Hoje
amanheci com as cachorras, isto é, emputecido. Meu PC deu rolo e perdi o
material que postaria na Toca. Por isso escrevo apressadamente esse desabafo,
aproveitando para mostrar a bela fotografia de um visitante de Itabaiana,
Quixaba, videasta da UFPB que esteve aqui para desenvolver um projeto de cinema
no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.
A feira de
frutas na beira da linha mostra os abacaxis de fim de feira, sem preço e com
prazo de validade quase vencido. Um abacaxi nos supermercados de João Pessoa
pode custar 3 reais. Lá no fim da feira, leva-se 5 por um real. Mas o abacaxi
mesmo é para quem ganhar a eleição de prefeito do lugar. De tão insana e sem
qualidade a gestão pública nesta cidade, o que restar será um amontoado de
ações desconexas, sem planejamento, contas estouradas, contratos vencidos,
salários atrasados, sem crédito na praça, sem projetos sociais, culturais ou
estruturais e com uma imensa desconfiança da população de que o rombo é grande.
Quem se
habilita? Em sã consciência, ninguém deveria aceitar um emprego desses. Pegar
uma prefeitura nessas condições, entretanto, é um doce drama para muitos. Tem
cabra que investe milhares de reais para chegar lá. Da mesma forma, é comum que
eleitores desenvolvam uma imensa capacidade de corrupção,dispostos a vender seu
voto e da família por um pneu de carro, uma feira, uma carteira de motorista,
uma operação de vesícula, uma ligadura de trompas, até mesmo dois balaios de
abacaxi de fim de feira. Tem eleitor de todo preço. O meu é salgado: o
candidato deverá apresentar um projeto de gestão que seja do meu agrado
enquanto cidadão preocupado com as futuras gerações, que a nossa já deu o que
tinha de dar, por sinal muito pouco.
Há alguns
anos, topei com meu camarada Zé Ramos em João Pessoa. Do reencontro, saiu uma
entrevista gravada em vídeo, onde ele fala de nossas aventuras culturais na
Itabaiana da década de 70/80. Notei que ele já pensava intervir politicamente
na sua terra, para "tentar implantar um projeto econômico, cultural e
social capaz de resgatar nossa dignidade". Soube que ele agora vai
formalizar sua candidatura a prefeito. Essa coisa de amor à terra natal é mesmo
um negócio que extrapola aquilo que conseguimos entender. Bem de vida,
vitorioso na profissão que abraçou, Zé deixa tudo de lado e vai fazer política
em Itabaiana, na esperança de ajudar a terrinha supostamente vítima de estupro,
roubo e espancamento durante mais de duas décadas.
Restam duas
perguntas: será que a vítima quer mesmo ser socorrida? E outra: será que Zé
Ramos já formatou aquele projeto de salvação a que aludiu na nossa entrevista?
É muito abacaxi amigo, mas, tem gente que não quer nem saber, descaregam milhões de reais numa campanha eleitoral prá descascar esses abacaxis.
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