quinta-feira, 30 de abril de 2020

Palavras da salvação




“E se o meu povo, que se chamar pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra. Se, no entanto, meu povo der ouvidos aos comunistas que dizem que religião consiste em um mundo fantástico, criado pela mente humana que tenta dar a certos fenômenos naturais um ar sobrenatural, e que religião com ou sem Deus, não passa de uma mera ilusão, algo a que não se deve dar crédito, Deus mandará castigos. Deus vai abrir a cova, os inimigos vão ver, e agradeça porque bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga, está repreendido em nome do Senhor. Jeová guarda os estrangeiros, principalmente americanos, ampara o órfão e a viúva, mas transtorna o caminho dos ímpios”.

Jeová lançou as dez pragas do Egito para livrar seu povo dos faraós. A água do rio Nilo virou sangue e os peixes morreram. As rãs, no entanto, se salvaram e invadiram as casas. Mosquitos borrachudos atacaram as pessoas. Grandes moscas apoderaram-se dos ares. Pragas atacaram os animais, morrendo muito gado, ovelha e cabrito. Apareceram furúnculos nas pessoas, que é a febre do rato. Trovões e raios desceram dos céus. Enxames de gafanhotos devoraram tudo o que havia sobrado das saraivadas. Depois o céu escureceu por três dias e só os israelitas tinham luz porque usavam Raio Vácuo, as amarelinhas do Senhor. Por fim, Deus mandou que seu povo matasse cabritinhos e pintasse as portas das casas com o sangue desses bichinhos. Então o Anjo do Senhor passou pelo Egito e matou todos os que não tinham a marca de Deus, o sangue na porta. Foi a décima praga. Com isso, os faraós pediram arreglo e libertaram os israelitas. Ainda não havia a bomba com tecnologia para matar todo mundo, deixando os prédios de pé e livrando os israelitas, o que melhoraria muito o custo/benefício da operação.

Em "Levítico, a Bíblia diz que Deus castigará todos aqueles que não o obedecerem, e se continuarem a desobedecer fará com que comam a carne de seus próprios filhos, filhas, pais e amigos, no que seria um trailer do filme “O poço”. Deus, através de Moisés, manda apedrejar um homem até à morte simplesmente porque ele estava pegando lenha no sábado. Como se sabe, sábado é dia de levar lenha e não pegar lenha. Aliás, a galera da Bíblia é chegada a uma violência básica. Vide esse lindo verso de Salmo 137:9: "Feliz o homem que arrebentar os seus filhinhos de encontro às rochas”. A modalidade lançamento de catarrento à rocha fez muito sucesso nas quebradas bíblicas. Havia, no entanto, tutoriais de como praticar a brutalidade em estado bruto com método e técnica. A Bíblia ensina que "um escravo pode ser surrado até à morte sem punição para o seu dono, desde que o escravo não morra imediatamente".


Em "Deuteronômio 25:11-12", a Bíblia informa que uma mulher que se aproximar de uma briga de homens para tentar salvar seu marido e "agarrar nas partes vergonhosas" do inimigo, deverá ter sua mão cortada, sem piedade. Em ovo de homem não se mexe, principalmente da tribo de Moisés. Os carecas também estão resguardados pelas leis divinas. Em II Reis 2:23, enquanto subia para Batel, Eliseu ouviu crianças zombando de sua careca. Ele virou-se e as amaldiçoou em nome de Javé. "Então duas ursas saíram do bosque e despedaçaram quarenta e dois garotos”, pra nunca mais zombarem da calvície de um homem de Deus. E nem ursos faziam parte da fauna daquelas paradas.

Tempos difíceis em que a humanidade estava começando a escrever seus códigos de ética. O incesto era prática comum. Em Gênesis 19:34, depois que fugiram de Sodoma, as filhas de Ló disfarçaram-se de prostitutas, embebedaram o pai com vinho e tiveram relações sexuais com ele, a fim de "preservar sua raça". Depois, muito tempo depois, os homens mataram o único ser que sabia transformar água em vinho, o que foi o maior desatino da história da humanidade.

Palavras da salvação.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

TIJOLINHOS DA QUARENTENA



Você que é ateu, não acredita nas coisas invisíveis, por isso desobedece a ordem do isolamento e sai todo dia. O corona é invisível, mas existe. Tenha fé no corona. Se quer ver o bicho, veja a mamona. O corona é igual uma mamona, por isso aquele grupo de rock babaca se chamava Mamonas Assassinas.
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Exu Tranca-Rua deveria pegar um tal de Bolinha em Campina Grande e mostrar pra esse evangélico tremendamente escroto que é muita baixeza forçar empregados a se ajoelhar na rua pedindo abertura do comércio.
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Marcos Veloso criou uma rádio web, Rádio Cuiá, e disponibilizou para os poetas declamarem seus versos. Um momento especial para dizer poesia porque lá fora ta rolando a centelha do Diabo que odeia a trova. Grave três minutos de declamação e envie para o WhatsApp (83) 98800-8279.
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Nos anos oitenta a gente queria Diretas Já. Essa geração pede Direita Já. Como chegamos até aqui?
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Bolsonaro disse que o filho dele, um tal de 04, pegou metade do condomínio. Pior do que o corona vírus. Isso é um condomínio ou um puteiro? O folheteiro das quengas, meu fraterno Bento Júnior, escreve um folheto com o título: “O rapaz que comeu o condomínio e cagou rachadinha”.

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Seu Clóvis acha que Lula seria assim uma espécie de laxante. É só falar em Lula que a direita tem diarreia nervosa.
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Ricos estão instalando leitos de UTI em suas casas. Enquanto isso, Presidente Bolsonaro debocha da tragédia: “Morreu? E daí? Quer que eu faça o que? Sou Messias, mas não faço milagre”. Que tal renunciar? Já seria um grande avanço.

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Nos recessos dos lares, mulheres estão sendo maltratadas pelos maridos. Cultura do machismo robustece a violência doméstica nos isolamentos sociais. O marido covarde sabe que a mulher não tem como pedir socorro. Essa virilidade agressiva tem no Bolsonaro seu espelho.

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Por causa da pandemia do coronavírus, acho que vou antecipar meu aniversário. Vai que eu não escape!

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Em João Pessoa, querem que a Prefeitura abra o comércio. A Prefeitura exige o uso de máscaras. Agora, cobram do Município esse equipamento de proteção. Se você não tem três reais pra comprar uma máscara, vai fazer o que no comércio aberto, criatura? Fique em casa e arrume o que fazer.

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Todo mundo entrou com pedido de impeachment contra Bolsonaro. Já são 480 pedidos no Supremo Tribunal Funeral e no Congresso dos Roedores. Até o MBL, Movimento dos Bobos Lesos, entrou com pedido de impeachment. O caminhão do lixo da história já passou pra pegar Bolsonaro, mas ele ainda não foi devidamente acondicionado em saco para ser levado pro lixão da história. Levando-se em conta seu histórico de atleta, Bolsonaro deve correr ainda bastante antes de ser pego. E ele toma cloroquina todo dia antes de defecar sua primeira sujeira matinal.

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General Heleno disse que os comunistas são “seres alienados, sonsos, insensíveis e insensatos”. Esse general Heleno foi condenado por contratos irregulares de 22 milhões pelo TCU. Portanto, é um insensato. O general comandou um massacre contra haitianos num bairro pobre do pobre Haiti, disparou 22 mil balas, matando dezenas de civis no fogo cruzado, incluindo mulheres e crianças. É um ser insensível. Portanto, General Heleno, vossa senhoria é comunista e não sabe!

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Essa é boa: Coronavírus nasceu na China, cresceu na Itália, fez pós na Espanha, doutorado nos Estados Unidos e virou político no Brasil.

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O humorista Murilo Couto, que integra o elenco do programa The Noite, no SBT, fez comentários ofensivos ao forrozeiro pernambucano Assisão, “o Rei do Forró”, no último sábado (25). Couto afirmou no vídeo que o cantor parece um “cachorro, um drogado”. Couto não sabe, porque é ignorante sobre a cultura do país, que Asissão é um ícone de nossa música regional e merece respeito. Mas ele teve a humildade de pedir desculpas e admitir: “Fui muito ignorante”.

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A chama continua acesa, mesmo que a magia tenha acabado. O mágico se refaz pela causa de honrar uma história de apego imperecível.









domingo, 26 de abril de 2020

MULTIMISTURA com 100% de isolamento - 26/04/2020




Taxa de isolamento do MULTIMISTURA se mantém em torno de 100%. Ninguém nos escuta. Portanto, fiquem tranquilos que aqui não tem vírus. A única audiência que pode pintar aqui é audiência de custódia.



BLOCO 1

BLOCO 2

BLOCO 3

BLOCO 4


POEMA DO DOMINGO




Fênix azul da esperança

Uma ave fabulosa
Voou do mundo do sonho
Quando eu estava tristonho
Revoando majestosa
Nessa manhã tão chuvosa
Acalentando meu ser
Pois eu queria saber
Se ela ainda me amava
A ave disse que estava
Ressuscitando carinho
Eu que estava sozinho
Essa conversa saudava.

Essa Fênix foi ferida
Por bala da insensatez
Mas sua afeição refez
Como o milagre da vida
Porque a ave caída
Evoluiu em perdão
Tendo a consideração
De remir o agressor
Das cinzas ergueu o amor
Em divina evolução.


sábado, 25 de abril de 2020

PANDEMÔNIO



HellDang: Pandemônio. Arte de Samuel Sajo


Evite aglomeração, lave as mãos, fique em casa, use máscara, tome coca cola, tome as lições de casa, engula as almas tenebrosas, engula três vezes ao dia tenebroso, engula cloroquina na veia, engula as respostas, os insetos, os inseticidas e beba crush. aprenda tarot, aprenda violão, aprenda a tossir, aprenda a apertar a mão, aprenda a mentir, aprenda a se foder com selo do Inmetro, aprenda a emoção de ser um verme, não vaze a conversa, cheire a flor que se cheira na latrina, cheire a terra plana, cheire a rosa de Hiroshima e pense nas meninas cegas e inexatas.

No palácio do Planalto tem vírus e DST. Tem lepra e tem mutreta. Tem doenças bacterianas, genéticas, psicológicas, micoses, protozoários, tem verminoses e viroses, tem alergia e arteriosclerose, tem câncer de próstata e câncer de putos, diabetes e doenças autoimunes, tem esclerose múltipla e glaucoma. Algumas infecções urinárias e outras doutrinárias junto com sinusite e burcite e amigdalite e escrotização da elite. Detectado transtorno de déficit de atenção e de boas intenções.




quinta-feira, 23 de abril de 2020

Crônica da melancolia arcaica



A programação dos festejos dos cem anos de Sivuca foi desorganizada pela pandemia. Sua cidade natal, a centenária Itabayanna, vem sendo alvo dos refletores de poetas, historiadores, pesquisadores e jornalistas. A cidade, no entanto, perde seus referenciais. Nossa cena comum não tem mais a graça, erudição e elegância que teve nos anos dourados do começo do século vinte. Ou dos anos sessenta, quando cheguei de minha Timbaúba e sentei praça na terra de Vladimir Carvalho, Zé da Luz, Otto Cavalcanti, Abelardo Jurema e Ratinho, músico e cômico fenomenal.
Foi assim, nessa investigação sobre a nação de Sivuca, que o historiador caiçarense Jocelino Tomaz de Lima trouxe à luz fotos da velha Itabaiana publicadas nas revistas “Nova era”, de 1921 a 1925, e “Almanaque da Parahyba”, de 1934. “Como “Zé da Luz” nasceu em 1904 e viveu na cidade até 1939, essa é a Itabaiana que recepcionou sua poesia. Quanto a Sivuca, que é de 1930, era mais ou menos assim a Itabaiana na qual ele veio ao mundo”, conclui Jocelino. Essas imagens certamente farão brilhar os olhos de itabaianenses dedicados à preservação de sua história e despertar a curiosidade das novas gerações. O professor Flaviano Maximus, a historiógrafa Margaret Lígia Santiago Bandeira, o pesquisador Artur Anderson, a jornalista Clévia Paz, o ativista cultural Luciano Marinho certamente ficarão extasiados com o material. Esse pessoal sabe aliar fervor de patrício com rigor acadêmico, graças ao trabalho singular de engajados investigadores da cultura, como não existe mais. A geografia humana de Itabaiana e seu ímpeto humanista também podem ser personalizados na professora Renaly Oliveira, outra dedicada preservacionista do que temos de memória e narrativa itabaianense.

Aconteceu que eu não havia definido um tema para a crônica de hoje. Pensei em São Jorge Guerreiro, o Jorge da Capadócia e sua lança justiceira furando a bolha do fascismo tupiniquim, porque hoje é dia do santo matador de dragão. Soube que esse Jorge era protetor de exércitos. Outras fontes garantem que ele nunca existiu. Talvez porque o processo democrático brasileiro tem sido bombardeado pelos fardados há tanto tempo, desisti hoje de saudar esse mito esotérico. Daí pedi sugestão de assunto a uma amiga na doce solidão de sua casa de exílio sob o flagelo da peste. Saudade, essa emoção que se amontoa sob o travesseiro, a mesa posta, as palavras não ditas, a vivência interrompida. Saudade seria o mote. Em assim sendo, ao receber as fotos da minha cidade adotiva, confesso que saí navegando em um deslocamento sensitivo buscando um tempo em que não existimos. Reproduzo na consciência as velhas ruas e praças por onde andei muitos anos após feitas as fotos e as figuras humanas que viraram poesia nas imagens, reativando nossa nostalgia extemporânea. Cobertas pela bruma do tempo, as fotos de um mundo distante e circunjacente transitam nas profundezas do nosso inconsciente pessoal e até coletivo.

É essa saudade que rompe o açude da relembrança e verte suas águas imemoriais no nosso destino comum de conterrâneos, imagens cheias de luz e harmonia. Saudade do modelo de vida que levavam, daquela cidade jardim, a Atenas do agreste paraibano, delírio que, de certa forma, chega a dar um novo significado para nossa existência. Sinto pena de mim porque não vi as figueiras ao longo das avenidas, os caramanchões, as bandas filarmônicas, os clubes de jazz, os jornais e revistas, o carnaval imponente, o bonde, os saraus poéticos no coreto, as mocinhas alvoroçadas na estação do trem. Essas fotos em algum instante me apartaram das conexões tangíveis e me levaram no trem de outra dimensão para o país saudade, além do tempo e do espaço.
















terça-feira, 21 de abril de 2020

Cidade em coma



A cidade amanheceu em estado vigente de apatia. E chuvosa. Num passado recente, eu estaria pedalando na praça, distribuindo livros nos bancos e jardins. São seis horas da manhã de um abril fragmentado, dividido e demente. Nesse sentido, o bom senso fugiu do Palácio e nunca mais foi visto. Resta à minha cidade continuar no seu sono profundo, o corriqueiro estado de inconsciência, desequilíbrio que nos levou a esse adormecimento.

O córtex do povaréu, em coma, indica o que ele acha que pensa. Sistema de cognição não ativado, engole diariamente doses altíssimas de drogas ansiolíticas nas telas da TV, no rádio e no celular. Os transtornos cerebrais não tardam. Sistema nervoso embaçado, não percebe a realidade em volta. Não compreende e não responde ao mundo, esse novo e trágico mundo à sua volta. Sua massa cinzenta se confunde, não interpreta as informações e a cidade entra em coma. Forças ocultas monitoram e coordenam as ações. Não se trata de um fenômeno novo, naturalmente, mas a capacidade de pensar e agir por si próprio foi cedida, agora, a interesses e ideias muito mais perigosas. A perturbação mental da cidade nem permite sonhar. O único sonho possível é uma forma urgente de sobreviver e não pegar aquela gripezinha. Em nome do Pai, do Filho e do Consumo, tríduo suprassumo, o convite é para voltar às ruas em supérfluas ondas flutuantes de toxinas, em delirantes franquias.

Em coma, a cidade dá sinais de degenerescência. Desprezíveis atores de uma ópera burlesca e fascista rezando ajoelhados em frente a um quartel, cobertos com a bandeira nacional. Gabriel Garcia Marquez e seu realismo fantástico não pensaria em cena tão estranha fazendo parte da “normalidade”. Não mais existe tranquilidade e sanidade na cidade em coma.

Para registrar, faço essas observações dentro da minha reclusão voluntária de mais de vinte dias. Não sei se é verdade o que diz o rádio e as outras mídias. A impressão é que vivemos um pesadelo. A qualquer hora acordaremos e a bolha de sabão do pânico se desmancha.

A segunda etapa do processo de coma está em andamento. É o coma induzido provocado por uma espécie de crime organizado. Eles estão forçando evidências e fraudes. Eles corrompem o sistema nervoso da sociedade que permanece em coma. Eles faturam até de quem é saudável. Ontem, tomei um comprimido de vitamina C industrializado, tendo na geladeira um saco de limão.

Quando o coma se torna psicologicamente insuportável para a sociedade, dá-se o estouro da bolha. O que não significa que sairemos do estado comatoso profundo.



domingo, 19 de abril de 2020

POEMA DO DOMINGO




Sextilhas finórias de Antonio Xexéu na quarentena


Eu aqui na minha toca
Curtindo o isolamento
Pensando em fazer uma live
Com grande contentamento
Revalidando a vida
Nadando em ar pestilento

***

O Ministro Nelson Teich
foi o patife doutor
da facada de mentira
que Bolsonaro levou
avisem à vovozinha
que o lobo mau chegou.

***

Sai maneta entra vampiro
Essa troca eu arrenego
E o povo continua
Com o cu torando prego
Adianta trocar carroça
Se a porra do burro é cego?

***

Usando atribuições
Anticonstitucionais
O prefeito mandar abrir
As zonas comerciais
Para o desenvolvimento
Dos contágios infernais.

***

A moda é se fazer live
Todo mundo é expertise
É doutor cagando regra
É cantor das meretrizes
Cadê as donas mundanas
Pra fazer strip tease?

***

Saudade daquele tempo
Eu tomando coquetel
De cachaça com limão
A caipirinha com mel
Agora os tempos mudaram
Só se fala em álcool em gel

***

Só quem nunca deu um gole
Em uma cerveja choca
Ou bebeu cachaça podre
Misturada com uma coca
Não sabe o que é ter nojo
Do amor bexiga taboca.

***

Sonsinho é um bom sujeito
Mas com o quengo inconcluso
Usa todo artefato
Contra o vírus difuso
Menos a máscara que vem
Sem as instruções de uso

***

Na minha humilde morada
As coisas vão meio mal
Ta faltando mantimento
Sem farinha no bornal
Até formigas vorazes
Estão atacando o sal


***

Eu não sou um cientista
Apenas poeta anão
Mas me veio uma ideia
Para acabar com a questão:
Se o sabão mata o vírus,
Faz vacina de sabão!


***


Depois dessa minha ideia
Arrematada tolice
Ta provado plenamente
Conforme Ameba me disse:
O maior fator de risco
É mesmo nossa burrice.

***

O cachaceiro, coitado,
É o que ta mais lascado
A mulher não quer em casa
Na rua é autuado
E pra completar o drama
O bar também ta fechado.

***

Se tem problema de sarna
Sovaqueira de latrina
Bafo ruim, unha encravada
Chulé e raiva canina
Fique curado na hora
Com xarope Cloroquina.

***

O Presidente Bozó
Que foi por Deus enviado
Sendo grande curandeiro
Vem prescrevendo o achado
Cloroquina no doente
Se morrer, morreu curado!

***

O já famoso Queiroz
Até quase sem querer
Dá dica de isolamento
Mas não é dar, é vender
Pois o bicho sabe o truque
Como desaparecer.









sábado, 18 de abril de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA - Anotações do Ameba



·        Estou redigindo minha carta testamento. Vai que o corona vença a parada e me imponha uma parada geral! Amanhã publicarei o começo da carta. No comecinho mesmo abro com uma frase inédita: “saio da vida para entrar na história de trancoso”.  

·        Longe de mim querer ser melhor do que ninguém, todavia meu isolamento está transcorrendo na maior riqueza. Suco de caju, TV, livros, cinco gatos e um psicótico vizinho cantando ladainha o dia todo.

·        Já morreram 28 pessoas na Paraíba, vítimas do coronavírus. A tragédia não é mais um prognóstico. Este número oficial em progressão geométrica certamente chegará aos milhares. Tormento e desespero que pode durar anos. A sociedade como conhecemos começou a acabar.

·        Em decorrência da neurose dos coleguinhas que faziam comigo um programa de rádio web, deixamos de atualizar os conteúdos fecais desse entretenimento. Realmente, o retiro virulento está dando neurastenia até em manequim de loja.

·        Vi na TV o novo Ministro da Saúde, o da cara de Frankenstein depois da gripe asiática. É o alter ego do Bolsonaro para fins insalubres.

·        A vida humana reduzida a um dado estatístico. Forças produtivas, ciência e tecnologia, dando as cartas. Comércio e mundo financeiro sendo devorados pela pandemia junto com as estruturas políticas, sociais, culturais e estéticas. Que hora para sermos governados por um estúpido!

·        Ameba já ta puto convivendo com os parentes dentro de casa no isolamento: “Não sei o que é pior: queimadura de 3º grau ou parente de 1º grau.”

·        Que neste sábado, 18 de abril, Oxossi traga as plantas curativas que curem os males dos homens e encaminhe as plantas tóxicas e venenosas para certos elementos perniciosos que nos fazem o desfavor com suas presenças nocivas neste planeta.

·        O superpoder encarnado pelos abutres americanos, chineses e outros, está fedendo ao sol, devorado pelo coronavírus.

·        Por falar em empestar o ar, a polícia anda procurando um terrorista que anda com rapé no bolso pra espirrar onde chega. Sai todo mundo correndo.

·        Uma dúvida que me assalta: vegano toma vacina testada em ratos?

·        Sou favorável ao cancelamento do ano 2020 e começar logo 2021. Esse ano já deu o que tinha de dar.

·        O Papa Chico falou: “o único que pode nos salvar é aquele barbudo que lutou pelos pobres e que foi perseguido, condenado e preso. Estou falando de Jesus, não vamos partidarizar o Evangelho”.

·        Esse mundo é injusto. Bolsonaro trabalhou duro para destruir a saúde pública e o vírus é que leva a fama.

·        Ano passado era “ninguém solta a mão de ninguém. Este ano é “ninguém pega na mão de ninguém”. O medo é que em 2021 seja “ninguém vai e ninguém vem”.

·        Numa conferência conservadora, a Ministra Damares disse que foi Tupã, deus tupi guarani, quem elegeu o Presidente. O Deus dos cristãos respirou aliviado.

·        Não esqueça de fazer exercícios físicos durante o confinamento. Eu por exemplo, tou correndo dos problemas todo dia. E tenho até um personal trainer. Trata-se de uma barata. Quando ela aparece eu saio correndo.

·        Ameba, áspero: “E não adianta fazer reza, superstição, simpatia pra aguentar essa porra de isolamento. Se bater em madeira isolasse o azar, pica-pau não estava em extinção”.

·        Só existem três tipos de pessoas que defendem povo na rua durante a pandemia: o burro, o mau e o louco.

·        Enfim, tou no mato sem as cachorras e o mundo dá muitas revoltas e eu sou uma pessoa muito estrambótica e submediocrática” – Sonsinho.