Sem ter livre arbítrio, eu acredito no horóscopo. Ouço os astros todas as manhãs. É uma crença temperada pela comoção de ver em letra de imprensa os teus desvios de caráter, teus descaminhos. Ler os conselhos dos astrólogos, como mediadores de nossas vidas, apontando para as fronteiras da imaginação e do sonho. Isso é o que a gente anda procurando, fugir da realidade avassaladora, navegar pelas revelações trazidas pela Lua cheia no nono setor zodiacal, estremecer com as alusões subliminares a respeito de tua vida amorosa, tua saúde e insegurança, conforme aponta o Sol na quarta casa.
Meu mapa astral diz claramente que eu preciso passar pela fase de Lua Cheia, pela desestabilização emocional temporária, para então abraçar o período posterior, mais alegre e luminoso. “Faça seu dever de casa e continue sua vida normalmente, mas esteja com a alma preparada para os tumultos que o mundo anda produzindo e que inexoravelmente vão lhe perturbar, mesmo fazendo o dever de casa”. Talvez a comadre ache um exagero atribuir à influência dos astros a minha crônica crise financeira, meu desleixo histórico, minha falta de firmeza em quase tudo. Mas, como eu disse no começo, não tenho livre arbítrio. Sou inteiramente sujeito aos humores do Governo, da Justiça, da família, dos censores públicos, privados e interiores e do banco onde passo duas horas de castigo para doar pequenas, mas significativas quantias destinadas a encher as burras do sistema financeiro.
Preciso acreditar nos objetos celestes e suas interpretações dos eventos de minha vidinha besta. Sei que é uma estupidez, mais uma. Valorizar, entretanto, a própria estupidez é uma virtude, diz meu horóscopo. Se é coincidência eu não sei, mas o velhinho que morava perto de minha casa leu no seu horóscopo: “a música pode te levar aos confins da solidão”. De fato, por reclamar da música alta demais, foi mandado para um asilo de velhos.
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