Joacir Avelino é escritor, bacharel em Direito e delegado da Polícia Federal em Alagoas |
O compadre Fábio nos brinda com seu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”, composto de uma coletânea de crônicas publicadas no seu blog “Toca do Leão” e em outros veículos de comunicação.
A obra nos traz um cheiro de saudades, é um verdadeiro “flashback”, ou seja, a volta a um passado não muito distante para aqueles que como o autor viveu os verdes anos na terra de tantos Severinos e Marias, anônimos ou não, retratados com maestria por Fábio Mozart.
Na década de setenta em uma cidade do interior, num país dominado por uma ditadura militar, onde se era proibido até pensar, surge Fábio Mozart com suas idéias de vanguarda para a época. Seja no teatro amador, com o GETI – Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana ou com o Jornal Alvorada, procurava tirar da inércia aquela geração, incapaz de gerir seu próprio destino, por razões óbvias.
Em um determinado momento, de forma gradual, passamos a enxergar além do politicamente correto, e em minha opinião, bem retrata aquele pensamento de Oswald de Andrade sobre a Semana de Arte Moderna, aqui parafraseado : “nós não sabíamos o que queríamos, mas sabíamos o que não queríamos”. Não foi por acaso que no final dos anos setenta engrossamos a fileira daqueles que clamavam por uma anistia ampla, geral e irrestrita, como de fato veio a se concretizar. Mais adiante conseguimos fundar o Partido dos Trabalhadores em Itabaiana, o que possibilitou a disputa eleitoral da recém criada legenda em todo Estado da Paraíba nas eleições de mil novecentos e oitenta e dois.
Naquela época éramos tachados de “comunistas”, “ateus” ou “malucos”, porque fugíamos dos padrões determinados pelos donos do poder vigente. Não é por acaso que quando da encenação da peça “O Batalhão das Sombras” (original de Fábio Mozart) em que eu, mesmo sendo um canastrão, recitei “Congresso Internacional do Medo”, de Carlos Drummond de Andrade no palco do Colégio Estadual Dr. Santiago, e para curiosidade e surpresa de alguns professores daquela escola me diziam: “vocês estão indo longe demais... desse jeito o Exército vai baixar aqui...”. Não era diferente quando do lançamento de cada edição do Jornal Alvorada, o qual mesmo bissexto, mas sempre que circulava incomodava muita gente.
No início da década de oitenta a maioria dos protagonistas dessa obra teve que migrar para a cidade grande, como sói acontecer com pessoas de cidades interioranas. Itabaiana não foge à regra. Esperançosos de uma vida melhor e mais digna, os jovens procuram em outras plagas aquilo que não foi possível nutrir na sua terra natal.
Assistimos a uma Itabaiana que segundo o IBGE encolhe a cada década, sem que os políticos reajam de forma a mudar esse quadro, o que somente será possível com uma postura sócio-econômica voltada para a produção, por meio de incentivos para os empreendedores que realmente queiram investir e produzir, amenizando o êxodo hoje vivenciado.
Enquanto isso, temos pessoas como Fábio Mozart que com sua escrita brilhante não enfeita, mas diz aquilo que muita gente gostaria de dizer, mas não consegue exprimir. Parabéns mais uma vez a esse escritor que desde a tenra idade, como um amador, não vive da literatura, mas para a literatura.
Joacir Avelino, de Maceió.
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