sábado, 2 de outubro de 2010

EU SOU ESQUIZOFRÊNICA !


Tenho ao longo dos anos, desde que me aposentei por motivo de “Esquizofrenia” na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, há treze anos atrás, me empenhado constantemente em provar que minha “Incapacidade Laborativa” e “Juízo Crítico Prejudicado”, conforme o constante em Laudo Psiquiátrico emitido pelo respeitável Médico Psiquiatra DR. SALOMÃO RODRIGUES FILHO e confirmado pela Junta Médica Oficial do Estado de Goiás; que minha “Capacidade Cognitiva” não está afetada.

Esse meu empenho se justiça pela necessidade de sentir que ainda posso ser útil de alguma forma à sociedade; levando através de variados gêneros literários que elaboro sobre diversificados temas, o meu pensamento, a minha opinião, o meu modo de sentir e perceber a vida, sob a minha inspiração constantemente voltada para a valorização do que há de melhor no ser humano e principalmente o meu posicionamento em relação à capacidade de ultrapassar as próprias limitações no que se refere à “loucura”.
Desta forma e com esse intuito tenho me dedicado a elaborar mensagens de conforto e de enaltecimento não só de cada ser humano a quem dedico de forma particular as minhas inúmeras homenagens, bem como ao enaltecimento das Instituições Militares, Políticas e Sociais como um todo, sempre colocando o valor do “Ser Humano” em evidência.

Talvez por ter sido tantas vezes massacrada pela vida, aprendi a moldar a minha natureza dessa forma.

Embora eu sofra constantemente as limitações e as reações próprias dos sintomas de “Esquizofrenia”, tema sobre o qual poucos têm maior esclarecimento e por esse motivo eu seja rotulada pelo preconceito de muitos que se limitam a atirar na vala comum da indiferença e do descrédito, os “loucos” de forma geral; eu me arrisco a expor-me assim dessa forma, como um livro aberto, essa faceta da minha personalidade que poucos têm conhecimento para levantar uma bandeira em favor de muitos que carregam esse fardo raramente compreendido pela sociedade e freqüentemente relegados à própria sorte.
Eu poderia abrir as páginas do livro da minha vida e expor muito mais no que se refere a esse tema, mas não o farei porque ainda me resta o bom senso de saber que muito do que eu poderia revelar pareceria insólito aos olhos de quem lê, quando muito, mais me afundariam no descrédito, atitude muito comum aos que se dizem “normais”.

Eu me exponho com a segurança e o respaldo da crença em minha própria capacidade e no meu valor, enquanto ser humano. Mesmo porque não vejo a necessidade de provar nada a ninguém a não ser a mim mesma sobre quem sou, a não ser que eu assim o faça no intuito de mostrar a outra face do ser humano que é rotulado de forma pejorativa como “louco”.
A idéia, de modo geral que se tem sobre o “louco” é a de que ele não possui cérebro ou se o possui não percebe absolutamente nada ao seu redor ou o percebe de forma distorcida, embora, em parte corresponda à realidade, mas não se pode generalizar essa idéia.

A cada cabeça, uma sentença!

É em prol dessas vítimas do preconceito da sociedade que eu me reporto.

A forma preconceituosa com que a sociedade assim procede só tende a relegar à rejeição, descrédito e indiferença aqueles que por desventura carregam dentro de si um sofrimento, que muitos não percebem porque foge às raias da imaginação, enxergar aquilo que não se pode ver ou entender através dos olhos como é o caso da “Doença Mental”.

A dor e a deficiência física como está bem ao alcance dos olhos é fácil de compreender e muitas vezes causa simpatia, ternura e compaixão; sentimentos estes que têm o seu valor.

No entanto o sofrimento mental e espiritual só é perceptível àqueles que têm sensibilidade para enxergar o “ser humano”, além da aparência que se vê diante dos olhos.

Longe de ser alvo de desprezo, esse tipo de sofrimento deveria merecer, no mínimo o respeito pelos demais, pois tal sofrimento muitas vezes chega às raias do insuportável o que leva muitos a atentarem contra a própria vida, num gesto de tamanho desespero que só quem o vivencia, compreende que não se trata de um ato de “covardia” como muitos, por ignorância e desconhecimento de causa, facilmente se limitam a condenar e rotular; mas trata-se, sim de uma fuga desesperada e infeliz de um inferno onde a mente do ser enfermo, mergulha em sua profunda e dolorosa loucura. E muitas vezes, quando o ato não se consuma não se trata apenas de “chamar a atenção”, mas tentativa desesperada de “pedido de socorro!”.

Deixo esta mensagem como quem emite uma voz para o entendimento de quem está do outro lado do muro, onde são confinados os “loucos” de toda espécie; porque para quem está fora deste muro já é impossível entender o que se passa na mente saudável e venturosa de um “Ser Humano” e o que dirá, entender sobre o que se passa na mente confusa e complexa de outro “Ser Humano”!

Se ousar rir de um “louco” por suas atitudes insólitas; limite-se ao respeito!

Se for necessário impedir a atitude impensada de um “louco”; faça-o com respeito!

Se sentir necessidade de fazer alarde sobre o comportamento de um “louco”; limite-se ao silêncio por respeito!

E por mais loucas que sejam as tuas atitudes em relação aos rotulados pela “loucura”; digo que até mesmo o “Ser Humano” que age por “ignorância”, merece respeito!


SIRLEY VIEIRA ALVES

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