MORREU EM PONTO MORTO
Fábio Mozart
Morreu bonito.
Vinha descendo a Avenida Nossa Senhora Aparecida,
padroeira da República Federativa do Brasil,
e vinha de um país desconhecido,
com sua lotação carregada
de angústias, fomes e desesperanças.
Morreu bonito.
Vinha descendo a Avenida Nossa Senhora Aparecida,
padroeira da República Federativa do Brasil,
e vinha de um país desconhecido,
com sua lotação carregada
de angústias, fomes e desesperanças.
Morreu um motorista, do coração.
Querido chofer, finalmente você morreu.
Morreu com classe, irmãozinho!
Parou a máquina,
pediu para que os passageiros descessem
e foi embora, humilde e correto.
Ninguém reclamou.
Ninguém pediu o troco
roubado.
Simplesmente todo mundo deu de ombros
ante as insignificâncias da vida.
No país chamado Brasil,
um motorista velho morreu em ponto morto.
E deve ter comido muita poeira
antes de morrer.
Até que a vida se encheu de deserto.
Só resta à multidão embasbacada
dispersar e procurar a esmo
sua identidade.
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