terça-feira, 7 de agosto de 2012

Solidariedade


Ainda existem pessoas solidárias. Foi assim: levei uma queda na rua, cortei a mão e torci o tornozelo. Um motorista de táxi comprou garrafinha de água e me deu para lavar o sangramento e tomar uns goles, passar o nervosismo. Depois, uma senhora de ar humilde me pegou pelo braço e me levou para o hospital.

No caminho, outro motorista ficou impressionado com o sangue que jorrava da minha mão, parou o carro e me deu uma toalhinha para fazer torniquete. No hospital, fiquei na emergência esperando o doutor. Ali não encontrei muita solidariedade. Os enfermeiros duros, insensíveis. O ambiente com alta voltagem de desumanidade e destrato com pessoas pobres.

A mulherzinha tirou meu relógio, lavou meu braço na pia imunda da sala de emergência e disse que iria esperar. “Precisa não, a senhora já me fez uma grande caridade, eu me viro”. Esperou ainda uns 30 minutos. Disse que vinha do Valentina, estava procurando um setor para arrumar remédio de graça para o marido doente. Foi embora, mas ligou para meu celular cujo número pegou na recepção.

--- É da casa do seu Fábio?

E eu:

-- É, sim.

--- Olhe, tou ligando do hospital São Vicente, ele teve um acidente e tá aqui na emergência.

--- Tá bem, obrigado.

Voltou para me certificar de que meus familiares estavam a caminho. Achei comovente tanta bondade. Nem perguntei o nome da senhora. O celular era da recepcionista.  

Depois de muito tempo, eu já com vontade de me mandar daquela porcaria de hospital, chega o doutor. Era o Mestre Maçom Guilherme Sarinho, amigo do meu pai, também da maçonaria lá em Sapé. Mandou tomar antitetânica e antibiótico. Eu quase o mandava tomar no arengueiro.

Gostaria de reencontrar aquela mulher que se importou com o sofrimento de um estranho na rua, demonstrando empatia verdadeira, de maneira amorosa e misericordiosa. Ela, uma desvalida, vista com inferioridade por muitos, como proscrito e renegado ao segundo plano é todo pobre nesse mundo injusto.

Existem essas pessoas que cruzam nosso caminho, ficam só um tempinho de nada e já seguem para outras paragens, mas marcam definitivamente. Pois se um dia eu conseguisse fazer uma lista justa das pessoas que valeram a pena conhecer, a mulherzinha do Valentina iria para as cabeças. Pessoa maravilhosa. Quis a vida que nos encontrasse em um momento tumultuado. Seria o tal anjo da guarda de que falava minha professora de catecismo, há séculos passados? Pelo sim ou pelo não, vai uma flor vermelha para essa senhora do subúrbio, que me reconheceu como semelhante e me deu a mão na hora da dor.  

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