domingo, 25 de setembro de 2011

Loucos e idiotas


Meu colega Normando Reis, ator teatral, anda me aperreando para escrever um texto dramático sobre a vida de Mocidade, o tribuno popular que viveu em João Pessoa, desaparecido na década de 80. João Costa e Silva era o nome da fera. Seu apelido veio do hábito de iniciar seus discursos com um "Mocidade da minha terra...".  O jornalista Carlos Alberto assim descreve a figura: “Tinha um vocabulário extenso, apesar de semi-analfabeto, e não perdia oportunidade para soltar o verbo, o que lhe gerou dividendos junto ao governador João Agripino, admirador de uma boa oratória. Mocidade sempre achava uma maneira de discursar num evento público, o que gerava conflitos entre os organizadores. Tinha predileção por enterros, onde tecia comentários e elogios ao morto, mesmo sem conhece-lo. Certa feita, durante a ditadura militar, juntou-se ocasionalmente a uma passeata de estudantes que protestavam contra ações Brasil x EUA e pediu a palavra. Tascou uma artilharia verbal contra o governo. No dia seguinte o governador mandou solta-lo”.

“Mocidade” era um louco inteligente que dedicou a vida a discursar pelas praças da capital da Parahyba do Norte, sofrendo as dores do povo e, com a coragem e atrevimento dos malucos, afrontando os poderosos do seu tempo.

Hoje não temos doidos geniais e generosos. Só idiotas folclóricos, feito esse deputado Toinho do Sopão que pediu a palavra em sessão na Assembléia para dar parabéns aos vegetais pelo dia da árvore. Aparteando, o deputado papa defunto João Gonçalves exclamou: “o clima está insegurável!”.

Leia mais sobre Mocidade na minha crônica:

Eu conheci Mocidade. No enterro de Ruy Carneiro houve uma celebração no Palácio do governo. Zé Américo que não ia a cemitério nem amarrado, depois da cerimônia no saguão do Palácio voltou para casa com Reynaldo, e eu acompanhei o féretro, a pé, com um grupo homogêneo, pois tinha pobre, rezando e cantando. No campo santo houve vários discursos, nenhum com emoção. O de Humberto Lucena, pela voz de péssima dicção, não se entendia uma palavra. Quando Mocidade se anunciou, muitos fizeram menção de retirar-se, porém Carneiro Arnaud (futuro Prefeito de João Pessoa) pediu para ficassem. Mocidade começou dizendo: "Dr. Rui, quão bela está a festa hoje no céu, com dona Alice à frente de uma comitiva de amigos para lhe receber e contar que a Paraíba, desde ontem, está chorando a perda de seu amado filho..." E continuou por mais de 10 minutos. Na opinião geral, o orador foi o mais aplaudido e sua oração a mais comovente. No outro dia, os jornais comentaram o ocorrido com encômios para o poeta, como se intitulava Mocidade, que ora se dizia de Patos, ora de Areia.

Um abraço cordial de

Lourdinha Luna

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