Estação do Mundo, porque o trem do mundo passa aqui!
Eu
costumo dizer que há duas maneiras de se divulgar a obra de um artista pelo
mundo afora, uma muito cara e outra muito barata. Muito caro é financiar
viagens para que ele manifeste sua arte em outras paragens, assumindo todas as
despesas inerentes a essa empreitada. Muito barato é fazê-lo acontecer em sua
própria cidade, em lugar onde o mundo inteiro costuma visitar, ou seja, em
pontos turísticos de roteiro obrigatório no afã da curiosidade dos turistas.
Até porque eu tenho certeza que os visitantes, seja lá de onde venham, estão
interessados em ver muito mais do que elementos de pedra e cal ou belezas
naturais que marcam uma região, eles querem saber do povo do lugar, de suas
vidas, de como amam, como encaram a tristeza, manifestam sua esperança, enfim,
de como arquitetam sua felicidade. Essas ações humanas, desenvolvidas por
artistas e brincantes populares são manifestadas em shows, exposições,
atividades cênicas e demais expressões artísticas e culturais.
A
natureza foi muito generosa com nossa cidade, agraciando-lhe com praias de
beleza singular, além de áreas verdejantes que felizmente são preservadas por
força de lei, o que põe João Pessoa numa rota turística que interessa a milhões
de cidadãos e cidadãs que se encantam em ver resquícios de natureza em áreas
urbanas. Os quase 427 anos de história também enchem os olhos e o coração de
quem aqui chega. Mas quero ressaltar uma obra de cimento e vidro cujos traços
geométricos do consagrado arquiteto Oscar Niemeyer a fizeram o ponto turístico
mais visitado de nossa capital. Trata-se da Estação Cabo Branco – Ciência,
Cultura e Artes, que ao completar quatro anos este mês, comemora a visitação de
mais de três milhões de pessoas.
A
nossa Estação Cabo Branco tem equipamentos para manifestação de atividades
culturais, ainda que o famoso arquiteto tenha cometido lá seus enganos. Bom,
não sou arquiteto, mas na qualidade de artista, eu senti o desconforto de
trabalhar num anfiteatro com boca de cena voltado para o poente, cuja posição
praticamente inviabiliza atividades no período da tarde ante o sol causticante
que esquenta nossa cidade tropical. O belo auditório não é um teatro. É
impecável para palestras, mas não foi criado para fins artísticos, pois
originalmente não possui as dimensões de palco e nem os equipamentos para
atividades artísticas. Bom, mas venho acompanhando o esforço de sucessivas
gestões da Casa para honrar as finalidades daquele empreendimento no tocante as
artes e a cultura. Foi colocada iluminação cênica no auditório e nele foi
desenvolvido um calendário de atividades culturais. Na torre octogonal ocorrem
eventos de raríssima sensibilidade, como saraus, exposições, filmes e encontros
de pessoas que celebram a poesia de viver. Tudo isso cercado pelo carinho e
dedicação dos trabalhadores que fazem girar as engrenagens da beleza humana
naquele lugar.
Dá
gosto de se ver o empenho, o cuidado e o respeito com que os funcionários do
setor de eventos culturais da Estação Cabo Branco tratam o espaço e também os
artistas que lá se apresentam. Há um olhar de artista cuidando da alma de quem
faz da alma sua marca de viver. Basta que um evento artístico seja programado e
uma legião de outros artistas, funcionários da casa, correm para ambientar o
espaço com cenários inspirados e um receptivo respeitoso e aconchegante. Tudo
como deveria ser em todo lugar.
Pois
bem, a Estação Cabo Branco tem alma, considerando as energias humanas que lá
conspiram em favor da nossa cena cultural. A programação, que consta de
atividades artísticas e educativas, carece, entretanto, de profissionalismo em
sua produção. É preciso entender que aquele é um dos mais importantes espaços
culturais da cidade e finalmente investir em sua programação, com sonorização
mais arrojada e pagamento de cachê aos artistas. A entrada precisa continuar
gratuita, mas as produções necessitam de investimento que justifiquem a
grandeza da nossa cena e o esmero de quem e debruça sobre ela. Sendo assim,
cria-se condições ideais para João Pessoa ocupar corações e mentes pelo mundo
afora.
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