MUSICLUBE DA PARAÍBA
Escola de fazer escolas
Adeildo Vieira
Tínhamos vinte e poucos anos de idade e uma inquietude milenar nos corações e mentes. A inquietude jovem de querer mudar o mundo ou pelo menos pô-lo nos trilhos da dignidade. No caso, a dignidade de poder se expressar com altivez e de ser alvo de respeito ao empunhar nosso instrumento. Nascia ali, no início dos anos oitenta, o MUSICLUBE DA PARAÍBA para apontar caminhos e aprender a desarmar as armadilhas postas à caminhada, mas também saber observar as paisagens e fazer delas música pra enfeitar a sina estradeira da humanidade. O capitão-de-nau Pedro Osmar chamava os músicos para assumir o leme, dentre eles Milton Dornellas, Paulo Ró, Escurinho, Totonho, Chico Cesar, Junior Targino, Roberto Araújo, Pádua Belmont e outros tantos companheiros cuja lista ocuparia todo o espaço desta coluna. E eu estava lá, enchendo as malas de pensamento pra seguir viagem.
Não era uma escola de música, era muito mais. A convivência com cancioneiros e experimentadores geniais eram nossas aulas, a amizade e o companheirismo eram nosso curso de licenciatura pra repassar os ensinamentos que a vida solidária nos ensinara. Foi importante saber das energias que põem ou arrancam um artista do palco, de entender das engenharias de poder que manipulam os movimentos das almas que clamam por expressão, de viver os palcos sabendo das platéias e dos bastidores. Mas, sobretudo, foi necessário construir ou fortalecer o compromisso com a vida, tendo como esteio o respeito aos desejos humanos de se expressar com dignidade.
Passados trinta anos, continuamos jovens na inquietude. Mentes estrebuchantes que cresceram junto com a barriga, mas que não se abateram ante ao duro exercício de viver. Nossas reuniões já não precisam de espaços físicos, somos reunidos em idéias que se manifestam artística e politicamente aqui e alhures, onde existir um lampejo de inspiração guerreira. Circunstâncias históricas fizeram alguns dos nossos companheiros assumirem o leme de poderes institucionais e assim porem em prática nossos ensinamentos, tendo agora o poder de mediar sonhos com a crueza da vida política e administrativa que rege nossos dias de cidadão. Agora são idéias que saem do poder do pensamento para os birôs onde está estampado o mapa dos desejos de toda uma cidade, de todo um estado.
As idéias gregárias do MUSICLUBE DA PARAÍBA está embrenhada em ações de inclusão cultural. Bairros que abrigam oficinas de almas criativas, praças que viraram palcos, palcos que viraram praças para encontros de cidadãos sedentos de palco, artistas que encontraram um foco de luz disponível ao seu deleite estético. Também erros. Erros que se abrem pra fóruns permanentes de discussão na busca de acertos. Esta é a lição de rua de quem aprendeu na rua. Ou mesmo a lição de casa, considerando que as casas não têm porta. O que vale mesmo são terreiros e quintais.
Os “meninos do Musiclube” cresceram. Cresceram, porque aprenderam sua condição perene de aprendizes. E na vida, tanto mais se aprende quanto mais se arrisca a erros e acertos, sem perder o foco da luz vinda daquele farol. O farol da dignidade, cuja luz iridescente se lança pra guiar as idéias que acreditamos.
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