O garoto que puxa sua maria-fumaça de brinquedo e pára, estupefato, ante outro, pobre, que arrasta um vagão cargueiro de verdade. A pintura surrealista de Pavel Kuczynski não esconde sua preocupação social. Mas, refletindo sobre as contradições da natureza humana, vemos, no quadro, o menino do trenzinho que inveja o brinquedo real do outro. Por sua vez, o garoto “locomotiva” gostaria de brincar com um trem “maneiro".
Passei pelo palhaço de rua e me deu desgosto por não estar no seu lugar, fazendo graça com seu boneco, dizendo bobagens ao léu, sem se importar se alguém ouviu, apenas pelo prazer de ser um idiota feliz. Quem sabe se o palhaço, aborrecido e enfastiado com seu papel, não me viu como objeto de sua inveja, eu no meu carrão popular 1999?
Muita gente quer encontrar um caminho para sua vida conforme a realidade dos outros. Conflitos que nos causam mal-estar, às vezes desajustamento, pensamentos doentios. Olhe para a vida do filho do magnata, que tem tudo e não precisa de nada. Emocional e racionalmente, o cara não tem preparo para essa maratona que é a vida. Ele não enfrenta parada alguma porque não está preparado. “A vida é para quem topa qualquer parada e não pra quem pára em qualquer topada”, raciocinou o grande Bob Marley.
Na minha curta filosofia de botequim, acho que o que dá sentido à vida é a linguagem e o trabalho. Através da comunicação e do trampo, a humanidade conhece, modifica e dá sentido ao mundo, significando o seu universo particular, seu ambiente próprio onde vive. “Não existe periferia, o centro é onde você está”, na lógica de outro pensador do qual esqueci o nome.
Fechando, vai a resposta do Dalai Lama a quem lhe indagou: “O que mais te surpreende na humanidade?” Respondeu: "Os Homens... porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."
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