Roteiro de carnaval
Domingo
Meu vizinho é adepto de um tal de caraoquê, invenção japonesa para acabar com a paciência de fregueses de bares sem futuro. João Pessoa sendo o túmulo do carnaval, o vizinho como é muito animado tenta dar o tom momesco, botando a família pra cantar o dia todo. Imaginem o fuzuê desafinado e decibelicamente incômodo.
Ao chegar a tarde, ligo a TV para ver os campeonatos de futebol da Europa.
Segunda
O vizinho cansou do caraoquê, botou a família no carro e se mandou para a praia, abusar e ser abusado pela estupidez sonora desses dias. Sem saco pra tentar fazer alguma coisa decente, passo o dia lendo Carlos Heitor Cony e à tarde vendo futebol na TV, de novo...
Terça
Dia de trabalho. Fazer relatório para o BNB contando como foi a produção do livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”, redigir jornal Tribuna do Vale, diagramar livro para reedição, do mestre Arnaud Costa, redigir conteúdo para os blogs da rádio Zumbi e Ponto de Cultura. De tardezinha, futebol europeu.
Quarta
Podem tirar o carnaval do calendário que já não me faz falta. O mundo perdeu um folião. Em compensação, quarta-feira de cinzas sem ressaca, sem dinheiro, mas com crédito, sem arrependimentos, sem cheiros estranhos, sem guerra conjugal.
Eu faço as coisas no tranco, sem planejamento. Passo dias sem produzir nada e em outros consigo dar grandes passos, ainda que inúteis. Quatro dias de uma folga esquisita, com o mundo todo parado ao teu redor, girando em torno de si mesmo, embriagado... Carnaval pra mim virou um hiato sem sentido.
Os dias inúteis passam e os vazios aumentam. Aí a gente sonha na possibilidade mágica dos dias passarem rápido, vê se acaba a falta de vontade. Domingo e feriado para aposentado já é ruim de encarar, imagina quatro dias...
Sim, à tarde não perco o jogo do Barcelona pela Copa dos Campeões da Europa. Foi o que se salvou no carnaval.
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