segunda-feira, 9 de julho de 2012

COLUNA DE WELLINGTON FARIAS


O poeta, a morte e a ironia...

Como diria um poeta, “por capricho ímpar do destino”, Ronaldo Cunha Lima foi sepultado exatamente na mesma data em que morreu Tarcísio de Miranda Burity: 8 de julho. É a morte ironizando a vida...

Para quem este episódio não causa o impacto de curiosidade histórica, por desconhecer os fatos, explico: Ronaldo e Burity já foram correligionários de partido; já governaram a Paraíba; e terminaram os seus dias inimigos mortais. Ronaldo, o poeta, quase duas décadas atrás sacou de um revolver e disparou três tiros contra Burity no interior do restaurante Gulliver, um dos redutos gastronômico da elite pessoense. Foi um deus-nos-acuda. Tarcísio Burity também tinha uma veia artística: tocava violoncelo e compunha música erudita sob o pseudônimo de T. Virgilius.

Ao noticiar a morte de Ronaldo Cunha Lima, a imprensa não registrou a curiosidade histórica; certamente porque deve e sempre deveu “favores” demais aos Cunha Lima; prefere só enaltecer as qualidades do político-poeta, como se com isso conseguisse apagar da história o fato de maior relevância a vida dos dois protagonistas de tão lamentável episódio...

Futuro político
A Paraíba pode até não ficar poeticamente menor com a morte de Ronaldo Cunha Lima. Afinal, estamos falando da terra de ninguém menos que Augusto dos Anjos, para citar apenas este. Mas, com toda a certeza, o Estado ficou menor politicamente.

Ronaldo entrou para a galeria das mais expressivas figuras da história recente da política da Paraíba. Pelo menos após a morte de João Agripino e Pedro Moreno Gondim, passou a ser ele, isoladamente, a mais expressiva figura política do Estado. Já havia se afastado da militância direta no campo político. Mas, mesmo assim, Ronaldo era Ronaldo. E deixou pronto para substituí-lo o filho Cássio Cunha Lima, disparadamente a maior liderança política da Paraíba, hoje, e que também já foi governador.

Em termos de renovação política o que se vê no horizonte da Paraíba? Quase nada. Restam o senador Cássio Cunha Lima, que apesar de jovem não representa renovação, pelo tempo em que está na estrada, além de ter manchado a sua biografia com uma cassação: Cássio foi, ao mesmo tempo, o mais jovem a eleger-se governador da Paraíba, como também o primeiro (e até agora único) governador do Estado a ser cassado; o governador Ricardo Coutinho, um político de ascensão meteórica, mas que realiza um governo de sucesso duvidoso, e o prefeito de Campina Grade, Veneziano Vital do Rego, que desponta da recente safra de políticos paraibanos, mesmo assim, vislumbrando a possibilidade de ver a sua pretensa sucessora na Prefeitura de Campina Grande, Tatiana Medeiros, amargar uma derrota.

Pelo que podemos vislumbrar, a Paraíba caminha para enfrentar uma escassez de políticos de peso, de expressão verdadeira.


Um comentário:

  1. É bom lembrar aos incautos leitores da coluna que os tiros mirados por Ronaldo em Burity foram motivados pela reverberação que Tarcísio fez do escândalo na SUDENE, cujo superintendente, à época, era o enfant terrible Cássio da Cunha Lima.

    Triste Paraíba de poetas tortos e de políticos mais tortos ainda!

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