No livro “Pedras na lua e pelejas no Planalto – Vladimir Carvalho”, que Vladimir Carvalho gentilmente me enviou, o autor Carlos Alberto Mattos afirma que a certa altura do livro, Vladimir conta que se sentiu muito à vontade numa praia de Luanda, comendo caranguejos, só porque uma linha reta através do oceano o separava de sua Paraíba, da praia de Cabedelo. “Vladimir é assim: aonde vai carrega o Nordeste dentro de si. Vivendo em outras terras desde 1960, nunca, porém, perdeu o sotaque, seja na língua, seja na alma. Procurar sinais do Nordeste onde quer que esteja é a sua maneira de penetrar no miolo de cada destino”.
Eu diria que Vladimir pratica o eterno retorno à sua terra natal e quando aprofunda essa volta às origens, fatalmente cai na sua Itabaiana. Meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes” sugeriu ao conterrâneo saudoso o cheiro e o gosto do sapoti e da mangaba da feira de Itabaiana. Um dos mais importantes realizadores do cinema documental do Brasil e o mais célebre artista vivo aqui nascido, Vladimir Carvalho é um sujeito simples e franco. Não tive a honra de conhecê-lo pessoalmente quando aqui esteve no ano passado, mas os que compartilharam de sua companhia testemunham sobre sua simpatia e gentileza.
Meu pai Arnaud Costa conheceu Luiz Martins de Carvalho, pai de Vladimir Carvalho, proprietário da loja de móveis Lyon, no centro da cidade, onde vendia peças de mobília que ele mesmo fabricava, ótimo marceneiro que foi. Seu trabalho com a madeira está eternizado nas portas bem trabalhadas da matriz de Nossa Senhora da Conceição. O pai de Vladimir também foi músico e compositor, componente da Banda de Música 1º de Maio.
Arnaud Costa vai reeditar seu livro “Memórias esparsas de um rábula”. Na capa, aparece o autor na tribuna da Sala do Júri em Itabaiana, defendendo um réu que matou a esposa com sete facadas. Meu pai era o advogado dos réus pobres numa época em que não havia a figura do defensor público. O púlpito, bem trabalhado em madeira de lei, é obra de Luiz Martins de Carvalho, o mestre Lula.
O livro “Pedras na lua e pelejas no Planalto – Vladimir Carvalho”, que estou lendo com muito gosto, traz o depoimento de Vladimir sobre sua infância em Itabaiana. Minha vontade é de transcrever aqui todos os capítulos do livro, para deleite e orgulho dos itabaianenses. Fica a indicação da obra, editada pela Imprensa Oficial, Coleção APLAUSOS – Cinema Brasil. (2008).
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