Na foto, o Vila Nova de 1964: Em pé: Láu, Boga, Ararium, Toinho,Valdo e Tuba. Agachados: Guedes, João de Paizinho, Naná, Adilton e Lima. Mascote: Zé Aurélio.
O acaso, e não o tempo, é o grande senhor de todas as coisas. O acaso e a vida reservaram um transe amargo na história do esporte em Itabaiana. Nesta terça-feira de carnaval, lembro aqui a saga de um dos maiores futebolistas do lugar que serviu de berço a craques iguais a Zé Pequeno e Lima (Treze de Campina Grande), Naná (seleção paraibana) Lula (Botafogo da Paraíba), Capelense (Braga de Portugal), Totô (Náutico do Recife), Tita (seleção paraibana) e tantos outros famosos por suas destrezas no jogo da bola que se tornaram profissionais. Entre eles, o Geraldinho, garoto formado no velho Vila Nova de Itabaiana, desde cedo um atleta carismático, com um chute fortíssimo na perna esquerda. Naquela época, a Aeronáutica apadrinhava meninos bons de bola, convocados para servir no Recife e treinar na FAB – o time de futebol da Força Aérea Brasileira. Foi assim que Geraldinho saiu de Itabaiana no trem da Great Western rumo à capital pernambucana, com o sonho de ser aviador e jogador de futebol.
Chegando ao Recife, o garoto embarcou para Fernando de Noronha, que era a sede do time da Força Aérea Brasileira. De lá voltou como aspirante do Asas Esporte Clube para disputar o campeonato pernambucano de futebol profissional. Logo ficou conhecido como o canhão dos Aflitos, por causa do seu potente chute de canhota. Costumava quebrar os dedos dos goleiros que se atreviam a segurar seus arremates, numa época em que o jogador desta posição era chamado de “guarda-valas” e ainda não usava luvas protetoras. Geraldinho virou Guedes, um atleta respeitado e famoso. O Fluminense do Rio de Janeiro contratou o jovem ponta-esquerda. Lá se foi Guedes brilhar no Maracanã, templo maior do futebol nacional. O brilho da estrela chegou ao estrangeiro. Para reeditar suas performances em campos uruguaios, o Peñarol levou o nosso “canhão”. Era o ápice da glória.
Os fluxos e refluxos da vida levaram Guedes de volta ao Rio de Janeiro. Quis o destino que uma velha lição fosse mais uma vez ensinada: não há glória e talento que não perca a partida para o vício, seja em drogas ou álcool. Foi numa terça-feira de carnaval. Guedes e todos os foliões da época brincavam carnaval com o lança-perfume, uma combinação de éter, clorofórmio, cloreto de etila e uma essência perfumada. Era o “barato” do carnaval. Aspirando lança-perfumes, Guedes deitou-se sobre o travesseiro embebido da droga e morreu de overdose.
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