Capa do LP produzido pela gravadora Marcos Pereira. |
Essa guerra de Alagamar inspirou o escritor W.J.Solha a escrever uma espécie de ópera camponesa, contando a tensão política e as perseguições da ditadura militar contra os trabalhadores rurais sem terra de Itabaiana e Salgado de Sã Félix. Em parceria com o maestro Alberto Kaplan, a obra foi construída. Para interpretar a obra dramática musicada, foram convocados corajosos atores e atrizes, cantores e músicos, entre eles o nosso Buda Lira e o conceituado ator e jornalista João Costa.
Montada a ópera, onde apresentar? Nenhum teatro daria pauta para um espetáculo de tão forte conteúdo político, numa época de censura prévia. Dom José Maria Pires deu a ideia: a “Cantata pra Alagamar” seria apresentada nas igrejas. E assim foi feito. No dia 17 de junho de 1979, a “Cantata pra Alagamar” fez sua primeira apresentação na Capela da Igreja de São Francisco, diante de uma platéia de mais de 400 pessoas entre elas D. Helder Câmara (Arcebispo de Olinda e Recife) D. Ivo Lorscheider (Bispo de Santa Maria), D. Marcelo Carvalheira (Bispo Auxiliar da Paraíba) e D. Fragoso (Bispo de Cratéus). D. Helder garantiu a imediata tradução do texto para o inglês e francês, possibilitando seu acompanhamento por 90 representantes de 20 países, que estavam na Paraíba, num simpósio intitulado “Luta Contra as Dominações”. A Cantata teve repercussão imediata, apesar da censura dos militares.
Os artistas foram levados ao Recife para gravar a obra no Conservatório Pernambucano de Música, modesto, apenas com 4 canais. Gravado o LP pela Marcos Pereira, a Polícia Federal imediatamente proibiu sua execução no rádio ou qualquer meio público de comunicação. O trabalho teve grande repercussão, inclusive diversos corais do sul do país (a exemplo do “Madrigal Veredas” e o “Luther King” de São Paulo) solicitaram permissão para executa-lo.
“Mas bonito mesmo foi ver a Cantata apresentada em Itabaiana, onde as coisas que ela conta tinham acontecido!”, diz o escritor W.J.Solha. A Polícia da ditadura cercou a bonita Igreja Matriz da Conceição, mas mesmo assim os atores e cantores apresentaram a obra no altar. O povo de Itabaiana aplaudiu de pé. A reverência à força do povo, aliada à mensagem de amor e de esperança, em síntese, justifica “por que a Cantata Pra Alagamar merece ser ouvida por todas as pessoas de boa vontade, que amam a verdade e o belo e sonham com um mundo mais respirável, mas justo e mais humano”, como escreveu D. Helder Câmara em texto da contracapa do disco.”
Quando visitou o Brasil, o Papa João Paulo II, que “começou o retrocesso estúpido da Igreja para a Idade Média”, como diz W.J.Solha, deu as costas ao bravo povo de Itabaiana do Norte. Foi assim: Dom Helder Câmara, Arcebispo de Recife, conseguiu levar a “Cantata pra Alagamar” para ser apresentada no Morumbi, durante a visita do Papa. Informado por sua assessoria de que a Igreja do Nordeste do Brasil apresentaria um espetáculo favorável aos camponeses e de louvação à não violência na luta por conquistas sociais, o Papa deliberadamente evitou que o país assistisse à apresentação, chegando atrasado ao estádio.
Pois então, no próximo sábado (amanhã), às 14 horas, na Rádio Tabajara da Paraíba AM, irradiaremos a “Cantata pra Alagamar” na íntegra. São 41 minutos de belas canções e textos fortes contando a luta do povo contra o latifúndio que “há quinhentos anos gargalha da palavra “punição”. Será durante o nosso programa “Alô comunidade”, a primeira edição de 2012. Assim, algo de inédito se evidencia: será a primeira vez que a Cantata tocará, na íntegra, em uma emissora de rádio na Paraíba.
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