quinta-feira, 14 de julho de 2011

MELHOR UM COVARDE VIVO...

Erasmo Souto

Tendo acordado às duas horas da manhã, Cabo Generino resolveu tomar ar fresco no terreiro da sua casa. Dor de cabeça dos seiscentos diabos! O porre de aniversário do compadre Terêncio tinha sido de lascar. Lembra-se do acontecido somente até a oitava dose de conhaque.

Manhã de inverno sertanejo, madrugada belíssima com arvoredo deslumbrante, mas Terêncio nem nota. Está irritado e, pra completar, aquele bombo fazendo-o estremecer da nuca ao dedão do pé. Forró na casa de Zé Cirilo. Sanfona tocando, zabumba ressoando e a dor de cabeça virada na porra.

-       Acorda, Bastião... – grita dirigindo-se ao parrudo soldado estirado na rede.
-       Às ordens, Cabo... responde o meganha em posição de continência.
-       Home, pelamor de Deus vai na casa de Cirilo e pede pra ele acabar o forró.
-       E se ele num quiser, Cabo!
-       Fure o zabumba que o forró termina.

E lá se foi o soldado com a missão. Mas logo está de volta:

-       Chefe, falei com Cirilo. Ele disse que num para não. É que a festa tá muito animada. Num tive coragem de furar o bombo...
-       Cabra frouxo! Deixe que vou estraçaiar aquele miserável. Quitéria, traz a minha peixeira!

Com a faca de doze polegadas nos quartos, Cabo Generino segue para o forró. Bastião vai atrás disposto a defender o abufelado superior. Cerca de dez minutos depois, ainda morrendo de dor de cabeça, o Cabo retorna a sua casa e é interpelado pela mulher:

-       Tu num fosse furar o bombo? O forró num parou não...
-       Quitéria, minha filha, deixe aquele povo brincar. Adivinha quem tá
tocando no zabumba?
-       Sei lá...
-       Pois num é o cumpadre Lampião!

(Do livro SENVEIGONHICE DE MATUTO(a) a ser lançado daqui a uma eternidade e mais 15 dias)

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