Ramos, diretor da Rádio Araçá |
Em tempos
de egoísmo exacerbado, pouca solidariedade e procura por vantagens pessoais a
todo custo, eis que surge a união entre rádios comunitárias autênticas para
gerar outra emissora do povo. Em tempos de capitalismo ultra-selvagem e de
desencantamento do mundo, duas entidades abrem mão de bens materiais em favor
de outra que se forma. Falamos da Rádio Comunitária Araçá, de Mari, e Rádio
Comunitária Zumbi dos Palmares, de João Pessoa, que demonstram o verdadeiro
espírito da comunicação comunitária ao celebrar convênio para auxiliar a Rádio
Comunitária Mituaçu, zona rural da capital paraibana.
A Rádio
Araçá doou um transmissor e a Rádio Zumbi doou antena, cabos coaxiais, gerador
de estéreo, microfones e outros equipamentos. O simbolismo dessa cooperação
representa muito para os que ainda pensam em um movimento de rádios
comunitárias e livres como uma forma de libertação no cotidiano sofrido dos
trabalhadores. Os interesses de classe unem três associações de comunicação
popular para conter a dominação/alienação da mídia convencional, levando o
direito à comunicação para companheiras e companheiros quilombolas.
A
participação das rádios nessa operação de auxílio à nova emissora que surge é
uma prática salutar e uma atitude histórica. Aponta para a necessidade da união
dos companheiros em torno de objetivos comuns. Nossa burguesia deplorável tem
suas entidades de classe, sabe administrar sua hegemonia com profissionalismo.
Está aí a Aber e outras organizações de rádios comerciais com seu poder de fogo
contra as pequenas associações de rádio comunitária. Eles, os da classe
dominante, não deixam nem as migalhas caírem da mesa para atender aos pobres,
carentes desse direito constitucional. Enquanto isso, as rádios comunitárias,
outorgadas ou não, vivem em um isolamento total, cada um por si. Os interesses
econômicos da classe burguesa colocam explorados contra explorados e sua
ideologia entorpece mentes e corações proletários. Sair desse ciclo significa
tomar parte na luta do companheiro.
É isso que
leva as rádios Araçá e Zumbi a ajudar a rádio Mituaçu. Afinal de contas, é
histórico o desinteresse das rádios comunitárias paraibanas em apoiar o
movimento. Exemplo claro é o programa “Alô comunidade”, que trata de nossas
lutas comuns. Apesar de estar disponibilizado para todas as emissoras
comunitárias, apenas oito delas reproduzem as edições semanais do programa,
mesmo sabendo-se da carência de conteúdo na maioria das rádios. Preferem
irradiar programas evangélicos caça-níqueis ou modismos alienantes do que
divulgar as notícias do movimento de rádios comunitárias. Mesmo sofrendo
preconceito e perseguição das rádios comerciais e seus representantes, a
maioria das rádios comunitárias implanta modelos que em nada diferem de uma
emissora de mercado, na ânsia de ser assimilados pela gente pobre acostumada a
consumir o lixo radiofônico tradicional.
Fábio
Mozart
(Publicado
no blog Mari Fuxico)
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