terça-feira, 24 de dezembro de 2019

DIÁRIO DO AMEBA




Divulgados os ganhadores do Prêmio Carniça 2019, os piores do ano. Pior político: Walber Virgolino, que disputou com a vereadora Eliza Virgínia e o deputado Julian Lemos. Ganhou pelo conjunto da obra.  
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Mensagem de Natal e Ano Novo de Madame Preciosa: “A chegada de um novo ano é um convite à renovação. Comece o ano de 2020 renovando seu crédito com o seu agiota. O ano novo é um mundo novo. Você procure novas pessoas para ser suas amigas, pessoas retardadas e idiotas como você, e não deixe de ser amigo de uma pessoa falsa, porque os falsos dão colorido à sua vida”.
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A grande descoberta científica de 2019 foi na China. Cientistas chineses desenvolveram um teste de gravidez que mostra até a foto do pai. Só que lá na China isso não deu muito resultado: são todos iguais.
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Meu querido diário: o espírito de porco do Natal empurrou nosso Presidente na banheira e ele fraturou o apêndice de cabeça. Que fique registrado meu protesto contra o espírito de Porco do Natal que não respeita seus pares.

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Que em 2020 seu coração vibre sobretudo na paz. A paz que vem de dentro vai promover a paz fora. Quando você vomitar depois de um porre da porra, você estará lançando a paz de dentro pra fora. Vai aliviar seu coração de bêbado. Em 2020, olhe para dentro da privada e transforme tudo o que é bolo fecal em sentimentos nobres”.
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Leitor denunciando que o poeta Maciel Caju de macho não tem nem a carteira de identidade. Homofobia bolsonarista em estado puro.
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A Diretoria da Rádio Zumbi, no uso de suas atribuições, resolve: exonerar o Presidente Bento Júnior por faltas injustificadas e por fazer uma gestão pior do que a de Bolsonaro.
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Meu amigo retardado Sonsinho ta aqui vendo umas receitas pra festa do reveillón, que ele ficou encarregado de cozinhar. Perguntando aqui qual o pano que usa pra fazer frango empanado. Tem alguém bom de culinária aí?
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Por falar em culinária, quem quiser conhecer o cuzido de Madame Preciosa leia o folheto “Baile de Madame Preciosa na Praia de Tambaba”, de Fábio Mozart.
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Final de ano é sempre tempo de rever tudo que aconteceu e pensar no que podemos melhorar. Você fez planos, alguns você conseguiu cumprir, outros não. Que tal pensar em apenas uma meta para 2020? Você poderá pensar que em 2020 vai dar uma morridinha básica e todos os seus problemas estarão solucionados.” (Madame Preciosa)
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Ano de 2020 vem equipado com botão REINICIAR, no caso de dar merda de novo.
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Bolsonaristas querem alterar retrospectiva 2019 para não passar vergonha em reprise.
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MENSAGEM DE SONSINHO: “Que o ano novo lhe traga um ano 2020”. Esse 2019 foi um ano suave como uma injeção de benzetacil na bunda.
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A polícia fez uma operação de busca e apreensão na casa de Fabrício Queiroz e ex-assessores de Flávio Bolsonaro. Depois de alguns minutos de papo, Queiroz acabou conseguindo vender uma Belina 1980 batida para um dos agentes por 100 mil reais. Segundo Bolsonaro, foi assim que Queiroz conseguiu juntar 7 milhões de reais: vendendo e trocando carro velho.
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Polícia descobriu que somos integrantes de uma ORCRIM. Organização Cujo Resumo Indica Merda. ORCRIM.
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Wilson Santiago é chefe de outra Orcrim. Pelo visto, todo político da Paraíba tem uma Orcrim particular. Ta feito as máfias antigamente, divididas em várias famílias

domingo, 8 de dezembro de 2019

POEMA DO DOMINGO



Quadrinhas infames

Os adágios, na verdade,
enganam a alma da gente
e depois da tempestade
o que vem é a enchente.

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O contador se supera
No seu exercício findo
Quando, cansado, espera
E vai se prostituindo.

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Restrito ponto de vista
Correndo na sua veia
Aquele cego odeia
O seu inútil oculista.

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Conforme o versículo dez
Do infame documento
Não mude o regulamento
Passando a mão pelos pés.

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Laranjeira pequenina
Carregadinha de flores
Caixa Dois de mil tumores
Dessas aves de rapina.

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Escrevi teu lindo nome
Na palma de minha mão
Para lembrar do tesão
Antes que a idade me embrome.

       
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De encarnado veste a rosa
Verde e amarelo o imbecil
Gado com febre aftosa
Vergonha do meu Brasil.

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Batatinha quando brota
Se esparrama pelo chão
Essa quadrinha idiota
Dedico ao meu “Eu” anão.

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A roseira desabrocha
Toma conta do jardim
O velhinho meio brocha
Introduz assim-assim...

F. Mozart 




domingo, 1 de dezembro de 2019

Berna Palhano, um perfil


Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico de literatura e professor da Universidade Federal da Paraíba. No Correio das Artes, edição de novembro de 2019, ele escreveu: “Em abril deste ano, uma amiga. Queridíssima. Uma irmã. Que João Pessoa amalgamou ao meu peito paraibano. Há vinte e oito anos amalgamou. De repente um câncer surgiu no músculo do braço direito. Câncer muscular? Câncer bobo, decretei. Errei. Cinco meses depois. Morta. Grande golpe da solidão. O olhar vívido. A risada franca e maravilhosamente estrepitosa. A irreverência dos modos tropicalistas. O feminismo despojado. A convivência fraterna com deus e o diabo na terra do sol e do frio. Na rua e na universidade. Desafiando a sisudez dos caretas. Tua alegria de viver e reinventar a alegria fica conosco Berna, Bernadete, Bernadete Palhano”.

Arremedando o estilo pessoal do Amador e suas frases curtas, peço desculpas ao mestre pela paródia. É que somos irmãos. Eu, Berna e Amador. O poeta, por se considerar afetivamente fraterno. Eu, por ter conhecido Berna quando ela começava a se envolver com a vida. Aos treze anos. Cidade: Itabaiana. Fomos vizinhos e comparsas. Desde cedo. A família Palhano: Berna, Romualdo, Roberto, Tânia, Ecilio, Palmira. Jogávamos brincadeiras de fingimento. Teatro amador. Meu primeiro texto. A primeira vez da família Palhano no palco. A mãe, dona Hilda, figurinista e costureira. O pai, Manoel, eletricista e animador de plateia. Berna era Bebé, e assim ficou. Para a nossa família teatral, é Bebé. Amador Ribeiro fala da convivência afetiva de Bebé com deus e o diabo. Na peça ela fazia um diabinho inocente de cordel. Os demais completavam o staff diabólico. Ecilio, o Diabo Chefe. Beto Palhano, o subsecretário do Diabo. Romualdo, terceiro-sargento da Polícia Militar Infernal. Tânia, oficial de gabinete do Canhoto. Eu, Lampião imaculado e simplório.

Bebé deixou o teatro diletante e foi cuidar da vida acadêmica. Palmira virou atriz consagrada. Romualdo converteu-se em pós-doutor teatral e escritor. Hoje, baixa o pano e Bebé desaparece por trás das coxias. Diz um companheiro: teus amigos não são os que hoje te cercam. No galope da vida, camaradas vão e vêm. Os das primeiras rotas e viagens permanecem. Mesmo que no subconsciente. Com sua carga comovedora. Às vezes, chocante. Impacta saber, de repente, que uma colega primordial dorme. Com suas asas quietas. Para sempre. Asas de elaborar vivências. A amiga comum chorou. Lamento de amizade encarnada, dessas que ficam.

O homem é um ser processional. Vivemos e morremos acompanhando nossos anjos. E demônios. Nossas sombras. Uma vela sempre pronta. Para vigiar e esconder nossas angústias de estar no mundo. Ruímos. Perdemos o rumo da procissão dos aflitos. Quando a noite desmesurável desaba sobre alguém nosso. Glória aos que creem. Os que dizem perceber a geografia do além e se ajoelham. Ao Senhor Ente Infinito. Aos infiéis, o medo bruto. O horror supremo do aniquilamento.

Aqui deixo minha saudação a Bebé, conforme enunciava Agostinho de Aguiar e Silva, meu compadre preto velho: “Vai na fé, irmã das almas!”. Citando o poeta Jorge de Lima. Para uma amiga morta: “Agora Lis descansa onde? Em que mansão descansas, Lis? Pensas que Lis morreu talvez. Lis não foi para nenhuma gente maldita ou plaga obscura, onde não haja poesia. Livre de sombras e de brumas, Lis ressurgiu sempre mais pura, como as estrelas alvadias. Lis foi enterrada viva, num recanto de céu entre as estrelas”.

EM TEMPO: No dia 27 de novembro, a Escola Sesquicentenário, localizada na Rua Minas Gerais, Bairro dos Estados, em João Pessoa, inaugurou a Biblioteca Bernadete Rodrigues Palhano em homenagem à professora falecida que ali prestou serviços durante décadas.

(Publicado no jornal A UNIÃO, edição de 01/12/2019, coluna "Toca do Leão", caderno Diversidade)