Entre a inocência da infância e a compostura da maturidade, há uma deliciosa criatura chamada menino. Embora se apresentem em tamanhos, pesos e cores sortidas, todos os meninos têm o mesmo credo: aproveitar cada segundo de cada minuto de todas as horas de todos os dias e protestar ruidosamente (o barulho é sua única arma) quando seu último minuto é decretado e os adultos os empacotam e os metem na cama.
Meninos são encontrados em todas as partes: em cima de, embaixo de, dentro de, subindo em, balançando-se no, correndo em volta de, pulando para. As mães os adoram, as meninas os odeiam, irmãos e irmãs mais velhos os suportam, adultos os ignoram, o céu os protege. Um menino é a verdade com rosto sujo, a beleza com um corte no dedo, a sabedoria com um chiclete no cabelo... Quando você está ocupado, um menino é uma conversa-fiada, intrometido e amolante. Quando você deseja que ele cause boa impressão, seu cérebro vira geléia ou ele se transforma em uma criatura empenhada em desmontar o mundo.
Um menino é híbrido: o apetite de um cavalo, a disposição de um engole-espadas, a energia de uma bomba atômica de bolso, a curiosidade de um gato, os pulmões de um ditador, a imaginação de Júlio Verne, o entusiasmo de um bombeiro e, quando se mete a fazer alguma coisa,é como se tivesse cinco polegares em cada mão. Gosta de sorvetes, canivetes, serrotes, pedaços de pau (em seu habitat natural), bichos grandes, papai, sábados, domingos e feriados, mangueiras de água. Não é partidário de catecismo, escolas, livros sem figuras, lições de música, colarinhos, barbeiros, meninas, agasalhos, adultos e "hora de dormir".
Ninguém mais é capaz de meter num único bolso um canivete enferrujado, uma maçã comida pela metade, um metro e meio de barbante, um saco de matéria plástica, três notas de dinheiro, um estilingue e um fragmento de "substância ignorada". Um menino é uma criatura mágica: você pode mantê-lo fora do seu escritório, mas não pode expulsá-lo de seu coração. Queira ou não, ele é seu captor, seu carcereiro, seu dono, seu patrão - um sarapintado, um nanico, um pacote de encrencas. Mas, quando à noite você chega em casa, com suas esperanças e seus sonhos reduzidos a pedaços, ele possui a magia de soldá-los num segundo pronunciando apenas: "Alô, mamãe!"... “Oi pai!”
João José Marell
Do blog
www.metamorfosesdaalma.blogspot.com
Homenagem ao meu caçula, Maximilien Robespierre, que nem é mais menino, mas por ser o último, fica sendo menino eterno. (Na foto, Max com cinco anos de idade). Tempo é uma coisa mesmo muito relativa. Sendo hoje, 25 de outubro, dia do meu aniversário, presto reverência à vida que segue carregando meu DNA.
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