terça-feira, 8 de junho de 2010

Fora de série


Eu no lançamento do meu livro "Manoel Xudu, o príncipe dos poetas repentistas", na cidade de São José dos Ramos, berço do poeta (2006).

Estou lançando uma obra fora de comércio, cuja reduzida tiragem será destinada a subscritores. Mesmo assim terei mais leitores que Brás Cubas, a personagem de Machado de Assis que escreveu suas memórias para cinco leitores. Vou reunir apenas 60 pessoas na noite de autógrafo. Com uma variante: não haverá autógrafos nessa noite.

Explico: vou escrever as dedicatórias antecipadamente, com calma, tentando redigir pequenos manifestos de amizade, agradecimento e reconhecimento ao limitado número de leitores. Nessa noite, apenas vou apertar as mãos dos meus reduzidíssimos leitores e tomar um uísque legítimo, embora humilde, com quem perder um pouco do seu tempo para valorizar com sua presença o lançamento do livrinho “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo”.

Neste volume, reuni dois cordéis. Um sobre Biu Pacatuba, o homem das Ligas Camponesas, o outro é sobre a cidade de Mari.

Por que só sessenta pessoas? Primeiro porque esse é o número de amigos que subscreveram o livro. Segundo, porque no mini-auditório do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar só cabem exatas sessenta cadeiras, apertadas.

Alguns colegas que compraram antecipadamente o livro não assinarão sua presença, porque moram longe. Vai pelo correio seu exemplar.

Um livro com poesia de cordel já nasce estigmatizado. Isso desde os remotos tempos de Fernando Pessoa, o monstro sagrado da poesia em língua portuguesa. Explico: Pessoa resolveu participar de um concurso, o Prêmio Literário “Antero de Quental.” Ele tomou parte com o livro “Mensagem”, sobre nacionalismo português. Quem ganhou a parada foi um padre, Armando Reis Ventura. Gaspar Simões, crítico literário da época, disse que a obra vencedora era “para gentinha simples e sem cultura.” O livro do padre até hoje é discriminado por “se expressar em toadas populares semelhantes às composições repentistas da literatura oral.” Portanto, quem escreve conforme os padrões da poesia popular sempre foi considerado escritor de segunda categoria.

Meu livro não tem originalidade nem importância, mas é uma oportuna contribuição à memória das lutas populares, nesta quadra histórica em que falsos heróis são levados ao panteão da glória, enquanto os que doaram suas vidas pelo bem da humanidade são esquecidos.

Reunido sob a batuta de mestre Vital Alves, o grupo de violões do Ponto de Cultura vai tocar umas toadas. Talvez até meu compadre Adeildo Vieira apareça para ministrar uma aula-espetáculo.

Esse empreendimento sem fins lucrativos conta com o apoio da União Editora. Tem a vantagem de ser prefaciado pela professora Clotilde Tavares, que domina amplamente o assunto “literatura de cordel”. A tiragem da edição é de apenas 500 exemplares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário