...do passeio de mãos dadas, equilibrando-nos na linha do trem, naquela ponte de sonhos e marimbondos chamada Guarita. Faz quarenta anos... Eu com o coração disparado, você corada e com os olhos baixos. Eu desejando que aquela linha do trem não tivesse fim.
...do cheiro da feira, de umbu, mangaba, jenipapo, os sons, badalos de cabras, fedor dos porcos, polpa perfumada e carnuda de sua fruta deliciosa e tenra, vulva juvenil por baixo das estampas muito vivas de sua saia rodada.
...dos domingos na fazendola, dos caminhos empoeirados com xique-xique, quipá, coroa-de-frade e mandacaru, das vaquinhas mansas e do touro valentão, do lanche na casinha da vó, munguzá, curau, beiju molhado... e beijos molhados. Tinha a cocada mole que chamavam “bem casada”, até hoje não sei porque.
...do jeitão alegre de sua mãe, da fartura na mesa, de Zefa da Guia que servia de “leva-e-trás”, do meu tio abespinhado, do pé de umbuzeiro.
...da quase miragem: você tomando banho no riacho, recortada por uma especial luz dourada de fim de tarde.
...do homem generoso que nos viu namorando e não disse nada ao seu pai.
...do “para sempre” de nossos pactos adolescentes.
...do meu vício mais escondido que acabei confessando, só de idealizar suas formas lúbricas.
Não sei porque, lembrei de você hoje, Laís. Onde andará minha prima Laís? Avistei pela última vez aos dezesseis anos, dançando lapinha, movimentando-se no palco com a delicadeza de um anjo de verdade, a mais comovente pastora que conheci. Depois se encantou. Um colírio para os meus olhos, imagem que tenho muito barato em lembrar. Não sei se você se lembra...
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