domingo, 20 de junho de 2010

Contraponteando com o clima de bola murcha


Vocês estão vendo como anda o nível técnico da Copa do Mundo? O esporte que seduz multidões expõe sua agonia ao mundo. Não existem mais craques nem esquemas táticos renovadores. Partidas medíocres dignas dos poeirões suburbanos. Jogadores banais e sem originalidade fazem parte dessa entressafra. Futebol é uma arte, e como toda arte, tem seus momentos de altos e baixos. Os recursos e energias despendidos para renovar e manter o futebol na mídia como grande chamariz comercial não são suficientes para enriquecer o esporte no campo. Jogadores geniais não aparecem do dia para a noite. Safra boa requer tempo, e tempo certo.

Um jogador de habilidade genial é o Robinho. Outro, o Lionel Messi, talvez o maior de todos os que estão se exibindo na Copa. Tirando esses e mais uns dois ou três gatos pingados, o resto é palha, como se dizia no interior. Os times ruins se nivelam.

O pior time do mundo é o Brasil. É um fracasso total em campo. Passou 30 jogos sem vencer. Em 12 partidas disputadas pela terceira divisão, o time sofreu tantos gols que terminou com saldo negativo de 64 gols, o que só não foi pior do que sua participação no torneio Clausura onde o saldo foi de 99 gols negativos em apenas 12 jogos. A maior goleada sofrida foi de 18×0. Não se trata do time de Dunga, mas do Desportes Brasil do Chile. Para o presidente, a culpa é dos jogadores e do juiz que se venderam. O time de Dunga é um pouco melhor, convenhamos.

No meu tempo de torcedor do campeonato pernambucano, a chacota era considerar o Íbis o pior time do mundo. Era um time amador que disputava o campeonato de profissionais. A fama de pior time de mundo veio com uma brincadeira da torcida do Sport Clube Recife que acabou pegando. Só porque o “pássaro preto” amargou nove derrotas consecutivas e depois uma sequência de 23 jogos sem vitórias. Na Paraíba, temos o Perilima nas mesmas condições: amador disputando com profissionais. Os resultados são idênticos. Pelo menos o Íbis pernambucano tem um título a ostentar: foi vice-campeão estadual da segunda divisão em 1999.

Voltando à Copa da África, não sou especialista, mas tenho direito de opinar. Nosso meio de campo é sofrível, ainda mais com o Kaká bichado. Então como se explica a não convocação do jogador Paulo Henrique Ganso, uma das grandes revelações como meio-campista? No jogo contra a Costa do Marfim, Luiz Fabiano dominou a bola duas vezes com a mão dentro da área e fez o gol. O locutor Luciano do Vale foi logo gritando que aquele deve ter sido o gol mais bonito de todas as Copas. O futebol está em decadência, mas a patriotada dessa gente continua tão idiota e presunçosa como nos velhos tempos do “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Acho que não é o treinador que é burro. Ele é apenas uma peça na engrenagem do jogo mercantilista do futebol profissional. A grande máquina consumista tem lá seus objetivos e dita as regras. O pensador italiano Domenico de Masi disse em entrevista ao Jornal do Brasil que o futebol brasileiro está se americanizando. Como, se nem futebol os Estados Unidos têm que preste? Ele explica: “É a padronização de tudo, para comercializar. Não só no futebol, mas em todas as formas de vida”. Ele acha que nosso futebol está se submetendo à lógica de mercado. Para ele, atualmente, a atividade esportiva dá mais valor à potência física, à esquematização tática e à preparação ''in farmacia'' dos atletas. Ao contrário do que acontecia em outros tempos, quando o espetáculo e a fantasia artística eram considerados mais importantes. Talvez isso explique uma Copa do Mundo tão sem graça.

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