segunda-feira, 18 de abril de 2011

UMA SINGULAR HOMENAGEM



                                      (Ex-prefeito Josué Dias e Arnaud Costa)



ARNAUD COSTA

Havia chegado recentemente da cidade de São Paulo, onde tinha me aventurado a defender o jovem Gilberto Marinho dos Santos, que havia assassinado a esposa Odaísa Araújo dos Santos, sentindo-se vítima de uma grande injustiça, mais cruel do que a maior das tiranias: a traição. Tive a essa questão um acesso áspero e tempestuoso, conforme deverei narrar posteriormente, em todos os seus pormenores, com a fidelidade que se constitui o meu pão de espírito. 

Compareci ao foro de Itabaiana, após funcionar na defesa desse réu, cujo crime parecia irresgatável, a fim de presenciar a audiência admonitória de outro acriminado, o sapateiro José Maria da Silva, meu defendido.

Ocorre que, antes dessa audiência, o MM Juiz Wilson de Barros Moreira havia designado outra, tendo como vítima a produtora rural Dolores de Sá Cavalcante, e figurando como réu o vereador José Pedro de Araújo. Na acusação, estava a ilustre Promotora Maria de Jesus Bezerra, assistida pelo advogado Juarez da Gama Batista; funcionando na defesa do réu, o meu estimado amigo Eslu Eloy, oráculo do direito e estimulador das minhas horas de maratonas jurídicas mais arrojadas.

O Dr. Juarez da Gama Batista era um mágico na prosa, um literato que se erigiu no amor aos livros e à ciência do Direito. Teve o eminente cultor das letras uma idéia que me comoveu, descortinando-se como a mais dignificante homenagem, apesar de imerecida: propôs ao juiz a ouvida de apenas uma testemunha, transformando a audiência, que se prenunciava ardorosa, em moção de aplausos à minha irrecusável humildade. 

Deferido o requerimento, determinou o insigne juiz que o escrivão Aderlindo Luiz da Silva, outro amigo inesquecível, lavrasse o seguinte TERMO DE AUDIÊNCIA: “Aos vinte e três (23) dias do mês de março de mil novecentos e setenta e seis (1976), nesta cidade de Itabaiana, do Estado da Paraíba, no Fórum, pelas 9,30 horas, onde se encontrava o Dr. Wilson de Barros Moreira, Juiz de Direito, comigo escrivão, ao toque da campainha, dada pelo Porteiro dos Auditórios Luiz Antônio de Araújo, foi aberta a audiência para inquirição das testemunhas arroladas pela querelante Dolores de Coelho de Sá Cavalcante, nos autos da queixa crime proposta por esta contra José Pedro de Araújo e Rubens Ferreira da Silva. Dados os pregões, compareceram a Doutora Maria de Jesus Bezerra, Promotora de Justiça, o Bel. Juarez da Gama Batista, assistente da acusação, e o Bel. Eslu Eloy, advogado dos querelados. Inicialmente foi ouvida a testemunha Raul Geraldo de Oliveira. A seguir, o MM Juiz concedeu a palavra ao Bel. Juarez da Gama Batista, o qual formulou requerimento de aplauso à atuação jurídica do ilustre colega Arnaud Silva Costa, pelo brilhantismo com que se houve e sucesso obtido nas suas atividades de advogado no foro criminal paulista, onde elevou mais alto o nome do Direito e dos profissionais da advocacia do nosso Estado. Pedindo e obtendo a palavra, pela ordem, pelo Bel. Eslu Eloy, advogado de defesa, foi dito que: associava-se em gênero, número e grau com o requerimento do ilustre advogado Juarez da Gama Batista, acrescentando ainda que não só exultava com a vitória obtida em São Paulo pelo colega Arnaud Silva Costa, mas esperava que outras vitórias semelhantes fossem pelo mesmo conquistadas, devido à sua capacidade de trabalho, seus profundos conhecimentos jurídicos e, sobretudo, pelo fulgor de sua inteligência. Com a palavra a Doutora Promotora de Justiça, foi dito que estava de pleno acordo com o voto de louvor feito ao cidadão Arnaud Silva Costa, e que reiterava em todos os termos as palavras dos doutos advogados. Pelo MM Juiz foi dito que concordava em todos os seus termos com as palavras elogiosas à pessoa do brilhante e inteligente Arnaud Costa, acrescentando, ainda, que de parabéns estava não somente a Justiça paraibana, mas, particularmente, a Comarca de Itabaiana, por residir nesta cidade um cidadão de rara inteligência e capacidade jurídico-criminal, qual seja o Sr. Arnaud Costa. Continuando os trabalhos desta audiência, pelo MM Juiz, foi dito que pelo adiantado da hora suspendia a presente audiência, determinando que fossem os autos conclusos para designar outro dia para ouvir as testemunhas arroladas pelas partes litigantes. E nada mais havendo a tratar, mandou o MM Juiz encerrar a audiência, o que foi feito com as formalidades de estilo. E, para constar, foi lavrado o presente termo, que lido e achado conforme, vai devidamente assinado. Eu, Aderlindo Luiz da Silva, escrivão, datilografei o presente e subscrevi.”

A homenagem me pareceu eloqüente por si mesma. O juiz, a promotora e os advogados inovaram, transformando uma audiência criminal numa sessão de solidariedade a este modesto rábula, cujo “talento” e competência retratam apenas uma longa tradição de vida.

(Do livro “Confissões esparsas de um rábula”, de Arnaud Costa, que será lançado em 30 de abril de 2011, em Itabaiana)

Um comentário:

  1. Mozart: Seja qual for o motivo ninguém tem o direito de tirar a vida do próximo. Alegar traição é fora de moda. As pessoas devem saber que ao se chegar a uma situação dessas o remédio é a separação legal. Cada um vai para seu lado e recomeça a caminhada, o que quase sempre é bem melhor, porque cada um avalia seus erros e tenta não cometê-los jamais.
    Uma boa noite - Lourdinha

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