quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DIA DO POETA


Dei um pulo da rede velha às três e quarenta da madruga, liguei o computador e fui informado de que hoje, 20 de outubro, é o dia do poeta. Em 1854, nesta data, nascia Arthur Rimbaud, poeta francês que foi traficante de armas e um contraventor nato. Paulo Leminski, outro poeta “diferente”, garantia que "se vivesse hoje, Rimbaud seria músico de rock".

Pensei: quem é o poeta “diferente” da Paraíba? Tem o Zé Limeira, analfabeto que esbanjou poesia pornográfica e sem sentido, o repentista mais mitológico do Brasil, considerado o maior poeta surrealista do mundo, estudado hoje em faculdades francesas. Debochando dos intelectuais, cantava:

Ninguém faça pontaria
Onde o chumbo não alcança
Eu vou comprá quatro livro
Prá estudá leiturança
Bem que meu pai me dizia:
Jesus , José e Maria,
São João das Orelha mansa.

Na Escócia, imortalizaram o cara que é considerado o pior poeta do mundo. Um poeta escocês, tão ruim que as pessoas lhe pediam para recitar seus poemas apenas para vê-lo ser escarnecido pela platéia, terá seus versos gravados em pedra na cidade onde trabalhou. William Topaz McGonagall, que morreu em 1902, ganhou reconhecimento póstumo na cidade escocesa de Dundee, que pretende marcar o centenário de sua morte gravando parte de um de seus poemas numa calçada à beira do rio Tay.  "A poesia dele é tão ruim que se torna memorável", disse Nial Scott, diretor da City of Discovery Campaign, organização responsável pelo preito. "Dundee reconheceu a necessidade de homenagear McGonagall por ter sido totalmente dedicado à arte da poesia horrível."

E quem é o falso poeta paraibano, o cara que compõe os versos mais sem noção, pobres e pueris? Como colecionador de poesia ruim, tenho um monte de nomes aqui na minha gaveta. Um dia publico um livro com o título: “Os piores poemas paraibanos”. Meu autor trash favorito escreveu um livro chamado “Flatulências poéticas”. Não menciono o nome do autor porque este blog está muito sensível à censura e aos processos judiciais por difamação.

Um cara por nome Luiz Berto, de Limoeiro, está escrevendo o livro “100 Obras-Primas da Poesia Ruim”. Ele não conhece certamente, mas deveria sorver a obra do “poeta” paraibano. O escritor inglês Oscar Wilde disse que “toda poesia ruim brota de sentimentos genuínos”. Portanto, perdoemos nosso “poeta”. Eis algumas de suas composições:

             O amor

Nós que amamos
Temos que respeitá-lo,
Por que é a fonte que temos
Para fazermos brotá-lo.

Canário

O canário é cantador
Nas árvores do Sertão,
Empolga todo trabalhador
Que cultivam aquela plantação.

             A mulher

             A mulher é o animal escondedor
             Dos anos que podem levá-la a velhice,
             É sigilosa igual a um vampiro enganador
             Assegurando o homem através da tolice.

             Sonhei contigo

             Sonhei contigo mulher amada
             A noite sem contentar
             Porque tua ausência amarga
             Eu não posso suportar.



Mas o maior poeta da Paraíba chama-se Augusto dos Anjos. Sobre esse artista de Sapé já escrevi uma peça de teatro chamada “O banquete final”, que um dia pretendo montar. Abaixo, um trabalho de cordel que escrevi a respeito de Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos:

HOMENAGEM A AUGUSTO DOS ANJOS
 
(Fábio Mozart)

Ele já foi decantado
Por todos os trovadores
E bons improvisadores
Do verso escrito e cantado.
Desde os vates do passado,
A arte desse poeta
Aponta como uma seta
O objetivo da vida:
O belo é a grande meta.
Mesmo falando da morte,
Esse poeta do “Eu”
Que aqui em Sapé nasceu
Tinha a natureza forte
Pois a beleza era o norte
De sua obra imortal,
Criação original
Da mente do mestre Augusto
Por isso eu digo sem susto:
Excede o bem e o mal.
O seu cantar era aberto
À criação mais poética
Porém sem respeitar ética,
Sem ser errado nem certo.
Um linguajar bem liberto
Dominada a criação
Desse gênio brasileiro
Morrendo em solo mineiro
Longe do amado torrão.
Todas as comunidades
De doutor e acadêmico
Estudaram o verso anêmico,
Fora das realidades,
Constatando essas verdades
Como coisa de doente,
Mostrando para o vivente
Que somos apenas pó
E no mundo estamos só
Com a solidão da gente.
Augusto é o inventário
Da dor e da solidão
Transformou-se num filão
Para poeta lendário,
E até um certo otário
Sem caráter e sem talento
Com a cabeça de vento
Se diz sucessor de Augusto.
Eu ouço e até levo um susto
Diante de tal intento.
Um poeta verdadeiro
Augusto dos Anjos é.
Eu comparo com Pelé:
É o único e derradeiro.
Lembrado no mundo inteiro
Já faz parte da História
Para nós é uma glória
No aspecto cultural
O poeta genial
Vive na nossa memória.
Todo encolhido nas asas
Do corvo agourando a morte,
Diz o poeta que a sorte
É nuvem em cima das casas,
É lama nas covas rasas
Lá no Engenho Pau D´Arco
Onde se deu bem o marco
Do nascimento do artista
Que colocou bem à vista
Da alma humana o charco.
84 era o ano
E o século dezenove.
Lentamente já se move
Esse poeta troiano
De cuja obra eu me ufano
Sem medo da podridão
Arrastando o coração
Do homem com seu escarro
Pois somos feitos de barro
E o destino é o caixão.
No dia 20 de abril
Comemoro o nascimento
Desse homem de talento
Que aqui em Sapé surgiu
Pois o mundo nunca viu
Tanta arte e irreverência
Com a clara consciência
Da nua realidade:
A tragédia e a maldade
De nossa humana vivência.
No mais tudo é teoria,
Só lendo os versos do “EU”
Pra sentir como sofreu
Augusto em sua agonia
Descrevendo a anarquia
Que é a natureza humana
Com a crença soberana
De uma obra singular.
Augusto foi e será
O maior dessa porfia.

(Poema publicado no blog: www.faclubedapoesia.blogspot.com)


"A poesia é mais fina e mais filosófica do que a história; porque a poesia expressa o universo, e a história somente o detalhe." (Aristóteles)

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