sábado, 30 de outubro de 2010

Declaração de não-voto


Declaro-me impotente para participar da refrega eleitoral neste domingo. Se um dos candidatos necessitar do meu voto para decidir o pleito, vai se ver frustrado. Não posso votar. É uma situação de vanguarda, essa minha. Não posso exercer esse direito, que antes é uma obrigação. Direito/obrigação: discrepância que meu raciocínio limitado não consegue digerir. Se é um direito, estaria explícito nele a opção de não utilizá-lo?

Eu disse que é uma situação de vanguarda, porque considero essa a escolha da parcela mais consciente e combativa da sociedade. Nosso sistema eleitoral é definitivamente deturpado, desmoralizado e antidemocrático. Mais do que nunca precisamos pensar um sistema de democracia direta, para que o processo de tomada de decisões seja realmente legítimo e conforme as necessidades e desejos do povo.

Na verdade, meu título eleitoral foi cancelado por absoluto desinteresse do Leão em juntar seu mísero voto aos milhões de votos dos brasileiros, alimentando um sistema de poder iníquo e insensato. O não-voto é uma posição política que merece respeito.

Na Suíça, em questões essenciais, a última palavra é do povo. O sistema pode ser definido como democracia semi-direta. Aqui, pela primeira vez o povo elaborou e encaminhou um projeto de lei, o da ficha-limpa, que os tribunais e os próprios políticos já se encarregam de alterar e desfigurar, em benefício da continuidade dos vícios e safadezas costumeiros. Quero a mudança do sistema, começando pelo eleitoral. Meu não-voto diz isso.

O voto facultativo é um avanço que a classe política brasileira teima em não assumir. Ainda tendo como exemplo a Suíça, lá o referendo facultativo foi introduzido na Constituição Federal em 1874 e o direito de iniciativa em 1891. O povo como instância política suprema e não apenas como massa de manobra.

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