Esse rapaz calvo, com o microfone na mão, é o meu compadre Luiz Papa de Mari, meu vizinho quando morei naquela cidade durante doze anos. Ao seu lado, o prefeito Antonio Gomes Juruna e sua esposa.
Luiz Papa conheço desde menino. Ganhou o apelido quando desfilou na parada estudantil com trajes do Papa, ele que sempre foi um papa-hóstia na Igreja Católica. Desde garoto gosta de microfone. Fazia os anúncios da paróquia na difusora da Igreja Matriz. Depois passou a trabalhar como locutor de carro de som. Com esforço, comprou seu carrinho velho, equipou e foi ganhar a vida falando no aparelho.
Quando eu fui diretor da Rádio Comunitária Araçá, botei o Papinha para fazer um programa de variedades. Todo mundo tem uma janela por onde escapa dessa realidade tão ruim. A do papa é o microfone. Ele se realiza na comunicação.
A vida não facilitou nada para meu compadre Papa. Aquele soco na boca do estômago que a gente toma de vez em quando na vida, sabe do que falo? Pois, o meu compadre Papa nunca teve uma existência de amenidades. Mas é um resiliente. Acredita nos seus sonhos e segue em frente.
Lembro do Papa na frente de minha casa pedindo pra ajudar a empurrar seu Opala caindo aos pedaços. Depois, comprou uma caminhonete. Botou um som decente. A vida de ninguém é feita com amenidades. Vidas aparentemente comuns apresentam coisas extraordinárias. O Papa é um sobrevivente, um resiliente.
Papa lembra de nossas viagens para Entroncamento, aventuras em carros velhos quebrados no meio dos canaviais. Um dia voltamos de Sapé sem luz no carro, à noite. Papa sentado no capô com uma lanterninha na mão, patético. Eu pensando em parar e tocar fogo no velho Chevette. Longa e penosa viagem. É assim a vida: quanto mais perto, maior a distância.
Um abraço pra ti, compadre Papa!
Viva o Papa! Viva Fábio Mozart! Viva os amigos!
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