sábado, 16 de junho de 2012

Insano e sem qualidade




Hoje amanheci com as cachorras, isto é, emputecido. Meu PC deu rolo e perdi o material que postaria na Toca. Por isso escrevo apressadamente esse desabafo, aproveitando para mostrar a bela fotografia de um visitante de Itabaiana, Quixaba, videasta da UFPB que esteve aqui para desenvolver um projeto de cinema no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.

A feira de frutas na beira da linha mostra os abacaxis de fim de feira, sem preço e com prazo de validade quase vencido. Um abacaxi nos supermercados de João Pessoa pode custar 3 reais. Lá no fim da feira, leva-se 5 por um real. Mas o abacaxi mesmo é para quem ganhar a eleição de prefeito do lugar. De tão insana e sem qualidade a gestão pública nesta cidade, o que restar será um amontoado de ações desconexas, sem planejamento, contas estouradas, contratos vencidos, salários atrasados, sem crédito na praça, sem projetos sociais, culturais ou estruturais e com uma imensa desconfiança da população de que o rombo é grande.

Quem se habilita? Em sã consciência, ninguém deveria aceitar um emprego desses. Pegar uma prefeitura nessas condições, entretanto, é um doce drama para muitos. Tem cabra que investe milhares de reais para chegar lá. Da mesma forma, é comum que eleitores desenvolvam uma imensa capacidade de corrupção,dispostos a vender seu voto e da família por um pneu de carro, uma feira, uma carteira de motorista, uma operação de vesícula, uma ligadura de trompas, até mesmo dois balaios de abacaxi de fim de feira. Tem eleitor de todo preço. O meu é salgado: o candidato deverá apresentar um projeto de gestão que seja do meu agrado enquanto cidadão preocupado com as futuras gerações, que a nossa já deu o que tinha de dar, por sinal muito pouco.

Há alguns anos, topei com meu camarada Zé Ramos em João Pessoa. Do reencontro, saiu uma entrevista gravada em vídeo, onde ele fala de nossas aventuras culturais na Itabaiana da década de 70/80. Notei que ele já pensava intervir politicamente na sua terra, para "tentar implantar um projeto econômico, cultural e social capaz de resgatar nossa dignidade". Soube que ele agora vai formalizar sua candidatura a prefeito. Essa coisa de amor à terra natal é mesmo um negócio que extrapola aquilo que conseguimos entender. Bem de vida, vitorioso na profissão que abraçou, Zé deixa tudo de lado e vai fazer política em Itabaiana, na esperança de ajudar a terrinha supostamente vítima de estupro, roubo e espancamento durante mais de duas décadas.

Restam duas perguntas: será que a vítima quer mesmo ser socorrida? E outra: será que Zé Ramos já formatou aquele projeto de salvação a que aludiu na nossa entrevista?

Um comentário:

  1. É muito abacaxi amigo, mas, tem gente que não quer nem saber, descaregam milhões de reais numa campanha eleitoral prá descascar esses abacaxis.

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