Compadre Zé Ramos (esquerda). Apesar de termos exatamente a mesma idade, os cabelos do cara continuam pretos, não sei porque... Será que ele usa a mesma tinta dos bigodes de Zé Sarney? |
Esse camarada nasceu no mesmo dia, no mesmo mês e ano em que nasci. Somos gêmeos postiços. Aos 18 anos, ele saiu do sítio onde morava para estudar na cidade, em Itabaiana. Lá nos conhecemos. Apesar de jovens, soubemos que a educação, não somente a formal, seria a nossa base, o nosso diferencial no trajeto que queríamos seguir. Educação e humildade, no olho do furacão da ditadura. Educação, leitura, muita sede de saber e encantamento pelas artes. Fundamos grupo de teatro, jornal e associação cultural homenageando o poeta Zé da Luz. Ele foi um dos que presidiram essa entidade.
Fomos confirmados em nossa fé na solidariedade e na justiça social pelas perseguições dos militares. Em plena instabilidade política em que se vivia naquela época, fazíamos jornal de oposição. Os jovens não tinham como se exprimir. Era proibido fazer política, principalmente na escola. A gente precisava gritar a revolta que sentíamos interiormente. Escalamos esse camarada para ser o representante dos jovens itabaianenses na Câmara Municipal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), único partido de oposição consentido pela ditadura. Venceu a eleição para vereador, chegou a ser eleito presidente da Câmara.
Foi embora de sua terra para atender às exigências do espírito empreendedor. Muita força de vontade e alguns eventos imprevisíveis fizeram do cara um sucesso. Teve bom êxito na carreira de advogado e amealhou resultados felizes no comércio farmacêutico. Mas a vida não é mesmo simples. Agora, voltando os olhos de filho grato à sua mãe Itabaiana, o meu irmão gêmeo postiço sofre com o padecimento e a aflição dos conterrâneos, oprimidos por décadas de descaso na gestão pública.
Pela estridência do clamor geral dos seus conterrâneos, meu compadre quer voltar à sua terra e se candidatar a prefeito do lugar. Que ele tem bravura e intrepidez para assumir os riscos da empreitada, tenho certeza. Porém, se vai ganhar a eleição num processo viciado, corrupto e impuro, já é outra questão.
No Dia Internacional da Amizade, para meu amigo Zé Ramos quero prognosticar muita sorte. Porque sem uma ajudinha do acaso, da sorte, não se vai a lugar algum. Por sorte ele saiu do campo e veio estudar na cidade. Por puro acaso encontrou e se enturmou com um grupo de rapazes e moças que cultivavam a arte e a cultura, e por um conjunto de causas imprevisíveis chegou onde está agora. O acaso é a força que define o sucesso ou o fracasso de quase tudo que fazemos. Mas com uma pitada de perseverança e ousadia. Isso meu compadre Zé tem de sobra.
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