Grupo tenta invadir a Rádio Comunitária Araçá de Mari |
Fábio Mozart
A manipulação e a instrumentalização são os caminhos trilhados
pela maioria dessas rádios que se dizem comunitárias, utilizando o rótulo
coletivo apenas para disfarçar mais uma forma de apropriação do espaço
público pelos interesses privados.
Na Paraíba, uma das experiências mais importantes de
comunicação comunitária é a Rádio Comunitária Araçá, da cidade de Mari, pelo
menos no início de sua implantação, da qual participei diretamente, história
que está registrada no meu livro “Democracia no ar”. O grupo fundador buscava
uma gestão coletiva e programação plural. Tivemos embates com os representantes
das forças políticas locais, no entanto, a participação da rádio nos movimentos
sociais e políticos jamais pendia para o lado puramente partidário.
Atualmente, a rádio sofre fortes críticas porque,
segundo alguns segmentos da comunidade, vem adotando atitudes consideradas
indevidas na forma de lidar com esse interessante meio de comunicação no
contexto das brigas políticas locais. Conforme se pode observar pelas notícias
que nos chegam, os comunicadores encontram dificuldade para viabilizar a
participação de segmentos sociais mais amplos nos debates pertinentes à esfera
pública política. Talvez (não conheço a realidade da emissora hoje), a
organização semiprofissional ou totalmente amadora que permite o trabalho
voluntário e sem interesses pecuniários dos envolvidos na operação da rádio,
leve a que determinadas pessoas sem o devido traquejo comunicacional sejam
fator preponderante para o acirramento de conflitos paroquiais ligados à
política partidária.
A mídia convencional toma partido porque, embora seja
uma concessão pública, os radiodifusores comerciais são geralmente políticos
profissionais donos dessas concessões e só transmitem o que interessa ao seu
jogo, nem sempre limpo, das disputas eleitorais. A informação somente flui em
um só sentido, criam-se e reproduzem-se cidadãos passivos que só se contentam
em estar informados e não em participar ativamente dos assuntos públicos. Na
rádio comunitária, deveria ser diferente. Ela pode e deve contribuir para a democratização
da política, comunicando-se com seus diversos atores, dando a conhecer suas
posições, suas discrepâncias e coincidências e buscando consensos em meio aos
conflitos.
Conforme
notícias que chegam de Mari, o poder público ocupa um espaço desproporcional
nos programas de cunho jornalístico da Rádio Comunitária Araçá, com evidentes
ganhos subliminares de imagem pessoal, na contramão, inclusive, das
recomendações da Justiça Eleitoral sobre propaganda pré-eleitoral de gestores e
pretensos pré-candidatos a cargos eletivos.
Isso
não dá direito a nenhum grupo de invadir a emissora, amedrontar comunicadores
ou fazer guerrinha estéril com objetivos também francamente politiqueiros. Se
querem transparência sobre a entidade beneficiária da concessão, fixação de
regramento editorial e real instituição de conselho gestor da emissora, que se
associem à mesma, abstraída a interferência de interesses de cunho político.
(Publicado no blog Mari Fuxico)
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