quinta-feira, 28 de abril de 2011

Do alto da tribuna histórica


Arnaud Costa despachando no seu gabinete, como Secretário Geral da Prefeitura de Itabaiana, em 1963


Advogados de limitada cultura e chicaneiros não gostavam do meu pai quando atuava no judiciário da região do vale do Paraíba, na condição de rábula. É que a inteligência e o saber jurídico do velho Arnaud Costa empanava o pouco brilho de bacharéis de poucas letras, muitos deles amorais. O digno rábula mantinha inviolável a consciência, mas na briga de gato e rato sempre escondia um golpe fatal, o chamado pulo do gato. Tudo de mais importante quanto viu, ouviu e viveu nesse campo vai registrado no seu livro “Memórias esparsas de um rábula”, que a Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba faz reeditar. 

Tenho uma foto que mandei restaurar onde aparece o mestre Arnaud discursando na tribuna do Fórum da Comarca de Itabaiana, defendendo um sujeito que matou a esposa com sete facadas, por questões de ciúme. Os hipócritas intolerantes hão de bradar que isso não é causa que se defenda, distanciados da lógica cultural, dos condicionamentos históricos e esquecidos do direito que tem todo homem ou mulher de ser defendido por um intercessor, seja qual for o crime que tenha cometido. No caso, o homem das sete facadas era um pobre cidadão do povo, e meu pai ficou conhecido como o advogado dos pobres. O rábula Arnaud Costa também defendeu a mulher que matou o marido cozinhando seus miolos com uma chaleira de água fervente, depois de sofrer agressões da vítima por muitos anos.  

No púlpito, volumes da obra de Nelson Hungria, Aníbal Bruno e outros conceituados jurisconsultos. A tribuna de onde discursa o advogado é obra de Luiz Martins de Carvalho, pai do cineasta Vladimir de Carvalho, ex-vereador e músico de Itabaiana. Luiz Martins tocava trombone na banda 24 de Maio e foi um dos maiores artistas da madeira em nossa terra. O Presidente desse Júri foi o juiz Gilson Guedes Cavalcante de Albuquerque, primo do ex-Presidente da Paraíba, João Pessoa. Convocada uma testemunha de defesa, mulher simples do povo, o Juiz interpelou:

--- Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade?

E a mulher, inocente:

--- O senhor quer a verdade mesmo ou a história que o Dr. Arnaud mandou eu dizer?

Quase que me esqueço de dizer que o réu foi absolvido. Após a sessão do Júri, Dr. Gilson chamou meu pai à parte e recriminou:

--- Arnaud, quando for instruir as tuas testemunhas, vê se explica direitinho como é que funciona este circo!

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