estudantes, professores, artistas e o público em geral. Começando com oficinas de cerâmica, música, dança e teatro. Depois vamos rodar um documentário, fazer cinema e o diabo a quatro.

Não diria que estou voltando com força total porque o velho motor já está rateando. Isso é uma das razões para o regresso, que no interior a gente tem qualidade de vida. Celso de Carvalho, poeta e compositor baiano:

“Quem mora no interior
Vai buscar o interior.
Quem mora na capital
Vai buscar o capital”.

Fui. Vi. Mas não venci. Isto é: andei por outros ares, trabalhei muito, mas não amealhei riqueza. As leis psicológicas do meu povo dizem que o cara que volta para sua terra sem melhorar de vida é um fracassado. Engano! Sou muito rico. Não consegui dinheiro fácil ou difícil, mas arrumei meia dúzia de razões para ter a consciência plenamente satisfeita. Sobre grana, cito um filósofo que não lembro o nome: “dois terços das pessoas que conseguem ganhar (muito) dinheiro são medíocres, e pelo menos metade delas se encontra moralmente em baixo nível.” Ponto para o velho Fabinho, que é pobre, mas é limpinho!

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