Esse bode palhaço era coadjuvante do famoso “Atanásio”
no “Gran Circo Roliúde”
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Às vezes eu conto histórias de Biu Penca
Preta e o povo pensa que é mentira. Esse itabaianense da cabeça de navio teve
uma infância irresponsável e uma adolescência imaginativa, para descambar numa
vida adulta irremediavelmente insólita e pilhérica.
A história do circo passou-se diante dos
olhos de figuras tais como meu compadre padeiro Marcos Veloso, que nunca me
deixou mentir, nem na presença do escrivão de polícia. Foi nos idos dos anos
setenta. Depois de percorrer os interiores mais acanhados, um circo mambembe
veio a fixar suas pobres lonas no pátio da Casa da Mãe Pobre no bairro Cochila.
Penca Preta e outros curumins andavam rua acima e rua abaixo atrás do palhaço,
para serem marcados com uma tinta azul nos bracinhos magros e entrarem de graça
no circo, à noite.
Era uma terça-feira. Botaram o presepeiro
menino para tomar conta de um bode. O dito bode adestrado vinha a ser a estrela
maior do circo, mais afamado do que o próprio palhaço “Furico” e a rumbeira que
bailava ao som do pífano de Risadinha, acompanhado por Biu da Rabeca. E lá
ficou Biu Penca Preta, orgulhoso de sua função de tomador de conta do astro
maior do circo, o bode “Atanásio”, sujeito grandão, de raça nobre e orelhas
enormes.
Como sempre foi um elemento propenso à
ociosidade, Biu adaptou-se perfeitamente à missão, que era de ficar olhando o
bode “Atanásio” pastar no oitão da casa de Nô Almeida. Vez em quando juntava
uma reca de meninos curiosos, querendo passar a mão no lombo do bicho, pegar
nos seus chifres. Era aí que Penca Preta exercia sua autoridade, enxotando os
pirralhos, muito esnobe na sua função de guardião do grande artista circense.
Como era terça-feira, conforme anunciei
antes, a civilização matuta estava toda na rua grande, participando da grande
feira livre. Acontece que um matuto de Linda Flor achou de visitar o circo e
viu o nosso Penca Preta tomando conta do bode. Como esse matuto exercia a
profissão de marchante justamente de carne de bode, interessou-se pelo nutrido
caprino.
--- Bode bonito, né menino? De quem é esse
bode?
--- É meu.
--- E você vende o bode?
--- Olhe, seu zé, eu tava pensando até em
vender, mas o povo daqui só quer comprar no peso. E o talento do bicho, onde
fica?
O cortador de carne avaliou o bode, passou a
mão por baixo, alisou o lombo.
--- Dou dez contos no bode.
--- Ôxe, dez contos é só o par de chifres! Me
dê vinte!
--- Nem eu nem você: dou quinze contos no
bicho.
--- Ta feito!
O matuto pagou e saiu puxando “Atanásio”. O
garoto tratou de se mandar para a rua da Palha e se esconder na casa de Marcos
Veloso.
O pobre do matuto foi preso por tentar roubar
um artista de circo e premeditar vender até a buchada. Na delegacia, tentava se
explicar:
--- Comprei de um rapazinho da cabeça grande.
Para evitar complicações de ordem legal,
nosso Penca passou toda temporada do circo escondido no quintal de Marcos
Veloso, ocupado como ajudante na fábrica de picolé do atual padeiro.
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