Geraldinho desapareceu!

Meu amigo Geraldo Moraes nunca mais deu as caras em Itabaiana pra fazer sua campanha de vereador. Quem reclama é um eleitor dele, outro jovem que parece confiar no valor humano do pré-candidato.

Geraldo Moraes é ator de teatro. Todo ano ele encena a paixão de Cristo, fazendo o papel principal. Sempre morre no fim. Na política interiorana da velha Itabaiana, criminosos legais e prósperos já se organizam para concorrer à eleição de vereador ou dar sustentação aos seus candidatos a prefeito, de olho gordo nas mutretas prefeiturais. Tem até um rapaz candidato, meu chará, escolhido para carregar nas costas o peso imenso da desastrada e imoral gestão de dona Eurídice. Pode se eleger, entretanto. Para as elites, nada é impossível.

O meu amigo Geraldo, esse tem chance quase zero de se eleger vereador. Sem dinheiro, sem prestígio, sem parentes importantes e agora sem presença física, só Jesus salva.

Geraldinho, faça como Luiza: volte! Quando nada, para legitimar essa farsa que chamam de eleição. Minha mente anarquista, anarquistamente teima em votar nulo. Mas meu instinto igualitário pede para apoiar os bons, mesmo equivocados.

Guerra é guerra, quem quiser que se cuide, diz o malandro político, botando seu bloco na rua. Suas façanhas rotineiras: comprar votos de pobres diabos ignorantes, fazer acordos desonestos com outros bandidos, posar de bons moços, pessoas caridosas. Geraldinho e outros candidatos éticos e conscienciosos não praticam essa guerra podre. São esses que sempre morrem no fim. Como Jesus na Paixão.

EM TEMPO: "Chará" é uma variante de "xará", aceita pela Academia Brasileira de Letras.