domingo, 13 de junho de 2010

CARTA DE UM SOBRINHO


Tio Fábio,

Tenho conversado com conhecidos sobre as peças "populares" em nosso Estado. Sua ideia procede, pois "tudo vale a pena se a alma não é pequena". Mesmo que o auditório seja pequeno, como dizem: o que vale é a intenção.

Algo precisa ser feito para a desaceleração do processo de desmoralização do teatro paraibano. Iniciativas como essa são pontuais e, absolutamente, simbólicas, obviamente. Entretanto, não vamos nos abater frente à campanha alienante dos comediantes deste teatro, que poderíamos chamar de "comédia de curtume", pelo cheiro forte que nos causa náuseas, pois segue uma abordagem exageradamente escrachada e apelativa, de uma encenação ambiguamente maldosa. São nesses momentos de crise que importa valorizar os críticos teatrais e a imprensa especializada. A História nos mostra que nessas horas nascem grupos de resistência. Amém.

Na verdade, o lado triste é que o grande público, ao contrário do pequeno grupo de seguidores dessas "comédias", está se afastando das casas teatrais e formando uma geração preconceituosa e desinformada. Os efeitos nos atuais e futuros públicos teatrais são desastrosos. O imenso corpo de artistas e pessoas envolvidas com o teatro de vanguarda está sendo humilhado pela generalização dos métodos.

Por fim, parabéns pelos 40 anos de trabalho e estudo. Não desejava falar nesses assuntos fedorentos. Espero que não fique somente na estreia a lotação do auditório do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. A ideia não é egocêntrica, e sim altruísta. Estarei presente na apresentação do GETI. Me avise, viu? Quero ajudar no que for necessário para que o teatro engajado e sério não suma dos nossos palcos.

Vida longa ao teatro da Paraíba.

Grato e orgulhoso,

Sósthenes Júnior

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