Orlando Araujo
Chiquinha foi uma figura popular marcante nas décadas de 1960/70 em Itabaiana. Os jovens que viveram a época devem recordar . Durante as peripécias dela, muitos ainda estudavam e ou trabalhavam na cidade, outros já residiam fora por força das circunstancias educacional e profissional, mas sempre retornavam à terrinha para rever amigos, namoradas e participarem das inesquecíveis festas que a cidade promovia.
A vida seguiu em frente dentro de um mundo que virou de ponta a cabeça, muitos casaram, outros casaram separaram e casaram de novo, outros optaram em não casar e continuar na condição de solteiro, mas nada disso vem ao caso, o importante é que cada um esteja feliz e sempre nostálgico em relação aos seus anos dourados em Itabaiana.
Fiz a citação acima sobre estado civil, porque a historia da Chiquinha tem muito a ver com casamento, pois a vontade dela de casar era tanta que terminou de cuca pirada, mas não teve jeito , a coitada morreu solteira.
Chiquinha, foi um personagem real que viveu em Itabaiana assim como foi Maria da Garrafa, Nino da Continência, Galo Assado que entregava pão e tantos outros., cada um no seu estilo e na sua interpretação peculiar , mas que marcaram registro na historia popular da cidade.
Eu conheci a Chiquinha na minha infância, ela residia na Rua de São Sebastião, rua essa que dava continuidade a Rua da Boca da Mata após a travessia da linha do trem. Chiquinha, era um moça solteira , na faixa de 40 a 50 anos de idade, virgem convicta e sacramentada e, muito religiosa. Era uma figura baixinha, não tinha mais de 1,50 metro de altura, muito vaidosa dentro de sua simplicidade feminina, andava sempre bem penteada, maquiada e perfumada, no estilo da época. Morava sozinha numa casinha pequena, mas muito bem arrumada e limpa e, sobrevivia do trabalho de lavar e engomar roupas.
Lembro-me de Chiquinha ainda com comportamento normal, muito extrovertida e falava pelos cotovelos. A rua da Boca da Mata era caminho obrigatório de suas idas e vindas ao centro da cidade e, como eu morava nessa rua, assistia sua passagem varias vezes ao dia.Por ser uma católica ferrenha todos os dias que tinha missa ela passava rápida como um disparo de bala para Igreja, na ida nem cumprimentava as pessoas, mas em compensação no retorno parava de casa em casa para prosear, ficando horas afim tagarelando.
Até então a Chiquinha se comportava com normalidade, contava sorrindo que já tinha realizado todas as simpatias de São João para arrumar um pretendente, porque seu sonho era casar, mas nunca havia arrumado um namorado sequer, não sabia se por azar ou porque não fazia as simpatias corretas. Outro fato curioso, é que repetia com freqüência que nunca havia deixado de assistir uma cerimônia de casamento na Igreja, porque para ela, ver uma moça vestida de noiva, era como ver Nossa Senhora e sempre se emocionava e chorava.
Com o passar do tempo, Chiquinha começou mudar seu comportamento, não sei bem como tudo começou, se o personagem nasceu dos seus próprios neurônios ou se alguém o injetou, mas estava começando surgir uma noiva de amor platônico na cidade. Seu primeiro amor platônico foi o Arnaldo Almeida , o saudoso Naná que era noivo da Teresinha Barbosa moradora da Boca da Mata e ele, sempre se fazia presente naquela rua com sua alegria e extroversão com todos, e a Chiquinha fazia parte desse todo. De repente não sei por qual “ berros d´água” a Chiquinha cisma que o Naná é seu noivo e que ele é louco e apaixonado por ela, e passa a agredir Teresinha com palavras.
Daí em diante, a galera da época tomou conta, não faltou que não criasse encrenca da Teresinha para a Chiquinha e ela, a Chiquinha , virava uma fera e dizia de tudo a nível baixo com a noiva do Naná, e a galera cada vez mais aumentava para se divertir e Chiquinha aumentava sua ira. A Teresinha sempre levou o caso numa boa, mas tinha medo de ser agredida.
Passado esse episodio o caso Chiquinha tomou conta da cidade, sempre aparecia alguém arrumando um novo noivo para ela e toda cena se repetia. Muitas vezes a vi cercada por pessoas e transtornada pela ira, a ponto de partir para agressão física em cima da namorada do seu irreal noivo.
Presenciei vários desses episódios, Valdeci noiva do Luzinaldo Lucena e Zaíra namorada do Pedro do Funrural eram duas que a Chiquinha brigava todos os dias. Ambas trabalhavam no comercio, a Valdeci na loja paulista e Zaíra em outra loja que não me recordo, lojas essas que Chiquinha não deixava de visitar. O pior de tudo era que muitos dos noivos apontados alimentavam a doidice , e ai a Chiquinha ficava se sentindo dona do pedaço.
Quando rememoramos o passado, lemos romances literários ou assistimos obras de época, sempre nos deparamos com personagens semelhante a esse da Chiquinha, principalmente quando se trata de uma solteira balzaquiana, estagio na vida que muito perturbava a cabeça das mulheres e a levava a gozação publica, prato cheio para personagem de sucesso dentro das obras.
No mundo atual e através do conhecimento da psiquiatria / psicologia , podemos mensurar o tamanho das maldades que eram praticadas com relação as essas pessoas emocionalmente perturbadas, era na verdade uma baita violência psíquica, mas também há de se convir que a visão do povo era outra, pequena e restrita, e as autoridades em nada se pronunciavam a respeito, então tudo era levado na brincadeira e gozação.
Vale a pena recordar.
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