domingo, 11 de setembro de 2011

POEMA DO DOMINGO



PÁTRIA ARMADA

Fábio Mozart

Vem da sarjeta, vem do gueto infecto,
Do cais do porto, das noites animais,
A horda insana que se joga em repto,
Infantes podres em tons espectrais
Formando assim um virulento aspecto
De uma vanguarda vã, passionais.
E ao “civismo” os cães declaram guerra
Já que ultrajados e párias da terra.

Sem ter raiz, a tropa suicida
Se veste de excremento e cheira cola,
Parteja a morte, come e bebe a vida
Que o capital lançou, granada-esmola
Do grande arsenal que é uma ferida
Olhando do buraco da sacola
Vazia, de aversão e fel inchada,
Assim caminha a minha pátria armada.

Essa epopéia vil, degenerada,
Dedico aos deuses e reis do império
Que alimentam a minha pátria armada
Com confiança e paz de cemitério.
Só vós, a cujos reinos a manada
Doa com fé a sua mente estéril,
Preparas, como perito soldado,
A bomba de efeito retardado.

A justiça de Deus tarda e não falha,
Diz o dogma cristão ocidental,
Por isso, enquanto aguarda sua mortalha
O infante vai traçando todo o mal
De que é capaz sua garra, e estraçalha
A divina formação piramidal
Das elites, celestiais pilares,
Comprometendo as forças regulares.
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