quinta-feira, 10 de março de 2011

Carnaval em Itabaiana visto por Adeildo Vieira


Oi, Fábio!


Olha, eu acho até que você fez bom uso do tempo neste carnaval. É que quando a gente toma consciência da importância dos signos culturais nos eventos, acaba ficando exigente demais, até chato por vezes. É assim que estou me tornando. Não consigo suportar a idéia de que um bloco como as Muriçocas do Miramar, depois de 25 anos de fundação e consequente consagração no cenário pré-carnavalesco do mundo, não conseguiu firmar uma identidade clara. Este ano tinha Forró da Xeta e similares dentro do cortejo momesco. O objetivo do bloco é fazer as pessoas pularem ao som de qualquer coisa. Identidade pra mim é algo essencial nas coisas, sobretudo as coisas culturais.

Aí eu inventei de ir à minha Itabaiana ver o bloco do Nó Cego, que não via há 33 anos. Uma maravilha de repertório executado por competentes músicos (acho que do grupo Mistura Fina) num suntuoso trio elétrico ornamentado com imagens do Galo da Madrugada, aliás, nem sei o porquê. Mas fiquei decepcionado com a instalação do cordão de isolamento, que separava os foliões que se dispuseram a pagar mais de cem reais pelo macacão do bloco. O Nó Cego está privatizado e pela quantidade de adeptos do abadá, acho que uns mil, a grana entra bem folgada.

No mais, vi, de passagem, duas pequenas tribos indígenas desfilando ermas pelas ruas, além de um projeto de escola de samba.

Ah, mas o que mais me assombrou mesmo foi o número de paredões de som tocando essas músicas terríveis que atentam contra a nossa inteligência e também contra a moral. É muita putaria em cada música, desrespeitando a figura da mulher, além de estimular o alcoolismo. Agora imagina mais de trinta paredões de tamanhos e potências diferentes (acho que nenhum com menos de mil watts) tocando juntos, cada um uma música diferente. Um verdadeiro caos.

Tudo isso me mostra que a tendência do meu comportamento nos próximos anos talvez seja o isolamento. Ler um bom livro, assistir a um bom filme ou a um bom show devam ser as minhas opções. Fosse eu mais aficcionado por futebol, certamente me juntaria à confraria dos torcedores de qualquer time, de Itabaiana à Europa.

Há braços amigos!!!

ADEILDO VIEIRA

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