quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Memória futebolística

Landinho (direita) foi ídolo no União Sport Club. Ainda vive em sua Itabaiana. O mascote é meu compadre Dr. Dedé Paú.

Incendiado pela velha paixão futebolística, meu pai Arnaud Costa verte recordações do seu União Sport Club. Basta citar um acontecimento, falar no nome de antigo craque do time, e a memória privilegiada mergulha profundo em lances acontecidos a mais de sessenta anos. Mesmo depois de acometido de AVC, o mestre Arnaud conserva a faculdade de lembrar de fatos antigos. 


Sem visão para leitura, ele se conforma em ouvir nossos relatos. Li outro dia resenha de Margaret Bandeira sobre a lendária partida de futebol acontecida em 1950, ano em que o Brasil perdeu a Copa do Mundo no Maracanã. Enfrentaram-se o Treze de Campina Grande e o União, que ganhou do Galo por um a zero, gol de Irmar. “Eu estava nesse jogo”, lembrou Arnaud Costa. E foi citando, um por um, os jogadores do União.
O centro-avante Irmar, contou pai, era filho de Chiquinha Cega, dona de conhecido prostíbulo na rua do Carretel. Profissional do baralho, Irmar um dia se desentendeu com outro carteador, um tal de Antonio Amarelo, dono do bar que depois foi assumido por Zé Bodega, outro femeeiro e dono de boteco famoso. Na briga, Irmar foi assassinado.


O beque central Vaqueiro era um negro enorme. Apesar do apelido, tinha por profissão o ramo de marcenaria, trabalhando na oficina de Dolfo e Índio, seus companheiros de zaga no União. Em dia de jogo, saía para caçar nas matas. Só voltava faltando poucos minutos para iniciar a partida. Jogava descalço, os pés nus e disformes disputando com as chuteiras rudimentares, cheias de pregos, dos adversários. 


Naquele dia, Vaqueiro fez talvez a melhor partida de sua vida de futebolista amador. Anulou o ataque do Treze, mesmo ao custo de quebrar dois dedos do pé direito. Vaqueiro marcou seu nome na história do União de Itabaiana. Não era um jogador habilidoso, mas sua coragem e principalmente, sua garra e seu carisma, faziam com que a torcida adotasse o caçador como ídolo. Só não era mais reverenciado e respeitado do que Landinho, o melhor do time, segundo Arnaud Costa. Exímino driblador, Landinho lembrava Garrincha nos seus melhores momentos. Igual a Félix Cachaça, outro grande ponta-direita do União em outra época, Landinho gostava de humilhar seu marcador. Driblava e voltava para driblar de novo, para delírio da “barreira”, a torcida do time. Em dias de jogo, Landinho, que era sapateiro em Campo Grande, mandava o recado: “Só vou jogar se vierem me buscar de carro e pagar a cachaça depois do jogo”.  


Pai conta que o União mandava buscar reforço no Clube Náutico Capibaribe do Recife quando havia jogo decisivo. Era o ponta esquerda Luiz Totô, craque profissional do Timbu dos Aflitos, cunhado de Zequinha Bandeira, o presidente do clube itabaianense. 


Um comentário:

  1. Eita coisa boa de ler... Vou guardar para mim e para a Memória Viva.... :-)

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