quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Forró de plástico reveste em PVC a cabeça da rapaziada, enquanto o dono da voz enche os bolsos

"Mulher é igual a lata, um chuta e outro cata”, cacareja o cantor da banda, acompanhado por dois mil jovens, moças e rapazes. A Prefeitura realizou a sonhada noite de festa com a banda mais tocada na “rádio comunitária” local e todos ficaram satisfeitos: o empresário da banda, os músicos, o vendedor de cerveja, o atravessador do contrato, o prefeito que levou sua parte e os jovens da cidade que puderam se embriagar a noite inteira ao som dessa e de outras modas tão ou mais cretinas.

O repórter do jornalzinho local ouve a mocinha sobre o que considera uma agressão à figura da mulher no repertório da banda. "As mulheres interpretam de uma forma assim, como uma brincadeira, sabe? Zoar uma da outra. É sempre uma brincadeira de dançar e de coreografar”, diz a jovem, confessando que seu sonho é ser bailarina de uma banda de forró. “Desvaloriza a mulher e nos expõe a constrangimentos”, afirma outra moça.

Enquanto rola a violência e o desrespeito na festa, um casal de adolescentes faz amor no beco escuro, sem camisinha e ao som de uma banda chamada “Leva nós”, que canta: “Foge, foge, mulher-maravilha. Foge, foge com o superman”, eleita a melhor música do Carnaval de Salvador deste ano.  Para o empresário da banda, esse tipo de música já está arraigado no comportamento dos jovens. “Queira ou não queira, é a cultura do Nordeste”.

O antropólogo de botequim garante que desde o tempo do Brasil colônia que a música, os ritmos populares, sempre foram muito erotizados. “Alguém já assistiu a uma apresentação de pastoril profano, com o bedegueba cantando cançonetas de duplo sentido e fazendo piadas com assuntos obscenos e licenciosos? Hoje não tem mais pastoril profano, então o funk reproduz isso no Rio de Janeiro e as bandas de forró estilizado no Nordeste”. O cara esqueceu de informar que as funções do pastoril profano eram realizadas em ruas do baixo meretrício para uma platéia de homens. Hoje, o cabaré instalou-se na rua central sob os auspícios do prefeitinho safadão. No pastoril profano não entrava dinheiro público nem a filha adolescente do cidadão era quase forçada a participar da farra grotesca. Estou sendo moralista demais? Muito partidário do saudosismo? A contenda continua. 

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