segunda-feira, 15 de agosto de 2011

No tempo em que eu tinha pai

No tempo em que eu tinha pai, agia como se ele fosse eterno e quantas vezes negligenciei na atenção, em algo banal como um olhar nos olhos e perceber aquela tristeza do peso da idade, do abandono velado, do desencanto, da solidão.Quantas vezes fui indiferente aos apelos silenciosos para uma conversa, um simples carinho, um afago nos ralos cabelos que eu ajudara a branquear. Hoje eu daria tudo para poder fazer isso. Mas só posso suplicar para vê-lo nos meus sonhos. Pode parecer pouco, mas fico feliz quando ocorre.

Agora, sufoco minha dor e meu pranto. Então, está decretado que nenhum filho sem pai deve ficar triste no segundo domingo de agosto. Fica decretada formalmente a exclusão do nome desses ex-filhos, da convenção que estabelece a referida data para comemorar o dia dos pais. Estão canceladas as assembléias. Rasguem-se os livros de atas. Fechem as portas e janelas. Apaguem as luzes e saiam em silêncio...


Inês Mota
(Especial para a Toca do Leão)

Nenhum comentário:

Postar um comentário